quarta-feira, 21 de março de 2012

Confusão em Milão: 'Holy Live' ou 'Holy Shit'?


Quinze anos atrás, a primeira coisa que fiz após deixar a advocacia foi ser roadie da banda paulistana Angra. Por sinal, vale o relato de que a positividade dos pensamentos cria resultados desejados. Nunca fui muito espiritualizado, mas a partir daí percebi que pensar fixamente no que se deseja é a melhor maneira. O assunto da minha entrada no lugar de Claudio Vicentin como roadie havia ficado meio no ar, em uma conversa que tivemos em meados de 1996 numa noite no Manifesto Bar (SP) com o baterista Ricardo Confessori, o meu velho amigo "Buscapé", com quem havia feito o colegial no Objetivo.

Algumas semanas depois, no final de 96, mesmo com meu pai internado no hospital, de onde ele jamais sairia, eu ficava perguntando aos meus irmãos e à minha mãe se alguma pessoa relacionada ao Angra havia me telefonado. Foi então que um dia, ali, sentado do lado do meu pai vendo-o num estado lastimável em seus últimos dias de vida, que minha mãe lembrou que uma pessoa tinha telefonado e dito algo sobre o Angra. Rapidamente entrei em contato, explicando minha situação. Enfim havia conseguido o que sempre busquei: trabalhar com música.

A mudança do Direito para aquela vivência com o Angra foi brusca, mas estava me encontrando na profissão de roadie. Como nunca quis ser baterista profissional, achava mais legal estar nos bastidores. Ter este cargo significa estar em contato direto com a magia do palco, a vida na estrada e sempre a par das novidades nos equipamentos e avanços da tecnologia. Num sentido amplo, o tratamento dado ao roadie é até similar ao do próprio músico ou artista. Em bandas de menor porte o roadie também transporta o(s) instrumento(s) e, como o primeiro corte no orçamento é sempre o dos 'stage hands' (carregadores), o bom preparo físico é importante.
 



Pude perceber isto com as turnês internacionais que fiz com o Angra na América do Sul e Europa. Ao todo foram quatorze quilos a menos, mas um preparo físico muito melhor da época que era jogador de Basquetebol. E, finalmente, pude usar um pouco da língua francesa que havia estudado no Liceu Pasteur, pois o Angra era muito respeitado na França. A turnê de maio de 1997 passou pelas cidades de Lion, Estrasburgo, Rouen, Bordeaux, Toulouse, Ris-Orangis, Angouleme, Montpellier, Marselha e Paris.

Dentre tantas histórias hilárias e bizarras, algumas impublicáveis, que ocorreram na estrada, uma marcou. No dia do "Gods Of Metal", a 7 de junho de 1997, havíamos viajado de Offenbach (ALE) para Milão e fui repentinamente acordado no 'tourbus' com o aviso do tour manager: "Batalla (ele não conseguia pronunciar Batalha), 15 minutes!!!" Isso significava que eu tinha 15 minutos para me lavar, tomar café e entrar no ginásio Palavobis para montar a bateria do grupo italiano Eldritch, que estava fazendo a abertura para o Angra em sua turnê europeia e seria a primeira a se apresentar na primeira edição do festival.


 

Tudo bem, já estava acostumado com a pressão, mas essa havia sido impressionante. Ao adentrar ao local, nem imaginava o que estava por vir. Peguei parte do equipamento no trailer e rumei ao palco, contando com a ajuda de cinco 'stage hands'. Quando subi, tomei outro susto. Dez mil pessoas gritando como loucos. Não sei como consegui, mas com a ajuda de um 'stage hand' português, montei a bateria em poucos minutos e quando fui passar o som tomei mais dois sustos. Na primeira batida no bumbo, todos os presentes gritaram: "Hey!". Não acreditei... Adriano Dal Canto, baterista do Eldritch, acabou com a brincadeira, alegando que o som não iria ficar legal porque eu tinha uma pegada mais forte que a dele. Tudo bem, horas depois, na passagem de som do Angra eu fiz ainda mais e deixei o técnico de som Guilherme Canaes em polvorosa. Engraçado que quando ele falava "Bonzô, Batalha", comunicando que o som estava legal, eu ia tocando e a italianada vibrando e gritando a cada batida de bumbo, caixa e viradas... Aí, pensei: 'Pô, posso ter meu 1 minuto de fama?!'...



Os shows correram sem maiores problemas até que chegou a vez do Angra. A equipe do Manowar, que já havia deixado as bandas anteriores – Rage, Grave Digger, Moonspell, Time Machine e Eldritch – quase às escuras e com pouca potência sonora, comunicou que o Angra não teria a mesma potência de som e que a iluminação seria reduzida. Aí foi treta geral! As bandas se uniram e por pouco Joey DeMaio & Cia. iriam ver o baixista Luis Mariutti testando seu Muay Thai.

E não acabou... Ao final do show do Angra, que obteve uma excepcional recepção do público, o 'tour manager' do Manowar chegou até nós, roadies, dizendo: "Vocês têm 15 minutos (de novo!) para tirar toda esta tralha daqui, porque agora é Manowar!"



Engana-se quem pensa que ligamos para o que aquele velho havia ordenado, pois já estávamos fora da área do palco, no corredor de saída do ginásio. Mesmo assim, o metidão chegou e apontou para seu relógio dizendo no melhor estilo canastrão de faroeste: "Seu tempo acabou, vão nos ver conosco!" Não tive dúvida, larguei o surdo da batera no chão e disse: "Foda-se seu velho de merda, isto é 'endorse'. Esse foi o último show de nossa turnê e se quiser tire tudo isto daqui, você, porque este equipamento não vai mesmo voltar para o Brasil. Foda-se!!!"

A treta estava formada e Maurício "Gargamel" Mattos, outro roadie do Angra, começou a xingar o velho em português, mesmo. Se não fosse o nosso amigo português o 1º round começaria em instantes e nós teríamos a ajuda de Spiros e Sven (Rage), Rafael Bittencourt e Luis Mariutti.



Depois disso, comecei a perceber o porquê de o Manowar ter sempre o som num nível mais alto que outras bandas, até mesmo em festivais. Isto não significa que não sou fã da banda ou que tive problemas com seus integrantes, que sempre me trataram muito bem, mas não deixar os outros fazerem suas apresentações com a mesma potência sonora em detrimento da imagem não é algo muito louvável. Na realidade, nem sei se isto parte dos músicos, mas aquele velho deve ter passado a pensar duas vezes antes de intimar integrantes e roadies de outras bandas. É, a vida na estrada não é tão glamourosa quanto parece.

O trabalho com o Angra durou até o final de 1997, quando fui afastado dos trabalhos e me vi numa situação terrível. Até hoje não sei qual integrante sugeriu minha saída (quem não foi é fácil), mas nunca quis pensar muito nisso para não alimentar sentimentos que poderiam me atrapalhar no âmbito profissional. E isso se comprovou depois, durante todos esses anos de ROADIE CREW. Porém, como todos viram com o passar do tempo, estar ou fazer parte de qualquer coisa relacionada ao Angra requer muitas outras habilidades fora do âmbito musical. That's life...

sexta-feira, 9 de março de 2012

Confira as atrações de terça (13) do programa Maloik




Na próxima terça (13), às 23h58, irá ao ar o oitavo episódio do mais novo programa de entretenimento dedicado ao Heavy Metal, Maloik, que contará com a presença do vocalista China Lee e do guitarrista Daniel Beretta, que contarão um um pouco sobre a trajetória da banda Salário Mínimo no quadro "Hellraiser".

Já no "Campo de Batalha", quadro conduzido por Ricardo Batalha, um debate entre a modernidade do Metalcore contra a tradição do Metal 'Old School'. A repórter "Tough Girl", Fernanda Lira, apresenta entrevistas com as bandas Desecrated Sphere, Anarkhon, Unearthly e Aborted, durante a apresentação desta última no Brasil no mês passado. No divertido jogo de tabuleiro "Heaven and Hell", Roger Lombardi, vocalista da banda de Gothic Rock Goatlove, encara a morte e testa seus conhecimentos.

A banda Against Tolerance, com seu clipe "Welcome to the desert of the real" e o pessoal do ABC do Seita, com a música "Know Your Enemies", disputam votos no "Desafio de Bandas" da semana.

O Maloik vai ao ar todas as terças, às 23:58, pelo canal 14 da NET no ABC de São Paulo, ou pela transmissão simultânea através do link http://www.redetvmais.com.br/aovivo.asp?idpraca=1.

Acesse http://www.maloik.com.br para conferir como foram os últimos episódios e participar das enquetes.

Mais Informações:
http://www.maloik.com.br
http://www.facebook.com/maloikmetal
maloik@maloik.com.br
neuronfilmes@neuronbrasil.com.br

Confira o sétimo episódio na íntegra:
 

quinta-feira, 8 de março de 2012

Rock Forever Pub: falamos sobre 'The Last In Line' (Dio)


O Programa Rock Forever de sábado está recheado de atrações! Matéria especial da repórter Tainan Franco sobre as mulheres no Rock, com cobertura do evento que aconteceu no Villa Pizza Bar e entrevistas com cantoras jundiaienses.

E mais: dicas de contrabaixo com Felipe Andreoli do Angra no quadro You Rock!, Carlo Antico e eu conversaremos sobre o álbum “The Last In Line” de Ronnie James Dio no RF Pub e Rise Of The North Star no peso do Rock Forever Moshpit. E, como sempre, Rock News, Rock And Roll Years, quadrinho de recados e agenda.

O Programa Rock Forever completa esse ano 10 anos de existência, portanto pode esperar muitas atrações especiais durante 2012! O programa vai ao ar ao vivo e em tempo real através do site: www.tvredepaulista.com.br todo sábado às 16h30 e domingo às 14h.

domingo, 4 de março de 2012

'NWOBHM NIGHT 2012'




A 'NWOBHM Night 2012', que reuniu diversos músicos do Metal brasileiro fazendo jams de clássicos e bandas mais obscuras da New Wave Of British Heavy Metal, ocorreu no último dia 2 de março (sexta-feira) no Blackmore Rock Bar, em São Paulo/SP.

Costumeiramente ouvimos e lemos que os punks têm aquela premissa 'do it yourself', mas o que se viu nesse dia foi exatamente a mesma coisa – todos ajudando e se confraternizando. Na realidade, esta seria uma data da 'Quinta dos Infernos', jams organizadas por Alexandre Grunheidt (Ancesttral), mas tive a ideia de fazer algo diferente do que estamos acostumados a ver. Confesso: juntar mais de quarenta músicos para tocar estas músicas incomuns de se ver na noite paulistana não é tarefa fácil.

Andre Limma, técnico de som do Blackmore, deu uma força legal junto com o multi-instrumentista Rene Simionato e tantos outros que na hora do aperto aparecem para nos auxiliar. Claro que existem dificuldades com o equipamento, na troca entre uma música e outra, além de sermos obrigados a entreter o público até 4h da manhã – exigência da casa. Apesar de todos estes e outros problemas e da falta de alguns músicos (alguns, não justificada, infelizmente), o evento foi muito legal.





A 'NWOBHM Night 2012' me lembrou um aniversário que organizei muitos anos atrás no saudoso Black Jack Bar, onde rolaram muitas jams e improvisos. Por sinal, aquela foi a primeira de muitas que depois ocorreram em São Paulo nas festas do Stay Heavy e do Backstage. Mas esta teve um caráter de ineditismo, pois jamais tínhamos visto músicos tocando clássicos de bandas como Demon, Samson, Satan, Angel Witch, Blitzkrieg, Grim Reaper, Saxon, Iron Maiden, Def Leppard, Tank, Girlschool, Tokyo Blade, Tygers Of Pan Tang, Venom, Diamond Head e Holocaust numa noite.

Outro fato inédito e bizarro foi que, com a falta de músicos que tocariam "This Means War" (Tank), acabei voltando a tocar após quatorze anos sem me apresentar ao vivo para o público. Como esta era uma música que queria muito ouvir/ver, o vocalista Roger Lombardi (Goatlove), que tocou comigo nas bandas Midnight e Sunseth Midnight e também é muito fã do Tank, lá pelas tantas falou: "Se você tocar esta eu enrolo no vocal!" Bem, não tive dúvida. No susto, de improviso, sem nem sequer ter cogitado subir ao palco para tocar, já que estava como "mestre de cerimônia" do dia, fui lá e fiz o que deu. Após a brincadeira, minha mão inchou e doeu muito, mas pelo menos fomos lá e ouvimos o Tank. Sei que não posso mais tocar, pois a placa de titânio na mão direita que coloquei após um acidente de carro ocorrido em 1994 me impede de fazer isso, mas foi uma sensação diferente. Trabalhar como roadie não é como tocar e ouvir aquele som do palco. Claro que ficou aquele 'jazz' todo, mas valeu pela festa. Agradeço a força de Roger Lombardi (Goatlove, vocal), Diego Lessa (Salário Mínimo, baixo), De Grigo (Paradise Inc., guitarra) e Gerson Horror (Sounder, guitarra), que tocaram este clássico do Tank comigo e me deram aquela força.



Acredito que o intuito do evento foi cumprido, pois a grande maioria dos que estiveram lá se divertiu muito e os considero como irmãos (sem aquele "discurso Joey DeMaio"). A mescla de músicos da velha geração do Metal, como André Góis (Vodu), Luiz Carneiro (Minotauro), Nando Machado (Exhort), com os que estão atualmente na ativa também era questão de honra. Pregam tanto a união, mas quando se faz algum evento são sempre os mesmos que participam. Desta vez, não! Gente que nem banda tem tocou ao lado de músicos da atualidade e de heróis do passado e, das 19 músicas programadas, apenas três não puderam ser apresentadas pela falta dos músicos escalados (Raven, Battleaxe e Sweet Savage). Segue a lista do que rolou na festa:

DEMON - NIGHT OF THE DEMON
Roger Lombardi (Goatlove, v) / Gerson Horror (Sounder, v/g) / Leonardo Brito (Ancesttral, g) / Paulo Anhaia (Monster, b/v) / Jean Praelli (Fire Strike, bt)

SAMSON - RIDING WITH THE ANGELS
Mario Pastore (v) / Nando Machado (Exhort, b) / Silvio Lopes (King Bird, g) / Fabio Hoffmann (Party Animalz, g) / Amilcar Christófaro (Torture Squad, bt)


 

GRIM REAPER - SEE YOU IN HELL
Mario Pastore (v) / Rex (Comando Nuclear, g) / Cesar Capi Hernandez (Selvageria, g) / Rodrigo Bersogli (Comando Nuclear, g) / Rene Simionato (Guillotine, Em Ruínas, bt)

GIRLSCHOOL - C'MON LET'S GO
Fernanda Lira (Nervosa, v,b) / Rene Simionato (Guillotine, Em Ruínas, g) / Igor Lopes (Em Ruínas, g) / Adriane Adrismith (Panndora, bt)



ANGEL WITCH - ANGEL WITCH
André Gois (Vodu, v) / Rene Simionato (Guillotine, Em Ruínas, g) / Cesar Capi Hernandez (Selvageria, g) / Renato Canonico (Ancesttral, Goatlove, b) / Adriane Adrismith (Panndora, bt)

IRON MAIDEN - IRON MAIDEN
Luiz Carneiro (Minotauro, v) / Murillo L. (Genocidio, g) / Gilberto Bressan Jr. (g) / Renato Canonico (Ancesttral, Goatlove, b) / Rene Simionato (Guillotine, bt)







SAXON - DENIM AND LEATHER
Junior (Leather Face, v) / Murillo L. (Genocidio, g) / Rene Simionato (Guillotine, g) / Fabio Cesar (King Bird, g) / Edson Graseffi (Reviolence, bt)

>>>> INTERVALO 30 MIN – Discotecagem NWOBHM <<<<<<



DEF LEPPARD - LET IT GO/FOOLIN'
Fabio Pardal (v) / De Grigo (Paradise Inc., g) / Rodrigo Vanni (g) / Rick A. (Paradise Inc., b) / Allan Juliano (Paradise Inc., bt)

SATAN - BLADES OF STEEL
Vinicius Mariano (v) / Luis (Guillotine, g) / Rene Simionato (Guillotine, g) / Fernanda Lira (Nervosa, b) / Amilcar Christófaro (Torture Squad, bt)


 
TOKYO BLADE - POWERGAME

Vinicius Mariano (v) / Diego Lessa (Salário Mínimo, b) / Rex (Comando Nuclear, g) / Éric Würz (Comando Nuclear, g) / Rene Simionato (Guillotine, bt)

TYGERS OF PAN TANG - GANGLAND

Vinicius Mariano (v) / Igor Lopes (Em Ruínas, g) / Rene Simionato (Guillotine, Em Ruínas, g) / André "Kaveira" (Sounder, Em Ruínas, b) / Adriane Adrismith (Panndora, bt)



VENOM - WELCOME TO HELL
Flávia Morniëtári (Hellarise, v) / Murillo L. (Genocidio, g) / Cesar Capi Hernandez (Selvageria, g) / Fernanda Lira (Nervosa, b) / Guilherme Incitatus (Comando Nuclear, bt)

BLITZKRIEG - BLITZKRIEG
Alexandre Grunheidt (Ancesttral, v) / Murillo L. (Genocidio, g) / Eduardo Boccomino (Chaosfear, g) / Renato Canonico (Ancesttral, Goatlove, b) / Billy Houster (Chaosfear, bt)





DIAMOND HEAD - AM I EVIL?
Alexandre Grunheidt (Ancesttral, v,g) / Eduardo Boccomino (Chaosfear, g) / Paulo Anhaia (Monster, v,b) / Mirella Max (Hellarise, bt)

HOLOCAUST - THE SMALL HOURS
Alexandre Grunheidt (Ancesttral, v,g) / Gilberto Bressan Jr. (g) / Nando Machado (Exhort, b) / Billy Houster (Chaosfear, bt)

TANK - THIS MEANS WAR
Roger Lombardi (Goatlove, v) / Diego Lessa (Salário Mínimo, b) / De Grigo (Paradise Inc., g) / Gerson Horror (Sounder, g) / Ricardo Batalha (bt)



Confira AQUI a galeria completa de fotos do evento.

Fotos por
Irisbel Mello



Veja improviso na jam do TANK abaixo: