domingo, 4 de maio de 2008

Arquivo Entrevista: DENNIS WARD (Pink Cream 69)

Com o álbum "Electrified", lançado em 1998, os alemães do Pink Cream 69 obtiveram um merecido reconhecimento do público. Composições vigorosas, que mesclam a malícia e melodia do Hard Rock dos anos 80 com os riffs de guitarra tradicionais do Heavy Metal são os grandes trunfos do PC69. Com o lançamento de "Sonic Dynamite" a banda caminha a passos largos e se antes era conhecida por muitos como a ex-banda do vocalista Andy Deris (atual Helloween), hoje deve ser encarada como uma das melhores do mundo no estilo. Na entrevista a seguir, o baixista e produtor Dennis Ward confirma a boa fase e comenta sobre o atual momento vivido pelo PC69.

Com "Electrified", tanto a popularidade quanto a vendagem dos álbuns aumentou. O que você espera agora, com "Sonic Dynamite"?
Dennis Ward: Esperamos conquistar novos fãs e também conseguir manter os que já vêm nos acompanhando. Com sorte, conseguiremos realizar uma boa turnê, que trará ainda mais fãs para a banda.

Quando Andy Deris deixou a banda, eu soube que ele vinha faltando aos ensaios e o seu manager contou a vocês que ele havia entrado no Helloween. Daquele dia em diante ninguém mais falou com ele?
Dennis: Ninguém sequer falou uma palavra com ele, é verdade. Ele apenas saiu para integrar uma nova banda e não nos comunicou de nada. Estávamos compondo e ensaiando no estúdio e não o desculpo por isto. Foi uma situação bastante desconfortável. Não me importo se ele tinha em mente outros planos, ele vive para cantar e todos nós entendemos isto, mas ele deveria ter nos comunicado e tinha receio de fazê-lo. Achamos naquele momento que ele tinha ficado louco, confuso e não entendemos direito. Mas, as coisas passaram e estamos muito bem agora.

A banda fez algumas experimentações musicais nos álbuns "Change" e "Food For Thought". Sei que o Hard Rock já não é tão popular como era na década de 80, mas você concorda que o PC69 poderia ser ainda mais conhecido no mundo se tivesse mantido o mesmo estilo nestes álbuns?
Dennis: É possível que sim, mas naquele momento tentávamos fazer um som mais moderno, com algumas experimentações antes nunca usadas. O resultado final foi que conseguimos provar para nós mesmos que somos capazes de fazer também este tipo de som. Por outro lado, descobrimos que nossas raízes são mesmo no Hard Rock e por isso não devemos abandoná-las. Temos consciência de que saímos bem fazendo Hard Rock e sempre conseguimos mais respeito e admiração com este estilo.

Existe a possibilidade do PC 69 fazer uma turnê pelos Estados Unidos ao lado de bandas renomadas da cena do Hard Rock, como Aerosmith, Dokken ou Mötley Crüe, assim como a banda alemã Scorpions fez nos anos 80?
Dennis: Seria muito legal excursionar com estas bandas que estão fixadas na América e são mundialmente conhecidas. O que aconteceu com o Scorpions foi um grande trabalho, os álbuns venderam muito bem por lá, o público estava interessado em ver a banda e por isso tiveram a oportunidade de excursionar e se tornarem conhecidos nos Estados Unidos. O que acontece conosco é que nossos álbuns não estão sendo lançados no mercado norte-americano e, por isso, não há um grande interesse dos promotores e do público. Sei que temos fãs na América, mas seria uma coisa muito arriscada tentar fazer uma turnê lá neste momento. Não faria sentido.

Vocês excursionaram recentemente com a banda Axxis pela Europa. Como foi a recepção do público em relação às músicas do álbum "Sonic Dynamite"?
Dennis: Foi uma turnê fantástica, melhor do esperávamos! Para a Alemanha ter um público de cerca de 500 pessoas por noite é algo que se pode considerar bom, muito mais do que o aceitável. Em shows de maior porte, tivemos um público entre 800 e 1500 pessoas. Todos reagiram muito bem quando tocamos as músicas do "Sonic Dynamite" e posso afirmar que esta primeira turnê de divulgação do álbum foi um sucesso.

Você tem trabalhado como produtor e vem obtendo resultados muito bons, como nos álbuns das bandas Headstone Epitaph, DC Cooper, Vanden Plas, afora os de sua banda. Dentre todos os seus trabalhos como produtor, qual você classificaria como o melhor?
Dennis: É muito difícil dizer. Sempre fico muito orgulhoso dos trabalhos do Pink Cream, mas com relação ao trabalho de outra banda, acredito que tenha sido com o Vanden Plas. Realmente gostei do som e do resultado final que atingimos naquele trabalho. Mas, o que obtive mais sucesso foi o álbum solo de DC Cooper. Na realidade, gostei de todos os trabalhos que você citou, mas isto sempre fica mais fácil quando trabalho com bons músicos.

"Sonic Dynamite" apresenta o mesmo estilo de composição de "Electrified", mas é um pouco mais melódico. Isto foi proposital?
Dennis: Ora, eu achava que "Sonic Dynamite" seria considerado mais pesado! (risos). Desconsiderando os riffs tradicionais de guitarra que estão mais próximos do Heavy Metal, você tem toda razão, este é definitivamente um álbum mais melódico e próximo ao Hard Rock. Com certeza foi proposital, nós queríamos trabalhar ainda mais o lado melódico. Gostamos de um som assim e é desta forma que trabalhamos com mais confiança.

A música "The Spirit" tem um refrão que lembra muito um hit da banda norte-americana Keel, "Because The Night". Você já ouviu a versão do Keel para esta música?
Dennis: Não conheço esta que você citou do Keel, mas já nos falaram sobre o refrão de uma música da Pat Benatar. Na verdade, a faixa "The Spirit" já foi comparada a umas outras cinco músicas diferentes. Agora você acaba de me dizer a sexta...(risos). Isto não me incomoda.

Você acredita que é realmente necessário para uma banda de Hard Rock gravar ao menos uma balada num álbum?
Dennis: Não que seja necessário, mas com o Pink Cream, gravamos baladas porque gostamos. Tocá-las é um grande modo de finalizar um álbum, como se fosse uma tradição. Gosto de uma brusca mudança, de um som bem pesado para uma balada, acredito que seja assim tanto para o músico como para quem está ouvindo o álbum.  

A versão brasileira do álbum traz como bônus a "Truth Hits Everybody". Esta é uma música das sessões de gravação do "Sonic Dynamite" ou uma composição mais antiga?
Dennis: A música foi tirada da mesma sessão de gravação de "Sonic Dynamite". Em outros países, como a França e o Japão, a faixa bônus é diferente da que consta na versão brasileira do CD.

Qual sua opinião sobre o show em São Paulo no "End Of Century Metal Fest"? Grande parte do público não conhecia o PC69, mas, após o show, as opiniões foram as melhores e todos comentaram sobre a performance da banda.
Dennis: O público foi fantástico e ouvimos algo sobre a boa aceitação que tivemos após o show. Espero poder voltar ao Brasil para uma turnê, pois foi realmente prazer. Passamos por algumas dificuldades até acertar o som e houve o problema do atraso, mas o público não se importou com isto e a recepção foi emocionante.

Entrevista publicada na edição #22 da revista ROADIE CREW (julho de 2000)

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Arquivo Entrevista: DON DOKKEN

Após o lançamento do fraquíssimo álbum Shadow Life em 1997, a banda norte-americana Dokken voltou a brilhar em 1999. Mesmo com a saída do guitarrista George Lynch (em novembro de 1997), substituído pelo não menos talentoso Reb Beach (ex-Winger e atual Whitesnake), iniciou uma grande fase com o álbum Erase The Slate. O trabalho foi muito bem recebido e Don Dokken (vocal), Reb Beach (guitarra), Jeff Pilson (baixo) e “Wild” Mick Brown (bateria) saíram numa vitoriosa turnê, que resultou no CD ao vivo e no DVD Live From The Sun (2000). Tudo parecia caminhar bem, mas as mudanças no line-up continuaram com as saídas de Reb Beach e Jeff Pilson. Don Dokken recrutou o guitarrista John Norum (Ex-Europe) e o experiente baixista Barry Sparks. Com esta formação lançaram em 2002 o CD Long Way Home. O álbum aparentemente não obteve a mesma receptividade que Erase The Slate, mas a banda seguiu em alta fazendo shows nos Estados Unidos. Na seqüência, ocorreu outra baixa com a saída de John Norum, substituído pelo italiano Alex De Rosso. O que poderia ter sido encarado como mais um período negro na carreira do Dokken acabou se transformando numa grande fase, já que atualmente a banda está excursionando pelos EUA ao lado do reformulado Whitesnake e o Scorpions, além de estar confirmado para fazer shows na Europa, como no festival alemão “Bang Your Head”. O líder Don Dokken conta mais detalhes da carreira desta histórica banda, que vendeu mais de seis milhões de discos, foi indicada para o “Grammy Award” em 1989 e coleciona vários discos de platina de seus trabalhos históricos, Tooth And Nail (1984), Under Lock And Key (1985) e Back For The Attack (1987).

Comparando com o Erase The Slate (1999) como foi a aceitação do mais recente álbum do Dokken, Long Way Home?
Don Dokken: É um álbum com uma concepção completamente diferente do Erase The Slate e quisemos que fosse daquele jeito mesmo. Eu gosto do Long Way Home, mas muitas pessoas não entenderam a nossa proposta. Na versão japonesa constam músicas mais pesadas, que são as que eu prefiro.

Mas a primeira faixa, Sunless Days, é bem pesada!
Don: Sim, é mesmo, mas eu posso adiantar para você que, de um modo geral, o nosso próximo álbum com certeza será mais pesado.

Vocês começaram uma excursão pelos EUA com o Scorpions e o Whitesnake. Como surgiu o convite para que o Dokken participasse dessa turnê?
Don: Os próprios envolvidos na organização pediram para que fizéssemos parte desta turnê. Sou muito amigo do pessoal do Whitesnake e do Scorpions. Conheço bem o David Coverdale, o Reb Beach, o Klaus Meine e o Rudolf Schenker. Acho que é um bom trio e o estilo casa perfeitamente com a música do Dokken. É muito mais a nossa cara do que a turnê que fizemos com o Ratt e o Warrant, que não combinava tanto como essa.

Vocês agora incluíram a música Dream Warriors, do álbum Back For The Attack e da trilha sonora do filme “Freddie Krueger’s Nightmare On Elm Street Part 3” no novo set list. Existe alguma razão especial para que voltassem a tocá-la? Quais outras clássicas do Dokken constam do set list? Qual é a duração de um show da banda na turnê e quando fazem shows como ‘headliner’?
Don: Quisemos colocá-la novamente no set list porque havia muita gente pedindo e eles queriam ouvi-la porque esta é uma música bem popular da banda. Antes nós não a tocávamos porque para mim esta é uma música bem difícil de se cantar. Mesmo tendo aquele começo mais manso, ela tem notas altas e era difícil fazê-las com o estilo de vida que eu costumava ter. Agora estou me cuidando muito e resolvemos incluí-la no show. Outras músicas clássicas que tocamos são: Into The Fire, In My Dreams, The Hunter, Breaking The Chains, Tooth And Nail, Kiss Of Death, entre outras. O show nesta turnê dura apenas 45 minutos, porque somos a primeira banda, mas quando estamos como ‘headliner’ o tempo oscila entre 1 hora e meia e duas horas. Dá para satisfazer os fãs!

O Dokken está agendado para tocar no festival alemão “Bang Your Head” em junho, mas apesar da presença de bandas de Hard como Pink Cream 69 e Twisted Sister, o cast conta com bandas bem agressivas, como Sodom, Overkill, Annihilator, e outras. Você se sente confortável tocando neste tipo de evento?
Don: Claro, não me sinto intimidado e nunca fiquei preocupado em tocar em eventos como esse. Somos o Dokken. Não me interessa se estamos juntos com bandas mais pesadas e agressivas, a boa música é sempre bem aceita e isso nada tem a ver com o estilo. Gosto muito de participar desses eventos!

Por que Reb Beach, hoje no Whitesnake, saiu da banda e voltou para o Winger após o lançamento do álbum ao vivo, Live From The Sun?
Don: O Winger sempre foi a banda favorita do Reb Beach. É a banda dele! Ele quis tentar mais uma vez, mas acho que não deu tão certo quanto ele imaginava. Quanto ao Whitesnake, bem é a banda favorita dele. Ele passou um tempo conosco e eu entendi a sua saída. São coisas da vida, faz parte dos negócios. Além disso, ele adora o Coverdale, é seu vocalista preferido.

E substituir Reb Beach por John Norum era quase uma escolha natural, porque ele havia trabalhado com você em seu álbum solo, Up From The Ashes.
Don: Sim, mas eu esperava que o trabalho com John fosse fluir melhor, mas quando você ouve o Long Way Home com certeza nota que o estilo dele tocar mudou. Eu acho que não combinou muito, falta mais pegada, mais peso e ele está muito ‘bluesy’, principalmente nos solos. Eu achei que ele ia vir com aquela pegada do Up From The Ashes, mas não foi o que aconteceu.

Como chegou ao italiano Alex De Rosso para substituir John Norum?
Don: Nós ouvimos falar muito bem dele, que tinha um estilo de tocar similar ao de George Lynch. Depois nós o conhecemos e vimos que era uma grande pessoa, o que é muito importante numa banda, já que você tem que passar muito tempo junto nas viagens, no ônibus. Eu até poderia pegar um guitarrista que tocasse de uma forma bem pesada, mas o que importa agora é que temos uma pessoa que admira o Dokken e não está na cena só pelo dinheiro. Ele gosta de compor músicas da mesma forma que eu, que foi o maior problema que tive com John Norum, que estava mais para o Blues, enquanto eu estava mais para o Metal.

E ouvimos rumores de que John Norum voltaria a se reunir com o Europe. Você sabe algo a esse respeito?
Don: São somente rumores e acho que isso não vai acontecer.

Falando ainda sobre mudanças, como entraram em contato com Barry Sparks para substituir o baixista Jeff Pilson?
Don: Ele é bem conhecido na cena e tocou com grandes guitarristas, como Michael Schenker, Malmsteen, Vinnie Moore, Uli Jon Roth. Quando ele soube que Jeff Pilson tinha nos deixado entrou em contato conosco.

É verdade que você despediu Jeff Pilson?
Don: Não despedi Jeff. Nós ficamos esperando por ele quase dois anos quando ele estava fazendo seu álbum solo e trabalhando no filme “Rockstar”. Aí tivemos outro grande problema porque ele disse que não gostava de estar no Dokken e só o fez por causa do dinheiro. Também me disse que não gostava de tocar nosso estilo de música. Então eu mesmo disse para ele que seguisse seu rumo e fizesse as mudanças que achasse viável em sua carreira. Mas, o que eu não entendi e acho engraçado é que George e Jeff não gostam das músicas que eu compus, mas tocam juntos estas mesmas músicas o tempo todo!

George Lynch e Jeff Pilson estão trabalhando em um álbum com regravações de músicas do Dokken. O que você acha desse projeto?
Don: Este projeto é muito ridículo! Se eles não gostam das músicas por que é que continuam a tocá-las?

E quando o Lynch Mob lançou o álbum Smoke This (1999), que era mais puxado para o Rap Metal, ele ainda tocava as músicas do Dokken na turnê.
Don: Eu sei que tocava, mas todo mundo falou que não tinham ficado boas porque não era eu quem estava cantando.

Voltando ao início de sua carreira, quais são as grandes lembranças de sua época na banda Airborn? Naquela época você usava o nome Don Dokken ou ainda Donald Maynard Dokken? Você ainda tem contato com os músicos da banda, o baixista Juan Croucier (atual Liquid Sunday, ex-Ratt e que integrou o Dokken no início), o guitarrista Gary Holland e o baterista Greg Pecka?
Don: Eu já usava Don Dokken. O grande momento do Airborn foi a época que tocamos em clubes de Hollywood ao lado do Van Halen e do Quiet Riot. Não tenho contato com Gary e Greg, pois eles se mudaram daqui faz tempo. Mas eu sempre converso com Juan, ele é um grande amigo. Nos conhecemos em 1979 e desde então mantemos contato, seja na área profissional ou na esfera pessoal. Gosto muito dele.

Como surgiu a oportunidade de cantar no álbum Blackout do Scorpions? É verdade que você os ajudou na tradução das músicas do alemão para o inglês?
Don: Não, isso não é verdade. Eu apenas gravei os ‘backing vocals’ para algumas faixas e quando isso aconteceu a banda nem estava presente no estúdio. Nem sei o que ficou gravado no álbum. Klaus poderia ter feito tudo sozinho, mas como ele tinha acabado de sofrer uma cirurgia eu ajudei-o com os ‘backings’. Mas, não sei se eles mantiveram mesmo a minha voz nas músicas que gravei, a No One Like You, Dynamite e You Give Me All I Need.

A versão da música Paris Is Burning, do álbum Breaking The Chains, é realmente uma música do Xciter, banda que o guitarrista George Lynch tinha antes de entrar no Dokken? Em qual álbum consta a versão de estúdio? O primeiro título era só Paris?
Don: A música foi composta por George e eu apenas mudei a letra. O primeiro título era mesmo Paris, mas nunca teve uma versão de estúdio, apenas uma gravação Demo. O que aconteceu na realidade foi que quando eu estava no Airborn costumava tocar junto com o Xciter e sempre gostei desta música deles. Aí liguei para George pedindo autorização para gravá-la em meu disco e ele aceitou.

Você trabalhou com ótimos produtores, como Tom Werman, Neil Kernon, Tom Fletcher, Dieter Dierks e Michael Wagener. Com qual destes você tem mais afinidade?
Don: Todos estes que você citou são grandes produtores, excelentes profissionais, mas eu sempre me dei melhor com Michael Wagener. Ele e eu somos muito amigos e Michael me ajudou muito. Trabalhou comigo em meu primeiro álbum, no mais recente, Long Way Home, e no Tooth And Nail e o Under Lock And Key. Nos damos muito bem e ele é uma pessoa fácil de se lidar. Além disso, sabe deixar o som pesado, o que eu gosto muito.

Deixei de lado o Kelly Gray, produtor do pior álbum do Dokken, o Shadow Life
Don: Bem, ele não gosta do Dokken e nem do meu jeito de cantar. Ele foi o produtor errado para nós, mas a gravadora estava querendo que a gente seguisse um novo rumo. Só que o resultado final ficou ruim e eu também não gosto do Shadow Life.

É tão ruim que até o logotipo você mudou!
Don: Claro, eu me recusei a colocá-lo, não o considero o álbum do Dokken! Não me envolvi no trabalho de composição. Fui forçado a fazê-lo! Jeff e George queriam seguir aquela direção e este não é um trabalho do Dokken, mas sim deles. Definitivamente não é um bom álbum! Não que seja péssimo, mas não é o Dokken, porque tem influência daquela música de Seattle e o produtor era de lá! A gravadora queria que nós soássemos mais “anos 90”.

Voltando ao início de sua carreira, o álbum Back In The Streets é a primeira Demo-Tape do Dokken? Você o considera um álbum oficial?
Don: É mesmo nossa primeira Demo, gravada em 1979, e não é um álbum oficial, é um lançamento pirata. Eu gravei esta fita na Alemanha com o Michael Wagener, mas ela foi roubada do estúdio. Faz tempo que estas pessoas estão ganhando dinheiro em cima deste lançamento, mas é muito difícil pegá-los, ainda mais porque estão na Alemanha. Esses caras já devem ter ganhado milhões de dólares e nós não vimos a cara do dinheiro.

Mais ou menos na época da gravação desta Demo havia um forte movimento América, o “Disco Sucks”, você se lembra?
Don: Claro! Foi por isso que mudamos para a Alemanha. A música que eu estava fazendo não era nada popular, só havia a Disco Music e o Punk Rock, de bandas como The Clash, Black Flag. Os alemães sempre foram mais próximos e fiéis ao Rock and Roll, até mesmo agora, pois eles gostam muito de Metal. E a mesma coisa está acontecendo novamente na América, pois tudo que aparece lá me lembra muito o Punk. Mas eu não gosto disso e vou continuar fazendo minha música!

As primeiras cópias do Breaking The Chains (1982) saíram com o logotipo Don Dokken na capa. Ele era inicialmente um álbum solo?
Don: Sim, era simplesmente um álbum solo. George não queria fazer parte da banda, apenas queria ganhar algum dinheiro gravando-o. Mas quando consegui um bom contrato ele ficou surpreso e mudamos a arte (risos)!

As músicas mais famosas do álbum Tooth And Nail (1984) são Just Got Lucky, Into the Fire e a balada Alone Again, mas o que você acha das outras faixas?
Don: Eu gosto muito da Don’t Close Your Eyes, mas as que mais ficaram populares nas rádios e na MTV foram estas que você citou. Existem outras no álbum que eu gosto muito e que soavam mais pesadas, como a When Heaven Comes Down e a rápida Tooth And Nail. Só que estas não poderiam ser trabalhadas comercialmente naquela época. Nos anos 80 as coisas mais pesadas eram deixadas para os shows e as mais leves tocavam nas rádios e na MTV. Eles gostavam mesmo de um Rock mais comercial, mas mesmo assim nós sempre colocamos coisas mais pesadas nos álbuns. Eu sempre preferi o nosso lado mais Metal.

Depois da “Tooth And Nail Tour” a banda tirou um período de férias e você foi para o México. É verdade que nessa viagem você compôs a música In My Dreams, hit do álbum Under Lock And Key (1985), logo após um gole de tequila?
Don: Um gole não, você errou, foi após uma garrafa inteira de tequila (risos). Eu não me lembro direito, mas estava na praia sentado na cadeira com meu violão nas mãos e passei horas olhando para o mar. Além disso, estava acompanhado por uma linha mulher. Acho que foi esta a minha inspiração para compor a música (risos)!

E você compôs In My Dreams a partir de uma realidade bem interessante.
Don: (risos) Sim, eu não conseguia dormir, estava bêbado e passei a noite inteira naquela realidade!

Em 1995 a época não estava boa para o Metal e o Hard Rock. Como foi a receptividade do álbum Dysfunctional? Vocês tocam alguma música daquele álbum atualmente?
Don: Tocamos a Too High To Fly. Apesar da má fase e de não sermos mais tão populares o álbum vendeu muito bem, superou a marca de 250 mil cópias. Muita gente gosta do Dysfunctional e é nosso álbum mais bem sucedido nos anos 90. Eu compus muita coisa para ele e deveria ser lançado como meu segundo álbum solo. Aí, no último instante, George voltou para a banda e nós o colocamos como Dokken. Se o Shadow Life é um álbum de George e Jeff, o Dysfunctional é meu trabalho. George não gosta dele porque não se envolveu muito no processo de composição. Mesmo assim dei alguns créditos para que ele ficasse contente (risos), como na Too High To Fly. Bem, ele não fez nada nesta música, mas tudo bem.

Mas na música The Maze você divide os créditos com ele e Jeff Pilson.
Don: Mas é o mesmo caso da Too High To Fly. Ele não compôs a The Maze.

O baterista “Wild” Mick Brown cantou no álbum acústico One Live Night (1995), mas como lhe foi dada a chance de cantar a música Crazy Mary Goes Round, do álbum Erase The Slate?
Don: Porque não era o meu estilo de música. Eu até tentei gravar, mas não combinou, pois não era o estilo típico do Dokken. Ela pedia por um vocal mais rasgado, algo bem Bon Scott (AC/DC). Eu pensei em deixá-la de lado, mas Reb gostava muito dele e aí Mick a gravou. Gostei do resultado final da música, mas seu a tivesse cantado ia ficar ruim (risos).

Existe algum projeto dentro da área musical que você ainda pretende fazer?
Don: Sim, tenho alguns projetos que pretendo fazer. Quero gravar mais um álbum solo e outro inteiramente acústico, com estilos mais latinos, como Santana e Sting fizeram. Mas o outro seria inteiramente pesado, com todas músicas no estilo da Tooth And Nail, nada de baladas! Só peso e pegada!


O Dokken já foi convidado a tocar no Brasil? Ouvimos rumores que vocês viriam fazer uma turnê no Brasil com a banda de David Coverdale, mas isto foi bem antes desta reformulação do Whitesnake. Isto é verdade?
Don: Não. Todo ano eu tento viabilizar uma ida e se alguém nos convidar nós iremos, mas nunca fomos convidados para tocar no Brasil! Queremos levar esta nova turnê com o Whitesnake para a América do Sul. Também iremos fazer alguns festivais com o Motörhead e outros com bandas bem pesadas e agressivas, e isso também seria legal. Eu não me importo e nem me oponho a tocar com bandas mais pesadas porque o Dokken também combina com bandas assim! Acho interessante esta integração.

Qual foi a melhor turnê que você realizou com  o Dokken?
Don: A melhor eu não posso ser preciso, mas a maior foi a turnê do “Monsters Of Rock” (1988), com Kingdom Come, Scorpions, Van Halen e Metallica. Era difícil subir no palco depois do Metallica, porque eles estavam numa forma incrível e tocavam muito pesado.

Deixe uma mensagem aos seus fãs brasileiros.
Don: Aos que acompanham o Dokken há anos, gostaria de pedir para vocês que peçam aos promotores de shows para nos levar para o Brasil! Mandem mensagens para nós também! O Dokken sempre sobreviveu por ser uma boa banda ao vivo e vocês merecem conferir nosso show. Se vocês são mais novos, levem suas mães nos shows porque elas também vão gostar (risos). O público brasileiro é fiel! São pessoas que nos acompanham desde os anos 80 e sei que aí no Brasil vocês são mais leais e não mudam de gosto toda semana.

Entrevista publicada na edição #50 da revista ROADIE CREW (março de 2003)
www.roadiecrew.com

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Arquivo Entrevista: MARK SIMPSON (Flotsam & Jetsam)

A banda norte-americana de Phoenix/Arizona Flotsam & Jetsam não é apenas aquela que revelou o baixista Jason Newested. "My God", seu oitavo álbum de estúdio, foi lançado no último dia 22 de maio pela Metal Blade Records e o quinteto formado por Eric A.K. (vocal), Jason B. Ward (baixo), Ed Carlson e Mark Simpson (guitarras) e Craig Neilsen (bateria) espera que o novo material contente os velhos fãs. Repetir o mesmo sucesso dos álbuns "Doomsday for the Deceiver" (1986), "No Place for Disgrace" (1988), "When The Storm Comes Down" (1990) e "Cuatro" (1992), este último o mais bem sucedido dos 15 anos de carreira, é uma tarefa mais complicada. O Flotsam & Jetsam passou por momentos delicados em sua trajetória, problemas com o antigo empresário, troca de integrantes e de gravadoras, mas soube sobreviver com dignidade no cenário norte-americano dos anos 90, que foi nivelado por baixo com a onda Grunge. O guitarrista Mark Simpson nos conta todos os detalhes sobre "My God", álbum que promete trazer de volta a banda ao patamar mais alto do cenário.

O Flotsam & Jetsam não costuma repetir a mesma fórmula em seus álbuns, mas como se deu o processo de criação do álbum mais recente, "My God"?
Mark Simpson: Trabalhamos cerca de um ano em cima deste material. É verdade, não costumamos nos concentrar em fazer sempre as mesmas coisas e como as idéias vêm fluindo com muita naturalidade desde o álbum anterior, este novo trabalho tem sua própria identidade musical. Quanto às letras, tudo ficou a cargo de Erik.

Mas o título do álbum e da faixa-título não foi idéia de Jason Ward?
Mark: Tanto o título como a concepção da capa do álbum foram idéias de Jason. Tínhamos pensado em várias possibilidades para a arte da capa e inicialmente o álbum seria chamado Obsessive Repulsive ou apenas de Flotsam & Jetsam. Mas, como queríamos uma capa que chamasse a atenção, que fizesse as pessoas pensarem: “que diabos isto significa!”. Quando Erik estava no estúdio gravando os vocais, Jason veio com a idéia para a capa e nós concordamos de imediato. Tínhamos pouco tempo para finalizar tudo, mas felizmente conseguimos. O resultado final ficou muito bom.

Qual é o conceito básico do tema do álbum, existe alguma conexão com conflitos religiosos?
Mark: Fala sobre o que está acontecendo entre Israel e a Palestina. Não é um álbum conceitual, apenas a faixa-título tem esta temática. 

O produtor Bill Metoyer não trabalhou com a banda no álbum "Unnatural Selection" (1999), mas este envolvido na produção de "My God". Por que vocês decidiram trazê-lo de volta?
Mark: Bill não nos produziu em "Unnatural Selection" mas queríamos que ele tivesse trabalhado conosco naquela ocasião. Tivemos sérios problemas com nosso empresário e tivemos que trabalhar com outro produtor, de Phoenix. Mas, desta vez, tivemos toda a autonomia para escolher e optamos por Bill sem sequer cogitarmos outro profissional.

Bill Metoyer tem autonomia para mudar tudo que achar necessário quando está trabalhando com vocês?
Mark: Ele não procura mexer muito nas músicas, somente nos passa suas idéias e o que acredita que pode ser melhorado. Nós costumamos discutir abertamente, sem nenhum tipo de conflito. Quando se está em estúdio, o melhor é ficar 100% concentrado e por isso as reuniões são importantes, porque muitas vezes você pode deixar passar em branco uma grande idéia por estar com pressa ou afobado.

A faixa "Dig Me Up To Bury Me" é bem Thrash e me lembrou a banda Death Angel. Você concorda com esta comparação?
Mark: Nossa, Death Angel! (risos) Não tinha pensado nesta conexão antes, mas gosto muito do Death Angel. Queríamos incluir faixas bem Thrash neste álbum, mas não que todas deveriam soar muito agressivas. Como você bem disse, não costumamos nos repetir e acredito que cada música tem seu impacto. Umas são mais pesadas, outras mais leves e é isto que torna o álbum interessante.

A faixa "Learn To Dance" é muito cativante e o riff de guitarra foi inspirado em Windows Rose. O que significa isto, é uma banda de Metal?
Mark: Sim! Quando Jason Newested se mudou de Chicago para Phoenix ele estava numa banda chamada Windows Rose e acredito que esta tenha sido uma das primeiras músicas que compôs em sua carreira. Sempre pensamos em usar riff principal desta música. Desta vez tentamos novamente e soou legal. Depois Erik encaixou uma letra legal. Certamente iremos incluí-la no set list da próxima turnê.    

O Heavy Metal tem uma grande recepção na Europa, América do Sul e Japão. Fora dos EUA, qual é o melhor mercado para a banda?
Mark: Desde que estamos com a Metal Blade a Europa costuma ser um grande mercado, especialmente na Alemanha. Começaremos nossa turnê em setembro pelos EUA. Em outubro seguiremos para a Europa, mas não sei se passaremos pela América do Sul.

Você acredita que a MCA brecou a progressão da banda para atingir o topo depois do lançamento do álbum "When The Storm Comes Down" (1990)?
Mark: Com certeza! Nada foi lançado na Europa naquela época e esta não era nossa intenção, havia muita coisa acontecendo e eles nos deixaram de lado. Não nos ajudaram, mas agora estamos com a Metal Blade, que sabe divulgar bem uma banda como a nossa.

Você está na banda desde 1997, mas saberia nos dizer qual o álbum da banda atingiu a maior vendagem?
Mark: Esta é difícil, mas acredito que seja o álbum "Cuatro", que recebeu disco de ouro. Na verdade, todos os álbuns lançados pela Metal Blade venderam bem. Não é qualquer um que vende mais de 1 milhão de cópias e isto é muito importante para uma banda.

A maioria das bandas de Hard Rock e Heavy Metal dos EUA costuma  declarar que atualmente não é bom passar mais de três semanas fazendo turnês, você concorda?
Mark: Concordo. Normalmente nossa turnê também não passa de três semanas. Em nosso caso, temos família para criar e ficar fora de nossa cidade por mais tempo torna-se prejudicial. Quando fazemos uma turnê pelos EUA preferimos passar este tempo na estrada, dar um tempo e depois voltar para mais três semanas, por exemplo, na Europa.

Recentemente o Overkill tocou no Brasil e o show em São Paulo foi memorável. Você concorda que as bandas de Thrash Metal injetam uma grande dose de energia nos shows e comparando-as com as da atual safra norte-americana conseguem um resultado muito melhor?
Mark: Lógico, porque nosso tipo de música é muito mais intenso e energético. A adrenalina sobe mesmo! Conhecemos o pessoal do Sepultura e imaginamos como deve ser um show no Brasil. As atuais bandas dos EUA tocam para um público basicamente formado por jovens e adolescentes, que num futuro próximo estarão ouvindo outro tipo de música.

Para uma banda que tem oito álbuns discos é complicado montar o set list dos shows?
Mark: (risos) É muito difícil, estamos justamente fazendo isto no momento. Temos que colocar pelo menos 90 músicas e somente de 12 a 15 são selecionadas para o set list dos shows. Além disso, temos que pensar em divulgar o novo álbum. Costumamos tocar músicas de todos os álbuns durante as turnês. Estamos planejando uma turnê pelos EUA como ‘headliners’ para o próximo mês de setembro.

Você tem outros projetos paralelos, sendo um deles o Electric Pickles, mas você sabe que existe um grupo de humoristas do Tennessee (EUA) com o mesmo nome?
Mark: Nossa, eu não sabia disto. Poderíamos nos juntar a este grupo de humoristas, pois seria muito mais engraçado para o público, porque o show do Electric Pickles já é um tanto hilário! (risos) Na realidade este é um projeto de Ed e Erik, no qual Jason Ward toca até saxofone!

Entrevista publicada na edição #32 da revista ROADIE CREW (agosto de 2001)