Dokken, uma das melhores bandas vindas do lendário circuito de clubes de Los Angeles (EUA), que lançou obras que marcaram a boa fase do Hard Rock nos anos 80, como os clássicos álbuns "Tooth And Nail", "Under Lock And Key" e "Back For The Attack". O trabalho mais recente é o ao vivo, "Live From The Sun", que sucede o aclamado "Erase The Slate". Depois de ter vendido milhões e atraído uma grande quantidade de fãs fiéis, a banda acreditou ser o momento exato para mais um álbum ao vivo. O vocalista Don Dokken conta os detalhes e curiosidades da carreira.
Primeiramente, gostaria de matar algumas curiosidades. Você cantou no álbum "Blackout" do Scorpions? O baixista Peter Baltes (ex-Accept) também fez parte do Dokken? E você ainda se lembra qual foi a primeira formação da banda?
Don Dokken: Sim! Eu participei dos backing vocals daquele álbum do Scorpions. Quanto a Peter Baltes, certo, em partes. Ele tocou em todas as faixas do álbum "Breaking The Chains" e também em meu trabalho solo como Don Dokken, "Up From The Ashes". Nossa primeira formação? Certamente me lembro. Eu no vocal e guitarra, Juan Croucier no baixo e um baterista chamado Greg Pecka, que era do Valentine. Como você sabe, Juan era o baixista do Ratt.
"Tooth And Nail" foi o álbum que fez o Dokken ampliar suas fronteiras, inclusive no Brasil. Sobre este trabalho, vocês optaram por uma sonoridade tipicamente Hard, como em "Into The Fire", mas também mostraram um lado mais Heavy, como na faixa-título. Esta era a proposta inicial da banda?
Don: Eu gosto de compor Heavy Metal com partes melódicas e acredito que foi justamente isto que nos fez de certa forma famosos. Somos uma banda de Metal como vocais melódicos.
No álbum "Under Lock And Key" a banda continuou a mixar o Hard e o Heavy. Sobre esta fase, eu vi uma declaração sua na MTV há alguns anos e você declarou com certa raiva quer não suportava o visual glam como consta da foto da capa daquele álbum. Por que a gravadora forçava a banda a usar aquele tipo de visual?
Don: Porque eles sentiam que aquele seria o único modo de conseguirmos penetração na MTV naquela época e também porque todas as bandas buscavam aquele tipo de visual. Fomos pressionados pela gravadora. É certo que tentamos seguir aquele caminho, mas não funcionou e por isso paramos. Dissemos para eles que não poderíamos continuar com aquilo e não iríamos mais seguir daquele jeito. Podíamos até ter aquele visual glam nas fotos dos álbuns mas quem nos viu ao vivo sabe que só usamos roupas pretas.
"Back For The Attack" foi outro trabalho marcante. Você e o guitarrista George Lynch eram as grandes sensações do momento. Aquele foi o álbum mais bem sucedido do Dokken?
Don: Foi o ápice de nossa carreira. O álbum vendeu 1 milhão de cópias em 21 dias e durante a turnê tocamos ao lado de bandas como Aerosmith, Judas Priest, AC/DC, Van Halen, Scorpions, Metallica, Kingdom Come. Fomos headliners por cerca de 1 ano. Foi uma fase “brutal”.
Alguns anos depois, a cena do Hard Rock começou a decair, pois o Grunge monopolizou a cena musical dos Estados Unidos. Este foi o pior momento de sua carreira?
Don: Sim. Meu álbum solo estava definitivamente fora dos padrões da época. Era um grande álbum! Agora é engraçado... A Geffen relançou-o e ele está vendendo muito bem. Acredito que eles foram ao depósito para ver se nosso último álbum ao vivo estava saindo e viram o meu álbum solo (como Don Dokken), daí tiveram a idéia de colocá-lo novamente no mercado. Estou contente com isto e garanti meu cheque dos ‘royalties’ para os últimos seis meses. Aquele álbum esteve no “Top 5” da MTV durante 1 mês. Quando a Geffen vendeu a companhia, logo depois que ele foi lançado, foi um desastre. Tudo veio na contramão, a onda Grunge e a venda da Geffen para a MCA. Foram tempos difíceis. Todos que trabalhavam na promoção daquele álbum saíram da companhia. A piada sobre isto era que o álbum estava na 5ª posição e subindo como uma bala, mas depois disto foi para a 105ª posição, descendo como uma âncora. Eu fiquei bêbado uns seis meses depois disto. Realmente estava deprimido.
Depois de um longo período houve o retorno do Dokken. Entretanto, vocês lançaram o pior álbum da carreira. Por que vocês mudaram tanto o estilo e fizeram um trabalho tão abaixo do esperado?
Don: "Shadowlife". Eu detesto aquele álbum. Não tenho nada a ver com aquele trabalho, não escrevi nenhuma das músicas. Fui excomungado. George disse se eu pisasse no estúdio ele sairia. Ele disse se eu aparecesse no Arizona ele sairia. Eles fizeram o álbum inteiro sem mim. Depois, me enviaram uma fita com as músicas e disseram para eu escrever letras. Eu não estava no estúdio, não vi nem ouvi nenhuma nota que foi gravada lá e tive sete dias para escrever letras e melodias para músicas que nunca tinha ouvido. Por isso este álbum é assim, tende somente para uma direção. Foi o fim de nossa relação com George Lynch. Nós não éramos mais uma banda. Não havia muitas faces sorridentes na turnê de "Shadowlife". George fez questão de mostrar para todos que não estava contente. Ele estava tentando me ferrar.
E quanto a "Puppets On A String"?
Don: É uma boa música, mas não estava nos planos para ser incluída no álbum. Aquela foi a última música que sobrou.
Com esta trágica mudança, a queda nas vendas foi natural.
Don: As vendas caíram e tivemos 90% das críticas negativas. A gravadora nos chamou para uma reunião e eu disse que não soltaríamos nenhum single e que nem deveríamos ter lançado aquele álbum. Foi nossa “morte”. Eu disse a George que ele havia conseguido o que queria. Quis destruir a banda e conseguiu. Este álbum é uma merda. Não queria nem meu nome naquele trabalho e impedi de usarem o mesmo logotipo dos álbuns anteriores. Foi uma álbum de George Lynch com Don Dokken nos vocais. Teria sido um bom álbum para uma ‘bandinha’ de Seattle. Se o Stone Temple Pilots fizesse um álbum no estilo do Dokken eu não o compraria.
E sobre o produtor, Kelly Gray, que hoje está no Queensrÿche?
Don: Kelly Gray. A primeira coisa que ele me falou foi: “Não sou fã do Dokken e não gosto de sua voz. Não quero que você use seu vibrato e muito menos backing vocals. Vamos esquecer e fugir dos anos 80 e nos atualizar”. E o pior foi que George estava totalmente de acordo.
Por isso vocês recrutaram Reb Beach, um excelente guitarrista que não renega o passado, como fez George Lynch?
Don: Foi exatamente isto. Não acredito que possamos reviver os anos 80, mas sim trazer de volta as influências daquela época, para ao menos tornar este estilo musical novamente popular, com guitarras pegajosas e boas melodias vocais.
Qual foi o motivo em lançar mais um álbum ao vivo, "Live From The Sun"?
Don: Uma das razões foi que o primeiro ao vivo, "The Beast From The East", foi lançado há dez anos. Muitas bandas dos anos 80 que estão de volta atualmente perderam o poder de fogo e estão se concentrando somente nos velhos hits e eu também queria que os fãs do Dokken vissem que conosco é justamente o contrário. Por isso veio o álbum ao vivo, ainda temos muita lenha para queimar!
Vocês pretendem finalmente tocar no Brasil? Por falar em shows, qual foi a turnê mais excitante e gratificante de sua carreira, visto que a banda excursionou com grandes nomes da cena do Hard Rock e Heavy Metal?
Don: Nossa turnê atual inclui Poison, Cinderella e Slaughter. Estamos esperando ir ao Brasil há muito tempo e espero poder tocar aí, quem sabe em outubro. Minha turnê favorita e que me recordo sempre foi com o Aerosmith, porque eles são pessoas muito legais, grandes músicos e muito humildes. Eles nos deram tudo que nós pedimos, luzes, PA, soundcheck e não houve nenhum tipo de egocentrismo. O Aerosmith estava promovendo o álbum "Permanent Vacation", realmente uma fase excelente.
Entrevista publicada na edição #22 da revista ROADIE CREW (julho de 2000)
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