sábado, 1 de março de 2008

Arquivo Entrevista: DARKSEED

Da primeira Demo-Tape, "Sharing The Grave", lançada em agosto de 1992, para o mais recente álbum, "Diving Into Darkness", muita coisa mudou na carreira da banda alemã Darkseed. Foram várias trocas na formação e uma mudança no direcionamento do som, que, atualmente, está muito próximo aos melhores momentos do Paradise Lost. Apesar de ter perdido o baixista Rico Galvgno e o baterista Willy Wurm, o trio Stefan Hertrich (vocalista) e os guitarristas Thomas Herrmann e Tom Gilcher estão comemorando a boa fase, pois, pela primeira vez, a gravadora Nuclear Blast está apostando no sucesso do álbum. Quem nos conta os detalhes é o fundador e 'frontman', Stefan Hertrich.

Você concorda que o Darkseed trabalhou no limite entre o Death Metal e o Pop/Rock Gótico em "Diving Into Darkness"?
Stefan Hertrich: Concordo. Procuramos manter a mesma intensidade dos riffs da guitarra com a melodia dos teclados e todo o aparato eletrônico que usamos. Esta foi a meta que procuramos atingir neste álbum e acho que conseguimos manter um bom equilíbrio no som. Foi a primeira vez que realmente incluímos sons mais eletrônicos, mas isto caiu bem e não tirou o peso e a vibração das guitarras.

O novo álbum é o terceiro do Darkseed pela gravadora Nuclear Blast. Em quais países a banda está se destacando? O Japão ainda é o seu maior mercado?
Stefan: O Japão continua sendo um grande mercado, assim como a Polônia e a Bulgária, mas, com certeza estamos tendo mais oportunidades agora, pois a promoção do novo álbum está sendo muito boa. Na Alemanha, não acredito que exista uma cena de Gothic Metal, mas uma cena de Metal em geral. Quanto ao mercado americano é melhor esperarmos, pois o álbum só será lançado na América em julho.

A linhas de teclado na música "I Deny You" são interessantes e mesclam bem o Pop/Gótico de bandas como o Depeche Mode com elementos mais usados nos anos 70. No processo de composição, as linhas de teclado são feitas antes dos riffs de guitarra?
Stefan: Exatamente. Primeiro compomos as linhas de teclado e depois são colocadas as bases de guitarra. Especialmente nesta música que você mencionou, devo concordar mais uma vez com você, pois ela tem uma pegada semelhante ao som do Depeche Mode. Além disto, como este álbum é mais atmosférico, procuramos não limitar as partes de teclado, por isso, existe uma mistura de elementos modernos com sonoridades mais antigas.

Como vocês irão proceder nos shows, usarão samplers?
Stefan: Não vejo problema algum em usar samplers. Nós costumamos usar CDs com os sons sampleados e, em outras partes, o som virá dos teclados. Nos concentramos em deixar este material perfeito para estas ocasiões, especialmente daqui para a frente, pois estamos usando mais partes ditas eletrônicas.   

Os refrãos não estão agressivos mas, por outro lado, passam uma intensa emoção, especialmente em músicas como "Counting Moments" e "Rain". Como você percebeu que as vozes mais limpas e suaves iriam cair melhor para este tipo de som?
Stefan: Depois de analisarmos todas as composições, colocamos as vozes limpas. Mas, basicamente é o mesmo processo de criação de todas as outras linhas de voz. Depende do momento, do que a música pede. Estas que você citou tiveram o mesmo tratamento das outras. 

Ainda sobre os vocais, você concorda que muitas vezes são semelhantes ao Paradise Lost, Tiamat e James Hetfield do Metallica. Além do trabalho que o Darkseed apresentou neste novo álbum, você concorda que a banda poderá obter mais fama porque estas bandas que citei estão fazendo um tipo de som diferente do que faziam?
Stefan: Como lhe disse, todas as vozes são elaboradas da mesma forma mas  muitas pessoas estão dizendo o mesmo e se as acham parecidas com estas bandas tudo bem, não existe nenhum problema. As vozes combinam e ficaram boas, é isto que basicamente interessa. Quanto ao crescimento da banda, acredito que o Paradise Lost deu uma caída com o mais recente álbum, pois está muito mais Pop e se os fãs estão procurando algo no estilo do álbum "One Second" e "Draconian Times", acho que podemos figurar neste setor. Mas, da mesma foram que o Paradise Lost mudou, se olharmos para trás, também mudamos, mas conseguimos manter a agressividade da guitarra e uni-la aos novos elementos.

Por que o baixista Rico Galvgno e o baterista Willy Wurm deixaram a banda? Daqui para frente vocês só irão trabalhar com músicos convidados?
Stefan: Eles eram fissurados em tocar ao vivo, se apresentar em qualquer lugar, mas, estávamos muito mais concentrados na parte de produção em estúdio, achar a sonoridade ideal para cada música. Gostamos deste tipo trabalho e, como não fizemos muitos shows no ano passado, falamos para eles que era a hora de procurarem uma banda para poderem se apresentar e excursionar. A promoção de nosso álbum anterior não foi muito boa, por isso não quisemos nos arriscar tocando em qualquer “buraco” que aparecesse.

No final de agosto de 1998, o ex-guitarrista da banda, Andy Wecker, faleceu. O que você pensou naquele momento?
Stefan: Andy passou um ano no hospital e não sabíamos que ele tinha ficado tanto tempo internado. Sempre pensávamos: "Tudo bem, ele está doente, mas é jovem e qualquer dia destes vai aparecer para tomarmos umas cervejas e conversar sobre música." Mas, infelizmente isto não aconteceu e ele faleceu de câncer. Quando soube da notícia, a primeira coisa que senti foi um mal-estar por não tê-lo visitado no hospital. Isto foi realmente trágico.

O que é a Dark Music Media, um estúdio de gravação ou uma gravadora independente?
Stefan: Até o momento é um estúdio. Tentamos dar o primeiro impulso às bandas que nos procuram e auxiliá-los no que diz respeito à produção de CDs e Demo-Tapes. Também gravamos trilhas de games para computador e damos total suporte na parte gráfica, criando as capas e encartes. Mas, ainda temos a intenção de transformar a Dark Music Media numa gravadora e lançar bandas novas no mercado. Se alguma banda quiser nos enviar seu material, basta entrar em contato via e-mail (dmm@darkseed.com).

É verdade que o baterista Harald Winkler deu nome à banda justamente por causa de um game de computador?
Stefan: Sim, Darkseed é um ‘game’ muito famoso e Harald era viciado neste jogo! Tanto assim que o nome da banda acabou ficando este mesmo. Como temos muito contato com este mundo dos ‘games’, isto acabou ficando comum para nós, pois eles fazem parte de nossa vida, tanto em nosso trabalho específico com a Dark Music Media, como para diversão.

Como estão seus outros projetos, Betray My Secrets, Death Of Eden e o Sculpture?
Stefan: Com o Death Of Eden, eu e Tommy estamos em fase final das gravações de nosso próximo trabalho. Na verdade, só faltam as vozes. Quanto ao Betray My Secrets, ainda não temos novos planos. Com relação ao Sculpture, eu resolvi deixar este projeto porque não gostei da minha voz no álbum, além da produção, que ficou muito aquém do esperado. Tommy também está com um projeto de música medieval, que será muito interessante, pois gravará com todos os instrumentos originais daquela época, aliás, muitos destes instrumentos são tão diferentes e esquisitos que se você ver, nunca acreditará que irá sair algum som.

Você acredita que a música medieval de raiz, tocada com os instrumentos originais poderá ser mais uma saída para o Heavy Metal? Você já pensou em usar estes instrumentos no Darkseed?
Stefan: Poderá se for feita com alma, com o intuito de criar algo novo. Vários músicos estão buscando representar suas raízes através da música, passando um pouco da cultura de cada país para o som que tocam. Acho que podemos fazer o mesmo, inclusive usando alguns destes instrumentos no Darkseed, já que no som que fazemos, existe um guitarra distorcida, outra mais limpa e os teclados. As guitarras limpas poderiam ser facilmente substituídas por estes instrumentos medievais. Aliás, isto que estou lhe respondendo está vindo na minha cabeça agora e, quem sabe, não pode refinar nosso som e diferenciá-lo. Vamos aguardar, pois o primeiro passo será o lançamento do álbum de Tommy, pois este é um projeto dele.

Quais são as suas bandas favoritas?
Stefan: Não estou muito atualizado no cenário, pois ando muito ocupado e nem me lembro a última vez que comprei um CD. Geralmente, escuto o que meus amigos me mostram, mas as bandas que mais gosto são Paradise Lost, principalmente nos álbuns "One Second" e "Draconian Times"; Entombed, no álbum "Left Hand Path";  Anathema; Cathedral e tudo do Depeche Mode.

E as bandas góticas mais tradicionais, como o Sisters Of Mercy? Pensei que você gostasse deste tipo de voz?
Stefan: Eu gosto, mas o estilo é bem mais Pop e não tem uma pegada muito forte.

Muitas bandas de Gothic Rock escrevem sobre decepções, tristeza, amores impossíveis e coisas do gênero. Qual a temática que a banda adotou no mais recente álbum?
Stefan: Tudo bem em se falar apenas de tristeza mas em nossas letras gostamos de passar coisas que acontecem com todo mundo, o sofrimento das pessoas no seu cotidiano, a destruição da natureza, coisas do cotidiano, que podem servir tanto para mim como para você.

E quanto aos shows, vocês têm planos para sair em turnê este ano? 
Stefan: Ainda estamos aguardando a melhor oportunidade para nos apresentarmos, mas não existe nada agendado até o momento. Vamos ver como será a aceitação deste álbum, mas seria bem interessante fazermos uma tour este ano e irmos para países que nunca estivemos, inclusive para o Brasil.

Entrevista publicada na edição #21 da revista ROADIE CREW (maio de 2000)

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