domingo, 23 de novembro de 2008

Volume 4: a descoberta

Descobri o Heavy Metal por acaso na passagem de 1979 para 1980 ouvindo o disco Volume 4 da banda inglesa Black Sabbath, a grande precursora do estilo. O álbum estava largado em algum canto numa estante do salão da casa de minha família, mas nunca tinha escutado-o. Até então, o que sabia sobre o Rock me fora passado por minha mãe, que gostava de Elvis Presley, Billy Halley, Little Richards, The Platters, Paul Anka e alguns outros astros do Rock And Roll dos anos 50.

No Heavy Metal costumeiramente alguém mais velho, da sua própria família ou do círculo de amizades, mostra um som para você e se aquele som de guitarras pesadas o pega "de jeito" pode estar certo que fará parte de sua vida para sempre. No meu caso, como minha mãe sempre relata, sempre fui vidrado em música e desde pequeno ficava dividido entre os esportes, os estudos e a minha sagrada vitrolinha portátil.

Apesar de não dançar nas festinhas de colégio, estava sempre antenado com o que estava rolando no momento, porque meu falecido pai havia sido advogado da gravadora Odeon e habitualmente levava para casa caixas e caixas de LPs de vinil, especialmente na época do Natal.

Mesmo voltando todos os esforços nos estudos e esportes (Basquetebol e Futebol), era um ouvinte esporádico de rádio. Só que mantive a paixão pelos discos de vinil. Sendo assim, animei-me e comecei a ouvir tudo que tinha em casa. Em meio a muitas coletâneas, a maioria de Disco Music do final dos anos 70, estava o álbum Volume 4, que rapidamente se tornou meu preferido. A partir daí, passei a ouvi-lo todos os dias. Se já soubesse tocar algum instrumento certamente conseguiria tocar o Volume 4 de ponta a ponta, algo que nunca aconteceu. A primeira música que consegui tocar inteira na bateria vários anos depois foi Paranoid, mas ironicamente nunca executei uma do Volume 4. Coisas da vida...

A obra

O Black Sabbath pode ter simplificado o título de seu quarto disco de Snowblind para Vol 4, mas demonstrou maturidade e evolução em relação aos álbuns que havia lançado: Black Sabbath, Paranoid e Master Of Reality. Como conseguir isto num período de excessos com drogas, álcool e o esgotamento físico é algo que só o Heavy Metal explica.

O grupo deixou a Inglaterra para gravar no Record Plant Studios, em Los Angeles (EUA). Lá, o Sabbath se fixou em uma mansão localizada em Bel-Air e que pertencia ao milionário John DuPont. A região que engloba Bel-Air, Beverly Hills e Holmby Hill forma o Triângulo de Platina de bairros de Los Angeles, onde as casas e propriedades estão entre as mais caras dos Estados Unidos. E, mesmo em meio a alguns abusos e muita farra naquele imóvel composto de vinte e sete cômodos, uma piscina imensa, salão de festas e um grande salão de jogos, o Sabbath compôs outra grande obra.

O álbum saiu a 25 de setembro de 1972, quando meu irmão - que, por outra ironia, jamais foi um fã ardoroso do Sabbath - estava com pouco mais 1 mês de idade. A abertura da obra vem em grande estilo com Wheels Of Confusion e lá está Bill Ward detonando na batera. O disco segue com a furiosa Tomorrow's Dream. Supernaut fala de drogas e só o sussurro "Cocain" de Ozzy em Snowblind dispensa comentários. Até mesmo nos 'liner notes' de Volume 4 o grupo agradece à "grande COKE-Cola Company" e o baixista Geezer Butler aparecia com o adesivo "Enjoy CoCaine" em seu baixo branco.

Os momentos calmos do disco vem com Laguna Sunrise e na balada Changes, que virou hit de rádio. Sua criação foi, no mínimo, inusitada. Tony Iommi havia exigido que fosse colocado um piano de cauda no salão de festas da mansão em Bel-Air e daí surgiu Changes, que teve a letra escrita por Ozzy em um de seus momentos de relax na piscina. Changes, que teve os teclados executados por Tony Iommi (piano) e Geezer Butler (mellotron), foi usada tempos depois no "Lado B" do single Sabbath Bloody Sabbath.

Vol 4 ainda traz Cornucopia, St. Vitus Dance e Under The Sun, típicos exemplos de onde veio o estilo Doom Metal. Os timbres dos instrumentos viraram referência e muitos músicos ainda tentam captar a essência de Vol 4, que em menos de um mês obteve o disco de ouro, posteriormente sendo o quarto disco consecutivo da banda a obter a marca de um milhão de cópias vendidas nos EUA.


Ficha Técnica:
"Vol 4" - Black Sabbath
Ano de lançamento: 1972
País de Origem: Inglaterra
Estilo: Heavy Metal
Line-up: Ozzy Osbourne (vocal), Tony Iommi (guitarra), Geezer Butler (baixo) e Bill Ward (bateria)
Produtor: Patrick Meehan e Black S
abbath
Engenheiros de som: Colin Caldwell e Vic Smith
Gravado no Record Plant Studios - Los Angeles (EUA)

Lado A
1. "Wheels of Confusion" - 8'01"
2. "Tomorrow's Dream" - 3'11"
3.
"Changes" - 4'44"
4. "FX" - 1'43
" (Instrumental)
5. "Supernaut" - 4'49"


Lado B
1. "Snowblind" - 5'33"
2. "Cornucopia" - 3'54"
3. "Laguna Sunrise" - 2'55" (Instrumental)
4. "St. Vitus Dance" - 2'29"

5. "Under the Sun" - 5'52"

Todas as faixas compostas por Iommi, Ward, Butler e Osbourne.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Arquivo Entrevista: STEVE HOGARTH (Marillion)

A banda inglesa Marillion, formada na cidade de Aylesbury em meados de 1978, não faz simplesmente Rock Progressivo, não deve ser encarada como clone do Genesis e muito menos ser classificada como Pop, mas tem fundamental importância no cenário musical. O que Steve Hogarth (vocal), Steve Rothery (guitarra), Mark Kelly (teclados), Pete Trewavas (baixo) e Ian Mosley (bateria) fazem é simplesmente colocar para fora seus sentimentos nos momentos de inspiração para criar boa música, seja ela centrada no Rock and Roll, Progressivo, Jazz, Blues, Soul, Funk, Country ou até mesmo fazendo uso de elementos contidos no Heavy Metal. Após emplacar alguns hits na fase em que o vocalista era Fish (Derek Dick), como Market Square Heroes, Assassin, Punch And Judy, Kayleigh e Lavender, e outros com o atual line-up, a banda continua remando contra os modismos atuais e tudo que possa ser considerado ‘mainstream’ e apresenta agora seu mais recente álbum, "Anoraknophobia", um trabalho coeso onde os músicos deixam fluir todas as suas influências. Steve Hogarth, que desde fevereiro de 1989 vem atacando como ‘frontman’, conta todos os detalhes na entrevista a seguir...

A banda ultimamente vem expandindo sua musicalidade sem impor limites. Sob este aspecto, você acredita que a música do Marillion não tem limites?
Steve Hogarth: Sim, esta é a verdade absoluta! Estamos trabalhando abertamente com este propósito nos últimos cinco ou seis álbuns que gravamos.

De onde vocês tiraram o título do mais recente álbum, "Anoraknophobia"?
Steve: Este foi uma idéia minha. “Anorak” é um tipo de casaco que as pessoas usam e aqui na Inglaterra também existe uma expressão popular para o tipo de pessoa que não liga para coisas que são ‘mainstream’, não anda na moda, que é chamada de “anorak”. Algumas vezes nossos fãs usam essa expressão para nos classificar, porque não somos e nunca fomos uma banda ‘mainstream’. Quando tive a idéia, pensei comigo: “o que há de errado em ser um “anorak” se também sou um deles?

Musicalmente, pude sentir no novo álbum uma vibração mais suingada em algumas partes, como na faixa "Quartz". Isto surgiu naturalmente ou vocês tinham mesmo esta intenção?
Steve: Quando começamos a escrever esta música, estávamos usamos pequenas partes sequenciadas que saíram legais e usamos como inspiração em algumas outras seqüências, como na faixa When I Meet God. Também estávamos tentando usar ‘loops’ de bateria no estúdio e isto nos deu de alguma forma esta vibração com ‘groove’ e provavelmente esta seja mesmo a primeira vez que o Marillion tenha seu lado “funk”. Acho que esta influência da música negra submergiu nestes últimos tempos, comparando à época em que entrei, em 1989, quando o Marillion era eminentemente uma banda de brancos, mais reta e certinha (risos). Como músico analiso isso como sendo uma progressão.

A faixa "Map Of The World" é uma trilha perfeita para um filme, uma música para fechar os olhos e sentir a emoção fluir. Quem a compôs e você sente o mesmo?
Steve: Para mim esta música na realidade foi um problema porque ela foi composta e gravada antes mesmo de eu ter escrito a letra, o que me deu um ‘trabalhão’. Escrevi uma vez e ela foi rejeitada (risos)! Quebrei a cabeça e fui à Barbados no final de janeiro para tirar uma férias, a convite de Nick Van Eede (N.R.: vocalista da banda Pop inglesa Cutting Crew), que está morando lá atualmente. Um dia tentei trabalhar nesta música e ele me ajudou a escrever a letra e o resultado final acabou ficando muito bom.

Como surgiu a idéia de gravar um álbum com o pequeno auxílio financeiro dos fãs que contribuíram através do site oficial da banda? Quando a EMI surgiu neste processo?
Steve: Foi muito mais do que uma pequena ajuda dos fãs. Decidimos fazer isto ano passado porque já tínhamos algum material gravado, mas não estávamos com a intenção de assinar com nenhuma gravadora. No começo, começamos a enviar e-mails para nossos fãs que estavam cadastrados em nosso mailing list perguntando sobre a possibilidade deles comprarem nosso álbum seguinte mesmo antes dele ter sido gravado. Explicamos que se eles comprassem de nossas mãos antecipadamente, nós não precisaríamos fechar contrato com nenhuma gravadora e mudaríamos radicalmente o modo de negociar o trabalho. Também alertamos que quem comprasse antes do dia 31 julho de 2000, teria o seu nome incluído na lista de agradecimentos do álbum. Bem, para encurtar a história, até o fim de julho 7 mil pessoas já tinham comprado o álbum e até o final do ano foram 12 mil. Então, como tínhamos muito dinheiro em mãos, gastamos tudo para fazer o álbum e não tivemos que assinar com nenhuma gravadora. Depois, licenciamos o álbum à EMI, mas propusemos que eles trabalhassem com o máximo de lealdade na vendagem, divulgação e trabalho de marketing do álbum. Também acertamos que eles não nos pagassem nenhum centavo para cobrir gastos com a gravação, mas que nos pagassem os direitos integrais das 12 mil primeiras cópias vendidas. Gostaria também de deixar claro que agora já não é mais viável comprar o álbum através de nosso site, somente nas lojas do mundo inteiro a partir do mês de maio.

Você prefere escrever letras mais pessoais, como em "This Strange Engine", ou gosta de temas mais fictícios?
Steve: Minhas letras são quase na totalidade de assuntos pessoais, coisas verdadeiras e muito poucas caminham pelo lado da ficção. Mas, acredito que "Map Of The World", música que você mesmo já comentou, é uma destas exceções, porque ela tem um lado mais fictício, não tem a ver comigo e nem com meus sentimentos pessoais. É uma música que serve para qualquer pessoa que quer tomar a iniciativa de mudar sua vida para melhor, mudar-se para um lugar melhor.

Como a vocês compõe? Você toca primeiro as melodias no piano de depois mostra a idéia para a banda toda?
Steve: Para nós o processo de composição é como sair de casa para ir ao escritório trabalhar. Saímos pela manhã e vamos ao estúdio diariamente, ficando horas seguidas fazendo ‘jams’, que são gravadas em MD. Fazemos isto por umas três semanas e depois paramos para ouvir o material que temos gravado nos MDs. Muitas vezes há muita porcaria e lixo no meio, mas nós jogamos fora o que ficou ruim e aproveitamos o restante do material, porque mesmo que uma frase, um tema ou uma base que seja, tenha aquele momento de inspiração, é por onde partimos para completar uma composição. Também descartamos melodias que soam repetitivas, ou melhor, aquelas que todos dizem: “já ouvi isso antes”. (risos) Não abrimos mão deste processo e é por isso que muitas vezes passamos mais de seis meses para compor um álbum. Gosto também de escrever alguns poemas quando não estou fazendo músicas, naquele momento mais intimista, de madrugada ou até mesmo quando estou dirigindo sozinho. Tenho sempre meu bloco de notas em mãos. Algumas vezes uso algumas frases destes poemas em nossas músicas. Cada um na banda tem suas particularidades e é por isso que hoje em dia não podemos prever como será nosso álbum seguinte até que ele esteja totalmente finalizado. Conheço outras bandas que usam este mesmo processo de composição, uma delas é o U2.

Vocês chegaram a passar por algum tipo de problema com os antigos fãs que não têm a mente tão aberta para aceitar que o Marillion não é somente uma banda de Rock Progressivo?
Steve: Não, nunca tivemos problemas com ninguém, somos bem sinceros e as pessoas que não gostam não devem comprar nossos álbuns. Não estamos aqui para enganar as pessoas. Todos devem ter sua própria idéia do que é bom e do que é ruim, as pessoas são livres. Este mecanismo é muito complicado, mas tem conexão com a intimidade de cada pessoa. Queremos expor nosso lado criativo e se alguém tem algum problema com isto, não ouça. Não vejo o porquê ficar preocupado com isto, da mesma forma que qualquer um que goste da música do Marillion.

Quanto ao mercado Rock Progressivo, quais os países onde o Marillion atingiu uma grande popularidade?
Steve: Não estou certo que estamos tão centrados somente neste mercado, mas do Rock em geral sim. Nossa popularidade varia de país para país, mas temos plena consciência de que temos um grande público na Holanda, México, assim como sempre fomos bem no Brasil, apesar de nunca saber ao certo quanto vendemos por aí, porque você sabe, é o Brasil (risos). Nós tocamos no “Hollywood Rock” festival em 1990 e tinham cerca de 50 mil pessoas cantando nossas músicas, mas nunca nos disseram que vendemos esta quantidade aí. Depois voltamos algumas vezes, é sempre um grande prazer tocar no Brasil e nossos fãs aí sabem o quanto eu gosto de estar em seu país.

Penso que voltar a trabalhar com a EMI/Brasil foi uma boa escolha para a banda.
Steve: Trabalhar com gravadoras independentes sempre acarretou uma série de problemas para nós em alguns países. Mas, voltar à EMI, especialmente no Brasil, um país distante do nosso, pelo menos nos dá a tranqüilidade de que eles saberão trabalhar e promover nosso trabalho de uma maneira mais eficaz.

Não sou da opinião que o Marillion é um clone do Genesis, mas você concorda que existe uma grande conexão entre ambas as bandas ao longo da carreira? Eles começaram como uma banda de Rock Progressivo e se tornaram uma banda Pop mundialmente famosa...
Steve: Você acha que viramos uma banda Pop?!

Acredito que sim.
Steve: Então você acha mesmo... Bem, esta nunca foi nossa intenção, só estávamos querendo facilitar as coisas (risos). Qualquer conexão entre Marillion e Genesis é realmente uma coincidência, você pode trabalhar paralelos porque ambas as bandas mudaram seus vocalistas originais, mas não sou Phil Collins e não toco bateria. Se fosse um baterista, aí sim poderiam surgir comparações, aliás, seriam inevitáveis e aceitáveis. Agora, para ser honesto nós nunca pensamos no Genesis e nunca me interessei tanto assim nesta banda.

Qual é a história por trás da música "Dry Land", do álbum "Holidays In Eden". É, na verdade, um cover?
Steve: É mesmo um cover de uma música minha, feita na época em que eu estava numa banda antes de me juntar ao Marillion. Nem sei posso chamá-la de cover, porque eu nunca vi ninguém fazer cover de uma música que criou (risos). O título do álbum que fiz com aquela banda foi "Dry Land" e havia a faixa-título e o produtor Cris Neil nos persuadiu a incluí-la no álbum do Marillion.

A despeito do lado melódico, mento e emocional das composições, o Marillion também costuma gravar músicas mais diretas, como o hit "Hooks In You" e "Separated Out", do novo álbum. Você concorda que é preciso criar e incluir este tipo de música nos shows?
Steve: Sim, mas este tem até sido um problema nos últimos anos, pois temos tentado criar músicas que contenham uma energia para que nos shows haja uma interatividade maior com o público. Atualmente estou louco para sair em turnê e testar as músicas novas porque também acredito que a música "Separated Out" conseguirá obter um bom resultado ao vivo.

Uma das melhores lembranças dos fãs brasileiros foi quando você deu uma de alpinista e escalou os PA's no festival "Hollywood Rock", em São Paulo. Você se lembra daquele momento?
Steve: (risos) Lógico que me lembro que escalei os PA's e foi uma coisa inesperada! Costumo fazer este tipo de coisas e como estou acostumado a escalar, pensei que aquilo seria interessante para o público. Tenho sentido que muitas bandas que tocam em festivais pelo mundo apenas sobem no palco e tocam, mas um festival de grandes proporções pede para que a postura seja um pouco diferente de quando você toca num clube ou numa casa de shows de menor porte. Gostaria muito de voltar a tocar no Brasil e queria dizer que adoramos nossos fãs brasileiros!

Entrevista publicada na edição #29 da revista ROADIE CREW (maio de 2001)

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Arquivo Entrevista: ANDREAS "GERRE" GEREMIA (Tankard)

O Tankard surgiu em 1982 na cidade de Frankfurt (ALE) e já com a primeira Demo, "Alchoholic Metal", conseguiu um contrato com a Noise Records, em 1985. No ano seguinte, Gerre Gesang (vocal), Oliver Werner (bateria), Axel Katzmann e Andy Bulgaropulos (guitarras) e Frank Thorwarth (baixo) gravaram o primeiro trabalho, "Zombie Attack". Na seqüência, lançaram "Chemical Invasion" e a boa receptividade fez com que o nome da banda subisse na cena do Thrash Metal. Nada mudou a atitude destes alemães, que sempre preferem o bom humor, "reuniões" diárias em pubs e, claro, tocar. Os anos passaram e foram soltando seus trabalhos – "The Morning After" (1988), "The Meaning Of Life" (1990), "Fat, Ugly And Live" (ao vivo, 1991), "Stone Cold Somber" (1992) e "Two Faced" (1993). Depois de uma mudança na formação, com a entrada do baterista Olaf Zissel e a saída de Katzmann, saiu o ótimo "The Tankard", álbum mais consciente e maduro. Em 1997, já pela Century Media, soltaram "Disco Destroyer", uma volta às raízes. Depois, Andy Grutjar (ex-Lightmare) foi escolhido para ocupar a vaga de Katzmann. Com este line-up, gravaram uma música comemorativa ao centenário do Eintracht Frankfurt, clube de futebol do qual torcem e também entraram no Tributo ao Accept, com a faixa "Son Of A Bitch". No ano passado soltaram "Kings Of Beer", que transmite o que é o Tankard: Thrash Metal, Punk Rock, cerveja, bom humor e ironia. Saiba um pouco mais na entrevista com o vocalista Gerre.

Você foi forçado a cancelar a turnê do "Kings Of Beer" por causa de problemas de saúde. Como você se sente atualmente, está apto para fazer shows?
Gerre: Tive muitos problemas de saúde mas agora estou melhorando. Começaremos a tocar em abril próximo, mas serão poucas apresentações. Depois, faremos alguns shows nos festivais de verão na Alemanha.

"Kings Of Beer" tem uma sonoridade típica da velha escola do Thrash Metal, com um pouco de Punk Rock e Hardcore. Como você o compararia com o 'debut', "Zombie Attack"?
Gerre: Oh, é muito difícil comparar estes dois álbuns, mas eles têm capas e títulos diferentes (risos). Acredito que em "Kings Of Beer" as raízes do Thrash Metal estão mais presentes e nos divertimos fazendo-o. Estamos totalmente dentro deste contexto musical, somente isto.

"Zombie Attack" foi lançado em 1996. Como você analisa a cena do Metal atual com aquela época?
Gerre: Acho que a cena era mais forte naqueles dias, você tinha mais lugares e estava apto a ouvir Metal. Hoje em dia nós ainda estamos tendo muitos shows e existem muitas pessoas que compram CDs de Metal. A grande diferença é que estamos mais velhos e gordos desde que começamos nos anos 80.

Por que o guitarrista Axel e o baterista Oliver deixaram a banda?
Gerre: Oliver saiu porque queria fazer outro tipo de música e Axel estava com problemas em suas mãos e não pôde mais continuar.

O Tankard nunca figurou na cena do Metal como fizeram bandas como Destruction, Sodom e Kreator. Qual foi a razão principal para que isto ocorresse?
Gerre: Você está certo, nunca alcançamos o mesmo patamar que eles na Europa ou na América, mas na Alemanha o Tankard se enquadra entre as 4 melhores bandas de Thrash Metal. Nunca fizemos uma turnê pelos Estados Unidos e talvez seja esta a razão, além do mais somos tão feios...

Você concorda que "The Tankard" é o melhor álbum da banda?
Gerre: É o melhor álbum musicalmente, mas ninguém se interessou por ele e a capa também era horrível. Mesmo assim, ainda tocamos em nossos shows algumas músicas deste álbum, como "Atomic Twilight" e "Minds on the Moon".

As letras sempre tiveram ligação com o humor ácido, ironia explícita e problemas sociais. Você acredita que este é o diferencial do Tankard em relação a outras bandas, usar o humor em suas letras?
Gerre: Sim, também acho. Sempre fomos uma banda bem humorada, nossa atitude é mesmo esta. Não nos levamos tão a sério e você pode perceber isto em suas letras ou quando fazemos nossos shows. A coisa mais importante para nós é o humor!

E quanto ao projeto Tankwart? Você tem planos para gravar outro álbum?
Gerre: No momento não temos nada planejado neste sentido. Os outros integrantes da banda preferem tocar suas próprias coisas.

Quais bandas você está ouvindo atualmente?
Gerre: Prefiro ouvir coisas mais antigas dos anos 80, como Overkill, Anvil, Exodus e também ouço bandas como Nevermore, Jag Panzer e muitas outras. Sou realmente um fã de Metal.

Como foi a gravação para o tributo ao Accept? Quem escolheu a faixa "Son Of A Bitch"?
Gerre: O período de gravações foi muito proveitoso, nos divertimos muito. Escolhemos esta música em particular porque ela era uma das que estavam deixando de lado, mas acredito que fizemos uma versão engraçada de um clássico do Metal.

O que você sabe sobre o Brasil? Existem planos para tocar e beber cervejas por aqui?
Gerre: Conheço o Carnaval e alguns jogadores de futebol que jogam na Alemanha. Ah, também sei que existem muitas mulheres bonitas e o Sepultura, é claro. Nós queremos muito ir ao Brasil para tocar e bebermos umas cervejas, mas não tivemos nenhuma oferta até o momento. Talvez você possa nos ajudar...

Entrevista publicada na edição #27 da revista ROADIE CREW (março de 2001)