domingo, 14 de dezembro de 2008

Basquetebol e Metal: DeathCore Zine

Depois que conheci o Heavy Metal através do álbum "Vol 4" do Black Sabbath, que ouvia todos os dias, comecei a pesquisar onde mais poderia encontrar itens similares. Esta paixão arrebatadora mudaria minha vida.

Em mais uma coincidência do destino, o escritório de advocacia do meu pai situava-se na rua José Bonifácio, no centro de São Paulo. Lá era exatamente o endereço da famosa loja de discos Woodstock. Com isto, comecei a visitar a loja e a comprar LPs, sempre com as indicações de um funcionário do escritório do meu pai, João Carlos de Oliveira, que entendia muito de Rock pesado e me indicava várias bandas. Fiquei hipnotizado e apaixonado pelas guitarras pesadas e aquele som característico do Metal. Isso começou a ser viciante, porque queria conhecer tudo e aí passei a freqüentar a Woodstock Discos semanalmente. Alguns dos primeiros LPs que comprei foram: Judas Priest "Unleashed In The East", Judas Priest "Screaming For Vengeance", UFO "Obsession", Kiss "Dynasty", Aerosmith "Rocks", Scorpions "Virgin Killer" e Iron Maiden "Iron Maiden" importado, que tinha acabado de ser lançado.

Literatura Metal

Para aumentar meu conhecimento, comprava toda sorte de literatura ligada ao Rock que encontrava nas bancas ou livrarias. Adquiria enciclopédias, revistas, livros daqui ou publicados no exterior... Absolutamente tudo que havia com a palavra Rock estampada na capa eu ia atrás.

Cheguei ao cúmulo de fazer meu pai me levar de madrugada em uma banca de jornal - a única até então em São Paulo que funcionava 24h - que ficava próxima ao Parque do Ibirapuera só para perguntar se uma revista de música que eu queria ler havia chegado. Até na escola onde estudava, Liceu Pasteur, vez ou outra eu passava horas extras com a professora me ajudando a ler alguns artigos sobre Heavy Metal em publicações francesas. Como o colégio tinha ligação com a França eu ia com a revista Enfer nas mãos e pedia ajuda na tradução das matérias. Enquanto a professora se mostrava chocada com algumas artes das capas dos discos, com o visual das bandas, eu ficava fascinado com aquela publicação, que surgiu no mercado editorial em 1983 e sumiu tempos depois.

Também era meu costume redigir cartas para diversas publicações ou diretamente para as bandas, ainda mais depois que consegui uma foto autografada do vocalista Ronnie James Dio. Pena que nunca obtive resposta para a carta que escrevi para a Enfer na tentativa de assinar a revista. Isto anos depois foi uma grande lição para mim, pois aprendi que o tratamento e o respeito ao leitor de uma publicação tinha que ser impecável.

O sonho

Passados alguns anos lá estava eu acompanhando meu pai - que era um advogado conceituado na área do Direito Comercial - em mais uma visita a um cliente. Desta vez a reunião seria em uma gráfica que passava por dificuldades e estudava a possibilidade de entrar com pedido de Concordata Preventiva. Naquela reunião o então dono da gráfica perguntou-me o que eu mais queria fazer na vida. Respondi que queria fazer uma revista de Rock e ele me deu uma espécie de boneco e mandou rabiscar meu projeto. A capa da revista imaginária seria o Black Sabbath.

Como sempre gostei muito de escrever, especialmente sobre música, fazia resenhas de discos em agendas ou nos cadernos escolares e passei a me ver trabalhando numa revista, em uma editora ou onde quer que fosse. Estudava outras coisas e tendia para o Direito, mas a música caminhava com uma intensidade muito maior em minha vida. O Basquetebol era outra grande paixão, mas como me contundia seguidamente não foi possível seguir no esporte profissionalmente como meu pai desejava. No entanto, confesso que ainda sinto muitas saudades do E.C. Sírio, que infelizmente não disputa mais os campeonatos na categoria Adulto, e dos outros times/clubes que joguei, entre eles a ADC Pirelli, Ipê Clube e ACM/Guarujá. O CA Monte Líbano não guardo boas recordações, pois ao deixar o EC Sírio descobri rapidamente que a rivalidade entre os clubes era similar a um Palmeiras e Corinthians ou um Flamengo e Fluminense.

DeathCore Zine

Já no final dos anos 80, como não consegui espaço para trabalhar na Rock Brigade ou na mídia do Rock que havia até então, comecei a editar meu primeiro fanzine ao lado dos irmãos Caio e Conrado Tabuso, dois amigos do Basquetebol da época do Clube Paineiras do Morumby. Eu já havia jogado anos antes por lá e depois de ter sido militante passei a frequentar o clube como sócio.

No Paineiras, Conrado era um dos cestinhas da equipe do meu irmão Frederico, na qual o armador era Marco Bianchi, humorista que começou no grupo 'Os Sobrinhos do Ataíde' e hoje apresenta o 'Rock & Gol' e o 'Rockgol de Domingo' na MTV. Já Caio atuava em uma categoria inferior, num "time de boyzinhos medrosos" como ele costumava falar.

Minha fase no time Paineiras foi difícil. Colecionávamos seguidas derrotas e pela primeira vez na vida disputei o enfadonho "Torneio Consolação". Mesmo jogando com garra e tentando de tudo, literalmente aprendi a perder... O time era um dos piores, mas tive a sorte de poder conferir um festival de Metal que a Baratos Afins organizou no Paineiras, evento que teve no cast o Korzus, Performances, Viúva Negra, Ethan e Improviso.

Dentre tantas histórias no esporte, uma passagem interessante e curiosa ocorreu quando fomos jogar contra o Colégio Santo Américo. Ao final dos jogos em nossas respectivas categorias comecei a ouvir um som alto rolando a música "Black Sabbath". Pensei comigo: "Nossa, só posso estar viajando. Quase nunca ganhamos, mas quando vencemos com facilidade e eu detono em quadra minha cabeça vai tão longe que começo a ouvir Black Sabbath?! Acho que estou ficando louco". Fui tirar a prova e quando saí do vestiário me dei conta que estava mesmo sendo tocado o primeiro álbum do "Black Sabbath" em plena festa junina do Santo Américo. Aquilo foi, no mínimo, bizarro. Mas eu e os irmãos Tabuso fizemos a festa. Vencemos nossos jogos e nos divertimos na grande festa do Santo Américo ao som de Black Sabbath. Pra quem certa vez teve que jogar no C.A. Ipiranga ao som de "We Are The World" tocada mil vezes no repeat, aquilo foi realmente mágico.

Para montar o DeathCore Zine - nome que criamos pelos nossos gostos musicais e por representar o que havia de mais extremo até então - saímos em busca das novidades e fazíamos de tudo para deixar o fanzine atrativo. Caio era (é) um desenhista de mão cheia, Conrado fazia os contatos e eu cuidava da criação e da produção. A redação cabia a todos.

Como nossos contatos eram amplos no underground conseguíamos fazer entrevistas, coberturas de shows e resenhas de discos recém-lançados (alguns até em advanced-tape) e Demo-Tapes. Além disso, as vendas do fanzine nas lojas de discos eram significativas. Walcir Chalas, proprietário da Woodstock Discos - que já funcionava em novo endereço, em frente ao Metrô Anhangabaú - nos ajudava cedendo alguns lançamentos e vendia o DeathCore Zine, que se esgotava rapidamente por lá. Nunca vou me esquecer quando Walcir nos deu o Into The Pandemonium do Celtic Frost em advanced-tape. Os irmãos Tabuso ficaram chocados com a mudança na banda de Tom Warrior, mas eu fiquei hipnotizado. Eu ficava dizendo todos os dias a eles: "Não é possível que vocês não gostaram do Into The Pandemonium?". E eles respondiam: "Pra você que tá começando a curtir até Ratt e Queensrÿche deve ser normal, mas não gostamos. Não dá pra ouvir Tom Warrior 'chorando' nesse play".

Os nossos gostos estavam começando a mudar. Não sei como, mas enquanto eles tendiam ainda mais para o lado extremo e o brutal HxCx finlandês/alemão, eu seguia sendo o "Batalha/Slayer", mas dava os primeiros sinais que meu gosto musical não poderia ficar restrito apenas no lado brutal do Metal. Aquele Batalha que não comprava discos que tinham teclado, saxofone, bateria eletrônica e que teve a audácia de acusar o Possessed de "comercial" por causa da 'intro' melódica que antecede a faixa The Heretic no álbum Beyond The Gates estava ficando no passado.

A saída de todos do Paineiras do Morumby e da prática do Basquetebol, a falta de tempo, o distanciamento não forçado e a mudança no gosto musical foram alguns dos fatores que botaram ponto final no DeathCore Zine. Com o distanciamento entre os outros editores, tempos depois me uni a meu irmão Frederico e criamos o fanzine Silent Rage, dedicado somente ao cenário do Metal brasileiro. O sonho em criar uma revista continuava vivo...

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Arquivo Entrevista: BLACKIE LAWLESS (W.A.S.P.)

A banda norte-americana W.A.S.P. vem se destacando no cenário mundial desde o início dos anos 80, ficando com a marca de inimigo público número 1 para os críticos e parte da sociedade norte-americana, incluindo uma estranha associação chamada PMRC (Parent's Music Resource Center), que visa proteger filhos de famílias conservadoras de "atentados musicais", como o Heavy Metal. Apesar dos detratores, Blackie Lawless & Cia. seguem em frente apresentando seu mais recente trabalho, "Unholy Terror", que saiu pela Metal-Is Records, a gravadora que agora é propriedade da Sanctuary Music, agência que cuida da carreira de nosso entrevistado o líder, baixista e vocalista Blackie Lawless.

Qual o significado do título "Unholy Terror"? De onde você tirou esta idéia?
Blackie Lawless: De minha educação religiosa. Eu tive um contato muito forte com a igreja até meus 18 anos. Entrei por vontade própria, ninguém me mandou. Eu estava buscando respostas que não conseguia encontrar, mas fiquei realmente frustrado e deixei a igreja. Depois pratiquei o ocultismo durante três anos, mas percebi que tinha trocado uma religião por outra. Não estou aqui para bater de frente contra qualquer religião ou o que são as suas convicções, estou tentando fazer com que as pessoas busquem suas próprias respostas. Veja bem o que as religiões organizadas estão fazendo em nome de Deus, criando guerras e coisas assim. Esta nunca foi a pretensão de Deus, ele não queria nada disso. Não sou dizendo que sou contra a religião de ninguém, sou apenas um opositor. Quero que as pessoas procurem por suas respostas e não fiquem fazendo o que as igrejas mandam fazer. Tire suas próprias conclusões.

Posso dizer que com esta temática do álbum você está ignorando as ironias?
Blackie: Não sei se eu diria isto, estou apenas tentando passar o que aconteceu comigo para que isto não aconteça com outras pessoas. A idéia básica do álbum é pensar por si só, a moral da história é procurar respostas para as suas próprias dúvidas. E quero ser bem claro e reforçar que isto não tem nenhuma conexão em atacar o credo e a ideologia de qualquer pessoa, porque este é um tema que não se prende somente ao lado religioso, o governo também faz isto. Sei que estou sendo até repetitivo, mas atente para isto e não faça o que os outros mandem ou ordenem que você faça por acharem que é o certo, o verdadeiro. Procure encontrar a sua verdade.

Por que você sempre aborda temas controvertidos? 
Blackie: Eu gosto de tudo que todo o mundo gosta. Eu imagino que o que me move e me motiva provavelmente moverá e motivará outros. Há uma faixa chamada Loco-motive Man, sobre um garoto que vai para a escola e tenta cometer assassinato seguido de suicídio. Isso é um assunto bastante quente. Para mim, o garoto é o sintoma, não a doença. A doença é o que os pais não estão fazendo para a criança. Note quantos artistas já foram processados por pais de crianças que cometeram suicídio. Eu não quero soar frio, mas o que os pais estão fazendo após a morte dos filhos é a mesma coisa de quando a criança ainda estava viva: nada é em benefício do filho. Eles se recusam a aceitar responsabilidade pelo que aconteceu. Mesmo com a morte, ainda estão apontando o dedo para outra pessoa, quando foram eles não deram para a criança o que ela precisava. Todo o artista ao fazer um trabalho está concedendo um grande presente. O presente não é o talento que você possui, o presente é que você pode estar onde as pessoas podem falar com você ou você está em uma plataforma e muitas pessoas o escutarão.

Como você analisa o novo álbum musicalmente? Vocês chegaram a gravar algum cover para ser lançada posteriormente?
Blackie: Você sabe que não costumamos fazer mudanças bruscas em nossa música e acredito que seja uma mistura de nosso primeiro álbum com o "Headless Children". Desta vez preferimos não gravar nenhum cover, somente as músicas que estão no álbum foram gravadas.

Você tenta fazer cada álbum soar diferente intencionalmente ou é uma progressão natural?
Blackie: Acho que isso é um pouco natural. Quando começo a fazer um álbum eu não sei como isso vai ficar no final. Pelo menos enquanto não tenho 2/3 do trabalho já terminado. Quando eu estou fazendo um álbum apenas tento descobrir o que vai pelo meu subconsciente. É um processo ininterrupto de captar o que já está lá. No final, fico quase tão surpreso com o resultado quanto qualquer outra pessoa.

Qual música nova irá para as rádios? 
Blackie: Ainda não sabemos. Estou pesquisando porque ainda não estou seguro. Eu tentaria primeiramente "Let It Roar", embora pessoalmente goste de  "Hate To Love Me". Mas eu simplesmente não me preocupo com uma faixa específica para o rádio.

Como está o trabalho com a Metal-Is Records? Você tem maior controle da criatividade do que teve com a Capitol Records?
Blackie: A Sanctuary Music está me empresariando desde 1983 e queríamos fazer uma gravadora há muito tempo. Era um antigo sonho que conseguimos realizar com a Metal-Is e espero que isto seja bom para todos nós. Na Capitol, éramos uma das poucas bandas a ter liberdade. Com toda honestidade, eu vivi lá um período em que fomos muito protegidos. Durante todo o tempo em que estivemos na Capitol, por seis vezes alguém da gravadora caiu fora da empresa. Quatro vezes eu os convidei a sair e duas vezes eles simplesmente apareceram e depressa perceberam que eu não estava contente com a presença deles por lá. Nunca, enquanto nós estivemos na Castle ou na CMC, alguém se importou conosco. Com a Capitol, eles nunca souberam o que eu estava fazendo. Assim eles decidiram me deixar sossegado. Isso não acontecia até seis ou sete anos atrás, quando tive uma conversa com Sammy Hagar sobre isto e ele mencionou ter sempre alguém se rastejando atrás dele na gravadora. Eu comecei falando às pessoas sobre isto e acabei ficando mais exposto. Eu estive por muito tempo como que em uma ilha deserta.

Você tem mais controle sobre suas masters e o material gravado? 
Blackie: Provavelmente a diferença maior é você consegue que as pessoas façam mais do que eles lhe contam eles vão fazer. Você pode participar de uma reunião de marketing por um dia inteiro mas a menos que alguém de dentro da gravadora tenha participado também, essa se reunião é puro desperdício de tempo. Parece uma coisa pequena mas realmente é enorme. Fora isso não há uma diferença muito grande.

No Brasil, o primeiro álbum do W.A.S.P. causou um grande impacto, mas qual o trabalho que fez o nome da banda ser forte no mundo todo?
Blackie: Não foi só ai que isto aconteceu, em outros países o impacto foi altamente positivo e era algo que não esperávamos na época, mas, provavelmente o álbum que colocou o nome da banda em evidência foi o "Headless Children".

Você acredita que as bandas alternativas podem ser consideradas como Heavy Metal e o que você pensa quando classificam bandas como o W.A.S.P. de "Retro Rock"?
Blackie: Uau!! Não sei ao certo, mas estas bandas não soam como o verdadeiro Metal para mim. Minha opinião não é a única que importa, cada pessoa que ouve estas bandas tem sua própria opinião. O que é Heavy Metal tradicional? Óbvio, Black Sabbath e Judas Priest. Para mim ser classificado como Retro Rock não significa nada, eles não estão me magoando porque nem ligo. Nada melhor que um dia após o outro.

Você conhece a cena do Black Metal? Estou dizendo isto porque muitos músicos deste estilo admiram o trabalho do W.A.S.P..
Blackie: Conheço alguma coisa de Black Metal porque sempre gosto de estar sabendo o que está acontecendo na cena em geral. O grande problema neste caso é que passamos tanto tempo concentrados no estúdio na época das gravações que não temos tempo de dar uma pausa para saciar o nosso lado de fã. Só para exemplificar o que estou dizendo, o "Unholy Terror" levou 14 meses para ficar pronto e quando estou trabalhando num álbum quase nem tenho oportunidade de ouvir outras bandas. A única chance real é quando estamos tocando em festivais, pois gosto de observar as bandas que tocam conosco, não só a música, mas tudo que envolve o show. Na verdade eu gostaria de conhecer bem mais bandas do que conheço. Sei que as pessoas podem pensar, vá a uma loja de CDs e compre alguns álbuns, mas não é bem assim...

Qual sua opinião sobre a MTV e o VH1?
Blackie: A MTV dos anos 80 e a MTV de agora são duas estações completamente diferentes. Na América nos anos 80 era realmente muito boa e agora é diferente, especialmente porque eles fecham as portas para o Heavy Metal. Mas, tudo evolui e eles têm que fazer o que acham ser melhor para eles. A VH1 é uma extensão disso que a MTV faz. Estão todos debaixo do mesmo telhado, no mesmo barco.

Você tem intenção de fazer um filme mostrando o que acontece "por trás" do mundo da música? 
Blackie: Muita gente tem me perguntado isso. Algo como querendo saber quantas pessoas conheci que morreram de overdose de droga. Acredite ou não, nosso espetáculo ao vivo é grande e bombástico, mas atrás disto a nossa vida é enfadonha. Nós nunca tivemos qualquer tragédia. Eu não sei se nossa carreira faria uma história boa ou não. Algo como uma subida ao topo, dependência de droga, e a perda de tudo... Eu simplesmente tenho sido um cara de muita sorte e nunca tive nada a ver com esse tipo de drama.

E quanto a Chris Holmes, ele está "limpo", careta e livre dos problemas com o álcool?    
Blackie: Chris ainda é Chris (risos). Ele sempre será assim, faz o que quer e se é assim que deseja, tudo bem. Já tivemos alguns problemas com isto, mas é a vida dele, não quero me interferir no aspecto pessoal.

Como está o cenário de palco do W.A.S.P. atualmente, vocês ainda utilizam o mesmo aparato visual e os elementos teatrais que costumavam usar? Rod Smallwood ainda costuma ajudá-lo na criação da estrutura do cenário?
Blackie: O show do W.A.S.P. sempre é grande, sangrento, bombástico e para cima. É um grande evento e ainda contamos com todo este aparato visual. Se não fizéssemos mais isto, não seríamos mais o W.A.S.P.! Gostamos de tocar bem alto e de contar com vários outros elementos além da música. Com relação a Rod, ele já me ajudou e sempre costumamos trocar algumas idéias sobre a criação de nossos cenários de palco.

Você sente que esteja havendo uma perda da energia que existia em espetáculos ao vivo? 
Blackie: Ao contrário. Acredito que parece estar havendo um renascimento de bandas que estão voltando a fazer coisas visualmente atraentes. Esta coisa visual no Rock parece acontecer em ciclos. 

Em 1987 as pessoas levavam o Rock'n'Roll tão a sério que o W.A.S.P. teve problemas com a organização PMRC, mas você não acredita que a música "Fuck Like A Beast" pode ser considerada inocente hoje em dia?
Blackie: Voltamos ao questionamento pessoal de cada um. Naquela época "Fuck Like A Beast" era considerada um afronte para muitas pessoas, mas, hoje em dia não parece ser tão perigosa. É uma questão de julgamento.

Então, qual é a importância da imagem do W.A.S.P.?
Blackie: A imagem da banda, o produto é importante, porque existe uma controvérsia criativa que tem continuidade e tem conteúdo artístico. 

Como você explica sua longevidade?
Blackie: Contando a verdade. Fazendo a melhor música que posso, mas falar a verdade é realmente o mais importante ou, pelo menos, o que eu acredito seja a verdade. Se não for assim, você está mentindo e não significa nada. Eu sei que tem alguns sujeitos que não são artistas, apenas gravam álbuns. Tudo bem,  mas não é isso que quero fazer. Qualquer artista que esteja há tanto tempo nisso sempre esteve tentando fazer com que o público acredite nele. 

Sendo um famoso rockstar em todo o mundo, qual é sua grande ambição daqui para frente?
Blackie: Gravar o melhor álbum que puder compor! Este é o ponto primordial e fundamental para mim, porque somente através de minha música gravada é que serei lembrado, mais importante do que os shows e outras coisas. Quando encerrar minha carreira sobrará minha música, serei lembrado por minhas gravações, por isso me concentro muito nas gravações de um álbum, dou o máximo de mim. Temos que ter respeito pela música para que o resultado final seja o mais satisfatório possível.

Como seus críticos afetam sua forma de compor? 
Blackie: Eu nem mesmo me preocupo com isso. Meu trabalho é fazer os melhores álbuns que eu possa. Sempre foi assim desde o princípio. Tenho uma carreira que se desenvolveu assim, como uma criança que aprende sem precisar ir à escola. Não preciso me preocupar com os críticos.

Quando se dará início a nova turnê? Vocês têm planos para tocar na América do Sul, especialmente no Brasil?
Blackie: Calculo que começaremos a turnê no princípio de maio e imagino que estaremos na estrada por cinco a seis meses. Ainda estamos negociando. faz pouco tempo que finalizei o álbum e, por isso, tudo que se refere a turnê, ainda estamos nos preparativos iniciais. E nem me fale em ir à América do Sul, pois faz muito tempo que estou querendo isto e nunca acontece. Preciso achar o promotor de shows certo para que ele possa viabilizar uma turnê pela América do Sul. Se você conhecer algum, por favor, diga isto a ele?! Seria importante e gratificante tocar aí.

Mas eu insisto sempre... Bato tanto na mesma tecla que acho até que já quebrei-a!
Blackie: (risos) É bom saber disto, muito obrigado... Mas, continue falando!

Qual será o futuro do W.A.S.P.? 
Blackie: Não tenho nenhuma idéia. Nosso primeiro álbum saiu 17 anos atrás. Se alguém me falasse que nós existiríamos 17 anos depois eu teria dado gargalhadas! Como lhe disse, a única coisa sob meu controle é fazer os melhores álbuns possíveis, continuar meu caminho e o que tiver que acontecer acontecerá. Eu gostaria de continuar fazendo isto até o dia em que não tiver deixado nada por dizer.

Entrevista publicada na edição #28 da revista ROADIE CREW (abril de 2001)

domingo, 23 de novembro de 2008

Volume 4: a descoberta

Descobri o Heavy Metal por acaso na passagem de 1979 para 1980 ouvindo o disco Volume 4 da banda inglesa Black Sabbath, a grande precursora do estilo. O álbum estava largado em algum canto numa estante do salão da casa de minha família, mas nunca tinha escutado-o. Até então, o que sabia sobre o Rock me fora passado por minha mãe, que gostava de Elvis Presley, Billy Halley, Little Richards, The Platters, Paul Anka e alguns outros astros do Rock And Roll dos anos 50.

No Heavy Metal costumeiramente alguém mais velho, da sua própria família ou do círculo de amizades, mostra um som para você e se aquele som de guitarras pesadas o pega "de jeito" pode estar certo que fará parte de sua vida para sempre. No meu caso, como minha mãe sempre relata, sempre fui vidrado em música e desde pequeno ficava dividido entre os esportes, os estudos e a minha sagrada vitrolinha portátil.

Apesar de não dançar nas festinhas de colégio, estava sempre antenado com o que estava rolando no momento, porque meu falecido pai havia sido advogado da gravadora Odeon e habitualmente levava para casa caixas e caixas de LPs de vinil, especialmente na época do Natal.

Mesmo voltando todos os esforços nos estudos e esportes (Basquetebol e Futebol), era um ouvinte esporádico de rádio. Só que mantive a paixão pelos discos de vinil. Sendo assim, animei-me e comecei a ouvir tudo que tinha em casa. Em meio a muitas coletâneas, a maioria de Disco Music do final dos anos 70, estava o álbum Volume 4, que rapidamente se tornou meu preferido. A partir daí, passei a ouvi-lo todos os dias. Se já soubesse tocar algum instrumento certamente conseguiria tocar o Volume 4 de ponta a ponta, algo que nunca aconteceu. A primeira música que consegui tocar inteira na bateria vários anos depois foi Paranoid, mas ironicamente nunca executei uma do Volume 4. Coisas da vida...

A obra

O Black Sabbath pode ter simplificado o título de seu quarto disco de Snowblind para Vol 4, mas demonstrou maturidade e evolução em relação aos álbuns que havia lançado: Black Sabbath, Paranoid e Master Of Reality. Como conseguir isto num período de excessos com drogas, álcool e o esgotamento físico é algo que só o Heavy Metal explica.

O grupo deixou a Inglaterra para gravar no Record Plant Studios, em Los Angeles (EUA). Lá, o Sabbath se fixou em uma mansão localizada em Bel-Air e que pertencia ao milionário John DuPont. A região que engloba Bel-Air, Beverly Hills e Holmby Hill forma o Triângulo de Platina de bairros de Los Angeles, onde as casas e propriedades estão entre as mais caras dos Estados Unidos. E, mesmo em meio a alguns abusos e muita farra naquele imóvel composto de vinte e sete cômodos, uma piscina imensa, salão de festas e um grande salão de jogos, o Sabbath compôs outra grande obra.

O álbum saiu a 25 de setembro de 1972, quando meu irmão - que, por outra ironia, jamais foi um fã ardoroso do Sabbath - estava com pouco mais 1 mês de idade. A abertura da obra vem em grande estilo com Wheels Of Confusion e lá está Bill Ward detonando na batera. O disco segue com a furiosa Tomorrow's Dream. Supernaut fala de drogas e só o sussurro "Cocain" de Ozzy em Snowblind dispensa comentários. Até mesmo nos 'liner notes' de Volume 4 o grupo agradece à "grande COKE-Cola Company" e o baixista Geezer Butler aparecia com o adesivo "Enjoy CoCaine" em seu baixo branco.

Os momentos calmos do disco vem com Laguna Sunrise e na balada Changes, que virou hit de rádio. Sua criação foi, no mínimo, inusitada. Tony Iommi havia exigido que fosse colocado um piano de cauda no salão de festas da mansão em Bel-Air e daí surgiu Changes, que teve a letra escrita por Ozzy em um de seus momentos de relax na piscina. Changes, que teve os teclados executados por Tony Iommi (piano) e Geezer Butler (mellotron), foi usada tempos depois no "Lado B" do single Sabbath Bloody Sabbath.

Vol 4 ainda traz Cornucopia, St. Vitus Dance e Under The Sun, típicos exemplos de onde veio o estilo Doom Metal. Os timbres dos instrumentos viraram referência e muitos músicos ainda tentam captar a essência de Vol 4, que em menos de um mês obteve o disco de ouro, posteriormente sendo o quarto disco consecutivo da banda a obter a marca de um milhão de cópias vendidas nos EUA.


Ficha Técnica:
"Vol 4" - Black Sabbath
Ano de lançamento: 1972
País de Origem: Inglaterra
Estilo: Heavy Metal
Line-up: Ozzy Osbourne (vocal), Tony Iommi (guitarra), Geezer Butler (baixo) e Bill Ward (bateria)
Produtor: Patrick Meehan e Black S
abbath
Engenheiros de som: Colin Caldwell e Vic Smith
Gravado no Record Plant Studios - Los Angeles (EUA)

Lado A
1. "Wheels of Confusion" - 8'01"
2. "Tomorrow's Dream" - 3'11"
3.
"Changes" - 4'44"
4. "FX" - 1'43
" (Instrumental)
5. "Supernaut" - 4'49"


Lado B
1. "Snowblind" - 5'33"
2. "Cornucopia" - 3'54"
3. "Laguna Sunrise" - 2'55" (Instrumental)
4. "St. Vitus Dance" - 2'29"

5. "Under the Sun" - 5'52"

Todas as faixas compostas por Iommi, Ward, Butler e Osbourne.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Arquivo Entrevista: STEVE HOGARTH (Marillion)

A banda inglesa Marillion, formada na cidade de Aylesbury em meados de 1978, não faz simplesmente Rock Progressivo, não deve ser encarada como clone do Genesis e muito menos ser classificada como Pop, mas tem fundamental importância no cenário musical. O que Steve Hogarth (vocal), Steve Rothery (guitarra), Mark Kelly (teclados), Pete Trewavas (baixo) e Ian Mosley (bateria) fazem é simplesmente colocar para fora seus sentimentos nos momentos de inspiração para criar boa música, seja ela centrada no Rock and Roll, Progressivo, Jazz, Blues, Soul, Funk, Country ou até mesmo fazendo uso de elementos contidos no Heavy Metal. Após emplacar alguns hits na fase em que o vocalista era Fish (Derek Dick), como Market Square Heroes, Assassin, Punch And Judy, Kayleigh e Lavender, e outros com o atual line-up, a banda continua remando contra os modismos atuais e tudo que possa ser considerado ‘mainstream’ e apresenta agora seu mais recente álbum, "Anoraknophobia", um trabalho coeso onde os músicos deixam fluir todas as suas influências. Steve Hogarth, que desde fevereiro de 1989 vem atacando como ‘frontman’, conta todos os detalhes na entrevista a seguir...

A banda ultimamente vem expandindo sua musicalidade sem impor limites. Sob este aspecto, você acredita que a música do Marillion não tem limites?
Steve Hogarth: Sim, esta é a verdade absoluta! Estamos trabalhando abertamente com este propósito nos últimos cinco ou seis álbuns que gravamos.

De onde vocês tiraram o título do mais recente álbum, "Anoraknophobia"?
Steve: Este foi uma idéia minha. “Anorak” é um tipo de casaco que as pessoas usam e aqui na Inglaterra também existe uma expressão popular para o tipo de pessoa que não liga para coisas que são ‘mainstream’, não anda na moda, que é chamada de “anorak”. Algumas vezes nossos fãs usam essa expressão para nos classificar, porque não somos e nunca fomos uma banda ‘mainstream’. Quando tive a idéia, pensei comigo: “o que há de errado em ser um “anorak” se também sou um deles?

Musicalmente, pude sentir no novo álbum uma vibração mais suingada em algumas partes, como na faixa "Quartz". Isto surgiu naturalmente ou vocês tinham mesmo esta intenção?
Steve: Quando começamos a escrever esta música, estávamos usamos pequenas partes sequenciadas que saíram legais e usamos como inspiração em algumas outras seqüências, como na faixa When I Meet God. Também estávamos tentando usar ‘loops’ de bateria no estúdio e isto nos deu de alguma forma esta vibração com ‘groove’ e provavelmente esta seja mesmo a primeira vez que o Marillion tenha seu lado “funk”. Acho que esta influência da música negra submergiu nestes últimos tempos, comparando à época em que entrei, em 1989, quando o Marillion era eminentemente uma banda de brancos, mais reta e certinha (risos). Como músico analiso isso como sendo uma progressão.

A faixa "Map Of The World" é uma trilha perfeita para um filme, uma música para fechar os olhos e sentir a emoção fluir. Quem a compôs e você sente o mesmo?
Steve: Para mim esta música na realidade foi um problema porque ela foi composta e gravada antes mesmo de eu ter escrito a letra, o que me deu um ‘trabalhão’. Escrevi uma vez e ela foi rejeitada (risos)! Quebrei a cabeça e fui à Barbados no final de janeiro para tirar uma férias, a convite de Nick Van Eede (N.R.: vocalista da banda Pop inglesa Cutting Crew), que está morando lá atualmente. Um dia tentei trabalhar nesta música e ele me ajudou a escrever a letra e o resultado final acabou ficando muito bom.

Como surgiu a idéia de gravar um álbum com o pequeno auxílio financeiro dos fãs que contribuíram através do site oficial da banda? Quando a EMI surgiu neste processo?
Steve: Foi muito mais do que uma pequena ajuda dos fãs. Decidimos fazer isto ano passado porque já tínhamos algum material gravado, mas não estávamos com a intenção de assinar com nenhuma gravadora. No começo, começamos a enviar e-mails para nossos fãs que estavam cadastrados em nosso mailing list perguntando sobre a possibilidade deles comprarem nosso álbum seguinte mesmo antes dele ter sido gravado. Explicamos que se eles comprassem de nossas mãos antecipadamente, nós não precisaríamos fechar contrato com nenhuma gravadora e mudaríamos radicalmente o modo de negociar o trabalho. Também alertamos que quem comprasse antes do dia 31 julho de 2000, teria o seu nome incluído na lista de agradecimentos do álbum. Bem, para encurtar a história, até o fim de julho 7 mil pessoas já tinham comprado o álbum e até o final do ano foram 12 mil. Então, como tínhamos muito dinheiro em mãos, gastamos tudo para fazer o álbum e não tivemos que assinar com nenhuma gravadora. Depois, licenciamos o álbum à EMI, mas propusemos que eles trabalhassem com o máximo de lealdade na vendagem, divulgação e trabalho de marketing do álbum. Também acertamos que eles não nos pagassem nenhum centavo para cobrir gastos com a gravação, mas que nos pagassem os direitos integrais das 12 mil primeiras cópias vendidas. Gostaria também de deixar claro que agora já não é mais viável comprar o álbum através de nosso site, somente nas lojas do mundo inteiro a partir do mês de maio.

Você prefere escrever letras mais pessoais, como em "This Strange Engine", ou gosta de temas mais fictícios?
Steve: Minhas letras são quase na totalidade de assuntos pessoais, coisas verdadeiras e muito poucas caminham pelo lado da ficção. Mas, acredito que "Map Of The World", música que você mesmo já comentou, é uma destas exceções, porque ela tem um lado mais fictício, não tem a ver comigo e nem com meus sentimentos pessoais. É uma música que serve para qualquer pessoa que quer tomar a iniciativa de mudar sua vida para melhor, mudar-se para um lugar melhor.

Como a vocês compõe? Você toca primeiro as melodias no piano de depois mostra a idéia para a banda toda?
Steve: Para nós o processo de composição é como sair de casa para ir ao escritório trabalhar. Saímos pela manhã e vamos ao estúdio diariamente, ficando horas seguidas fazendo ‘jams’, que são gravadas em MD. Fazemos isto por umas três semanas e depois paramos para ouvir o material que temos gravado nos MDs. Muitas vezes há muita porcaria e lixo no meio, mas nós jogamos fora o que ficou ruim e aproveitamos o restante do material, porque mesmo que uma frase, um tema ou uma base que seja, tenha aquele momento de inspiração, é por onde partimos para completar uma composição. Também descartamos melodias que soam repetitivas, ou melhor, aquelas que todos dizem: “já ouvi isso antes”. (risos) Não abrimos mão deste processo e é por isso que muitas vezes passamos mais de seis meses para compor um álbum. Gosto também de escrever alguns poemas quando não estou fazendo músicas, naquele momento mais intimista, de madrugada ou até mesmo quando estou dirigindo sozinho. Tenho sempre meu bloco de notas em mãos. Algumas vezes uso algumas frases destes poemas em nossas músicas. Cada um na banda tem suas particularidades e é por isso que hoje em dia não podemos prever como será nosso álbum seguinte até que ele esteja totalmente finalizado. Conheço outras bandas que usam este mesmo processo de composição, uma delas é o U2.

Vocês chegaram a passar por algum tipo de problema com os antigos fãs que não têm a mente tão aberta para aceitar que o Marillion não é somente uma banda de Rock Progressivo?
Steve: Não, nunca tivemos problemas com ninguém, somos bem sinceros e as pessoas que não gostam não devem comprar nossos álbuns. Não estamos aqui para enganar as pessoas. Todos devem ter sua própria idéia do que é bom e do que é ruim, as pessoas são livres. Este mecanismo é muito complicado, mas tem conexão com a intimidade de cada pessoa. Queremos expor nosso lado criativo e se alguém tem algum problema com isto, não ouça. Não vejo o porquê ficar preocupado com isto, da mesma forma que qualquer um que goste da música do Marillion.

Quanto ao mercado Rock Progressivo, quais os países onde o Marillion atingiu uma grande popularidade?
Steve: Não estou certo que estamos tão centrados somente neste mercado, mas do Rock em geral sim. Nossa popularidade varia de país para país, mas temos plena consciência de que temos um grande público na Holanda, México, assim como sempre fomos bem no Brasil, apesar de nunca saber ao certo quanto vendemos por aí, porque você sabe, é o Brasil (risos). Nós tocamos no “Hollywood Rock” festival em 1990 e tinham cerca de 50 mil pessoas cantando nossas músicas, mas nunca nos disseram que vendemos esta quantidade aí. Depois voltamos algumas vezes, é sempre um grande prazer tocar no Brasil e nossos fãs aí sabem o quanto eu gosto de estar em seu país.

Penso que voltar a trabalhar com a EMI/Brasil foi uma boa escolha para a banda.
Steve: Trabalhar com gravadoras independentes sempre acarretou uma série de problemas para nós em alguns países. Mas, voltar à EMI, especialmente no Brasil, um país distante do nosso, pelo menos nos dá a tranqüilidade de que eles saberão trabalhar e promover nosso trabalho de uma maneira mais eficaz.

Não sou da opinião que o Marillion é um clone do Genesis, mas você concorda que existe uma grande conexão entre ambas as bandas ao longo da carreira? Eles começaram como uma banda de Rock Progressivo e se tornaram uma banda Pop mundialmente famosa...
Steve: Você acha que viramos uma banda Pop?!

Acredito que sim.
Steve: Então você acha mesmo... Bem, esta nunca foi nossa intenção, só estávamos querendo facilitar as coisas (risos). Qualquer conexão entre Marillion e Genesis é realmente uma coincidência, você pode trabalhar paralelos porque ambas as bandas mudaram seus vocalistas originais, mas não sou Phil Collins e não toco bateria. Se fosse um baterista, aí sim poderiam surgir comparações, aliás, seriam inevitáveis e aceitáveis. Agora, para ser honesto nós nunca pensamos no Genesis e nunca me interessei tanto assim nesta banda.

Qual é a história por trás da música "Dry Land", do álbum "Holidays In Eden". É, na verdade, um cover?
Steve: É mesmo um cover de uma música minha, feita na época em que eu estava numa banda antes de me juntar ao Marillion. Nem sei posso chamá-la de cover, porque eu nunca vi ninguém fazer cover de uma música que criou (risos). O título do álbum que fiz com aquela banda foi "Dry Land" e havia a faixa-título e o produtor Cris Neil nos persuadiu a incluí-la no álbum do Marillion.

A despeito do lado melódico, mento e emocional das composições, o Marillion também costuma gravar músicas mais diretas, como o hit "Hooks In You" e "Separated Out", do novo álbum. Você concorda que é preciso criar e incluir este tipo de música nos shows?
Steve: Sim, mas este tem até sido um problema nos últimos anos, pois temos tentado criar músicas que contenham uma energia para que nos shows haja uma interatividade maior com o público. Atualmente estou louco para sair em turnê e testar as músicas novas porque também acredito que a música "Separated Out" conseguirá obter um bom resultado ao vivo.

Uma das melhores lembranças dos fãs brasileiros foi quando você deu uma de alpinista e escalou os PA's no festival "Hollywood Rock", em São Paulo. Você se lembra daquele momento?
Steve: (risos) Lógico que me lembro que escalei os PA's e foi uma coisa inesperada! Costumo fazer este tipo de coisas e como estou acostumado a escalar, pensei que aquilo seria interessante para o público. Tenho sentido que muitas bandas que tocam em festivais pelo mundo apenas sobem no palco e tocam, mas um festival de grandes proporções pede para que a postura seja um pouco diferente de quando você toca num clube ou numa casa de shows de menor porte. Gostaria muito de voltar a tocar no Brasil e queria dizer que adoramos nossos fãs brasileiros!

Entrevista publicada na edição #29 da revista ROADIE CREW (maio de 2001)

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Arquivo Entrevista: ANDREAS "GERRE" GEREMIA (Tankard)

O Tankard surgiu em 1982 na cidade de Frankfurt (ALE) e já com a primeira Demo, "Alchoholic Metal", conseguiu um contrato com a Noise Records, em 1985. No ano seguinte, Gerre Gesang (vocal), Oliver Werner (bateria), Axel Katzmann e Andy Bulgaropulos (guitarras) e Frank Thorwarth (baixo) gravaram o primeiro trabalho, "Zombie Attack". Na seqüência, lançaram "Chemical Invasion" e a boa receptividade fez com que o nome da banda subisse na cena do Thrash Metal. Nada mudou a atitude destes alemães, que sempre preferem o bom humor, "reuniões" diárias em pubs e, claro, tocar. Os anos passaram e foram soltando seus trabalhos – "The Morning After" (1988), "The Meaning Of Life" (1990), "Fat, Ugly And Live" (ao vivo, 1991), "Stone Cold Somber" (1992) e "Two Faced" (1993). Depois de uma mudança na formação, com a entrada do baterista Olaf Zissel e a saída de Katzmann, saiu o ótimo "The Tankard", álbum mais consciente e maduro. Em 1997, já pela Century Media, soltaram "Disco Destroyer", uma volta às raízes. Depois, Andy Grutjar (ex-Lightmare) foi escolhido para ocupar a vaga de Katzmann. Com este line-up, gravaram uma música comemorativa ao centenário do Eintracht Frankfurt, clube de futebol do qual torcem e também entraram no Tributo ao Accept, com a faixa "Son Of A Bitch". No ano passado soltaram "Kings Of Beer", que transmite o que é o Tankard: Thrash Metal, Punk Rock, cerveja, bom humor e ironia. Saiba um pouco mais na entrevista com o vocalista Gerre.

Você foi forçado a cancelar a turnê do "Kings Of Beer" por causa de problemas de saúde. Como você se sente atualmente, está apto para fazer shows?
Gerre: Tive muitos problemas de saúde mas agora estou melhorando. Começaremos a tocar em abril próximo, mas serão poucas apresentações. Depois, faremos alguns shows nos festivais de verão na Alemanha.

"Kings Of Beer" tem uma sonoridade típica da velha escola do Thrash Metal, com um pouco de Punk Rock e Hardcore. Como você o compararia com o 'debut', "Zombie Attack"?
Gerre: Oh, é muito difícil comparar estes dois álbuns, mas eles têm capas e títulos diferentes (risos). Acredito que em "Kings Of Beer" as raízes do Thrash Metal estão mais presentes e nos divertimos fazendo-o. Estamos totalmente dentro deste contexto musical, somente isto.

"Zombie Attack" foi lançado em 1996. Como você analisa a cena do Metal atual com aquela época?
Gerre: Acho que a cena era mais forte naqueles dias, você tinha mais lugares e estava apto a ouvir Metal. Hoje em dia nós ainda estamos tendo muitos shows e existem muitas pessoas que compram CDs de Metal. A grande diferença é que estamos mais velhos e gordos desde que começamos nos anos 80.

Por que o guitarrista Axel e o baterista Oliver deixaram a banda?
Gerre: Oliver saiu porque queria fazer outro tipo de música e Axel estava com problemas em suas mãos e não pôde mais continuar.

O Tankard nunca figurou na cena do Metal como fizeram bandas como Destruction, Sodom e Kreator. Qual foi a razão principal para que isto ocorresse?
Gerre: Você está certo, nunca alcançamos o mesmo patamar que eles na Europa ou na América, mas na Alemanha o Tankard se enquadra entre as 4 melhores bandas de Thrash Metal. Nunca fizemos uma turnê pelos Estados Unidos e talvez seja esta a razão, além do mais somos tão feios...

Você concorda que "The Tankard" é o melhor álbum da banda?
Gerre: É o melhor álbum musicalmente, mas ninguém se interessou por ele e a capa também era horrível. Mesmo assim, ainda tocamos em nossos shows algumas músicas deste álbum, como "Atomic Twilight" e "Minds on the Moon".

As letras sempre tiveram ligação com o humor ácido, ironia explícita e problemas sociais. Você acredita que este é o diferencial do Tankard em relação a outras bandas, usar o humor em suas letras?
Gerre: Sim, também acho. Sempre fomos uma banda bem humorada, nossa atitude é mesmo esta. Não nos levamos tão a sério e você pode perceber isto em suas letras ou quando fazemos nossos shows. A coisa mais importante para nós é o humor!

E quanto ao projeto Tankwart? Você tem planos para gravar outro álbum?
Gerre: No momento não temos nada planejado neste sentido. Os outros integrantes da banda preferem tocar suas próprias coisas.

Quais bandas você está ouvindo atualmente?
Gerre: Prefiro ouvir coisas mais antigas dos anos 80, como Overkill, Anvil, Exodus e também ouço bandas como Nevermore, Jag Panzer e muitas outras. Sou realmente um fã de Metal.

Como foi a gravação para o tributo ao Accept? Quem escolheu a faixa "Son Of A Bitch"?
Gerre: O período de gravações foi muito proveitoso, nos divertimos muito. Escolhemos esta música em particular porque ela era uma das que estavam deixando de lado, mas acredito que fizemos uma versão engraçada de um clássico do Metal.

O que você sabe sobre o Brasil? Existem planos para tocar e beber cervejas por aqui?
Gerre: Conheço o Carnaval e alguns jogadores de futebol que jogam na Alemanha. Ah, também sei que existem muitas mulheres bonitas e o Sepultura, é claro. Nós queremos muito ir ao Brasil para tocar e bebermos umas cervejas, mas não tivemos nenhuma oferta até o momento. Talvez você possa nos ajudar...

Entrevista publicada na edição #27 da revista ROADIE CREW (março de 2001)

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Arquivo Entrevista: MIKAEL AKERFELDT (Opeth)

A sueca Opeth vem se consolidando no cenário como uma banda única e original, mesclando a sonoridade extrema com momentos mais viajantes, extraídos do Rock Progressivo. O guitarrista/vocalista Mikael Åkerfeldt credita esta versatilidade ao gosto musical variado e a captação das influências pessoais de todos os integrantes. Após os álbuns "Orchid" (1995), "Morningrise (1996), "My Arms-Your Rose" (1998) e "Still Life" (1999), a banda acaba de lançar "Blackwater Park" (nome tirado de uma antiga banda de Rock Psicodélico dos anos 70), um trabalho que pode consolidar o Opeth na cena mundial. Mikael conta os detalhes.

Você acredita que com o novo álbum, "Blackwater Park", o Opeth poderá conquistar mais fãs pelo mundo?
Mikael Åkerfeldt: É difícil fazer uma constatação prévia do que poderá acontecer, prefiro crer que este álbum é apenas mais um capítulo na história do Opeth. Nos concentramos sempre na qualidade de nossa música e iremos nos manter assim enquanto a banda existir. Nenhuma banda conseguirá ser realmente grande se não tiver um auxílio de uma grande gravadora. Por outro lado, tudo que faz sucesso hoje em dia no cenário musical é uma merda, são bandas grandes somente porque as gravadoras estão por trás.

Desde o primeiro álbum, "Orchid", mesmo a banda fazendo um som bem extremo as partes melódicas não são deixadas de lado. Você credita isto ao seu início de carreira, quando costumava ouvir Iron Maiden?
Mikael: Talvez, era uma grande influência minha no começo e foi por causa deles que fiquei com vontade de tocar e pertencer a uma banda. Acredito que nosso primeiro álbum seja uma combinação de todos os estilos de música que ouvimos e o Iron Maiden era uma delas.

O tempo de duração das músicas desde o primeiro álbum é bem longo, algo em torno de 8 minutos. Existe alguma razão especial para que isto ocorra?
Mikael: É uma questão de gosto pessoal, todos nós preferimos músicas longas porque podemos ampliar mais nosso campo criativo. Se tocássemos um som mais curto e direto seria impossível.

Afora o novo álbum, qual obteve maior reconhecimento do público e da mídia, e qual você prefere?
Mikael: Gosto do álbum mais recente, porque é o novo, mas o "Still Life" abriu muitas portas para nós. Na verdade, todos são especiais para mim, é difícil responder. Cada álbum tem sua importância, foi uma seqüência natural que tivemos que fazer e sem isso não acredito que poderíamos ter lançado o "Blackwater Park".

Os primeiros álbuns foram gravados com o produtor Dan Swano (Edge Of Insanity), depois o "My Arms Your Rose" com Fredrik (In Flames) e o novo com Steve Wilson (Porcupine Tree). Estas mudanças na produção refletiram na sonoridade da banda?
Mikael: Não de forma efetiva. Dan nos ensinou muitas coisas quando trabalhou conosco nos dois primeiros álbuns e por isso preferimos fazer o terceiro por conta própria, no Fredman Studios com o auxílio de Fredrik, que tem muito bom gosto na escolha dos timbres, além de ser um grande produtor. Para o novo álbum não queríamos um produtor que fosse especializado somente em Metal e quando o nome de Steve Wilson surgiu achamos que seria uma boa, porque ele tem muito conhecimento na área do Rock Progressivo e nossa intenção era que o produtor conseguisse elevar nossas qualidades e torná-las ainda mais fortes e evidentes.

Sua primeira banda foi o Eruption. Havia alguma pretensão em gravar ou você tocava apenas por diversão?
Mikael: Sim, eu e Anders formamos o Eruption por volta de 1987. Basicamente era apenas por diversão, pois na verdade nem sabíamos como funcionava o mercado, mas, por outro lado, queríamos gravar, mostrar nosso trabalho, queríamos ser alguém através de nossa música.

Como Anders, seu amigo e fundador do Eruption e do Opeth, decidiu vir morar no Brasil? Ele ainda mora aqui?!
Mikael: Ele não mora mais no Brasil, agora está na Suécia. Mas, ele está trabalhando na Erikson e está tentando viabilizar algum tipo de trabalho com esta empresa no Brasil. Na verdade, está louco para ser transferido para ai. (risos)

Com o fim do Eruption, David Isberg convidou você para entrar no Opeth?
Mikael: Conheci David na época do Eruption, mas foi por causa do Skate, éramos fanáticos! Depois começamos a conversar sobre música e ele me emprestou uma Demo do Mefisto. Fiquei louco, o som era bem melhor do que muitos discos de Death Metal que eu havia comprado! Esta banda, ao lado do Morbid Angel, Death, Bathory e Voivod se tornou uma de minhas maiores influências. Ele me convidou para entrar no Opeth inicialmente para substituir o baixista, mas depois ficamos somente os dois.

Por que David saiu da banda? Vocês chegaram a gravar algo juntos?
Mikael: Ele era o vocalista original do Opeth, mas a razão principal foi que ele mesmo estava querendo ir tocar em outra banda, chamada Liers In Wait. Como eu já havia sido vocalista no Eruption, não o substituímos por outra pessoa. Não chegamos a gravar nenhum tipo de material, somente fizemos algumas composições e alguns shows.

Existe alguma razão especial na escolha da música "Circle Of The Tyrants" para o álbum tributo ao Celtic Frost?
Mikael: Fomos a última banda a ser convidada a participar deste tributo e quando vimos que ninguém tinha escolhido esta música, pensamos que um trabalho que retratasse a carreira do Celtic Frost não seria completo se não tivesse "Circle Of The Tyrants".

Você concorda que a união de partes extremas a melodias mais próximas ao Progressivo, colocam o Opeth como uma banda única?
Mikael: Concordo que somos uma banda diferente, mas fica difícil explicar o quão diferente somos. Sempre tentamos fazer algo diferente e temos influências distintas da maioria das outras bandas mais extremas e isto de alguma forma torna o nosso som mais original.

Entrevista publicada na edição #29 da revista ROADIE CREW (maio de 2001)