domingo, 1 de novembro de 2009

Arquivo Entrevista: JOHAN EDLUND (Tiamat/Lucyfire)

O compositor, vocalista, guitarrista e tecladista Johan Edlund vem trabalhando de forma incessante ultimamente. No ano passado estreou seu projeto solo Lucyfire, lançando o álbum This Dollar Saved My Life At Whitehorse, muito bem recebido pela crítica e pelos fãs. Já o Tiamat, sua banda principal, acaba de lançar o sétimo álbum de estúdio, Judas Christ. A seguir, Johan conta tudo sobre o novo do Tiamat, não esconde sua paixão pelo Rock Gótico e traça planos para o futuro.

Como foram as sessões de gravação do novo álbum?
Johan Edlund: Foi muito longa, frustrante por causa do enorme trabalho que tivemos, mas tudo saiu muito como queríamos. Foi um longo período entre o processo de composição, os ensaios e a gravação. O restante da banda também esteve reunida na maior parte do tempo e trabalhamos muito bem em conjunto.

E quanto a sua parceria com o produtor Nissen, que começou na mixagem do álbum do seu projeto solo Lucyfire?
Johan: Nos entrosamos muito bem quando estamos trabalhando e ele é uma pessoa que não fica tentado nos controlar o tempo todo. Ele estava lá para nos ajudar e vislumbrar como o nosso som iria soar. Ele dava todas as possibilidades e nós entravamos num consenso. Nós tínhamos claramente em mente tudo que queríamos para esse álbum, mas não é sempre que você pensa uma coisa e consegue fazê-la. Nissen é o cara perfeito para fazer as coisas funcionarem, ou seja, ele captou o que desejávamos e colocou tudo em prática.

Como você se sentiu trabalhando no P.U.K. Studio, na Dinamarca, que já tinha sido usado por astros do Pop como Elton John e bandas renomadas da cena Gótica, como o The Sisters Of Mercy e o Depeche Mode?
Johan: Foi muito inspirador trabalhar neste local. Além disso que você citou, é um excelente estúdio, onde você fala com profissionais altamente gabaritados no assunto. Antes mesmo de gravar você já têm aquela consciência de que irá soar bem.

Já que você falou em inspiração, o álbum Foodland do The Sisters Of Mercy serve como guia quando você compõe?
Johan: Em certos momentos pode-se dizer que sim, é um álbum de uma banda que todos nós gostamos bastante.

Existe alguma razão especial para escolher a faixa Vote For Love como primeiro single do novo álbum? Vocês pretendem gravar um videoclipe para esta música?
Johan: Acredito que a mensagem positiva da música, algo novo para nós, levou a esta escolha. Não sei se esta é a música mais representativa do álbum, mas seu tema tem uma declaração muito pesada e forte. Quanto ao videoclipe, nós já o gravamos e acho que deverá sair em breve, pois em poucos dias irei conferir a edição final.

Você concorda que algumas partes do Judas Christ são similares ao seu trabalho com o Lucyfire?
Johan: Acho que é até difícil fugir deste tipo de comparação, ainda mais porque eu componho e canto em ambas as bandas. Sempre poderá pairar uma dúvida se o que está tocando é o Lucyfire ou o Tiamat.

O que você quer dizer com o título Judas Christ?
Johan: Nada em especial.

Vocês não estão provocando os que crêem no Cristianismo?
Johan: Não estamos contra os cristãos e sim contra o cristianismo.

E o que você diz sobre os radicais islâmicos?
Johan: Eu devo dizer que acho o Cristianismo a religião mais hipócrita que existe. Por outro lado sempre respeitarei as pessoas e se elas têm sua crença no Islamismo, Budismo ou o que quer que seja sempre continuarei respeitando o ser humano. Quero falar das questões que estão por trás da religião e neste ponto não existe coisa mais hipócrita que o Cristianismo.

Mudando de assunto, muitas bandas que começaram suas carreiras tocando Death Metal estão agora fazendo Gothic Metal, incluindo o Tiamat. O que você pode nos falar sobre esta transição?
Johan: Nunca pensamos que isso poderia acontecer, mas esta mudança ocorreu devido a muitas mudanças que tivemos em nossas vidas ao longo desses anos de banda. Estamos fazendo isso há treze anos e, obviamente, muita coisa muda.

Qual sua opinião sobre bandas como Moonspell, Darkseed e Paradise Lost?
Johan: Gosto destas bandas. Não diria que elas são influências principais ou que nos influenciaram a mudar o som. Já excursionamos com o Paradise Lost e agora estamos prestes a fazer uma turnê com o Moonspell. Acho que estas bandas que você citou têm as mesmas influências e esta é a melhor forma de você nos conectar a elas. O Tiamat e o Moonspell têm o mesmo ‘background’.

Você acredita que uma pessoa que compre o CD Judas Christ e depois álbuns como o Sumerian Cry ou The Astral Sleep poderá aceitar logo de cara que é a mesma banda, a não ser pelo nome?
Johan: Espero que sim (risos). Sempre existe uma conexão lógica em cada um de nossos álbuns, do primeiro para o segundo, do segundo para o terceiro e assim por diante. Será um choque muito grande a pessoa ouvir o novo álbum e o primeiro, mas sei que intrinsecamente existem muitas coisas em comum.

Como você desenvolveu seu estilo de cantar? Foi complicado mudar do estilo mais agressivo para uma voz mais baixa, limpa e grave? Todo mundo que ouve você cantar sabe que é o Tiamat ou agora o Lucyfire...
Johan: Complicado não foi, mas eu acho que percebi que para ser ouvido você não precisa ficar o tempo inteiro gritando o mais alto possível. A pessoa que fica gritando sem sentido tende a ser ignorado pelas pessoas. Por isso nós percebemos que existiam outras maneiras de chamar a atenção das pessoas e com o mesmo entusiasmo de antes.

Com o álbum Wildhoney a banda obteve reconhecimento mundial. Este é o trabalho mais vendido do Tiamat?
Johan: Sim, é o mais vendido. Na época nós não imaginávamos que isto pudesse acontecer e até mesmo a gravadora ficou surpresa. Quando lhes entregamos a fita master com a gravação do álbum eles já curtiram de imediato. Por outro lado eles estavam com receio porque aquele som era muito experimental para a época. Por sorte, a resposta positiva veio de forma rápida. Todo mundo fala do Wildhoney.

Falando sobre o Lucyfire, a atmosfera que o álbum passa se assemelha às bandas de Hard Rock dos anos 80, porque você fala de festas, mulheres bonitas, carros luxuosos, belas e ensolaradas praias. Por outro lado, o som é o típico Rock Gótico. Este é o outro lado de Johan Edlund?
Johan: Eu não me dividiria em dois lados, há muito mais que isso, lógico. Mas, se você quer fazer alguma coisa diferente deve procurar os caminhos que o levem para isto e eu achei melhor expressar estes outros sentimentos. Mesmo assim isso é muito pouco para explicar o que eu sou, ou seja, uma coisa dimensional. Como estou em duas bandas, a coisa é bidimensional, mas ainda é muito longe de poder afirmar que estes são os dois lados da minha pessoa. Ninguém vai aprender isso ouvindo apenas a minha música.

Como você econtrou os músicos para gravar o This Dollar Saved My Life At Whitehorse? Se você for lançar outro álbum eles serão novamente escalados para participar?
Johan: Eles são músicos de estúdio e eu não os conhecia antes de gravar o álbum. Eu não posso afirmar categoricamente que eles irão gravar outro trabalho comigo, pois como o Lucyfire é notadamente um projeto paralelo eu posso querer experimentar outras coisas, trabalhar com músicos de outras bandas e aí eles poderão ficar de fora.

No álbum do Lucyfire há uma versão bem interessante de Sharp Dressed Man do ZZ Top. Você a escolheu por causa da concepção da letra, que vai de encontro com a temática do álbum?
Johan: As letras são bastante engraçadas e tinham conexão com o Lucyfire mas, ao mesmo tempo, a estrutura da composição também caiu muito bem com o estilo que eu estava criando para o álbum.

Como os fãs e a imprensa reagiram ao álbum do Lucyfire? Existe a possibilidade de você estar atuando ao mesmo tempo nas duas bandas?
Johan: O álbum vendeu muito bem e todos aceitaram esta proposta. Para lhe falar a verdade eu anseio muito estar à frente das duas bandas. Existem planos para uma turnê com o Lucyfire, mas até agora só participamos de um festival.

Falando sobre o Brasil, existe a possibilidade de você vir para cá com o Tiamat?
Johan: Estou trabalhando em cima disso, espero poder fazer uma turnê pela América do Sul este ano. Pelo menos é isso que estamos planejando.

Entrevista publicada na edição #38 da revista ROADIE CREW (março de 2002)