quarta-feira, 16 de julho de 2008

PARADOXOS, INCOERÊNCIAS...

"TRUE" OU NÃO, O QUE IMPORTA É A SUA RELAÇÃO PESSOAL COM A MÚSICA
O que um dos guitarristas da banda brasileira de Hard/Glam Bastardz, o Danny Poison, teria em comum com o fundador do Running Wild? Se não sabe a resposta é porque não conhece a nova banda de Rock N' Rolf, o Toxic Taste. Nela, o mentor do Running Wild atende pela alcunha de T.T. Poison. Mais "true" impossível.

Mas ele pode. Ele é Rolf Kasparek, o dono do Running Wild. Ele é "true" porque não usou este material para outra banda. Só coloquei isso porque já ouvi este tipo de comentário dos fãs. Mesmo assim, Rolf não é o primeiro, nem será o último, a chocar alguns de seus seguidores. Lá mesmo na Alemanha vários são os exemplos de bandas cultuadas que gravaram trabalhos pouco condizentes com a postura "True". Afora a música - que na grande maioria dos casos se manteve em bom nível - o visual é a parte que mais toca negativamente, pois aproxima os ídolos dos 'true metallers' aos 'posers' dos EUA, aqueles que a vida toda foram (são e serão) julgados de forma pejorativa.

As jaquetas jeans (ou de couro) surradas - repletas de patches e buttons -, as calças jeans rasgadas, os braceletes e os spikes dando lugar a um 'look' mais americanizado e bem próximo do Hard/Glam. Escolha a banda: Digger, Accept, U.D.O., Warlock, Judas Priest, Saxon, Celtic Frost.... Exemplos não faltam. Muito embora algumas destas não gostem de falar da "fase negra", o ápice é o Pantera, que posou de Thrash a vida toda, mas inexplicavelmente apagou seu passado - foram quatro álbuns antes do "debut", segundo eles, o "Cowboys From Hell".

Seria legal se todos nós, radicais, tentássemos ao menos comentar e discutir com mais coerência e menos paixão obsessiva (seria um Transtorno Obsessivo-Compulsivo-Metálico?). Não é crime conhecer cada obra "obscura" das bandas citadas, mesmo porque pela legislação vigente do Metal estas são sempre absolvidas - ou "pegam penas brandas". É muito mais fácil absolver Rock 'N' Rolf, Chris Boltendahl, Rob Halford, Ozzy Osbourne, Biff Byford e atirar pedra em Bret Michaels, Sebastian Bach, Kip Winger ou Don Dokken. Só que há muita coisa legal em álbuns como, por exemplo, "Eat The Heat" (Accept), Digger ("Stronger Than Ever"), "Turbo" (Judas Priest), "Destiny" (Saxon), da mesma forma que os das crucificadas "bandas farofa", que também gravaram grandes obras.

Não adianta dar uma de Ricardo Batalha, que a certa altura nos anos 80 não comprava discos (LPs) de bandas "falsas" que tinham teclado, sintetizadores, saxofone... A música atinge a freqüência cerebral de cada pessoa de modo particular. Mas pode ser que exista um o 'timing' certo para que isto aconteça - o que é bom hoje foi ruim para você ontem (e vice-versa) - ainda mais porque a identificação com a música é algo absolutamente subjetivo e pessoal.

Entenda como quiser. Eu poderia terminar com aquele discurso manjado de "United Forces", mas encerro com um tema recorrente que certamente muitos (espero) vão entender do que se trata:

Eu escrevi uma carta para a MTV, o que está acontecendo?
Eles não se importam comigo
Envie a mesma carta para o rádio
Mas minha festa morreu como um tiro na cabeça
Todos nós gostamos disso - Rock 'n' Roll
Todos nós queremos isso - No seu show
Toque isto alto, não toque isto baixo
Exploda seus alto-falantes com Rock 'n' Roll

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Arquivo Entrevista: JOHN GALLAGHER (Raven)

O trio inglês Raven foi formado em 1974 e conseguiu grande impacto com seus primeiros álbuns, "Rock Until You Drop" (1981), "Wiped Out" (1982) e "All For One" (1983). O Metal com alma Rock and Roll foi rotulado por eles de "Athletic Rock", uma forma de classificar a energia e vibração com que os lunáticos irmãos John Gallagher (vocal e baixo), Mark Gallagher (guitarra) e o baterista Rob 'Wacko' Hunter (bateria) tocavam, fato que foi comprovado com o álbum ao vivo "Live At The Inferno", lançado em 1984. Depois, foram contratados pela gravadora Atlantic, que queria aproximar o som ao Hard Rock, que dominava as paradas de sucesso. Nesta época, o Raven conseguiu grande repercussão, mas os trabalhos foram pichados pelos fãs mais antigos. Depois que se livrou da Atlantic, ocorreu a saída do batera Wacko, substituído por Joe Hasselvander, mas o trio voltou a fazer o que queria e recentemente lançou seu 14º álbum, "One For All". Com a palavra o líder John Gallagher...

Primeiramente, gostaria de parabenizá-lo por seu aniversário (N.R.: No dia 08 de outubro John fez 42 anos). Vocês fizeram alguma festa para comemorar?
John Gallagher: Muito obrigado! Não fizemos festa desta vez. Na verdade, comemorei meu aniversário dormindo porque detonamos muito na noite anterior (risos).

O novo álbum, "One For All", mostra uma veia bem anos 80, trazendo de volta o estilo "Athletic Rock" do Raven. Isto foi algo proposital, já que o título tem conexão com o álbum "All For One", lançado em 1983?
John: Acredito que o novo álbum tem a mesma vibração mas não sinto que seja uma busca ao passado, pois já estamos fazendo o mesmo tipo de som há um bom tempo. Colocamos o nome "One For All" simplesmente por brincadeira. Outra razão foi de termos voltado a trabalhar com Michael Wagener, que também produziu o "All For One".

Por isso vocês optaram por não produzir o álbum, assim como fizeram com "Everything Louder", lançado em 1997?
John: Gosto muito do "Everything Louder" mas queríamos obter um pouco mais de 'punch' no som. Quando estávamos justamente pensando nisto, Michael Wagener entrou em contato conosco e como somos amigos há muito tempo, tudo se encaixou perfeitamente e o resultado está em "One For All".

Como está a vendagem do novo álbum? A resposta dos fãs tem sido favorável?
John: Sim, este é nosso álbum mais vendido dos últimos tempos. Isto está sendo muito bom, ainda mais porque ele também foi lançado nos Estados Unidos. A promoção está muito boa e sei que o álbum também saiu no Brasil. estou contente com tudo que está acontecendo atualmente.

Atualmente muitas bandas antigas estão retornando. Você acredita que isto pode fortalecer ainda mais o cenário do Heavy Metal?
John: Não posso precisar, mas provavelmente é uma boa. Estou realmente contente com a volta do Metal no geral, o estilo está voltando a crescer e isto é o mais importante. Estou falando sobre o real Metal, não estas novas bandas que muita gente teima em classificar como Metal mas que não são, especialmente as americanas.

Sei que você gosta de Black Sabbath, Slade, Deep Purple, The Who, Status Quo e Aerosmith. No novo álbum vocês gravaram uma cover do Status Quo, "Big Fat Mama", e no álbum "Glow" saiu uma do Thin Lizzy, The Rocker. Estas bandas que citei chegaram a influenciar o som do Raven?
John: De fato quando éramos jovens, estas eram nossas grandes influências. Desta forma, conseguimos fazer um som único, porque ainda não tínhamos ouvido Judas Priest e bandas desta categoria, por isso nossa base é diferente. Ouvíamos Budgie, Blue Oÿster Cult, Black Sabbath, Deep Purple e aprendemos muito com estas bandas. Quanto aos covers, toda vez que estamos ensaiando, fazemos algum cover, mesmo que por brincadeira, para relaxar um pouco. Mas, às vezes, fica tão legal que gravamos e incluímos nos álbuns. 

Mas, você acredita que podemos colocar o Raven lado a lado com bandas como Motörhead e Twisted Sister, porque tocam Heavy Metal com uma vibração bem próxima do Rock'n'Roll?
John: Acredito que sim, porque o Rock'n'Roll sempre fez parte de nossa sonoridade, é nossa raiz. Somos Heavy Metal, mas como disse anteriormente, ouvíamos muito as bandas que faziam Rock'n'Roll, como Status Quo e Slade.

Quando a banda trabalhou na Atlantic Records você declarou que o Raven estava se tornando popular mas vocês se sentiam como escravos. O que realmente aconteceu na época que lançaram os álbuns "Stay Hard" (1984), "The Pack Is Back" (1985) e "Life's A Bitch" (1987)?
John: Tivemos muitos problemas com empresários. Estávamos morando nos Estados Unidos naquela época e eles queriam nos transformar numa máquina de dinheiro. Isto começou a ficar chato porque eles estavam começando a interferir muito em nosso som. Estavam dando ordens sobre o direcionamento musical que deveríamos seguir, mas deveriam ter nos deixado livres para compor o que estivéssemos aptos e com vontade de tocar. A situação ficou ruim, porque sei que se estou com a banda até hoje é porque faço o que quero e não o que os outros estão com vontade que eu faça! Eles queriam mexer na produção dos álbuns para deixar nosso som mais Pop. Sei que eles colocaram a mão em muitas bases de guitarra daqueles álbuns para que soassem mais limpas. Sei que as músicas são boas, mas não é o Raven! Depois nos livramos deles e passamos novamente a gravar somente o que queríamos. Se nós não gostarmos de nosso próprio som, quem é que vai? Não concordava com aquilo! Você acha que podíamos soar como Britney Spears?...(risos) 

Vocês fizeram turnês com bandas como Metallica, Anthrax, Accept, Anvil, Mercyful Fate, Judas Priest, Iron Maiden, Ozzy Osbourne, Demon, Ted Nugent, Whitesnake, Tank e Hammerfall. Qual destas foi a melhor?
John: Todas estas que você citou foram bem legais! Tivemos grandes momentos com o pessoal do Metallica, Anthrax, Motörhead e Judas Priest. É sempre legal tocar com bandas que você escuta e gosta do som, principalmente as mais antigas, como Judas Priest, Motörhead e também o Whitesnake.

Por que o Raven não tocou este ano nos grandes festivais europeus, como o Dynamo na Holanda, Gods Of Metal na Itália e Wacken na Alemanha?
John: Esta pergunta é a resposta do por que mudamos de gravadora (risos). Já estamos negociando para tocar em grandes festivais no ano que vem, como o "Wacken". Gostaria muito de tocar no "Gods Of Metal", "Bang Your Head" e "Wacken". Tocamos da mesma forma em palcos pequenos ou nos de grande proporção, nossa energia é a mesma. Não importa também se tocamos à noite ou de dia, porque não acredito que efeitos de luzes importam muito, o principal é a música que sai dos amplificadores! Preciso dizer que gostaria muito de tocar no Brasil e espero poder estar aí algum dia.

Entrevista publicada na edição #24 da revista ROADIE CREW (novembro de 2000)

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Arquivo Entrevista: GEORGE LYNCH

O guitarrista George Lynch e o baixista Jeff Pilson fizeram seu nome na cena do Hard Rock quando integraram o Dokken, uma das maiores bandas dos anos 80, com a qual gravaram trabalhos marcantes como Tooth And Nail (1984), Under Lock And Key (1985) e Back For The Attack (1987). Os desentendimentos pessoais com o vocalista Don Dokken ocasionaram a saída de Lynch, que montou outra banda de sucesso, o Lynch Mob. Pilson permaneceu mais tempo ao lado do Dokken, mas nesse tempo também lançou álbuns com seus projetos pessoais, entre eles o Undergound Moon e o War & Peace. A união destes dois astros do Hard aconteceu de forma surpreendente e o resultado foi o lançamento de Wicked Underground, um álbum que mostra uma nova visão musical e um resgate ao Hard dos velhos tempos.

Quando você e o baixista Jeff Pilson decidiram se juntar e criar este novo projeto?
George Lynch: Essa é uma história estranha e engraçada. Um dia estava com minha filha num lava rápido de carros e um funcionário de lá me reconheceu. Era um grande fã e ficamos conversando. Aí ele disse que seria interessante se eu voltasse a tocar com Jeff e que o próprio Jeff cantasse na banda nova. Comecei a pensar e vi que seria mesmo uma boa, como estar de novo no Dokken, mas sem o Don, e como um trio. Depois, liguei para Jeff e demos início ao projeto. Eu mesmo tinha umas músicas ainda não usadas e começamos a trabalhar em cima delas.

E você se tornou amigo desse cara do lava rápido?
Lynch: De certa forma sim. Ele é um cara legal e meio excêntrico. Além do trabalho dele, nos fins de semana, ele tem um hobby e dirige um trem levando seu grupo de amigos. Nos falamos de vez em quando por e-mail.

Quando e por que você decidiu pegar o baterista Michael Frowein? Com quem ele tocou antes de se juntar a você nesse projeto?
Lynch: Antes de ligar para Jeff eu tinha que ter uma pessoa para fazer umas jams comigo e ver se as idéias que eu tinha ficariam legais quando fossem gravadas em meu estúdio aqui no Norte da Califórnia. Então, comecei a fazer uns testes e aí conheci Michael. Depois que nos conhecemos foi algo mágico e tivemos uma interação muito rápida. Parecia que eu tinha voltado no tempo, quando estava na escola e costumava fazer jams com várias pessoas da minha área. Confesso que bateu esse saudosismo em mim, porque tudo estava sendo feito no mesmo local que cresci. Pensei comigo: “Aqui estou novamente, fazendo jams com caras da minha área”. Eu e Michael ficamos tocando sem parar por horas. Além de testar as minhas idéias, nos divertimos muito! Antes de tocar nesse projeto comigo, Jeff tocou um tempo no Tesla.

Existe uma razão especial para a escolha do título Wicked Underground? Tem alguma conexão com o álbum Wicked Sensation do Lynch Mob e também com a banda de Jeff, Underground Moon, ou é algo que concerne ao atual momento do underground do Rock no mundo?
Lynch: Na verdade, coloquei uma enquete em meu site e os fãs davam suas sugestões. Wicked Underground foi uma delas e a consideramos com a melhor! Entendo o que você quer dizer com o momento atual do underground, mas certamente a idéia inicial foi unir o título do álbum do Lynch Mob com o da banda de Jeff. Depois disso, o engraçado é que não sabíamos que nome iríamos dar para a banda. No final acabou mesmo ficando Lynch Pilson ou LP, como queiram.

Como foram as gravações e a produção do álbum, que você mesmo fez ao lado de Jeff?
Lynch: Fizemos toda a pré-produção em meu estúdio e então começamos a gravá-lo no estúdio de Jeff. Levei vários equipamentos para Los Angeles para este trabalho. Achei que tudo saiu de forma perfeita, mas para o que queríamos ainda faltava algo. Então, tivemos a chance de levar tudo para o Henson Studios, em Hollywood, que é mais conhecido como A&M Studios e também era o antigo estúdio de filmagem de Charlie Chaplin. Confesso que no começo aquilo seria apenas um teste, mas esses poucos dias de testes acabaram virando vários meses. A maioria das músicas foi gravada lá, à exceção da parte vocal, onde quase tudo foi feito no estúdio de Jeff.

Para ser bem honesto com você, eu sempre gostei de seus riffs pesados, mas a faixa do álbum que mais me chamou a atenção quando escutei o Wicked Underground foi a Ever Higher, que começa bem calma e com dedilhados e depois entra o peso. Você acredita que a Ever Higher possa ser considerada como um resumo de todo o seu trabalho como músico?
Lynch: Acredito que em sentido amplo você tem razão. Eu havia criado esta música no violão fazia bastante tempo, quando eu estava vivendo numa cidadezinha, em Crave Creek, no Arizona, com minha filha. Aquele foi um período bastante introspectivo da minha vida. Eu nem tocava guitarra naquela época, apenas violão. Esta música é muito profunda e significa muito para mim, algo meio espiritual. E isso reflete muito quando se escuta, porque transmite muita emoção e também possui um lado mais forte e intenso. Por tudo isso, a considero a melhor do álbum.

Outra música interessante é a Zero The End, que tem uma construção perfeita e um grande solo. É muito bom escutar algo feito por quem realmente entende de Hard Rock! Você ficou chateado com a indústria da música quando eles abandonaram as bandas de Hard nos anos 90?
Lynch: Na verdade eu acho que tinha mesmo que ser assim. O velho tinha que dar espaço ao novo, como uma renovação, já que era uma nova geração que estava chegando. O mundo nunca pára de mudar e a música também sente estas mudanças. É uma ordem natural das coisas. Entretanto, é claro que aquilo me machucou de algum modo, mas devemos seguir sempre em frente e não baixar a cabeça. Aqui estou! Estou disposto e fazendo o que sei e vamos em frente!

Você concorda que alguns momentos do Wicked Underground têm o mesmo estilo do Dysfunctional do Dokken? Além disso, Jeff canta de forma bem parecida com a de Don Dokken!
Lynch: Não vejo tanta similaridade especificamente entre o Dysfunctional e o Wicked Underground, mas até sinto que tenha coisas do velho Dokken. Mas é claro que isso sempre vai acontecer quando e Jeff estivermos compondo juntos.

A idéia de cantar no álbum partiu de Jeff ou vocês estavam com receio de pegar um vocalista que não conhecessem direito e que poderiam ter problemas de relacionamento no futuro?
Lynch: A coisa mais importante para Jeff neste projeto era entrar e ser o vocalista. Eu não tinha sequer outra opção para o posto de vocalista e Jeff sonhava com aquilo. E eu também queria que ele mostrasse toda a sua capacidade, e aí foi bem fácil.

Você não concordou muito com a comparação que fiz em relação ao Dysfunctional mas a faixa When You Bleed e o final da Ever Higher possuem elementos e alguns riffs que lembram os que você utilizou no álbum Smoke This do Lynch Mob. Claro que sei que o estilo é completamente diferente mas você concorda que existe esta conexão?
Lynch: Não vejo problema algum nisso, porque é muito difícil em tantos anos de carreira você não rever alguns conceitos ou regredir alguns degraus e olhar para o que havia feito. Eu nunca evitei me esforçar para fazer o melhor e se isso significa me repetir em alguns aspectos, tudo bem. Ninguém culpa o AC/DC por isso (risos). Até certo ponto sinto que até deveria fazer mais essas coisas para mostrar quem eu sou. Prefiro que alguém veja isso pelo lado que estou recriando as minhas próprias coisas do que investindo no estilo de outros.

Você definiria o estilo do álbum como um Hard Rock melódico, mas com uma intensidade e agressividade implícita e na medida certa?
Lynch: Esta é exatamente a definição deste trabalho! Como disse antes, eu tenho minha forma de criar músicas e isso não se muda! É como se fosse um diálogo interno que tenho comigo. Se isso soa datado para alguns, tudo bem, este é o meu estilo. É isto que me define na cena e por isso às vezes eu me repito.

Falando um pouco sobre o Lynch Mob, como está a banda após o lançamento do Revolution?
Lynch: Obviamente devemos observar o álbum por um outro ângulo, porque não são novas composições. Acredito que fizemos um trabalho interessante nas versões, pois mudamos alguns riffs e ‘grooves’ das músicas. Ele foi gravado totalmente em sistema análogo, também no Henson Studios. O Lynch Mob é uma banda que se acostumou a fazer turnês e é o que estamos fazendo aqui neste verão.

Mas você não pretende fazer uma turnê?
Lynch: É claro que quero! Mas temos que analisar bem a nossa agenda, porque Jeff está produzindo muita coisa atualmente está com o tempo limitado. Além disso, eu estou tocando com o Lynch Mob. Eu e Jeff conversamos muito sobre tocar ao vivo com o Lynch Pilson, e acredito que seja apenas uma questão de ajeitar o momento ideal para fazer a turnê. Nós também teremos que analisar quem quer nos ver ao vivo e não sairmos como loucos gastando dinheiro e tempo se ninguém oferece uma boa proposta. Na verdade, sairmos por conta própria seria um erro, porque acho que ninguém sabe quem somos.

Como assim, você quer dizer que ninguém sabe quem é George Lynch e Jeff Pilson?
Lynch: Não é bem assim (risos). Quero dizer que é uma situação realmente complicada e só faremos shows se isto tiver algum propósito para nós.

Isto tem alguma coisa ver com o trabalho da Spitfire Records?
Lynch: Prefiro não comentar nada a este respeito!

A MTV 2 dos Estados Unidos voltou a passar o programa de videoclipes “Headbanger’s Ball”. Você acredita que ainda seja importante para músicos como você e Jeff?
Lynch: Vamos esperar mais um pouco para ter a noção exata do que eles querem com este retorno, o que irão colocar em na programação. No passado, é claro que foi importante. Mas isto faz tempo e agora está difícil ter espaço nas rádios, revistas e na televisão. Depende de muita coisa, porque algumas bandas têm uma exposição gigantesca, como o Linkin Park agora, e para eles é viável gastar 300 mil dólares num clipe. Para nós não faria tanto sentido fazer um clipe para passar uma vez na televisão daqui. Se fosse para ter uma visibilidade maior e atingir diversos países aí seria uma boa. Com o LP teríamos que encontrar um diretor que poderia fazer algo legal com um custo baixo. É isto que fizemos para gravar tanto com o LP e o Lynch Mob, fizemos tudo com um custo mais baixo e demos o máximo de nós para obter um bom resultado.

Qual é a melhor coisa de trabalhar novamente com Jeff Pilson, comparando com a época que vocês estavam juntos no Dokken?
Lynch: Não temos mais Don, o que é bom. Não há mais desculpas para não se fazer algo. Quero dizer, se vamos trabalhar em cima de uma música, temos apenas que fazê-la. Mesmo com as limitações, é algo recompensador porque trabalhamos com muito afinco. Com você divide algo muito forte com uma determinada pessoa, em qualquer tipo de trabalho, você acaba tendo uma sorte interação e é isso que eu e Jeff temos!

Certo, mas quais foram as melhores e as piores coisas de ter feito parte do Dokken?
Lynch: A melhor é claro que foi o sucesso e notoriedade que tivemos, o que nos deu a maravilhosa chance de viajar pelo mundo e tocar para multidões de pessoas. As piores coisas foram os conflitos pessoais na banda e a nossa queda e decadência. Mas cair, às vezes, pode ajudar uma pessoa, tanto espiritualmente como fisicamente (risos). Quero dizer, você pode levantar mais forte ainda!

Nunca entendi bem o seu desentendimento pessoal com Don Dokken, mas ele sempre diz que aquele álbum horrível do Dokken chamado Shadowlife tem tudo a ver com você e que ele apenas gravou os vocais.
Lynch: Bem, falar este tipo de coisa é típico de Don. Se algo não dá certo a culpa não é dele e ele precisa encontrar um culpado. Se a resposta for positiva os créditos vão para ele. Uma das razões por não nos darmos bem é que há mais de 15 anos damos esse tipo de entrevista e ele sempre se dá o crédito para coisas que não deveria e culpa as outras pessoas que nada tem a ver com a história. Como disse, isso é típico dele!

Mas por que vocês gravaram um trabalho tão ruim como o Shadowlife?
Lynch: Aquele álbum tinha mesmo uma outra ambientação. De certa forma, não éramos mais uma banda unida e descontraída que trabalhava junta e tinha união. Mas vou lhe explicar o que aconteceu com Shadowlife. Nós gravamos dois álbuns diferentes. O primeiro, sem Don, não tem nada a ver com o que foi lançado. Mas, aí ele entrou em cena na última hora, mudou o máximo que pôde e o disco acabou falhando. Se tivesse sido feito do meu jeito, Don nem teria cantado naquele álbum! Na verdade ele era bem pesado e muita coisa acabou ficando de fora. A gravação que fizemos em meu próprio estúdio no Arizona ficou muito melhor da que foi lançada.

Don também odiou a produção daquele álbum, que foi feita por Kelly Gray.
Lynch: Acho que não gostou porque o álbum fracassou e aí pôde botar a culpa em alguém. Como eu falei, até Don e Kelly botarem as mãos aquele era um álbum diferente, bem intenso e pesado. Mas eles foram para o estúdio de Don e mudaram, aí ficou aquela merda!

Nos anos 80, muita gente conhecia uma banda apenas pelo som da guitarra e o estilo do músico, como, por exemplo, quando ouvíamos os seus riffs e também de outros como Warren DeMartini (Ratt) e Chris Holmes (W.A.S.P.). Existe algum guitarrista da atualidade que está na mídia que você aprecia o estilo?
Lynch: Gosto de Fredrik Thordendal, do Meshuggah, pois acho que faz um trabalho original e que pode se identificado. Ele é a versão moderna do Allan Hollsworth. Outro cara que gosto é o Tom Morello, que era do Rage Against The Machine e está no Audioslave. Sei que ainda existem vários guitarristas da minha época que ainda estão aí e que merecem ser ouvidos com atenção, mas hoje em dia eu não gosto de escutar uma pessoa só e sim a música como um todo, e analisar a atmosfera e a vibração total de um som. O que importa é que a banda consiga fazer um show intenso!

Você está próximo de completar 50 anos de idade (N.R.: Lynch nasceu no dia 28 de setembro de 1954, em Spokane, Washington/EUA). Qual o melhor álbum que você gravou?
Lynch: O Wicked Sensation, porque todos os elementos vieram na hora certa. Eram as pessoas ideais para tudo, management, gravadora, produtores, turnês e, claro, os músicos! Por sorte tinha o tempo e o dinheiro disponíveis para que tudo fosse feito da melhor forma. É o melhor trabalho que me envolvi até hoje e tenho a intenção de superá-lo um dia. Espero que seja também com o Lynch Mob! Estamos trabalhando em um novo álbum da banda, que será lançado ano que vem e estou muito animado.

Você nunca teve a chance de tocar no Brasil, seja com o Dokken ou com o Lynch Mob, mas acredita que isto possa vir a acontecer?
Lynch: Acredito que sim, porque até hoje nem entendi como não fomos para o Brasil! Mesmo assim, quero me certificar de tudo, pois quando tiver a oportunidade de ir, quero tudo seja feito da melhor maneira e no momento certo. Viajar na loucura só para conhecer não é uma boa. Quem sabe toque com o Lynch Mob, LP ou o que eu estiver fazendo no futuro. Além do Brasil, também quero pode tocar na Austrália, onde nunca estive.

Entrevista publicada na edição #55 da revista ROADIE CREW (agosto de 2003)