quarta-feira, 1 de julho de 2009

Arquivo Entrevista: NEIL HUTTON (Benediction)

Em seus onze anos de carreira, a banda inglesa Benediction, formada atualmente por Dave Hunt (vocal), Darren Brookes e Peter Rew (guitarras), Frank Healy (baixo) e Neil Hutton (bateria), sempre figurou no alto escalão do Death Metal mundial. A estréia foi com Subcouscious Terror (1990), que contou com o vocalista Barney Greenway (Napalm Death), rapidamente substituído por Dave Ingram. Depois, bastaram The Grand Leveller (1991) e Transcend The Rubicon (1993), para que o fiel público do Death transformasse o Benediction numa referência do estilo. Após uma pequena mudança na sonoridade em The Dreams You Dread (1995), a banda voltou a atacar o som mais violento em Grind Bastard (1998). No mais recente lançamento, Organized Chaos (2001), o poder sonoro característico da banda promete levá-la novamente ao topo. Mas, para Neil Hutton, isto só será possível se a gravadora Nuclear Blast voltar a investir na promoção e divulgação do álbum.

Acredito que Organized Chaos apresenta os mesmos elementos usados no Grind Bastard (1998), em especial a mistura do velho estilo da banda com o Hardcore ‘old school’. Vocês encontraram a melhor maneira de compor?
Neil Hutton: Esta é uma boa análise sobre como fazemos nossas músicas e tudo que é dito a nosso respeito deve ser levado em consideração. Mas, para lhe falar a verdade, a melhor maneira de compor é se juntar e fazer a música e se ela saiu deste jeito é porque sabemos fazer música desta maneira, é o nosso estilo. Concordo que há muito mais variedade em nossas composições atualmente, existem diferentes elementos musicais dentro do nosso universo Metal. Vejo isto com bons olhos, caso contrário iríamos sempre atingir as mesmas pessoas que já nos conheciam. Não fazemos isso de forma proposital.

Esta variedade vem por exemplo em Suicide Rebellion e Stigmata, que são mais técnicas e o lado Hardcore aparece em Suffering Feeds Me.
Neil: É isso mesmo que estava lhe explicando. Com relação a Suffering, nossos dois guitarristas gostam muito do estilo Punk e daí surge naturalmente esta maneira de compor. É uma coisa bem natural, é a vibração que eles têm no momento que estão fazendo a música. É uma faixa bem simples, mas tem impacto.


Este período de três anos entre os lançamentos está se tornando uma marca da banda ou é somente uma coincidência?
Neil: (risos) É somente uma coincidência. Aliás, nunca tinha parado para pensar nisso. Quando fizemos o Grind Bastard nós realmente ficamos contentes com o resultado final e sabíamos que o trabalho seguinte deveria ter, no mínimo, o mesmo impacto e por isso deveria ser feito sem pressa. No final das contas agora estamos contentes com ambos os lançamentos, pois Organized Chaos é tão bom ou melhor que o Grind Bastard.

A entrada do vocalista Dave Hunt no lugar de Dave Ingram tem algo a ver com esse período de três anos entre os lançamentos?
Neil: Dave Hunt foi uma das melhores coisas que aconteceram para o Benediction nos últimos tempos. Ele entrou na banda seis meses depois do lançamento do Grind Bastard. O último show com David Ingram foi no “Wacken” de 1998. Por volta de outubro do mesmo ano fomos para estrada e fizemos uma excelente turnê ao lado do Death. Aquela foi sua primeira turnê e o Organized Chaos é seu primeiro álbum e para mim ele superou David Ingram em dez vezes. Dave Hunt era meu amigo e eu já tinha o visto atuar em alguns pubs com sua banda de Black Metal. Por isso não houve problema em encontrar um substituto para Dave Ingram e todos ficaram muito satisfeitos.

Falando sobre sua performance no novo álbum, você criou partes simples, especialmente os andamentos mais rápidos, lembrando a velha escola do Hardcore. Você acredita que está conseguindo provar que é possível tocar de uma forma simples, mas obtendo um resultado final de alto nível?
Neil: Concordo com você, o que interessa é o resultado final. A bateria em muitas partes é mesmo simples, mas tentei ao máximo mesclar coisas interessantes e legais de ouvir sem me preocupar em estar sendo considerado um baterista técnico. Gosto de me inspirar nos grandes bateristas que cresci ouvindo e nós também temos feito turnês com grandes bandas e da mesma forma que capto algo dos bateristas eles pegam algo que faço de forma instintiva. Muitos também usam sua técnica apurada em certas partes e não ficam fazendo viradas mirabolantes e quebrando o ritmo o tempo todo. Gosto de tocar de uma forma mais agressiva, violenta e quando é possível encaixar uma parte mais técnica eu faço. O mais legal é o ouvinte sentir aquela parte difícil e comentar depois e não ficar babando sem saber o que o baterista está fazendo. Isto é chato.

O Benediction vem usando a tecnologia em benefício próprio, pois apesar de contarem com uma produção que melhora a cada álbum, a banda não se preocupa em utilizar elementos eletrônicos?
Neil: Acho que com o passar do tempo vamos descobrindo como deixar nosso som legal, manter nossas características intactas, mas apresentar ao fã uma grande qualidade sonora. O Death Metal dever ser produzido de uma forma transparente, deve ser barulhento e limpo. As bandas que não se preocupam com uma boa produção não saem do lugar. Algumas até fazem excelentes álbuns, mas como a produção está uma merda ninguém gosta. Com um CD bem produzido é óbvio que mais pessoas prestarão atenção ao som da banda. Uma produção pode colocar você no céu ou no inferno!

Ainda sobre isso, como foi trabalhar com Andy Sneap nos álbuns Grind Bastard e Organized Chaos?
Neil: Ele é uma grande pessoa, um amigo bem próximo de nosso baixista Frank. Andy é bem conhecido no meio e fez excelentes trabalhos com outras bandas, como o segundo álbum do Machine Head e o Stuck Mojo. Toda vez que for possível trabalhar com ele nós o faremos.

No começo dos anos 90 bandas americanas como Death, Massacre e Master criaram um estilo bem típico. Mesmo sendo uma banda inglesa, o Benediction incorporou estes elementos do Death Metal americano?
Neil: Pode ser que sim, mas não exatamente com relação a todas estas bandas que você citou, pois surgimos na mesma época. Tanto o Benediction como estas bandas do início do Death Metal sempre levarão alguma vantagem, pois criaram algo, surgiram primeiro e são originais. O Benediction é reconhecido por seu estilo próprio e acho que o Massacre também.

Por outro lado a Inglaterra revelou Carcass, Napalm Death, Bolt Thrower, Paradise Lost e, claro, o Benediction. Qual sua opinião sobre a cena no começo de sua carreira com o que temos atualmente?
Neil: No início o Death Metal cresceu muito rápido e se tornou muito popular entre os fãs de Metal. Não vou dizer que em todo continente, mas na cena underground da Inglaterra o Benediction era muito popular. Quando saíamos em turnê pela Escandinávia e na maior parte da Europa era uma loucura porque todos nos conheciam e compareciam em peso aos shows.

Muitas bandas que foram formadas na mesma época do Benediction mudaram um pouco a sonoridade ou até mesmo abandonaram o estilo. Você não acredita que para manter seus fãs é preciso continuar sendo fiel?
Neil: É difícil falar sobre isso. A coisa mais certa é fazer música com honestidade e mostrar isto para os seus fãs. Mesmo que você mude deliberadamente seu estilo e existem bandas que fazem ou fizeram isso, o que mais importa é que tenham algo a dizer, que não visualizem somente o dinheiro que irão ganhar, pois este ganho pode custar bem caro. Sei que muitas destas mudanças são por causa do dinheiro. Eles começam a fazer um som mais acessível para tocar nas rádios e, por conseqüência, tentar ganhar mais dinheiro. Não sei se eu aceitaria isso, pois acho estranho quando fazem isso. Nunca me vi tocando numa banda Pop!

Desde o Subcouscious Terror a banda vem trabalhando com a Nuclear Blast. Como está o trabalho da gravadora para a banda, copnsiderando que Inglaterra existem gravadoras como a Earache e a Peaceville?
Neil: Não tenho escutado muitos comentários bons a respeito da Earache e de nenhuma outra gravadora inglesa. Mesmo assim, o trabalho nosso com a Nuclear Blast está uma merda! Eles não estão mais a fim de nos promover. Basicamente é uma merda e isso é tudo que posso dizer. Não estão promovendo nosso último álbum como poderiam fazer. Uma promoção de duas semanas para um álbum ficar conhecido mundialmente é muito pouco. Saímos na Metal Hammer, na Terrorizer, fazemos uma turnê, voltamos para casa e nada mais acontece.

Então vocês já estão planejando uma troca de gravadora?
Neil: É bem possível que sim, mas ainda é muito cedo afirmar qual será esta nova gravadora. Acho que ainda faremos mais um álbum e aí sim poderemos mudar, pois não quebraremos o contrato.

Você concorda que a sonoridade do álbum The Dreams You Dread é um pouco diferente dos lançamentos mais recentes?
Neil: É verdade, foi um trabalho onde fizemos algumas experimentações, mas as pessoas não estavam tão preparadas para aquilo que tínhamos em mente na época. Depois gravamos o Grind Bastard e atendemos a expectativa de todos os nossos fãs. Mesmo assim, se fossemos experimentar novamente, faríamos algo na mesma linha do The Dreams You Dread.

Vocês costumam sempre gravar covers, como por exemplo Forged In Fire (Anvil), Electric Eye (Judas Priest) e Destroyer (Twisted Sister). Existe algum plano para um álbum só de covers?
Neil: Temos falado muito sobre isso atualmente, mas não estou certo de que lançaremos. Pessoalmente acho que seria uma coisa legal. Gostaria de tocar alguma do Obituary, do Cause Of Death.

Mesmo com esses problemas com a gravadora, existe alguma possibilidade da banda tocar no Brasil?
Neil: Nós gostaríamos muito de tocar na América do Sul, mas isto só seria possível se tivéssemos uma boa promoção da Nuclear Blast e se vendêssemos muitos álbuns por aí. Para mim seria muito legal tocar no Brasil.