O vocalista alemão Udo Dirkschneider ficou mundialmente conhecido por ter sido o 'frontman' do Accept, um dos mais importantes nomes da história do Heavy Metal. Sua banda solo, U.D.O., iniciou as atividades em 1987, época em que o Accept estava concentrado em atingir o mercado norte-americano. Udo deixou a banda de forma amigável e lançou o álbum "Animal House", que obteve um rápido reconhecimento. Desde então, sua carreira solo vem mantendo uma regularidade, sempre evidenciando o Heavy Metal tradicional, com a marca registrada de sua voz. Durante os anos de 1992 e 1996, Udo retornou à sua ex-banda. Em 1997, retomou a carreira solo lançando "Solid" e, no ano seguinte, "No Limits". O mais recente álbum, "Holy", é a prova de que para ele o Metal é sagrado. Na entrevista a seguir, o alemão dá uma aula de humildade e comprova sua paixão pelo estilo, além de demonstrar grande interesse em se apresentar no Brasil.
"Holy" traz uma excelente produção e uma sonoridade bem próxima ao Heavy Metal tradicional, coisa que você sabe fazer com maestria, desde os tempos do Accept. Como você se sente tocando este estilo, cercado por um cenário musical onde a moda impera?
Udo Dirkschneider: Nunca quisemos que nossa música tomasse outro rumo. Muitas bandas fizeram isto, mas somos muito centrados no que fazemos e nossa proposta é esta. E concordo com você, pois sinto que "Holy" está mais próximo de minhas raízes, o que significa, do Accept. O que tentamos fazer é manter aquele mesmo espírito.
Por falar nisto, quem criou os backing vocals para este álbum? Você concorda que soam exatamente como os do Accept?
Udo: Eu, Stefan Stefan Kaufmann e o baixista Fitty Wienhold. Como eu participei da criação, eles soam com a mesma intensidade que soavam com o Accept. Além disto, Stefan Kaufmann também participou do Accept! Fitty veio do Bullet, uma banda que chegou a ter uma boa repercussão na Alemanha no início dos anos oitenta e o guitarrista Igor Gianola vem de uma escola na linha de bandas como Led Zeppelin e AC/DC. Na verdade, todos nós estamos muito envolvidos com o Heavy Metal tradicional.
Os álbuns "Animal House" e "Mean Machine" ainda são os mais bem sucedidos de sua carreira? Você acredita que "Holy" poderá superá-los?
Udo: Até o momento, "Holy" já superou "Mean Machine" nas vendas. No entanto, nosso trabalho mais bem sucedido é mesmo o primeiro, "Animal House". Mesmo assim, acredito que Holy ainda poderá superá-lo e se tornar o maior sucesso da banda.
Qual o set list de um show do U.D.O.? Quais músicas do Accept você toca em um show da banda?
Udo: Do U.D.O. tocamos "Animal House", "They Want War", "In The Darkness" e, às vezes, "Break The Rules" do "Mean Machine". Depois entram "Heart Of Gold", "Metal Eater" do "Timebomb", "Independence Day" do "Solid"; "No Limit"; "Holy", "Raiders Of Beyond", "Shout It Out" e "Cut Me Out". Do Accept, nós tocamos "I'm A Rebel", "Son Of A Bitch", "Restless And Wild", "Princess Of The Dawn", "Fast As A Shark", "Balls To The Wall"... Tenho que pensar, pois são tantas.
Ainda bem! E pelo que senti é um set numeroso.
Udo: Sabia que você era fã de Accept (risos). Tocamos também "London Leatherboys", "Metal Heart", "Midnight Mover", "TV War" e "Protectors Of Terror". Nosso set completo tem mais de duas horas de duração.
Quando você deixou o Accept em 1986, a razão principal foi que sua voz não era apropriada para o Hard Rock americano, estilo que a banda pretendia rumar?
Udo: Nesta época, não fui eu que saí da banda. Não disse a eles "Ok, quero deixar a banda". A razão foi que eles estavam convictos em seguir novos rumos, ter uma nova orientação musical, mas estavam ouvindo as pessoas erradas e concordaram em prosseguir tendo uma nova proposta, que visava o mercado americano. Como sabiam que não poderiam fazer isto com minha voz, eu mesmo disse que tudo bem, pois não consigo cantar de outro modo, especialmente em músicas mais comerciais ou mesmo Pop. Então, eles começaram a procurar um novo vocalista e eu montei o U.D.O., pois queria continuar fazendo o Heavy Metal tradicional.
Por que a banda não deixou as músicas mais Hard para que o baixista Peter Baltes as cantasse e as mais pesadas para você? Em "Eat The Heat" existem músicas mais tradicionais, tanto que você mesmo regravou uma delas, "Generation Clash"?
Udo: Quando "Eat The Heat" foi lançado ele continha músicas boas, bem estruturadas, mas aquilo não poderia mais ser considerado Accept. Eles começaram a tour pelos Estados Unidos e, depois de seis semanas, a banda se separou. Mesmo antes deles estarem com estas novas idéias, não éramos uma banda muito unida. Não havia qualquer tipo de inimizade, mas, não estávamos na mesma sintonia. Tanto isto é verdade que quando ocorreu o nosso retorno, concordaram que aquilo que haviam feito estava totalmente errado. Quanto à questão de Peter Baltes que você mencionou, ele nunca foi um vocalista de verdade, um 'lead singer' nato, apenas gostava de cantar e, às vezes, sua voz caía realmente bem, especialmente em algumas baladas do Accept.
Nos primeiros anos de sua carreira, você tinha uma banda chamada Band-X, com Michael Wagener. É verdade que ele decidiu deixar esta banda depois que percebeu que nunca seria um grande guitarrista? Vocês perderam um guitarrista, mas o mundo ganhou um excelente produtor!
Udo: Isto já faz um bom tempo. Esta banda começou em 1968 e, por volta de 1972, nós mudamos o nome para Accept, mas, naquela época ele já não estava mais comigo e permaneceu por um ano em outra banda até que percebeu que não bom o bastante para seguir como guitarrista. Ele sempre esteve mais interessado em mixagens e na parte mais técnica. Depois ele foi para uma companhia em Hamburgo, na Alemanha, onde aprendeu todas as técnicas de produção e mixagem.
Qual sua opinião sobre o álbum tributo ao Accept, lançado em 1999? Quais são suas músicas favoritas do Accept em todos os tempos?
Udo: Isto nos encheu de orgulho, por tudo o que passamos no mundo da música. O álbum tributo é muito legal, mas, devo dizer que também é bem interessante que os fãs procurem conhecer estas bandas que participaram deste trabalho em suas próprias carreiras. Conheço muitas delas e sei que foram inspiradas pelo Accept e é legal saber e conferir isto. Sobre minhas músicas favoritas, esta é uma pergunta difícil. São muitas, mas a que mais gosto é "Princess Of The Dawn".
O Accept sempre foi uma banda que causou polêmica. Três fatos foram marcantes sob este aspecto: a música "Son Of A Bitch", a introdução de "Fast As A Shark" e aquela sobre quem seria Deaffy. Você pode comentar algo sobre isto?
Udo: Quando fizemos "Son Of A Bitch", que saiu no álbum "Breaker", estávamos com muitos problemas com nossa gravadora e por isto toda a letra da música foi escrita em homenagem a eles. Sobre a introdução de "Fast As A Shark", quando finalizamos o álbum "Restless And Wild", queríamos alguma coisa bem louca para a abertura. Então, alguém chegou com esta velha canção Folk alemã e fizemos aquilo que já ouviu. Quanto a Deaffy, era nossa empresária Gaby Hauke, mas ela não queria que seu nome aparecesse nos créditos do álbum. Foi uma idéia dela, por isso inventou 'Deaffy'.
Por que tanto o Accept como o U.D.O. nunca vieram tocar no Brasil? Você já tocou na Argentina duas vezes...
Udo: Sempre tentamos tocar no Brasil! Quando fomos pela segunda vez para a Argentina estava quase tudo planejado para tocarmos em São Paulo e no Rio de Janeiro, mas os shows foram cancelados, não sei se por problemas financeiros ou contratuais. Mas, o que posso dizer? Acredito que trabalhando com a Nuclear Blast poderemos finalmente ir para ai, talvez em setembro ou outubro deste ano. Faremos o possível para que isto aconteça desta vez. Sei que temos muitos fãs aí, desde à época do Accept.
Entrevista publicada na edição #21 da revista ROADIE CREW (maio de 2000)
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