terça-feira, 14 de outubro de 2008

Arquivo Entrevista: MIKAEL AKERFELDT (Opeth)

A sueca Opeth vem se consolidando no cenário como uma banda única e original, mesclando a sonoridade extrema com momentos mais viajantes, extraídos do Rock Progressivo. O guitarrista/vocalista Mikael Åkerfeldt credita esta versatilidade ao gosto musical variado e a captação das influências pessoais de todos os integrantes. Após os álbuns "Orchid" (1995), "Morningrise (1996), "My Arms-Your Rose" (1998) e "Still Life" (1999), a banda acaba de lançar "Blackwater Park" (nome tirado de uma antiga banda de Rock Psicodélico dos anos 70), um trabalho que pode consolidar o Opeth na cena mundial. Mikael conta os detalhes.

Você acredita que com o novo álbum, "Blackwater Park", o Opeth poderá conquistar mais fãs pelo mundo?
Mikael Åkerfeldt: É difícil fazer uma constatação prévia do que poderá acontecer, prefiro crer que este álbum é apenas mais um capítulo na história do Opeth. Nos concentramos sempre na qualidade de nossa música e iremos nos manter assim enquanto a banda existir. Nenhuma banda conseguirá ser realmente grande se não tiver um auxílio de uma grande gravadora. Por outro lado, tudo que faz sucesso hoje em dia no cenário musical é uma merda, são bandas grandes somente porque as gravadoras estão por trás.

Desde o primeiro álbum, "Orchid", mesmo a banda fazendo um som bem extremo as partes melódicas não são deixadas de lado. Você credita isto ao seu início de carreira, quando costumava ouvir Iron Maiden?
Mikael: Talvez, era uma grande influência minha no começo e foi por causa deles que fiquei com vontade de tocar e pertencer a uma banda. Acredito que nosso primeiro álbum seja uma combinação de todos os estilos de música que ouvimos e o Iron Maiden era uma delas.

O tempo de duração das músicas desde o primeiro álbum é bem longo, algo em torno de 8 minutos. Existe alguma razão especial para que isto ocorra?
Mikael: É uma questão de gosto pessoal, todos nós preferimos músicas longas porque podemos ampliar mais nosso campo criativo. Se tocássemos um som mais curto e direto seria impossível.

Afora o novo álbum, qual obteve maior reconhecimento do público e da mídia, e qual você prefere?
Mikael: Gosto do álbum mais recente, porque é o novo, mas o "Still Life" abriu muitas portas para nós. Na verdade, todos são especiais para mim, é difícil responder. Cada álbum tem sua importância, foi uma seqüência natural que tivemos que fazer e sem isso não acredito que poderíamos ter lançado o "Blackwater Park".

Os primeiros álbuns foram gravados com o produtor Dan Swano (Edge Of Insanity), depois o "My Arms Your Rose" com Fredrik (In Flames) e o novo com Steve Wilson (Porcupine Tree). Estas mudanças na produção refletiram na sonoridade da banda?
Mikael: Não de forma efetiva. Dan nos ensinou muitas coisas quando trabalhou conosco nos dois primeiros álbuns e por isso preferimos fazer o terceiro por conta própria, no Fredman Studios com o auxílio de Fredrik, que tem muito bom gosto na escolha dos timbres, além de ser um grande produtor. Para o novo álbum não queríamos um produtor que fosse especializado somente em Metal e quando o nome de Steve Wilson surgiu achamos que seria uma boa, porque ele tem muito conhecimento na área do Rock Progressivo e nossa intenção era que o produtor conseguisse elevar nossas qualidades e torná-las ainda mais fortes e evidentes.

Sua primeira banda foi o Eruption. Havia alguma pretensão em gravar ou você tocava apenas por diversão?
Mikael: Sim, eu e Anders formamos o Eruption por volta de 1987. Basicamente era apenas por diversão, pois na verdade nem sabíamos como funcionava o mercado, mas, por outro lado, queríamos gravar, mostrar nosso trabalho, queríamos ser alguém através de nossa música.

Como Anders, seu amigo e fundador do Eruption e do Opeth, decidiu vir morar no Brasil? Ele ainda mora aqui?!
Mikael: Ele não mora mais no Brasil, agora está na Suécia. Mas, ele está trabalhando na Erikson e está tentando viabilizar algum tipo de trabalho com esta empresa no Brasil. Na verdade, está louco para ser transferido para ai. (risos)

Com o fim do Eruption, David Isberg convidou você para entrar no Opeth?
Mikael: Conheci David na época do Eruption, mas foi por causa do Skate, éramos fanáticos! Depois começamos a conversar sobre música e ele me emprestou uma Demo do Mefisto. Fiquei louco, o som era bem melhor do que muitos discos de Death Metal que eu havia comprado! Esta banda, ao lado do Morbid Angel, Death, Bathory e Voivod se tornou uma de minhas maiores influências. Ele me convidou para entrar no Opeth inicialmente para substituir o baixista, mas depois ficamos somente os dois.

Por que David saiu da banda? Vocês chegaram a gravar algo juntos?
Mikael: Ele era o vocalista original do Opeth, mas a razão principal foi que ele mesmo estava querendo ir tocar em outra banda, chamada Liers In Wait. Como eu já havia sido vocalista no Eruption, não o substituímos por outra pessoa. Não chegamos a gravar nenhum tipo de material, somente fizemos algumas composições e alguns shows.

Existe alguma razão especial na escolha da música "Circle Of The Tyrants" para o álbum tributo ao Celtic Frost?
Mikael: Fomos a última banda a ser convidada a participar deste tributo e quando vimos que ninguém tinha escolhido esta música, pensamos que um trabalho que retratasse a carreira do Celtic Frost não seria completo se não tivesse "Circle Of The Tyrants".

Você concorda que a união de partes extremas a melodias mais próximas ao Progressivo, colocam o Opeth como uma banda única?
Mikael: Concordo que somos uma banda diferente, mas fica difícil explicar o quão diferente somos. Sempre tentamos fazer algo diferente e temos influências distintas da maioria das outras bandas mais extremas e isto de alguma forma torna o nosso som mais original.

Entrevista publicada na edição #29 da revista ROADIE CREW (maio de 2001)

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Arquivo Entrevista: CHRIS HERIN (Tiles)

Com o lançamento de seu quarto álbum, o conceitual Window Dressing, a banda norte-americana Tiles, formada atualmente por Chris Herin (guitarra), Paul Rarick (vocal), Jeff Whittle (baixo), Pat DeLeon (bateria), vem chamando a atenção dos fãs do Prog Rock/Metal e recuperando seu espaço, já que após o álbum Presents Of Mind havia ficado cinco anos sem gravar. E este mais recente lançamento foi produzido por Terry Brown (Rush, Fates Warning) e teve a arte da capa a cargo de Hugh Syme (Aerosmith, Rush, Megadeth), atrativos a mais para a sonoridade intrincada que sempre foi a base da carreira do Tiles, iniciada na cidade de Detroit, em meados de 1992. Chris Herin conta mais...
Faça um breve resumo sobre a banda para quem ainda não teve oportunidade de conhecê-los.
Chris Herin:
O baterista original, Mark Evans, e eu literalmente juntamos os pedaços para começar algo novo. Isto ocorreu por volta de 1992 e no final do ano seguinte veio o vocalista Paul Rarick. Para o primeiro álbum, contamos com a ajuda de um baixista amigo nosso, já que ainda não tínhamos conseguido encontrar um fixo, que só veio a acontecer no final de 1993, com a entrada de Jeff Whittle. Alguns anos depois, no começo de 1997, acabamos trocando de baterista, com a entrada de Pat DeLeon. Desde então não mudamos mais.

O que pode falar a respeito do nome? Algum significado especial por terem escolhido Tiles ("telhas")?
Chris: O nome não tem nenhum significado especial, apenas nos chamou a atenção, através de uma música do Led Zeppelin, a Out On The Tiles, e acabamos escolhendo-o. Queríamos algo curto e combinou!

O Tiles lançou ano passado o álbum Window Dressing. Por que vocês lançaram apenas quatro trabalhos em mais de onze anos de carreira?
Chris: O grande hiato ocorreu entre o Presents Of Mind e o Window Dressing, pois se passaram cinco anos. Muito disso teve a ver com circunstâncias pessoais, problemas familiares, como morte e outras coisas que não deixaram que nossa agenda transcorresse com normalidade. Mesmo assim, fomos capazes de evoluir e até mesmo expandir nossa popularidade. Isto foi bom, para que continuássemos a nossa busca em ter um som único. Passamos este tempo compondo e muita coisa até ficou de fora do Window Dressing, que até poderão constar no próximo álbum.

Você falou que a popularidade aumentou, mas o Tiles ainda não está no mesmo patamar de bandas que tocam mais ou menos o mesmo estilo, concorda?
Chris: Eu sei que ainda não conseguimos chegar no topo. Não tenho explicações! Talvez não tenhamos conseguido captar os melhores momentos na época do Presents Of Mind e na turnê ao lado do Dream Theater. Não tenho dúvida que para os negócios esse intervalo de cinco anos tenha sido ruim, mas não tínhamos como trabalhar com tantas coisas que aconteceram em nossas vidas naquela época. Mas agora estamos recuperados e a todo vapor para aumentar nossa base de fãs!

Falando a respeito do Window Dressing, vocês contaram com a produção de Terry Brown (Rush, Fates Warning). Qual é a maior diferença e as vantagens em trabalhar com um produtor de renome?
Chris: Antes de qualquer coisa, trabalhar com ele foi realmente estimulante, pois qualquer fã de Prog conhece o Terry Brown e gosta do som do Rush, Fates Warning, Max Webster e outras com quem ele trabalhou. Trabalhar com uma pessoa desse calibre foi uma experiência incrível, apesar da pressão de tê-lo no comando. Ele sabe como levar as coisas e tirar o máximo do potencial de um músico, sendo um ótimo apaziguador de tensões, especialmente quando se tem que julgar a performance de alguém. Houve uma enorme diferença de quando produzimos e precisávamos dele para organizar algumas partes que estavam faltando. É óbvio que se pode confiar no julgamento de alguém como Terry.

Mas a banda sofreu algum tipo de influência extra do Rush por estarem trabalhando com Terry Brown? Digo isto por causa de faixas como Remember To Forget e All She Knows.
Chris: Quando contratamos Terry deixamos bem claro que não estávamos tentando copiar o Rush e que esta não era e nem nunca foi nossa intenção. Claro que temos influência e não podemos negá-la, mas queríamos minimizar isto. Quando estávamos fazendo a pré-produção ele fez vários comentários a respeito das músicas, especialmente para reduzir esta nossa inclinação ao som do Rush. Não sei se podemos culpar Terry por esta óbvia semelhança, pois isto é uma coisa interna da banda. Eu aprendi este estilo de guitarra por causa do Rush e também temos um baterista que se ocupa bastante (risos). Na verdade, quase todo o baterista de Rock cita o Neli Peart como influência. Terry comentou sempre que nosso som não era tipicamente Rush, mas concordou que a All She Knows era a que mais soava semelhante. Nesta você acertou e não temos como negar!

A faixa-título é uma das mais interessantes do CD porque ninguém imagina que uma música com dezessete minutos pode empolgar tanto! Qual foi o método usado para esta composição?
Chris: Esta é a nossa música mais longa e depois dela vem a Checkerboards, que tem mais de quatorze minutos e está no álbum Fence The Clear. Não tínhamos e nem temos um método específico, mas apenas um formato inicial. Sabíamos que acabaria saindo uma música longa. Acho que levamos quase um ano para criá-la, porque não fizemos uma simples colagem de partes, quisemos que fosse cheia de emoções, com diferentes texturas e atmosferas.

Você acredita que as faixas instrumentais têm alguma relação com o conceito de Window Dressing?
Chris: Como o álbum é conceitual geralmente as instrumentais são como um respiro entre as faixas, mas acredito que os duetos de violino e piano são capazes de captar o conceito do Window Dressing, que é essencialmente relacionado à sociedade e a relações interpessoais. Quisemos falar desta vez que hoje a tendência e o estilo estão sobrepondo a substância, porque enquanto uma coisa é considerada legal todo mundo cria o hábito de usar ou apóia, sem querer saber a fundo ou tentar achar o significado.

Qual a conexão entre o tema e a bela arte da capa, elaborada por Hugh Syme?
Chris: O título pode se encarado como vestir algo para parecer melhor do que é e por isso foi mostrada a manequim na loja, que apesar de ter toda aquela aparência bela e real, é de plástico. E está colocada naquele prédio feio, mas ninguém atenta para ele e sim para a manequim. Cada um pode ter sua própria interpretação e isto dá um charme a mais para a capa.

O Tiles toca Progressive Rock, mas o que você pensa a respeito de ser colocado lado a lado com nomes como Dream Theater, ARK, Evergrey e Threshold?
Chris: Acho que a gravadora às vezes exagera nesse significado porque não usamos elementos tão pesados como o Dream Theater ou o Evergrey, por exemplo. Sendo assim, poderiam nos chamar de Progressive Hard Rock. Não temos como controlar como as pessoas vão nos classificar, mas posso dizer que nunca tivemos intenção de ser Prog Metal. Isto não quer dizer que eu não curta o som, mas não escuto muito. Ouvi o novo do Dream Theater e gostei muito, mas eu vou mais para o lado do Progressivo, de nomes como Spock's Beard, Rush, Kansas, Genesis, Yes, King Crimson e Jethro Tull. Todos temos um 'background' diversificado! O nosso baterista é o mais Metal, mas todos somos fãs do Iron Maiden. É uma mistura interessante!

Entrevista publicada na edição #73 da revista ROADIE CREW (fevereiro de 2005)

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Arquivo Entrevista: KLAUS MEINE (Scorpions)

A banda alemã Scorpions foi formada no início da década de 70 e, ao longo dos anos, foi desenvolvendo um sólido alicerce para atingir as primeiras posições das paradas em todo o mundo. Nos anos 70 lançou excelentes trabalhos e pôde contar com os préstimos de guitarristas como Uli Jon Roth e Michael Schenker, mas foi com o line-up formado por Klaus Meine (vocal), Rudolf Schenker e Matthias Jabbs (guitarras), Francis Buchholz (baixo) e Herman Rarebell (bateria) que atingiu proporções de mega star do cenário musical. Álbuns como "Blackout" (1982), "Love At First Sting" (1984), "Savage Amusement" (1987) e "Crazy World" (1990) venderam milhões de cópias e conseguiram fazer com que a banda se mantivesse no topo. Após períodos de reformulação, com a entrada do baixista Ralph Rieckermann e do baterista James (ex-Kingdom Come) o Scorpions voltou a figurar na mídia no ano passado, com o lançamento do álbum "Moment Of Glory", numa parceria inusitada com a Filarmônica de Berlim. A outra investida que vem dando resultado é o recente trabalho, "Acoustica", gravado em Portugal. Um dos maiores vocalistas de todos os tempos, Klaus Meine, conta como a banda planeja trabalhar com três diferentes formatos: acústico, plugado e orquestrado.

Durante a "Face The Heat Tour", em 1994, vocês faziam um pequeno set acústico nos shows. Aquele foi o ponto de partida para o lançamento do álbum "Acoustica" ou a MTV tem alguma ligação com este trabalho?
Klaus Meine: Desde os anos 80 estamos acostumados a fazer algumas músicas com violão ou guitarras sem distorção como, por exemplo, "Holiday" ou "Always Somewhere" e isto sempre fez parte do set de nossos shows. Estas baladas sempre constaram e eram muito requisitadas, mas a idéia deste álbum vem desde aquela época. Já nos anos 80 a MTV nos pediu para fazermos algo do tipo, mas não estávamos sentindo que aquele não era o momento ideal para se fazer um álbum inteiro acústico. Mas, nos últimos anos, a gravadora Warner/East West insistia para que fizéssemos e, além disso, havia uma enorme demanda, especialmente da Ásia, para que enfim realizássemos esse projeto. Depois do álbum orquestrado com a Filarmônica de Berlim, que lançamos no ano passado, e do trabalho que havíamos feito com o arranjador e produtor Christian Kolonovits, percebemos que havíamos formado uma grande e entrosada equipe. Por isso, decidimos que este seria o momento ideal para o acústico, pois poderíamos trabalhar com o mesmo time. Desta forma começamos a nos concentrar exclusivamente para este projeto, analisando e dando novos arranjos para algumas músicas, pensando em covers e fazendo novas composições. No ano passado conseguimos finalizar a pré-produção para depois partirmos para Portugal para gravar o álbum.

Qual foi a principal razão para gravar o álbum em Portugal?
Klaus: Nunca havíamos tocado com uma grande assiduidade em Portugal, mas sempre tivemos fãs muito fiéis por lá. Nossos álbuns entram direto no topo das paradas portuguesas e estávamos buscando um lugar que fosse especial para este trabalho. As pessoas que trabalham conosco passaram um bom tempo analisando vários lugares, mas ficamos completamente apaixonados por este velho convento em Lisboa e que gravar lá seria muito legal tanto para a banda como para homenagear os fãs portugueses. Não queríamos apenas gravar o show para o CD, mas tínhamos também a intenção de gravar visando o lançamento de um DVD e por isso sentimos que aquele seria o lugar ideal, pois de certa forma transmite uma energia positiva e tem uma magia toda peculiar.

E quando o DVD será lançado?
Klaus: O DVD deve ter acabado de sair. Se que foi lançado na Alemanha recentemente e acho que em breve também vai estar no mercado brasileiro. 

Quem escolheu as covers para o álbum? Existe alguma razão especial para incluir "Love Of My Life" do Queen?
Klaus: Estávamos reunidos no ano passado, como lhe disse anteriormente, ficávamos pensando em quais seriam os covers que seriam mais marcantes, chegamos a fazer muitas versões dos Beatles, Rolling Stones, e algumas não combinaram com minha voz. Mas me concentrei em "Love Of My Life" do Queen porque Freddie Mercury é um de meus vocalistas preferidos em todos os tempos e tenho muito respeito e admiração por seu trabalho e por sua voz. Gostei da idéia de gravar uma música do Queen justamente por respeitar muito a banda, mas quando estávamos em Portugal cheguei a dizer para Christian Kolonovitz que se tudo estivesse saindo bem no show e se eu me sentisse bem faríamos a música do Queen. Deixamos para resolver na hora e quando a tocamos na primeira ela soou tão bem e o público gostou tanto, cantou junto toda a letra, que resolvemos gravá-la na noite seguinte.

Vocês gravaram a música "Rock You Like A Hurricane" em diferentes formatos, mas existe a possibilidade de criarem a "Hurricane 2002"?
Klaus: É, no ano seguinte teremos a 2002! (risos) Para falar a verdade não queríamos colocar novamente músicas como "Rock You Like A Hurricane", "Wind Of Change" ou "Still Loving You", mas como são grandes composições, quase eternas, obviamente a gravadora nos pediu para incluirmos estas no show e, por conseqüência, no álbum. Por isso, quando fizemos outro arranjo e o achamos bem legal, decidimos incluir a Hurricane 2001 acústica. Mas, da mesma forma, sentimos que deveríamos incluir músicas novas e por isso lá estão "Life Is Too Short", "When Love Kills Love" e no DVD consta uma outra composição inédita, "Back To You".

Mesmo assim, você concorda que o maior hit do Scorpions é "Rock You Like A Hurricane"?
Klaus: O Scorpions tem seus momentos mais calmos e neste ponto os grandes hits são "Still Loving You" e "Wind Of Change", mas concordo absolutamente que o grande hit de nosso lado Rock é mesmo "Rock You Like A Hurricane".

Você já sabe qual será a próxima música de trabalho do "Acoustica"?
Klaus: "Holiday" será o próximo single deste projeto e gostei muito da versão, ela cativou mesmo, tanto a nós como aos fãs. Acho que ela tem uma vibração meio sul-americana. Tocamos em Paris recentemente na Praça da República para 8 mil pessoas e foi incrível.

O álbum "Moment Of Glory" possui excelentes versões e os novos arranjos são fantásticos. A idéia de gravá-lo partiu da banda ou veio da Filarmônica de Berlim? Quem foi responsável pela escolha das músicas?  
Klaus: A idéia veio mesmo da Filarmônica de Berlim, mas vem desde 1995, eles entraram em contato conosco e nos convidaram para fazer um álbum em conjunto. Eles sempre tiveram esta vontade de fazer um álbum diferente do usual para uma filarmônica. Durante estes anos sempre mantivemos contato e a parte fundamental para todos nós seria buscar o arranjador e produtor que se adaptasse melhor a este ‘crossover’. Chegamos a falar com alguns, como os americanos Angelo Badalamenti e Michael Kamen mas, em 1999, nos encontramos com o austríaco Christian Kolonovitz e ele mostrou ser a escolha perfeita para esse trabalho. Começamos a gravações no ano passado e fizemos também uma apresentação em Hanover na Expo 2000, que foi um sucesso. Fizemos alguns shows com outras orquestras na América no ano passado e neste ano na Rússia. Nos divertimos muito quem sabe um dia teremos a chance de fazer o mesmo no Brasil, tocando ao lado de uma orquestra brasileira.

Para a nova turnê vocês pretendem tocar um set acústico, plugado ou orquestrado?
Klaus: Estamos numa encruzilhada, pois podemos fazer três tipos de set, com orquestra, acústico ou o usual show do Scorpions. A razão de termos realizado estes diferentes projetos é que estávamos buscando novos caminhos para expressar nossa musicalidade. Tudo isso foi muito estimulante, um projeto de aprendizado, saber trabalhar com uma série de músicos diferentes e talentosos. No final do ano começaremos a compor o novo álbum que será mais concentrado no estilo Hard Rock dos álbuns "Blackout" e "Love At First Sting".

Os fãs estão esperando por isto!
Klaus: Eu tenho plena consciência disso, mas todos estes projetos nos inspiraram muito mais para podermos voltar às nossas raízes. Foi muito importante para nossa carreira termos trabalhado com uma das melhores orquestras do mundo. E a idéia partiu deles, o que não deixa de ser uma grande honra e, ao mesmo tempo, um grande desafio para nós. Gostamos muito foi algo excitante, assim como participar da “Expo 2000”, realizada em nossa cidade natal. 

Você chegou a ouvir os álbuns orquestrados do Deep Purple e do Metallica?
Klaus: Ouvi o do Metallica, mas não o do Deep Purple, ambas as bandas são muito próximas de nós. Soube que houve um falatório tremendo após o lançamento do Moment Of Glory porque muitos diziam que só havíamos lançado o álbum para copiar o Metallica. Mas o fato é que não podíamos e nem deveríamos recusar um convite da Filarmônica de Berlim que, como disse, aconteceu em 1995. Para nós não é importante quem fez primeiro ou depois, mesmo porque nossas primeiras gravações com a Filarmônica de Berlim começaram em 1996. Metallica também não foi o primeiro, porque o Deep Purple, Emerson Lake and Palmer, Procol Harum, e muitas bandas dos anos 60 já haviam feito isso, são os verdadeiros pioneiros deste tipo de projeto. O Metallica gravou um álbum ao vivo junto com a Filarmônica de São Francisco... O que é bem diferente do que fizemos. Como os melhores instrumentistas de Música Clássica, a Filarmônica de Berlim não queriam apenas uma banda para que eles acompanhassem, queriam arranjos diferentes e por isso foi um grande desafio para nós. Estou muito orgulhoso do resultado final que obtivemos. Antes de encontramos Christian, tivemos uma reunião com Michael Kamen na Itália e ele seria o escolhido para o nosso trabalho com a Filarmônica de Berlim, mas quando voltamos para o estúdio para terminar o álbum Eye To Eye, Michael foi para a América e fez este projeto com o Metallica! Não me interessa quem veio primeiro, mas quero deixar bem claro que não fizemos nosso álbum por causa do que o Metallica fez, isto não é verdade.

Falando sobre a escolha das músicas do "Moment Of Glory", consta a clássica "He’s A Woman She’s A Man", mas eu acredito que seria interessante incluir músicas como "Sails Of Charon" e "Steamrock Fever", concorda?
Klaus: É claro que ficariam e existem muitas músicas desta fase do Scorpions que você se refere que também ficariam muito interessantes, como "Polar Nights", "Sails Of Charon" e outras de Uli seriam perfeitas. Pegamos algumas músicas mais antigas para realizar o projeto orquestrado, como "Dynamite", "He’s A Woman She’s A Man", mas não voltamos tanto no tempo vasculhando toda nossa discografia. Não haveria como testar todas as músicas e pegar as que obtivessem o melhor resultado. 

O ex-guitarrista do Scorpions, Uli John Roth, também lançou o álbum "Transcendental Sky Guitar", no qual tocou ao lado de uma orquestra alemã. Você chegou a ouvir este material?
Klaus: Conheço este material. Uli sempre foi influenciado por Música Clássica. Recentemente ele queria que nos juntássemos a ele em Donington (ING) para um show especial, mas como estávamos em Paris não foi possível. Sempre estamos mantendo contato e quem sabe no futuro possamos fazer algo juntos. Também pensamos em convidar Uli ou Michael (N.R.: Michael Schenker) para participar do álbum acústico, mas como você deve saber, ter a idéia no papel é fácil, mas fica muito complicado ajustar as agendas de todos para por sua idéia em prática. Para os fãs seria diferente e interessante. Mas, quem sabe o faremos um dia, pois parece que atualmente a aceitação de projetos paralelos está sendo muito bem aceita pelos fãs.  

Vocês pretendem tocar novamente no Brasil?
Klaus: Claro! Passamos por grandes momentos no Rio e em São Paulo. Lembro-me com muita satisfação de nossa última passagem, quando tocamos num estádio junto com Ronnie James Dio, Bruce Dickinson e Bonham. Espero ter a chance de poder voltar a tocar ai, seja em qual for o formato, acústico, plugado ou com uma orquestra. O “Rock In Rio 1” foi um dos momentos mais marcantes de nossa carreira, realmente memorável.

O Deep Purple fez um concerto com orquestra no Brasil...
Klaus: Acho que funcionará bem no Brasil, pois se levarmos o maestro que vem nos acompanhando será perfeito. O show orquestrado na Rússia foi fantástico! Temos possibilidades diferentes no momento, vários formatos, mas no final do ano faremos uma pausa para o novo álbum. No ano que vem iremos plugar os instrumentos! Mas, se tivermos uma boa oferta para ir, por exemplo, ao Brasil para shows orquestrados ou acústicos não iremos recusar. Estamos negociando nossa turnê pela América do Sul neste momento, mas não existe nada definido. Se for acontecer este ano será em setembro ou outubro.

Sentimos que vocês estão num bom momento!
Klaus: O verão chegou aqui na Alemanha e por isso estou alegre (risos). Falando sério, estamos nos sentindo muito bem, o álbum está nas paradas da Alemanha, Portugal, Grécia, iremos excursionar pela Ásia no final de julho. Tocaremos na Coréia, Malásia, Singapura, Indonésia, Tailândia e acredite ou não iremos pela primeira vez à Índia. Temos possibilidades de tocar em Trinidad e também em Cuba, o que seria também nossa primeira vez por lá. Quem sabe o Brasil não entra nessa agenda...

No Brasil, o álbum "Love At First Sting" foi um fenômeno, mas qual trabalho de toda a discografia do Scorpions levou a banda ao topo, considerando que Blackout chegou ao 10º lugar na Billboard?
Klaus: É difícil dizer, mas acho que "Blackout" e, depois, "Love At First Sting". Atingimos as paradas americanas não só com "Blackout", mas também com "Savage Amusement", "Crazy World" e "Love At First Sting". A música "Wind Of Change" atingiu a 5ª posição nos charts da América.

Além da musicalidade, qual outro ponto fundamental para que a banda tivesse conseguido sucesso em todo o mundo?
Klaus: Acredito que uma das principais razões para que isto tenha a acontecido foi que desde o início procuramos por o pé na estrada e tocar na maioria dos lugares que pudéssemos. Costumamos fazer turnês mundiais com freqüência desde a década de 70 e isto faz com que você seja comentado e visto, quase ao mesmo tempo, em países diferentes. É óbvio que se o show de uma banda não é forte o suficiente, ela não conseguirá obter o mesmo êxito mesmo se viajar constantemente. Quando não éramos nada na América, já éramos uma das bandas mais famosas na Europa e no Japão, mercados que nos mantemos em alta até hoje. No Brasil e na América do Sul, apesar de sabermos que sempre tivemos fãs muito fiéis, as coisas começaram a melhorar muito após o show no “Rock In Rio 1”, o que cai justamente no que eu disse, se a banda sabe fazer uma grande apresentação a boa imagem perdurará por muito tempo.

Você poderá não compreender minha próxima pergunta, mas existem vários rumores de que Herman Rarebell não gravou o álbum "Savage Amusement" e o que ouvimos é bateria eletrônica programada. Isto é verdade?
Klaus: Não, isto é uma mentira absurda! Herman gravou o álbum inteiro e não haveria nenhum motivo para não fazê-lo. São estes boatos que muitas vezes prejudicam o trabalho de uma banda, mas devemos encará-los com naturalidade e sempre colocar a verdade à tona.

O álbum "Crazy World" tem a perfeita mistura de tudo que é o Scorpions, Hard Rock, Metal e as baladas melódicas. Este álbum permaneceu 73 semanas no chart da Billboard?
Klaus: Sim, Crazy World é um dos nossos maiores trabalhos! A música Wind Of Change faz parte dele e acredito que ela o impulsionou para a primeira posição nas paradas de todo o mundo e para o 5º lugar na Billboard. E você está certo, é bem balanceado. Tem músicas como Send Me An Angel, Wind Of Change, mas também conta com Tease Me, Please Me e outras mais pesadas.

O novo álbum deverá vir nesta mesma linha?
Klaus: Nossa intenção é encontrar a mesma vibração de trabalhos como "Blackout" e "Love At First Sting". Deverá conter algumas baladas, mas o foco será muito maior para o Hard Rock. Queremos fazer um álbum sem compromisso focado para o Rock.

Apesar de ser uma banda bem aceita em todo mundo, homenageando os países inclusive em letras de músicas, por que somente no álbum "Eye To Eye" vocês resolveram fazer uma letra em alemão, "Du Bist So Schmutzig"? O que significa o título da música?
Klaus: Traduzindo para o inglês significa "You Are So Dirty". Escrevê-la foi algo até meio complicado. Sempre comentavam comigo por que o Scorpions sendo uma banda alemã ainda não tinha gravado uma música cantada em nossa língua. Havia me acostumado tanto a cantar e pensar em inglês que não foi algo natural. Pode parecer brincadeira, pois sendo alemão, todos podem pensar que faria isto com facilidade, mas não foi. Como gosto muito de desafios resolvi tentar e acho que o resultado final ficou bom.

E sendo uma das bandas mais populares da Alemanha, como você analisa o crescimento constante do Heavy Metal alemão na cena mundial? Vocês se sentem como se fossem os pioneiros?
Klaus: Acho que o cenário do Metal está mudando na Alemanha, temos muitas bandas novas. Nós começamos como uma simples banda de Rock, nunca fomos 100% Metal, mas obtivemos sucesso com músicas como "Rock You Like A Hurricane", que estavam num contexto muito ligado ao cenário da música mais pesada. Sempre tocamos em grandes festivais de Metal ao lado de bandas como Judas Priest, mas sempre soubemos que éramos uma banda de Rock e as pessoas aqui não nos encaram como uma banda de Metal. Temos nosso próprio público e eles nos encaram como artistas populares e não nos considerem como uma banda do mesmo cenário. Mas, quando tocamos em festivais deste estilo na Alemanha os fãs adoraram. Eles nos respeitam muito, mas por causa das baladas eles não nos encaram mais como sendo uma banda de Hard Rock ou Metal. É quase a mesma coisa que acontecesse com o Metallica nos Estados Unidos. Os fãs e as bandas nos respeitam tanto que foi lançado um álbum tributo ao Scorpions somente com bandas de Metal. Meu filho (N.R.: Christian), que está agora com 15 anos, ficou maluco ao ouvi-lo, e eu também. Acho que o próximo álbum irá provar para todos que não esquecemos de onde viemos.

Entrevista publicada na edição #32 da revista ROADIE CREW (agosto de 2001)