A ligação com o Bathory era grande desde o primeiro contato que tive com a banda, no lançamento do EP autointitulado de 1984. Lembro perfeitamente quando Serginho – hoje advogado de renome nacional – e Duda, amigos do time de futebol de praia do Guarujá, compraram “o disco do bode” importado e me enviaram pelo correio a gravação em fita cassete por fonopostal (!). É, quem reclama hoje que o “link está fora do ar” não faz ideia do que fazíamos para ouvir algo novo.
Também me recordo de ver o Paulinho “Pedrinho”, que fazia parte do time de basquetebol do clube Paineiras do Morumby na categoria do Conrado Tabuso, um dos editores do fanzine DeathCore, usando quase que diariamente a camiseta da “banda do bode”, com a capa do EP estampada. Nós até brincávamos que não íamos comprar a camiseta porque senão estaríamos “vestidos de Paulinho”.
Após os treinos e jogos do Paineiras – ou “Parna”, como chamávamos –, naquela fila para pegar o lanche, invariavelmente vinha o papo de quem era melhor – Bathory, Venom, Celtic Frost ou Hellhammer? Nunca quis entrar tão a fundo nessas discussões. Afinal, curtia da mesma forma todas estas bandas, mas sempre falava as mesmas coisas: “Ah, a música ‘Necromansy’ é a melhor do Bathory!” ou “O Venom que começou com isso tudo! Duvido que o Quorthon não tenha se inspirado na ‘In League with Satan’ para fazer a ‘In Conspiracy with Satan’”… Bem, eu falava tudo isso, mas bem lá no fundo eu já sabia que a minha preferida dentre estas era Celtic Frost mesmo. Era, ainda é e acredito que sempre será.
O já falecido músico sueco Thomas "Quorthon" Forsberg (17 de fevereiro de 1966 — 7 de junho de 2004) inspirou-se em Erzsebet Báthory para o nome de sua banda. Nascida em 1560, filha de pais de famílias aristocráticas da Hungria, Elizabeth cresceu numa época em que as forças turcas conquistaram a maior parte do território húngaro, sendo campo de batalhas entre Turquia e Áustria.
Como conviveu com todo o tipo de atrocidades quando criança, Elizabeth desenvolveu um alto grau de sadismo. Mais tarde, se tornou uma das mais belas aristocratas e quem a via jamais poderia imaginar que, por trás daquela atraente mulher, havia um mórbido prazer em ver o sofrimento alheio. A Condessa ganhou a fama de ser "vampira" por morder e dilacerar a carne de suas criadas.
Casada com o Conde Ferenc Nadasdy, Elizabeth teve três filhas, Anna, Ursula e Katherina, e um filho, Paul. Após a morte de seu marido em 1604, mudou-se para Viena e daí para frente seus atos tornaram-se mais pavorosos e depravados. As investigações sobre os assassinatos cometidos pela Condessa começaram em 1610, ano em que foi presa e julgada.
Em janeiro do ano seguinte foram apresentadas como provas algumas anotações escritas por Elizabeth, contando com aproximadamente 650 nomes de vítimas mortas pela acusada. Seus cúmplices foram condenados à morte e a Condessa à prisão perpétua. Elizabeth foi presa num aposento em seu próprio castelo, sem qualquer contato com o mundo externo. Vivendo fechada num quarto, sem portas e janelas, apenas com uma pequena abertura para passagem de ar e comida, faleceu a 21 de agosto de 1614.
Não sou cinéfilo e não consigo guardar nomes de filmes e de atores que vi na semana passada, mas uma boa dica para se ter uma ideia de como foi a vida de Elizabeth é o filme “Bathory” (“Condessa de Sangue”, no Brasil), lançado este ano. Mesclando ficção e realidade, o filme dirigido por Juraj Jakubisco mostra como Elizabeth Bathory se tornou uma lenda. No elenco, Karel Roden, Vincent Regan, Haws Matheson, Deana Horváthová e Franco Nero. Coloquei por colocar, já que não faço a menor ideia de quem sejam estes atores, OK?
Os anos passaram, os nossos gostos musicais foram se ampliando, mas aquela magia em relação ao Bathory permaneceu – pelo menos pra mim. Quando montei a banda Midnight com o vocalista Roger Lombardi, sabia da admiração dele em relação a estes mesmos grupos. Chegamos a gravar um CD com o Sunseth Midnight e quando ele saiu para montar o seu próprio projeto, veio com o nome Goatlove – goat que, na tradução literal, significa bode (ou cabra). O som da banda não tem nenhuma ligação com o Bathory, mas com o The Cult, que também tem seu disco “da capa do bode” e outro intitulado “Love”. Entretanto, bastam cinco minutos de papo com ele para perceber que o Bathory é uma referência, mesmo que implícita, assim como o Celtic Frost, Hellhammer, Venom e tantos outros. É, parece que a magia em relação ao quarteto “Bathory-Venom-Celtic Frost-Hellhammer” perdurará.