domingo, 14 de dezembro de 2008

Basquetebol e Metal: DeathCore Zine

Depois que conheci o Heavy Metal através do álbum "Vol 4" do Black Sabbath, que ouvia todos os dias, comecei a pesquisar onde mais poderia encontrar itens similares. Esta paixão arrebatadora mudaria minha vida.

Em mais uma coincidência do destino, o escritório de advocacia do meu pai situava-se na rua José Bonifácio, no centro de São Paulo. Lá era exatamente o endereço da famosa loja de discos Woodstock. Com isto, comecei a visitar a loja e a comprar LPs, sempre com as indicações de um funcionário do escritório do meu pai, João Carlos de Oliveira, que entendia muito de Rock pesado e me indicava várias bandas. Fiquei hipnotizado e apaixonado pelas guitarras pesadas e aquele som característico do Metal. Isso começou a ser viciante, porque queria conhecer tudo e aí passei a freqüentar a Woodstock Discos semanalmente. Alguns dos primeiros LPs que comprei foram: Judas Priest "Unleashed In The East", Judas Priest "Screaming For Vengeance", UFO "Obsession", Kiss "Dynasty", Aerosmith "Rocks", Scorpions "Virgin Killer" e Iron Maiden "Iron Maiden" importado, que tinha acabado de ser lançado.

Literatura Metal

Para aumentar meu conhecimento, comprava toda sorte de literatura ligada ao Rock que encontrava nas bancas ou livrarias. Adquiria enciclopédias, revistas, livros daqui ou publicados no exterior... Absolutamente tudo que havia com a palavra Rock estampada na capa eu ia atrás.

Cheguei ao cúmulo de fazer meu pai me levar de madrugada em uma banca de jornal - a única até então em São Paulo que funcionava 24h - que ficava próxima ao Parque do Ibirapuera só para perguntar se uma revista de música que eu queria ler havia chegado. Até na escola onde estudava, Liceu Pasteur, vez ou outra eu passava horas extras com a professora me ajudando a ler alguns artigos sobre Heavy Metal em publicações francesas. Como o colégio tinha ligação com a França eu ia com a revista Enfer nas mãos e pedia ajuda na tradução das matérias. Enquanto a professora se mostrava chocada com algumas artes das capas dos discos, com o visual das bandas, eu ficava fascinado com aquela publicação, que surgiu no mercado editorial em 1983 e sumiu tempos depois.

Também era meu costume redigir cartas para diversas publicações ou diretamente para as bandas, ainda mais depois que consegui uma foto autografada do vocalista Ronnie James Dio. Pena que nunca obtive resposta para a carta que escrevi para a Enfer na tentativa de assinar a revista. Isto anos depois foi uma grande lição para mim, pois aprendi que o tratamento e o respeito ao leitor de uma publicação tinha que ser impecável.

O sonho

Passados alguns anos lá estava eu acompanhando meu pai - que era um advogado conceituado na área do Direito Comercial - em mais uma visita a um cliente. Desta vez a reunião seria em uma gráfica que passava por dificuldades e estudava a possibilidade de entrar com pedido de Concordata Preventiva. Naquela reunião o então dono da gráfica perguntou-me o que eu mais queria fazer na vida. Respondi que queria fazer uma revista de Rock e ele me deu uma espécie de boneco e mandou rabiscar meu projeto. A capa da revista imaginária seria o Black Sabbath.

Como sempre gostei muito de escrever, especialmente sobre música, fazia resenhas de discos em agendas ou nos cadernos escolares e passei a me ver trabalhando numa revista, em uma editora ou onde quer que fosse. Estudava outras coisas e tendia para o Direito, mas a música caminhava com uma intensidade muito maior em minha vida. O Basquetebol era outra grande paixão, mas como me contundia seguidamente não foi possível seguir no esporte profissionalmente como meu pai desejava. No entanto, confesso que ainda sinto muitas saudades do E.C. Sírio, que infelizmente não disputa mais os campeonatos na categoria Adulto, e dos outros times/clubes que joguei, entre eles a ADC Pirelli, Ipê Clube e ACM/Guarujá. O CA Monte Líbano não guardo boas recordações, pois ao deixar o EC Sírio descobri rapidamente que a rivalidade entre os clubes era similar a um Palmeiras e Corinthians ou um Flamengo e Fluminense.

DeathCore Zine

Já no final dos anos 80, como não consegui espaço para trabalhar na Rock Brigade ou na mídia do Rock que havia até então, comecei a editar meu primeiro fanzine ao lado dos irmãos Caio e Conrado Tabuso, dois amigos do Basquetebol da época do Clube Paineiras do Morumby. Eu já havia jogado anos antes por lá e depois de ter sido militante passei a frequentar o clube como sócio.

No Paineiras, Conrado era um dos cestinhas da equipe do meu irmão Frederico, na qual o armador era Marco Bianchi, humorista que começou no grupo 'Os Sobrinhos do Ataíde' e hoje apresenta o 'Rock & Gol' e o 'Rockgol de Domingo' na MTV. Já Caio atuava em uma categoria inferior, num "time de boyzinhos medrosos" como ele costumava falar.

Minha fase no time Paineiras foi difícil. Colecionávamos seguidas derrotas e pela primeira vez na vida disputei o enfadonho "Torneio Consolação". Mesmo jogando com garra e tentando de tudo, literalmente aprendi a perder... O time era um dos piores, mas tive a sorte de poder conferir um festival de Metal que a Baratos Afins organizou no Paineiras, evento que teve no cast o Korzus, Performances, Viúva Negra, Ethan e Improviso.

Dentre tantas histórias no esporte, uma passagem interessante e curiosa ocorreu quando fomos jogar contra o Colégio Santo Américo. Ao final dos jogos em nossas respectivas categorias comecei a ouvir um som alto rolando a música "Black Sabbath". Pensei comigo: "Nossa, só posso estar viajando. Quase nunca ganhamos, mas quando vencemos com facilidade e eu detono em quadra minha cabeça vai tão longe que começo a ouvir Black Sabbath?! Acho que estou ficando louco". Fui tirar a prova e quando saí do vestiário me dei conta que estava mesmo sendo tocado o primeiro álbum do "Black Sabbath" em plena festa junina do Santo Américo. Aquilo foi, no mínimo, bizarro. Mas eu e os irmãos Tabuso fizemos a festa. Vencemos nossos jogos e nos divertimos na grande festa do Santo Américo ao som de Black Sabbath. Pra quem certa vez teve que jogar no C.A. Ipiranga ao som de "We Are The World" tocada mil vezes no repeat, aquilo foi realmente mágico.

Para montar o DeathCore Zine - nome que criamos pelos nossos gostos musicais e por representar o que havia de mais extremo até então - saímos em busca das novidades e fazíamos de tudo para deixar o fanzine atrativo. Caio era (é) um desenhista de mão cheia, Conrado fazia os contatos e eu cuidava da criação e da produção. A redação cabia a todos.

Como nossos contatos eram amplos no underground conseguíamos fazer entrevistas, coberturas de shows e resenhas de discos recém-lançados (alguns até em advanced-tape) e Demo-Tapes. Além disso, as vendas do fanzine nas lojas de discos eram significativas. Walcir Chalas, proprietário da Woodstock Discos - que já funcionava em novo endereço, em frente ao Metrô Anhangabaú - nos ajudava cedendo alguns lançamentos e vendia o DeathCore Zine, que se esgotava rapidamente por lá. Nunca vou me esquecer quando Walcir nos deu o Into The Pandemonium do Celtic Frost em advanced-tape. Os irmãos Tabuso ficaram chocados com a mudança na banda de Tom Warrior, mas eu fiquei hipnotizado. Eu ficava dizendo todos os dias a eles: "Não é possível que vocês não gostaram do Into The Pandemonium?". E eles respondiam: "Pra você que tá começando a curtir até Ratt e Queensrÿche deve ser normal, mas não gostamos. Não dá pra ouvir Tom Warrior 'chorando' nesse play".

Os nossos gostos estavam começando a mudar. Não sei como, mas enquanto eles tendiam ainda mais para o lado extremo e o brutal HxCx finlandês/alemão, eu seguia sendo o "Batalha/Slayer", mas dava os primeiros sinais que meu gosto musical não poderia ficar restrito apenas no lado brutal do Metal. Aquele Batalha que não comprava discos que tinham teclado, saxofone, bateria eletrônica e que teve a audácia de acusar o Possessed de "comercial" por causa da 'intro' melódica que antecede a faixa The Heretic no álbum Beyond The Gates estava ficando no passado.

A saída de todos do Paineiras do Morumby e da prática do Basquetebol, a falta de tempo, o distanciamento não forçado e a mudança no gosto musical foram alguns dos fatores que botaram ponto final no DeathCore Zine. Com o distanciamento entre os outros editores, tempos depois me uni a meu irmão Frederico e criamos o fanzine Silent Rage, dedicado somente ao cenário do Metal brasileiro. O sonho em criar uma revista continuava vivo...

Um comentário:

  1. Bem legal Batalha, essas histórias de quem viveu o inicio da cena metal na Brasil têm sempre um tom que tranporta os leitores pra época, parabêns pela coluna.

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