quarta-feira, 12 de março de 2008

VINTE E CINCO ANOS DE MAGNETISMO

É, hoje vou sair da escola e vou direto para o centro. Meu pai nem vai falar nada. Minhas notas estão boas. Saí até no quadro de destaque do Liceu Pasteur. Não tem do que reclamar. Mas preciso passar em casa antes. Como vou entrar na Woodstock com esse uniforme marrom feio do Pasteur? Lá na loja tem aqueles caras cabeludos, com as jaquetas jeans cheias de buttons e patches. Não posso ir assim tão ridículo. É. Não dá. Mas aí minha mãe pode reclamar. Ah, tudo bem. Eu tenho que comprar o novo disco do Kiss!’…
No carro, a caminho de casa, solto: “Mãe, vou lá no centro agora, no escritório do meu pai”. Já esperava por um sonoro “Mas de novo? Hoje não!”, mas felizmente as coisas estavam bem tranqüilas. Afinal, nada melhor que notas altas no boletim e ser titular do time de basquete para amansar os ânimos. “Almoce antes então. Por que tanta pressa?”, disse minha mãe. A resposta foi de bate pronto: “Porque ele não sabe que eu vou e quero almoçar com ele”. Pronto. Consegui.
A troca de roupa durou um minuto. Tirei aquele uniforme cor de bosta, que até mesmo meus tios que tinham estudado no Pasteur falavam mal, e coloquei minha camiseta do Judas Priest. Precisava ir rápido. “Tchau mãe. Avisa o Leke pra não ir para o clube antes de eu chegar”.
Em meia hora eu já estava saindo do metrô Sé, perto daqueles caras que engraxam sapatos, das ciganas que faziam leitura da mão oferecendo pipoca e dos pregadores evangélicos. Ao chegar no escritório, cumprimentei os advogados, meu avô e o João Carlos, que trabalhava lá e foi responsável por me fazer ouvir Rock e Heavy Metal. Logo entrei na sala do meu pai. “Aí pai, vou lá na Woodstock, tá bom?”. Com a rapidez de sempre e o bom-humor habitual, ele respondeu: “Tudo bem meu filho, mas não demore. Preciso almoçar mais cedo porque tenho audiência às 14h no fórum João Mendes Jr.”.
Em menos de um minuto eu estava na escada rolante verde claro daquela galeria da rua José Bonifácio, que no andar térreo tinha a alfaiataria do Pires e umas lojas de roupas. Àquela altura estava olhando para baixo e pensando: ‘Se eu conseguir comprar o novo disco do Kiss e meu pai resolver almoçar aqui embaixo no restaurante Itamarati eu estou feito. Será um dia perfeito’.
Ao entrar na Woodstock fiquei olhando para as paredes e as estantes para ver as novidades que o proprietário Walcir Chalas sempre colocava à frente, com seus avisos especiais caso os discos fossem bons. Por sorte avistei que já havia chegado o novo disco do Kiss. Vi e tomei um susto: ‘Mas o que é isso?! Eles estão mesmo sem maquiagem?! Oras, mas acabei de ver o show deles no Morumbi e foi aquela coisa teatral, explosiva, com tiros de canhão, fumaça colorida, fogos de artifício e com todos eles maquiados. Achei que era boato, que nunca iriam fazer isso. Tá bom. A indicação do Walcir na capa está como ótimo. Tenho que levar!’.
Walcir, esse disco do Kiss sem máscara é melhor que o ‘Creatures Of The Night’?”, questionei. “É bom. Pode levar Batalhinha. E leva antes que acabe, porque todo mundo sabe que chegou e está vindo aqui“, disse Walcir. Aí fiquei olhando outros discos e pensando: ’será que ele está falando isso só para vender? Ah, pode ser, mas ele nunca indica coisa ruim quando coloca o papel na capa escrito ótimo. Com o UFO foi assim. Com o Judas Priest foi assim. Com o Scorpions, Triumph, The Rods, Motörhead e tantos outros também. Pô, foi por causa daquela coletânea em fita K-7 que ele gravou que conheci o Anvil, Metallica, Raven, Accept e tantas outras bandas’. É, eu não tinha como duvidar. Afinal, ia levar de qualquer jeito este disco. Só de ver a cara limpa dos caras do Kiss pela primeira vez já valia.
Comprei o disco e voltei ao escritório do meu pai carregando-o com orgulho debaixo do braço. Logo o tirei daquela embalagem em papel branco com o logotipo da Woodstock e mostrei a capa para o João Carlos, vulgo “Sujeirinha” e que tempos depois seria piloto de motocicletas sob o pseudônimo “Johnny Dillinger”. Ele, incrédulo, disparou: Rica, eu também achava que era boato, mas se eles tiraram a maquiagem é porque alguma coisa séria aconteceu. Será que estão precisando de grana? Posso até errar, mas ou é um disco histórico ou será daqueles que a gente tem vontade de devolver pro Walcir depois de ouvir”. Como ele também não costumava errar, fiquei com aquela pulga atrás da orelha. Mas devolver eu não ia. Pô, só a capa já valia. E ainda por cima aqueles caras velhos fãs de Kiss não gostavam do “Dynasty” e do “Unmasked” e eu adorava. Tinha que ser bom!
Estava indo para a sala do meu pai, mas antes parei na do meu avô. “Comprou mais um disco, Ricardo?”, perguntou ele. “Sim Vô, do Kiss”, respondi. “Ah, dos mascarados?”, emendou ele. “É. Eles eram. Olha aqui a capa”, disse. “Esse sujeito aqui está estranho, Ricardo. É meio vira-folha”, brincou meu avô, questionando a sexualidade de Paul Stanley.
Me despedi de todos no escritório, porque naquele momento eu só pensava em ouvir o disco novo do Kiss. Do Kiss sem máscara! Mas antes disso fui almoçar com meu pai. Daquela vez não no restaurante Itamarati. Pena. É, mas foi bom, o garçom de lá demorava muito e nem deixava a gente pedir direito. Era daqueles que gostava de adivinhar os pedidos. Até o Walcir da Woodstock sabia disso, porque às vezes ele também almoçava lá.
Ao sairmos do restaurante, enquanto meu pai se dirigia ao fórum, fomos tomar um café. Claro que antes discutimos, porque ele sempre queria tomar num que ficava perto da loja Kopenhagen e eu num bar nojento e sujo perto da praça da Sé. Bem, por minha causa, acabamos indo naquele misto de buteco e restaurante, que servia a média em copo de pinga. Era feio, mas o café era melhor.
Despedi-me e fui quase correndo para a Sé. Meia hora depois estava em casa ouvindo o disco do Kiss. Do Kiss sem máscara. O “Lick It Up”! Naquele dia acabei nem indo ao treino de basquete. Estava abobado. Meu irmão Frederico (Leke) também não foi ao clube treinar. Minha mãe entendeu que estávamos quase obcecados pela novidade.
Acho que meu irmão sentiu mais os efeitos hipnóticos do disco, pois considera até hoje o “Lick It Up” um dos melhores do Kiss. A música então nem se fala… Eu tinha a minha opinião: era melhor que o “Creatures Of The Night”! Efeitos daquele momento? Não sei. Meu irmão responde até hoje: “Os dois são bons. A briga é feia!”. No final, aprovamos o Kiss sem máscara e eu criaria mais uma polêmica na escola no dia seguinte. Claro que eu levei a mala com material escolar e o disco do Kiss embaixo do braço.
FICHA TÉCNICA - KISS “LICK IT UP” (1983):
Gravação:
julho e agosto de 1983
Lançamento:
18 de setembro de 1983
Gravadora: Mercury Produtores: Michael James Jackson, Gene Simmons e Paul Stanley
Estúdios utilizados: Right Track Studios, Atlantic Studios e The Hit Factory - Nova York/EUA
Charts:
24º lugar na The Billboard 200
Primeiro Single:
“Lick It Up” (setembro, 1983)
Segundo Single:
“All Hell’s Breakin’ Loose” (janeiro, 1984)
Premiação:
disco de platina pela vendagem de 1 milhão de cópias
LADO A:
1. “Exciter” (Vinnie Vincent, Paul Stanley) - 4:10
2. “Not for the Innocent” (Vincent, Gene Simmons) - 4:23
3. “Lick It Up” (Vincent, Stanley) - 3:59
4. “Young and Wasted” (Vincent, Simmons) - 4:04
5. “Gimme More” (Vincent, Stanley) - 3:41
LADO B:
1. “All Hell’s Breakin’ Loose” (Vincent, Stanley, Simmons, Eric Carr) - 4:34
2. “A Million to One” (Vincent, Stanley) - 4:17
3. “Fits Like a Glove” (Simmons) - 4:04
4. “Dance All Over Your Face” (Simmons) - 4:13
5. “And on the 8th Day” (Vincent, Simmons) - 4:02
Tempo total: 41′27″
KISS:
Gene Simmons - baixo e vocal nas faixas “Not For The Innocent”, “Young and Wasted”, “Fits Like A Glove”, “Dance All Over Your Face”, e “And On The 8th Day”;Paul Stanley - guitarra e vocal nas faixas “Exciter”, “Lick It Up”, “Gimme More”, “All Hell’s Breakin’ Loose” e “A Million To One”Vinnie Vincent - guitarras e backing vocalsEric Carr - bateria e backing vocals

domingo, 2 de março de 2008

Arquivo Entrevista: ROCK'N'ROLF (Running Wild)

Em 1976, quando formou a banda Granite Heart em Hamburgo (ALE), o vocalista, guitarrista e compositor Rolf Kasparek, o "Rock'n'Rolf", não tinha consciência de que sua criação seria tão aclamada pelos fãs de Heavy Metal ao redor do mundo. De 1980, quando o nome da banda mudou para Running Wild, até o mais recente trabalho, The Brotherhood (2002), Rolf e os inúmeros músicos que passaram pela banda conquistaram uma enorme legião de fãs, apaixonados pelo som tradicional e pela imagem de piratas que foi adotada a partir do lançamento do aclamado Under Jolly Roger. Na entrevista a seguir, o líder Rock'n'Rolf fala tudo sobre a carreira da banda, algo que os fãs brasileiros estavam aguardando há muito tempo.

O que aconteceu antes do início da gravação do novo álbum, The Brotherhood? Por que você decidiu reformular o line-up?
Rolf Kasparek "Rock'n'Rolf": Depois de tocarmos nos festivais durante a turnê do álbum anterior, muitas coisas começaram a acontecer. O primeiro problema foi com o baixista Thomas Smuszynski. Muitas pessoas que estavam trabalhando para o Running Wild, ou seja, o pessoal que empresaria a banda, os agentes e parte da equipe de roadies estavam vendo que algo não estava indo bem e eu estava no meio destes problemas que estavam acontecendo. Thomas e Thilo Hermann, naquela época, tinham terminando seus estudos e estavam em empregos regulares durante o dia. Quando estávamos nos preparando para estes festivais senti que não estávamos nos dedicando o suficiente para ensaiar e acertar as coisas para a turnê. Daí, cedo o tarde, eu sabia que este line-up iria ser desfeito. Tive que despedir Thomas porque, caso contrário, teria que tomar este atitude contra várias outras pessoas que trabalhavam para a banda. Eu tomei esta decisão, mas não foi uma coisa pessoal contra ele, eu o fiz para o bem da banda. Quando você é o líder tem que tomar certas decisões e neste caso foi o que fiz. Com Thilo foi completamente diferente. Durante o processo de composição do novo álbum, Thilo me telefonou dizendo que deixaria a banda porque ele tinha o seu emprego, sua família e seus filhos e não queria permanecer na banda porque sabia que não poderia estar se dedicando 100% ao Running Wild. Ele não estava mais com tempo livre para os ensaios e me disse que se fosse para estar na banda teria que se doar completamente e como sabia que não conseguiria, resolveu sair. Ele saiu sem nenhum tipo de problema pessoal, somos amigos, ainda nos falamos pelo telefone e ele até veio nos ver num show desta nova turnê.

Quando os outros músicos entraram no processo de gravação do The Brotherhood e foram efetivados como integrantes do Running Wild?
Rock'n'Rolf: O músico que gravou a bateria, Angelo Sasso, é meu amigo e já tinha participado do Victory. Desta forma foi até natural que ele me ajudasse novamente no novo álbum. Quanto ao baixista Peter Pichl, convidei-o para ir ao estúdio fazer um teste em uma das músicas e ele se saiu muito bem. Quando terminamos o álbum, ele me falou que teria interesse em participar da turnê e queria muito tocar ao vivo. Naturalmente, Peter ficou com o posto nos shows. Daí, Matthias Liebetruth veio para a banda para fazer os shows e ele sempre foi um amigo tão próximo que disse que poderia até tocar guitarra após a saída de Thilo (risos). Na verdade desde o início estava acertado que Angelo não tocaria ao vivo com a banda. Na turnê do Victory o baterista foi Chris Efthimiadis que era do Rage mas, naquela época, estava acertado que Matthias iria fazer os shows, só que como ele não conseguiu arrumar tempo suficiente, Chris veio para nos ajudar. Agora, está tudo certo com Mathias e ele está participando da nova turnê. Para a segunda guitarra na turnê foi recrutado Bernd Aufermann, que ja tinha integrado o Angel Dust.

Como foi o processo de composição e a produção do novo álbum no Horus Sound Studios? Você trabalhou sozinho?
Rock'n'Rolf: Foi bem diferente do que estava acostumado, pois gravei todas as guitarras em meu próprio estúdio e quando fomos para o Horus Sound fizemos somente a parte vocal e a mixagem final. Foi um processo demorado para sair do jeito que queria, já que as guitarras foram feitas em meu estúdio, mas os outros instrumentos foram gravados em diferentes locais. Nós usamos três estúdios diferentes, o meu, o Horus Sound e o Casa Nowy.

Foi a primeira vez que você utilizou seu estúdio para fazer todas sessões de guitarras?
Rock'n'Rolf: Sim, porque foi a primeira vez que estava com um equipamento bom para fazê-lo. Faz muito tempo que tenho meu estúdio, o Jolly Roger Sound Studio, mas ele estava apenas preparado para fazermos as pré-produções e não algo definitivo para a gravação de um álbum. O estúdio servia mesmo para sabermos como iriam sair as músicas, se estavam soando bem.

Falando sobre a bateria, por que você decidiu diminuir a velocidade no andamento das músicas?
Rock'n'Rolf: Não foi uma decisão minha, uma coisa planejada antecipadamente, apenas saiu desse jeito. Quando me concentro em fazer um álbum crio de acordo com o que estou sentindo, é uma coisa natural. Eu só faço uma análise mais detalhada do álbum depois que finalizo a pré-produção e desta vez senti que ele iria seguir um caminho mais voltado para os ‘grooves’ de bateria, com tempos mais cadenciados. Não tem nada a ver com não querer tocar mais músicas rápidas, apenas não aconteceu desta vez.

As músicas mais próximas do Metal Tradicional com a essência do Running Wild são Welcome To Hell, The Brotherhood, Crossfire, Pirate Song e The Gost. Quais músicas que mencionei estão sendo mais saudadas nos shows?
Rock'n'Rolf: Não são todas que estão no set list, mas a primeira do álbum (Welcome To Hell) é a que estamos abrindo os shows. Eu nunca fico pensando como as músicas serão recebidas pelos fãs nos shows quando estou compondo um álbum, pois o meu objetivo é sentir se a música em si ficará boa. Depois é que nós vamos discutir quais irão ou não ser tocadas ao vivo.

Outras músicas do novo álbum, como Detonator, Soulstrippers e Unation são mais próximas do Hard Rock. Você gosta de fazer esta mescla entre o Hard Rock e o Heavy Metal ou, como disse, isso sai naturalmente?
Rock'n'Rolf: Sim, não planejo as coisas antecipadamente. Mas, da mesma forma tenho que concordar que são mesclas de elementos bem tradicionais. Quando tenho a idéia de um riff vou moldando-o ao estilo que mais se aproxima sem qualquer tipo de preocupação. Se você olhar para a Detonator, verá que ela também se encaixaria no Victory. Por isso digo que é uma coisa natural.

Mas você concordaria comigo se eu dissesse que o novo álbum também tem elementos do Death Or Glory, Blazon Stone e do Victory?
Rock'n'Rolf: Não sei como lhe explicar, são meus sentimentos, meu ‘feeling’ de momento para fazer música. Acho que é por isso que muitos falam que o Running Wild não muda, faz sempre a mesma coisa, mas é o meu sentimento que não muda e isso é passado para as músicas. Para mim a música  não é um processo imaginário, é uma coisa de sentimento.

Acredito que seja o mesmo que acontece com o Motörhead e o AC/DC, por exemplo.
Rock'n'Rolf: Sim, você está certo. Apenas sai assim. Sei que muitos músicos trabalham de uma forma mais intelectual, mas eu sinto a música de forma diferente.

Falando sobre o passado, sua primeira banda foi a Granite Heart. Você pode nos contar um pouco a respeito daquela época?
Rock'n'Rolf: Foi uma coisa de amigos de escola. Estávamos um dia conversando no pátio do colégio e tivemos a idéia de montar uma banda de Punk. Aquela era a época do auge do Punk, mas mesmo com essa idéia nós éramos fãs mesmo de Hard Rock e nossas bandas favoritas eram o Kiss e o Thin Lizzy (risos). Mas, como víamos que as bandas de Punk pegavam muito, nós acreditávamos que poderíamos tocar como eles, porque mesmo ninguém tocando bem, conseguiríamos fazer um som como o deles. Então, fizemos aquilo por brincadeira e dois dos integrantes estavam naquela apenas pelas garotas (risos). Tanto isso é verdade que num dia o baixista chegou e disse que queria vender o seu equipamento porque queria comprar uma motocicleta, porque achava que com a moto iria pegar mais garotas (risos). Mas, depois começamos a pensar em fazer uma banda profissional e procuramos músicos mais profissionais. Como seria uma banda com dois guitarristas, pensamos em um novo álbum e aí formamos o Running Wild. Uwe Bendig, o guitarrista daquela fase, hoje é um advogado de respeito.

Mas vocês fizeram muitos shows com aquela primeira formação?
Rock'n'Rolf: Não, foram shows minúsculos. Um deles, inclusive, foi na nossa escola quando tínhamos acabado o curso. Achei legal porque foi a primeira vez que uma banda tocou lá. Antes eram apenas jovens passeando com discos do AC/DC e outras nas mãos. Mas, quando chegamos com a bateria e o resto do equipamento todos ficaram ansiosos em ver a banda, até mesmo nossos professores! Eles até ficaram nervosos, porque tocamos muito alto naquele dia (risos).

É verdade que o nome da banda foi inspirado na música Running Wild do Judas Priest?
Rock'n'Rolf: Sim, é verdade. Na época cada um veio com um nome diferente, mas foi o guitarrista Uwe quem falou primeiro o nome Running Wild. Tínhamos que tomar uma decisão e, dentre os nomes que tínhamos em mãos, Running Wild venceu.

Qual a importância para a banda de ter sido incluída na coletânea da Noise Records, a Death Metal (1984), ao lado do Helloween, Celtic Frost e Dark Avenger?
Rock'n'Rolf: Quando formamos um line-up mais estável, que foi o que gravou o primeiro álbum, com Gerard Warnecke “Preacher” na segunda guitarra, nós não estávamos preocupados em como estavam soando ou o que estavam fazendo as outras bandas novatas. Nós tínhamos uma outra visão e juntamos tudo o que realmente gostávamos, ou seja, Judas Priest musicalmente e as apresentações do Kiss. Juntamos tudo isso do nosso jeito e começamos a tocar nos clubes da cena. Daí começamos a ficar com um bom nome por causa dos nossos shows. Para satisfazer os fãs nós chegamos até a pagar para tocar, para fazer um grande show. Foi desta forma que as pessoas chegaram até nós e aí participamos dessa coletânea.

Aqui no Brasil o álbum Gates To Purgatory (1984) tornou-se uma febre entre os fãs de Metal. Você se lembra como foi a aceitação deste álbum ao redor do mundo naquela época? 
Rock'n'Rolf: Foi realmente muito boa porque fomos uma das primeiras bandas de Metal a assinar com uma gravadora na Alemanha. Assinamos com a Modern Music, de Berlim, que era muito pequena e nova. Todo mundo tinha falado que ninguém iria se interessar em nosso álbum, só porque era Heavy Metal. Mas, quando ele saiu, vendemos 20 mil cópias em dois meses o que, naquela época, para uma gravadora independente e pequena era de causar

Você considera a música Prisoner Of Our Time o hino do Running Wild ou existe outra música que representa mais a essência da banda?
Rock'n'Rolf: Eu não posso sair do palco se não tocar a música Under Jolly Roger, é clássica em todo o mundo e se tornou um hino da banda. Quem fala em Running Wild, pensa logo na Under Jolly Roger. Prisoner Of Our Time também é outra clássica, que sei que sempre teremos que tocar para os fãs. Essas duas músicas os fãs nunca esquecerão.

Em 1985 vocês gravaram Branded and Exiled e naquela época o Running Wild estava começando a se tornar uma das bandas alemãs de maior representatividade na cena, ao lado do Scorpions e do Accept. Por que o guitarrista Gerald “Preacher” Warnecke saiu da banda? Isto chegou a afetar no trabalho daquele álbum?
Rock'n'Rolf: Sim, você pode ver no primeiro álbum que a banda sempre teve dois compositores e durante o processo de composição do Branded and Exiled, “Preacher” me telefonou e disse que não poderia mais permanecer no Running Wild. Ele disse que não tinha dinheiro suficiente e que preferia arrumar um emprego normal, finalizar os estudos e seguir seu próprio caminho. Eu disse que entendia, mas de um dia para o outro fiquei sem saber o que fazer, porque teria que compor para um álbum inteiro! Os outros músicos que estavam na banda não eram compositores natos. Stephan Boriss veio com uma música e Wolfgang “Hasche” Hagemann veio com outra, mas tudo ficou nas minhas costas. Eu estava sem tempo suficiente para fazer o trabalho que desejava, porque eu tinha apenas dois meses para fazer tudo. Para o primeiro álbum tivemos anos para fazê-lo e naquela época apenas dois meses. Daí, se fizéssemos algo errado, poderíamos prejudicar nossa carreira. Não havia com o voltar atrás, se não vendêssemos bem estávamos fora. Tínhamos que encarar aquela situação e felizmente conseguimos.

Como foi a turnê que vocês fizeram em 1986 na Alemanha, França e Suíça como banda de abertura do Mötley Crüe, que promovia o álbum Theatre Of Pain?
Rock'n'Rolf: Foi muito bom para nós, mas você sabe que ouvi de muitas pessoas que aquilo seria negativo para a nossa carreira. Eles nos falavam: “Como vocês farão uma turnê ao lado de uma banda poser”. Eu sempre achei estas distinções uma besteira, ainda mais porque aquela seria uma grande chance de tocar para de 4 a 6 mil pessoas por noite. Eu sabia que boa parte do público que estaria naqueles shows sequer conhecia o Running Wild e, obviamente, aquilo seria bom para nossa carreira, pois poderíamos conquistar novos fãs. Tudo correu bem e nós pudemos fazer nosso soundcheck, tocamos com toda a potência do som e com a mesma iluminação que o Mötley Crüe. Não foi aquela coisa de não dar chance para que a banda de abertura se saísse bem. Nós sentimos naqueles shows que a cada música que tocávamos as pessoas começavam a curtir também o nosso som. Depois mais para o meio do set, eles já começavam a gritar, agitar e colocar os braços para cima cerrando os punhos. Daí, quando a turnê acabou e estávamos em casa, nos informaram que havíamos vendido muitos álbuns naquele período, o que foi realmente gratificante. Estávamos no terceiro nível e o próximo grande passo para nós seria atingirmos o patamar de bandas internacionais como o próprio Mötley Crüe ou o Iron Maiden e o Judas Priest.

Com o álbum Under Jolly Roger (1987) você começou a adotar nas letras a temática sobre os piratas, fato que se tornou marca registrada da banda. Como surgiu esta paixão em falar sobre piratas?
Rock'n'Rolf: Também veio de forma natural, não nos reunimos e dissemos: “Bom, agora vamos escrever sobre os piratas”. Num dia durante o processo de composição deste álbum eu tive a idéia básica da faixa-título e contei aos outros músicos. Todo mundo achou o título Under Jolly Roger uma coisa bem forte e aí começaram a me perguntar sobre o que ela falava. Falei que a letra falava sobre piratas. Já que estávamos com este tema nas mãos, resolvemos uni-lo com a arte da capa. Cada um teve uma idéia diferente para capa, o barco, o símbolo e até o desenho da contracapa, onde aparece nosso desenho como se fôssemos os piratas. Quando estávamos em estúdio gravando, vimos a primeira amostra do artista que estava criando a capa e gostamos de imediato. O manager logo veio com a idéia de usar este tema também para o cenário de palco e foi o que fizemos. Mas, daí todo mundo começou a nos chamar de banda de piratas. Eu não entendia na época porque era apenas o tema do álbum. Não foi algo que a mídia inventou, partiu dos fãs e aí nós percebemos que seria muito legal continuar usando esta temática. O Judas Priest tinha aquela imagem de usar um visual de couro e correntes, o Iron Maiden tinha o Eddie e achamos que seria legal captar esta imagem dos piratas. Mas, pelo que me lembro, o álbum que mais tem esta temática é o Port Royal, pois nunca fizemos um álbum inteiro falando sobre esse tema, são sempre duas ou três músicas.

Você tem intenção de um dia lançar um álbum conceitual apenas usando esta temática?
Rock'n'Rolf: Não tenho intenção de fazer um álbum inteiro conceitual porque ele iria me limitar o processo criativo e iria me forçar a seguir apenas um caminho. Os três últimos álbuns têm uma conexão e acho melhor assim.

Ainda falando sobre o Under Jolly Roger, que considero um dos melhores do Running Wild, afora a faixa-título, quais músicas deste trabalho você ainda tem um sentimento especial quando toca ou escuta?
Rock'n'Rolf: Uma que costumamos tocar com freqüência é a Raise Your Fist. Todo mundo gosta e para mim é uma música especial, porque muitas vezes chegamos a abrir os nossos shows com ela.

Como está o trabalho com a Gun Records e qual o motivo de terem saído da Noise Records?
Rock'n'Rolf: Em primeiro lugar quando fizemos o Black Hand Inn tivemos uma série de problemas como o dono da Modern Music e com tudo aquilo acontecendo eu sabia que teria que deixar a gravadora e encerrar nosso acordo. Daí o último trabalho com eles foi o Masquerade, mas apesar do dono ter saído da Modern Music e dos funcionários terem trabalhado muito bem em nossa promoção, nós já havíamos assinado um novo contrato com a Gun Records e aí não teríamos mais como voltar atrás. Pelo menos saímos numa boa. Já com a Gun, após o The Brotherhood eu ainda tenho que fazer mais álbum com eles e aí se encerrará o contrato. Sei que muitas gravadoras têm interesse no Running Wild e por isso ainda não sei se iremos permanecer na Gun, vai depender das ofertas que iremos receber. Vou estudar a melhor e depois decidir, mas só o farei no momento certo, não dá para ficar pensando nisso agora. Meus parceiros atualmente são da Gun Records e eu provavelmente terei mais chance com eles.

Após o lançamento do Under Jolly Roger, o baterista Stefan Schwarzmann (Accept) e o baixista Jens Becker (Grave Digger, ex-Bastill, Crossroads, Stormrose) entraram na banda. Como foi aquela fase de transição? Como os fãs reagiram na turnê pela Europa, que resultou no ao vivo Ready For Boarding?
Rock'n'Rolf: Foi uma época bem produtiva para a banda, pois nós pudemos notar uma evolução. Fiquei muito contente, tudo era diferente e tocamos em vários países da Europa, até na Hungria. Foi muito bom sentir a resposta dos fãs quanto àquela mudança na formação, no som e a parte visual do Running Wild. Gosto muito de lembrar daquela época, pois queríamos muito ver a reação dos fãs e, após a turnê, eu não via a hora de começar a compor para o álbum seguinte, que seria o Port Royal. Mas, quando Stefan terminou a gravação da bateria daquele álbum, ele me disse que estava com a possibilidade de entrar no U.D.O. e que faria um teste. Nós dissemos que tudo bem, mas deixamos claro que se ele saísse não voltaria nunca mais. Ele aceitou sair após a gravação do álbum e, depois, conseguiu se unir ao U.D.O., enquanto nós fomos em busca de outro baterista.

Então você confirma que podemos afirmar que Port Royal é o álbum que, naquela época, dividiu a história da banda em dois diferentes capítulos?
Rock'n'Rolf: Acredito que sim, porque Port Royal foi como um trampolim para o nosso passo seguinte, que foi o Death Or Glory. Foi uma fase experimental que deu certo, porque depois com o Death Or Glory nós começamos a vender o dobro do que costumávamos. Até mesmo o Port Royal superou as vendas anteriores.

O Death or Glory mostrou uma sonoridade diferente, com a banda apostando mais no Hard Rock e no Metal Tradicional. A faixa mais saudada na “The Death or Glory Tour” foi mesmo a Bad To The Bone, que hoje é um clássico da banda?
Rock'n'Rolf: Sim, tanto que ainda a tocamos. Outra que foi muito comentada na época e até hoje nos pedem muito é a Riding The Storm. Nós vendemos cerca de 80 mil cópias apenas na Alemanha com o Death Or Glory. Para a banda foi um passo muito importante porque todo mundo comentava a nosso respeito naquela época. A turnê, pelo que me lembro, foi de 35 datas e passou por toda Europa. Tivemos um enorme sucesso, com shows ‘sold out’. Enfim, foi um período que deu tudo certo para o Running Wild.

Comparando com o que acontece atualmente, você acredita que está mais difícil para a banda realizar uma grande turnê?
Rock'n'Rolf: Sabe qual é o maior problema da atualidade? A falta de dinheiro! Não é todo mundo que consegue juntar dinheiro para assistir shows todo fim de semana. Uma banda que conseguia colocar em média 800 pessoas em seus shows há 4 ou 5 anos, hoje coloca 200. Isso é um grande problema. Felizmente em nossa última turnê conseguimos uma média de mil pessoas por show, o que atualmente é muito bom. Mas, se olharmos para trás e lembrarmos da “The Death or Glory Tour”, as coisas mudam, pois naquela época eram duas mil pessoas por noite. Além da falta de dinheiro, o cenário está com uma enorme quantidade de bandas em turnê que fica até difícil escolher em qual show ir.

Como foi trabalhar com o baterista Jörg Michael? Vocês ainda são amigos? Você gosta do trabalho dele no Stratovarius?
Rock'n'Rolf: Jörg tocou durante a turnê do Port Royal conosco, logo depois que Stefan nos deixou. Depois ele tocou na “The Death or Glory Tour”, o que de certa forma foi uma coisa engraçada, porque por duas vezes seguida nós tínhamos um baterista para a gravação dos álbuns e Jörg para as turnês, sendo que ele era um típico músico de estúdio (risos). Mas, então, nos tornamos grandes amigos. Nos encontramos recentemente durante a última turnê do Stratovarius na Suécia. Não existe problema nenhum em nosso relacionamento. Quanto ao trabalho dele no Stratovarius, bem, para lhe ser honesto a banda é muito Helloween para o meu gosto pessoal. Mas, isto não tem nada a ver com a análise deles como músicos, pois sei que são muito bons no que fazem, mas não sou tão fã do estilo musical da banda.

Falando em bateristas, como foi a época em que AC esteve com vocês? Ele era roadie da banda e virou integrante? Você sabia que ele já veio várias vezes ao Brasil?
Rock'n'Rolf: Foi muito legal a época dele, durante a “The Death Or Glory Tour”. Como Jörg Michael não ficaria na banda por causa de seus inúmeros projetos paralelos, o AC, que era seu roadie, acabou assumindo o posto depois de um teste. O primeiro show que ele fez conosco foi muito engraçado porque sabe quem trabalhou para ele como roadie? O próprio Jörg Michael (risos). Foi uma situação engraçada e até certo ponto estranha. Mas, AC ficou pouco tempo, gravou apenas um álbum e fez uma turnê inteira, a “Blazon Stone Tour”. Mas, naquela época nós tínhamos consciência de que não continuaríamos com ele na banda, porque acredito que o estilo não era o mesmo. Mesmo assim, ele trabalhou várias vezes conosco como tour manager e somente não deu certo como baterista, uma coisa puramente musical e não pessoal.

No álbum Pile of Skulls (1992) as letras vieram um pouco diferentes, apontando mais para uma linha de protesto contra a corrupção, falsidade e temas mais próximos do cotidiano. Você o considera o melhor em termos de letras?
Rock'n'Rolf: É difícil dizer, quando penso em letras, nunca vejo apenas o que fiz em um álbum. Aliás, eu não consigo dizer qual é o melhor álbum tanto musicalmente quanto a respeito da temática das letras. Cada um vê do seu jeito e eu sei que o Pile Of Skulls conta com muitas músicas de impacto, mas também acho isso do novo álbum (risos).

E quanto à música Lead or Gold, você acredita que tenha sido a mais comentada pelos fãs na época do Pile Of Skulls?
Rock'n'Rolf: Pode ser, nós a estamos tocando na nova turnê. Todo mundo gosta dela, mas somente agora estamos incluindo-a nos shows. Na época ela não constava do set list dos shows da turnê do Pile Of Skulls e hoje soa como uma grande surpresa para os fãs.

Em 1994 vocês lançaram o Black Hand Inn, com a presença do guitarristas Thilo Hermann (ex-Risk) e o baterista Jörg Michael. Você acredita que eles adicionaram sangue novo para a gravação do álbum?
Rock'n'Rolf: Sim, foi uma mudança que rendeu bons frutos e evitou o pior, porque do jeito que estava acabaríamos fazendo um trabalho de baixa qualidade. Havia muitas coisas acontecendo entre os músicos e eu escolhi novos músicos para o line-up. Primeiro liguei para Jörg Michael perguntando se ele queria se juntar à banda e ele aceitou. Esta foi a primeira vez que ele esteve na banda como integrante do Running Wild, trabalhou conosco no álbum. Quanto a Thilo, eu já o conhecia há um bom tempo e sabia que ele era uma grande pessoa e um bom músico. Liguei para ele e por sorte Thilo não estava em nenhuma banda. Daí ficou mais fácil e ele aceitou se juntar a nós.

Como foi a turnê naquela época, a “Summer Metal Meetings’95”, ao lado do Rage e Grave Digger?
Rock'n'Rolf: Foi muito legal, com muito Metal tradicional alemão, shows sempre lotados, mais de 2 mil pessoas por noite, e todas as bandas tiveram oportunidade de tocar num palco grande. O Iced Earth também se juntou ao cast.

Vendo o que acontece na cena atual, você sente falta de turnês como aquela?
Rock'n'Rolf: Sim, duas semanas atrás conversei sobre isso com AC e ele disse que tentaria viabilizar algo naqueles moldes. Seria uma grande idéia fazê-la novamente, para mostrar que as bandas alemãs ainda estão na ativa, gravando álbuns e fazendo grandes shows. A mídia ignora este fato e queríamos provar que o Metal alemão está ativo! Esta seria uma grande oportunidade.

Com o álbum Masquerade você conseguiu manter o mesmo line-up e apresentou uma sonoridade mais Speed. O que você poderia nos dizer a respeito do Masquerade?
Rock'n'Rolf: Que é muito rápido (risos). Como eu disse, preciso estar sentido aquela vibração quando escrevo e na época fazer músicas rápidas era o que eu tinha em mente. Quando terminei o álbum e fui escutar o resultado final depois de três semanas, pensei: “Uau, que coisa rápida!” (risos). Hoje em dia estou com um ‘feeling’ diferente daquele e naquela época eu não iria conseguir fazer um som como no The Brotherhood. Meu ‘feeling’ tem que fluir naturalmente. Do novo álbum, posso citar a música The Ghost, que é uma história sobre Lawrence da Arábia (N.R.: nome pelo qual se tornou conhecido Thomas Edward Lawrence, militar, orientalista e escritor britânico autor de “Os Sete Pilares da Sabedoria”) e por isso algumas partes dela soam meio orientais, que é justamente para criar o clima certo. Por outro lado, você vê Soulstripper, pensa em algo como o AC/DC, mas eu não planejei fazer um som assim, apenas saiu. Às vezes, o que você pensa no início acaba saindo de uma forma completamente diferente.

Com o álbum The Rivalry (1998), primeiro pela Gun Records, a banda manteve o som mais veloz e com mais melodia. Como foi a aceitação dos fãs e como você compara o estilo do The Rivalry com o novo álbum, The Brotherhood?
Rock'n'Rolf: Para mim o The Rilvary é um divisor de águas, um marco no sentido de fazer uma distinção entre diferentes fases de nossa carreira, assim como aconteceu com o Port Royal. Ainda existem as músicas rápidas no álbum, mas já havia outras mais marcadas e diretas, o que viria a ser seguido no Victory e no The Brotherhood.

Para a “The Rivalry Tour” veio o baterista Chris Efthimiadis (ex-Rage). Por que ele não permaneceu na banda?
Rock'n'Rolf: Chris nos ajudou depois que Jörg Michael saiu da banda para integrar o Stratovarius. Na verdade Jörg estava nas duas bandas e não tinha mais como conciliar o tempo necessário para permanecer nas duas. Timo Tolkki disse a ele que tomasse uma decisão, se queria ficar no Stratovarius ou no Running Wild. Entendo a razão da decisão que ele acabou tomando, porque naquela época o Stratovarius estava fazendo muitos shows e, obviamente, ele receberia mais dinheiro. O Running Wild já não era uma banda que fazia mais de 100 shows numa turnê.

Afora o Running Wild, qual outra banda você considera que esteja fazendo Heavy Metal Tradicional, ou o chamado True Metal?
Rock'n'Rolf: Muito difícil falar isso, pois vejo muitas bandas boas, como o Gamma Ray, Primal Fear e o Rebellion, que está sendo a banda de abertura nessa nossa nova turnê. Mas, o principal destas bandas que citei é que elas não se parecem entre si, pois atualmente vejo muitas bandas fazendo o mesmo som de outra, ainda mais na Alemanha. Muitas bandas não têm identidade, você ouve um riff e logo diz que parece com AC/DC, Running Wild, Judas Priest e outras. Ainda temos bandas de Thrash que soam como o Kreator, Destruction e do outro lado bandas que querem soar como o Helloween. Isso é um grande problema, porque eu preferia ver estes músicos colocando suas próprias idéias na música que criam. Eu, obviamente, tinha meus ídolos quando comecei e tentava soar como Judas Priest e Kiss, mas depois de um tempo você tem que se descobrir e seguir o próprio caminho.

Você gosta das bandas de Thrash Metal que citou, o Kreator e o Destruction?
Rock'n'Rolf: Não, nunca gostei deste estilo, mas respeito-os muito. Estas bandas têm fãs no mundo inteiro. Tanto estas citadas como as bandas da Bay Area não fazem meu estilo.

Existe alguma razão especial pela escolha da música Revolution (Beatles) para o álbum Victory?
Rock'n'Rolf: Odeio a idéia de fazer covers, mas desde que ouvi esta música pelo rádio, acho que por volta de 1970, ela me marcou, fiquei fascinado! Ela sempre foi especial para mim e quando estávamos trabalhando para o Blazon Stone pensei em gravá-la. Nós chegamos a tocá-la na fase de pré-produção, mas não saiu legal e eu abandonei a idéia. Depois, quando estava compondo para o Victory pensei novamente nela e na primeira tentativa ela saiu do jeito que queria e resolvemos colocar este cover no álbum. Todo mundo esperava que o Running Wild gravasse um cover do Judas Priest ou do Iron Maiden e não dos Beatles, o que acho mais interessante, porque é muito diferente do tipo de música que nós fazemos. É legal repassar uma música para o estilo da sua banda, deixá-la com a sua cara. Isso é interessante.

Vocês a tocaram nos shows?
Rock'n'Rolf: Sim, ela foi incluída no set list da “Victory Tour”.

Revendo estes mais de 20 anos de carreira, qual foi seu principal momento e o pior com o Running Wild?
Rock'n'Rolf: Foram muitos momentos legais, mas guardo com carinho quando conseguimos assinar nosso primeiro contrato. Havia uma desconfiança no ar naquela época em relação a contratar uma banda de Metal, o que atualmente não acontece, já que qualquer banda assina com uma gravadora. Se você tivesse sorte naquela época, seria como um ingresso para a entrada de sua própria carreira. Hoje você consegue assinar e ser dispensado com a mesma facilidade. Outros momentos marcantes foram todos aqueles quando ficávamos sabendo que havíamos vendido muitos álbuns. Também não posso me esquecer de citar um show como headliner num estádio de futebol na Tchecoslováquia em 1989 para 35 mil pessoas. Depois que a ‘intro’ começou a ser tocada nós ouvimos tantos gritos de fãs que é impossível descrever com palavras. É uma sensação inacreditável. O pior momento da minha carreira com a banda foram todas as mudanças de line-up.

Você deveria vir ao Brasil para tocar e aí poderia sentir a mesma vibração do show que citou na Tchecoslováquia!
Rock'n'Rolf: Falei muito com AC sobre isso e ele vai conversar com os promotores de shows para enfim agendar shows da banda no Brasil. Planejo fazer dois shows no Brasil, mas ainda não sei onde. A banda inteira não vê a hora de tocar para os brasileiros.

Qual o disco mais vendido da carreira do Running Wild?
Rock'n'Rolf: O nosso disco mais vendido de todos os tempos é o Blazon Stone, que superou a marca de 240 mil cópias. É triste, mas eu tenho consciência de que hoje não é mais a mesma coisa, os tempos são outros.

Vocês planejam lançar um DVD após esta turnê?
Rock'n'Rolf: Sim, este é nosso próximo passo. Estamos trabalhando nisso e acredito que por volta de setembro o DVD será lançado. Esse mesmo show, ocorrido em Osnabrück durante a última turnê, que foi gravado para o DVD será lançado em CD. A Sanctuary, que cuida dos negócios da Modern Music, está planejando lançar um documentário do Running Wild, englobando toda a nossa carreira. Temos vários novos projetos em mente, coisas muito diferentes e especiais que não posso contar no momento.

Como é a relação do Running Wild com a imprensa alemã atualmente?
Rock'n'Rolf: Tivemos problemas com a Metal Hammer, já com a Rock Hard eu só vejo que eles não gostam dos discos que lanço, nada além disso. O problema é que eles dizem o que acham que eu devo fazer. Por mim tudo bem, eu não dou a mínima porque eu decido o que fazer, não preciso que a imprensa me mande fazer o que eles acham que é certo.

Deixe uma mensagem aos seus fãs brasileiros.
Rock'n'Rolf: Gostaria de dizer que estou torcendo para que possamos viabilizar nossa primeira ida ao Brasil. Faz anos que conversamos sobre isso, mas talvez esse ano consigamos finalmente tocar para os fãs brasileiros.

Entrevista publicada na edição #41 da revista ROADIE CREW (junho de 2002)

sábado, 1 de março de 2008

Arquivo Entrevista: DARKSEED

Da primeira Demo-Tape, "Sharing The Grave", lançada em agosto de 1992, para o mais recente álbum, "Diving Into Darkness", muita coisa mudou na carreira da banda alemã Darkseed. Foram várias trocas na formação e uma mudança no direcionamento do som, que, atualmente, está muito próximo aos melhores momentos do Paradise Lost. Apesar de ter perdido o baixista Rico Galvgno e o baterista Willy Wurm, o trio Stefan Hertrich (vocalista) e os guitarristas Thomas Herrmann e Tom Gilcher estão comemorando a boa fase, pois, pela primeira vez, a gravadora Nuclear Blast está apostando no sucesso do álbum. Quem nos conta os detalhes é o fundador e 'frontman', Stefan Hertrich.

Você concorda que o Darkseed trabalhou no limite entre o Death Metal e o Pop/Rock Gótico em "Diving Into Darkness"?
Stefan Hertrich: Concordo. Procuramos manter a mesma intensidade dos riffs da guitarra com a melodia dos teclados e todo o aparato eletrônico que usamos. Esta foi a meta que procuramos atingir neste álbum e acho que conseguimos manter um bom equilíbrio no som. Foi a primeira vez que realmente incluímos sons mais eletrônicos, mas isto caiu bem e não tirou o peso e a vibração das guitarras.

O novo álbum é o terceiro do Darkseed pela gravadora Nuclear Blast. Em quais países a banda está se destacando? O Japão ainda é o seu maior mercado?
Stefan: O Japão continua sendo um grande mercado, assim como a Polônia e a Bulgária, mas, com certeza estamos tendo mais oportunidades agora, pois a promoção do novo álbum está sendo muito boa. Na Alemanha, não acredito que exista uma cena de Gothic Metal, mas uma cena de Metal em geral. Quanto ao mercado americano é melhor esperarmos, pois o álbum só será lançado na América em julho.

A linhas de teclado na música "I Deny You" são interessantes e mesclam bem o Pop/Gótico de bandas como o Depeche Mode com elementos mais usados nos anos 70. No processo de composição, as linhas de teclado são feitas antes dos riffs de guitarra?
Stefan: Exatamente. Primeiro compomos as linhas de teclado e depois são colocadas as bases de guitarra. Especialmente nesta música que você mencionou, devo concordar mais uma vez com você, pois ela tem uma pegada semelhante ao som do Depeche Mode. Além disto, como este álbum é mais atmosférico, procuramos não limitar as partes de teclado, por isso, existe uma mistura de elementos modernos com sonoridades mais antigas.

Como vocês irão proceder nos shows, usarão samplers?
Stefan: Não vejo problema algum em usar samplers. Nós costumamos usar CDs com os sons sampleados e, em outras partes, o som virá dos teclados. Nos concentramos em deixar este material perfeito para estas ocasiões, especialmente daqui para a frente, pois estamos usando mais partes ditas eletrônicas.   

Os refrãos não estão agressivos mas, por outro lado, passam uma intensa emoção, especialmente em músicas como "Counting Moments" e "Rain". Como você percebeu que as vozes mais limpas e suaves iriam cair melhor para este tipo de som?
Stefan: Depois de analisarmos todas as composições, colocamos as vozes limpas. Mas, basicamente é o mesmo processo de criação de todas as outras linhas de voz. Depende do momento, do que a música pede. Estas que você citou tiveram o mesmo tratamento das outras. 

Ainda sobre os vocais, você concorda que muitas vezes são semelhantes ao Paradise Lost, Tiamat e James Hetfield do Metallica. Além do trabalho que o Darkseed apresentou neste novo álbum, você concorda que a banda poderá obter mais fama porque estas bandas que citei estão fazendo um tipo de som diferente do que faziam?
Stefan: Como lhe disse, todas as vozes são elaboradas da mesma forma mas  muitas pessoas estão dizendo o mesmo e se as acham parecidas com estas bandas tudo bem, não existe nenhum problema. As vozes combinam e ficaram boas, é isto que basicamente interessa. Quanto ao crescimento da banda, acredito que o Paradise Lost deu uma caída com o mais recente álbum, pois está muito mais Pop e se os fãs estão procurando algo no estilo do álbum "One Second" e "Draconian Times", acho que podemos figurar neste setor. Mas, da mesma foram que o Paradise Lost mudou, se olharmos para trás, também mudamos, mas conseguimos manter a agressividade da guitarra e uni-la aos novos elementos.

Por que o baixista Rico Galvgno e o baterista Willy Wurm deixaram a banda? Daqui para frente vocês só irão trabalhar com músicos convidados?
Stefan: Eles eram fissurados em tocar ao vivo, se apresentar em qualquer lugar, mas, estávamos muito mais concentrados na parte de produção em estúdio, achar a sonoridade ideal para cada música. Gostamos deste tipo trabalho e, como não fizemos muitos shows no ano passado, falamos para eles que era a hora de procurarem uma banda para poderem se apresentar e excursionar. A promoção de nosso álbum anterior não foi muito boa, por isso não quisemos nos arriscar tocando em qualquer “buraco” que aparecesse.

No final de agosto de 1998, o ex-guitarrista da banda, Andy Wecker, faleceu. O que você pensou naquele momento?
Stefan: Andy passou um ano no hospital e não sabíamos que ele tinha ficado tanto tempo internado. Sempre pensávamos: "Tudo bem, ele está doente, mas é jovem e qualquer dia destes vai aparecer para tomarmos umas cervejas e conversar sobre música." Mas, infelizmente isto não aconteceu e ele faleceu de câncer. Quando soube da notícia, a primeira coisa que senti foi um mal-estar por não tê-lo visitado no hospital. Isto foi realmente trágico.

O que é a Dark Music Media, um estúdio de gravação ou uma gravadora independente?
Stefan: Até o momento é um estúdio. Tentamos dar o primeiro impulso às bandas que nos procuram e auxiliá-los no que diz respeito à produção de CDs e Demo-Tapes. Também gravamos trilhas de games para computador e damos total suporte na parte gráfica, criando as capas e encartes. Mas, ainda temos a intenção de transformar a Dark Music Media numa gravadora e lançar bandas novas no mercado. Se alguma banda quiser nos enviar seu material, basta entrar em contato via e-mail (dmm@darkseed.com).

É verdade que o baterista Harald Winkler deu nome à banda justamente por causa de um game de computador?
Stefan: Sim, Darkseed é um ‘game’ muito famoso e Harald era viciado neste jogo! Tanto assim que o nome da banda acabou ficando este mesmo. Como temos muito contato com este mundo dos ‘games’, isto acabou ficando comum para nós, pois eles fazem parte de nossa vida, tanto em nosso trabalho específico com a Dark Music Media, como para diversão.

Como estão seus outros projetos, Betray My Secrets, Death Of Eden e o Sculpture?
Stefan: Com o Death Of Eden, eu e Tommy estamos em fase final das gravações de nosso próximo trabalho. Na verdade, só faltam as vozes. Quanto ao Betray My Secrets, ainda não temos novos planos. Com relação ao Sculpture, eu resolvi deixar este projeto porque não gostei da minha voz no álbum, além da produção, que ficou muito aquém do esperado. Tommy também está com um projeto de música medieval, que será muito interessante, pois gravará com todos os instrumentos originais daquela época, aliás, muitos destes instrumentos são tão diferentes e esquisitos que se você ver, nunca acreditará que irá sair algum som.

Você acredita que a música medieval de raiz, tocada com os instrumentos originais poderá ser mais uma saída para o Heavy Metal? Você já pensou em usar estes instrumentos no Darkseed?
Stefan: Poderá se for feita com alma, com o intuito de criar algo novo. Vários músicos estão buscando representar suas raízes através da música, passando um pouco da cultura de cada país para o som que tocam. Acho que podemos fazer o mesmo, inclusive usando alguns destes instrumentos no Darkseed, já que no som que fazemos, existe um guitarra distorcida, outra mais limpa e os teclados. As guitarras limpas poderiam ser facilmente substituídas por estes instrumentos medievais. Aliás, isto que estou lhe respondendo está vindo na minha cabeça agora e, quem sabe, não pode refinar nosso som e diferenciá-lo. Vamos aguardar, pois o primeiro passo será o lançamento do álbum de Tommy, pois este é um projeto dele.

Quais são as suas bandas favoritas?
Stefan: Não estou muito atualizado no cenário, pois ando muito ocupado e nem me lembro a última vez que comprei um CD. Geralmente, escuto o que meus amigos me mostram, mas as bandas que mais gosto são Paradise Lost, principalmente nos álbuns "One Second" e "Draconian Times"; Entombed, no álbum "Left Hand Path";  Anathema; Cathedral e tudo do Depeche Mode.

E as bandas góticas mais tradicionais, como o Sisters Of Mercy? Pensei que você gostasse deste tipo de voz?
Stefan: Eu gosto, mas o estilo é bem mais Pop e não tem uma pegada muito forte.

Muitas bandas de Gothic Rock escrevem sobre decepções, tristeza, amores impossíveis e coisas do gênero. Qual a temática que a banda adotou no mais recente álbum?
Stefan: Tudo bem em se falar apenas de tristeza mas em nossas letras gostamos de passar coisas que acontecem com todo mundo, o sofrimento das pessoas no seu cotidiano, a destruição da natureza, coisas do cotidiano, que podem servir tanto para mim como para você.

E quanto aos shows, vocês têm planos para sair em turnê este ano? 
Stefan: Ainda estamos aguardando a melhor oportunidade para nos apresentarmos, mas não existe nada agendado até o momento. Vamos ver como será a aceitação deste álbum, mas seria bem interessante fazermos uma tour este ano e irmos para países que nunca estivemos, inclusive para o Brasil.

Entrevista publicada na edição #21 da revista ROADIE CREW (maio de 2000)