quarta-feira, 1 de abril de 2009

Arquivo Entrevista: RICHARD WEST (Threshold)

Com o lançamento de Hypothetical no mercado nacional pela Hellion Records, a banda inglesa de Prog Metal Threshold, uma das melhores deste estilo no mundo, terá a oportunidade de ser mais conhecida do grande público no Brasil. Formada atualmente por Richard West (teclado), Karl Groom e Nick Midson (guitarras), Andrew ‘Mac’ McDermott (vocal), Jon Jeary (baixo), e Johanne James (bateria), o Threshold já é muito conhecido na Europa e Japão, tendo lançado excelentes álbuns, como Psychedelicatessen, em 1995, com o vocalista Glynn Morgan; Extinct Instinct, Extinct Instinct, em 1996, com o vocalista da formação original Damian Wilson; e Clone, em 1999, já com a presença de ‘Mac’ nos vocais. O tecladista Richard West fala sobre o atual momento e as perspectivas para que a banda seja finalmente reconhecida no cenário do Prog Metal.

Primeiramente, gostaria de parabenizá-lo pelo excelente trabalho que vocês fizeram no Hypothetical, pois achava que a banda nunca iria conseguir repetir o sucesso do Extinct Instinct. Você acredita que o Threshold conseguirá finalmente conquistar os fãs brasileiros?
Richard West: Muito obrigado! Pelo que estou notando o Extinct Instinct é seu álbum favorito. Pela vendagem que estamos obtendo com o Hypothetical parece que a opinião dos fãs se assemelha com a sua, pois já superou o trabalho anterior, Clone, se compararmos as vendagens no mesmo período dos lançamentos. Acho isto interessante e muito bom para o nosso futuro, pois a aceitação dos fãs prova que estamos no caminho certo. Nós estamos até colocados em alguns charts de alguns países de Europa. Quanto à América do Sul não sei nada, pois Hypothetical é o nosso primeiro lançamento por ai e precisamos aguardar como será a reação do público. Sabemos que existem muitos fãs no Brasil, mas o negócio e esperar para ver. Confio no que faço, mas não sou um apostador (risos).

Com respeito à produção do Hypothetical, foi você quem produziu o álbum? Como foi este processo e onde vocês o gravaram?
Richard: Gravamos na Inglaterra e eu o produzi junto com nosso guitarrista Karl Groom, que é o proprietário do estúdio junto com Clive Nolan do Arena. É muito mais fácil deste modo porque não precisamos nos preocupar com despesas extras, viagens em cima da hora e coisas do tipo. Além disso, conhecemos a fundo todo o equipamento do estúdio, o que facilita ainda mais as coisas. O estúdio transmite uma ótima atmosfera e achoi muito bem gravar lá.

O álbum abre com uma música muito energética, Light And Space. Como vocês fazem para mesclar as partes mais pesadas com as mais progressivas? Vocês costumam trabalhar como o Dream Theater, que separa uma composição em três diferentes blocos e depois junta tudo?
Richard: Não mesclamos, pois tudo isto faz parte de nosso som, nós apenas fazemos uma composição da forma mais natural possível. Fazemos a música por interior e depois analisamos o resultado final. Acho que tanto o peso como as partes progressivas saem naturalmente porque fazem parte do nosso passado musical, de coisas que gostamos, como o Rock Progressivo dos anos 70. Não existe nenhuma fórmula mágica. Não sei ao certo o quanto nos parecemos com o Dream Theater neste processo de criação, mas quando entramos num estúdio para gravar Karl e John vem com 50% do material e eu com os outros 50%. Depois, juntamos tudo e finalizamos. Mas, geralmente tudo já está finalizado antes de entrarmos no estúdio, pois gostamos de saber como a música irá soar. Nós não juntamos partes, tudo já está previamente acertado.

Em quais pontos você vê diferença entre o álbum Hypothetical e o Clone? No novo álbum o teclado está no mesmo nível das guitarras, isto foi intencional?
Richard: Acho que nós sempre fizemos isso! (risos) Pelo menos na maioria dos álbuns e você percebeu bem, porque quando estávamos gravando o Clone eu estava muito doente e não participei ativamente do processo. Estava muito difícil criar algo com mais inspiração naquela época e, por isso, só comecei a participar de forma efetiva quando já estávamos gravando e procurei não tentar coisas muito complicadas. Fiz um bom trabalho, mas nada ousado ou experimental. Quanto ao Hypothetical, eu participei de tudo e curti muito cada minuto. Mas, acho que nós sempre procuramos balancear bem o teclado com as guitarras.

Senti uma influência de Marillion, ou Genesis se preferir, em algumas partes da faixa Sheltering Sky, você concorda? 
Richard: Não (risos). Estou até meio surpreso que você citou esta música. Sou fã do Marillion e do Genesis, mas não um fanático! Se você tivesse dito algo a respeito do Queen eu até entenderia. Até pode ser que não diretamente para esta música, mas sempre fui um grande fã do Queen. Sempre ouvimos comentários diferentes sobre cada faixa do álbum. Por exemplo, a música Keep My Head alguns dizem que parece Toto, outros Robin Williams.

Já que estamos falando sobre isso, achei que no refrão da música Turn On Tune In, o vocalista Mac canta com um timbre bem parecido ao de Klaus Meine do Scorpions.
Richard: (risos) Pessoalmente não posso comentar muito sobre o Scorpions. Isto é muito engraçado, jamais poderia pensar algo do tipo, principalmente porque aqui na Inglaterra o Scorpions não é muito comentado. Só lembram de falar deles quando o assunto é baladas, como a mundialmente conhecida Winds Of Change. O vocalista Mac vive na Alemanha e quem sabe isto tem mesmo algum fundamento e ele tenha se inspirado.

Com relação a vocalistas, por que Damian Wilson saiu da banda por duas ocasiões?
Richard: Da primeira vez, por volta de 1994, ele saiu porque uma outra banda lhe ofereceu uma quantia considerável e não pudemos segurá-lo. Na segunda ele saiu para atuar no teatro. Na realidade, Damian nunca gostou muito da idéia de estar numa banda de Metal, de ser visto como um rockstar. Ele não curtia a vida na estrada como sendo parte de uma banda e em 1997, após a turnê do Extinct Instinct ele saiu em definitivo para realizar seus outros projetos. Atualmente ele está gravando com a banda Shadowkeep, auxiliando-os em backing vocals.

Foi difícil encontrar um substituto, pois acredito que a voz dele se encaixava perfeitamente para o estilo do Threshold?
Richard: Você acha?! Bem, pessoalmente sempre gostei muito da voz de Glynn (N.R.: Glynn Morgan), que tinha um algo mais e puxava mais para o estilo de David Coverdale. Não foi difícil para nós encontrar um substituto para Damian, bastaram alguns telefonemas. Falamos com Mac e ele aceitou o convite com bastante entusiasmo, o que foi muito bom, pois é quase primordial encontrar uma pessoa que tenha vontade de fazer o seu trabalho.

Como foi a turnê com o ARK, que conta com o ex-guitarrista do Conception, Tore Østby e o vocalista Jørn Lande?
Richard: Foi brilhante! Nós havíamos feito uma turnê com o Conception em 1994 e por isso já tinha uma amizade com Tore. Mas, desta vez foi ainda melhor, achei o Ark uma grande banda e parecíamos todos irmãos. O vocalista Jørn Lande é fantástico, tem uma excelente voz e até estou ansioso para ouvir seu álbum solo. Foi uma grande escolha colocar estas bandas juntas numa turnê, pois todos os shows tiveram uma grande energia. O último show, em Paris (FRA), numa casa no centro da cidade perto da Sacre Quer foi inesquecível e houve uma interação muito grande com os fãs.

Considero Eat The Unicorn e Virtual Isolation, do Extinct Instinct, duas grandes composições da banda. Vocês as incluem no atual set list?
Richard: Este ano nós colocamos a Virtual Isolation e pretendemos colocar a Eat The Unicorn no set list dos shows para o ano que vem. Mas, para lhe ser bem sincero sempre tivemos problemas com as músicas do Extinct Instinct porque Damian cantou tão alto que não é fácil alcançá-lo, acho que naquela época ele queria provar para ele mesmo que podia fazer muita coisa com sua voz. E conseguiu (risos). É difícil dizer isto para Mac, porque ele tem um timbre diferente e para nós muitas vezes é mais fácil descartá-las ao invés de termos que mexer em toda a estrutura já criada e gravada no álbum.

O Threshold é uma banda de Progressive Metal, mas qual é o perfil do público nos shows?
Richard: Isto depende do país. Se for a Alemanha, por exemplo, são típicos fãs de Heavy Metal. Já na Holanda nosso público é mais ligado ao som Progressivo. Para mim foi até uma surpresa o show de Paris, pois tinham fãs de ambos os estilos, cada um se portando de um jeito diferente. Os fãs do Metal são mais descontraídos e agitam mais, pois estão lá para se divertir e ver um grande show, mas os fãs de Progressivo são bem críticos, ficam analisando a performance, por isso, você tem que se preocupar muito mais em tocar bem do que tentar interagir com o público e vibrar com o que está fazendo. É mais divertido tocar para os fãs de Metal.

É quase inaceitável que uma banda como o Threshold ainda não tenha atingido um patamar mais elevado na cena do Metal. O que faltou?
Richard: Muito obrigado pelos elogios. Eu não posso discordar pois acredito no que faço, mas nossa gravadora vem tentando fazer o máximo para nosso nome tenha uma viabilização maior na cena do Metal. Não somos da Sony ou da Universal e também não somos tão grandes como gostaríamos de ser, mas não posso dizer nada contra a gravadora InsideOut, pois eles não tem condições de fazer uma banda como a nossa aparecer na televisão, tocar em rádios e fazer shows em grandes arenas. Este é o nosso mundo, não estou sendo conformista, mas eles querem saber de Spice Girls e não do Threshold. Não me importo, estamos sempre conquistando novos fãs, fazemos música com muito respeito ao nosso público e fico feliz que nosso álbum está saindo no Brasil, pois faz tempo que recebo e-mails de brasileiros nos elogiando. Espero poder tocar no Brasil algum dia.

Entrevista publicada na edição #35 da revista ROADIE CREW (novembro de 2001)