terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Arquivo Entrevista: THOMAS YOUNGBLOOD (Kamelot)

A banda norte-americana Kamelot, formada atualmente por Thomas Youngblood (guitarra), Roy Khan (vocal), Casey Grillo (bateria) e Glenn Barry (baixo), chega a seu 10º ano de vida com o lançamento do álbum "Karma", sexto da carreira. Formada em Tampa, Flórida (EUA) em 1991, a banda gravou os dois primeiros trabalhos, "Eternity" (1995) e "Dominion" (1996), com o vocalista Mark Vanderbilt e o baterista Richard Warner, que foram substituídos pelos atuais integrantes em 1997. Depois, a carreira começou efetivamente a deslanchar com o lançamento dos álbuns "Siége Perilous" (1998), "The Fourth Legacy" (2000) e "The Expedition" (2000, ao vivo). Após meses trabalhando no Gate Studio, em Wolfsburg (ALE), ao lado de Sascha Paeth e Miro, a banda conseguiu um resultado fantástico com o novo trabalho, "Karma", lançado pela Noise Records em conjunto com a Sanctuary, parceria que promete levar a banda a vôos mais altos. Quem nos dá os detalhes é o líder Thomas Youngblood.

"Karma" conta com uma produção superior aos outros trabalhos desde a entrada de Roy Khan. Desta vez vocês tiveram mais tempo e auxílio da parceria entre a Noise Records e o Sanctuary Group para conseguir um resultado melhor?
Thomas Youngblood: É verdade, tivemos muito mais tempo para produzir este álbum, tanto nas gravações como na mixagem. O processo de composição de todo o material demorou cerca de três meses. Ficamos dois meses na Alemanha para gravá-lo e Sascha teve duas semanas para mixá-lo. Foi muito bom porque pudemos ter um contato maior com Sascha e Miro, o que facilitou  muito na hora de gravar o álbum. Eles já tinham noção do que queríamos e nós tínhamos abertura para discutir o planejamento em estúdio. Quanto à outra pergunta, não houve nenhum tipo de diferença marcante com esta parceria porque tudo sai do escritório central da Noise na Alemanha. O que certamente será vantajoso para nós será com relação aos shows e turnês, porque teremos a oportunidade de dividir o palco com as outras bandas do grupo Sanctuary.

No álbum "The Fourth Legacy" vocês já haviam trabalhado com Sascha Paeth e Miro. Seguindo esta linha, vocês compuseram o novo trabalho pensando no que poderia ser melhorado com o auxílio deles no Gate Studio, em Wolfsburg (ALE)?
Thom: Acredito que tenha sido uma mistura de ambas as coisas. Compusemos as músicas da mesma forma que fizemos para o "The Fourth Legacy", mas algumas partes das músicas tiveram o auxílio direto de Sascha e Miro, especialmente os arranjos de cordas. Miro tem uma grande facilidade para compor temas nos teclados e arranjos orquestrados, fato que nos ajudou muito quando estávamos no estúdio, pois desta vez ele foi muito mais que um engenheiro de som.

Então Sascha e Miro tiveram liberdade para opinar sobre o que poderia ser melhorado nas composições?
Thom: Sim, toda a vez que uma idéia é boa não existe razão para simplesmente descartá-la. Eles deram o complemento que algumas músicas precisavam, quero dizer, a idéia básica estava lá e eles apenas criaram um algo mais. Em "Karma", Miro escreveu a introdução do álbum e também a melodia da faixa-título.

Vocês vivem nos Estados Unidos e Roy Khan na Noruega. Isto não dificulta o processo de composição e os ensaios para as turnês?
Thom: É difícil, mas não encontramos maneira melhor. É uma ‘ponte área’ Estados Unidos e Noruega, com parada obrigatória na Alemanha (risos). Isto funciona bem, porque temos que nos concentrar somente em nosso trabalho quando estamos juntos e as idéias vão fluindo com mais rapidez e naturalidade.

Mesmo tendo gravado o primeiro álbum somente em 1995, "Karma" marca o décimo ano de carreira da banda. Você acredita que o cenário mudou muito desde a estréia da banda?
Thom: O cenário do Heavy Metal está crescendo e quando olho para trás sinto que estes dez anos se passaram rapidamente. A carreira do Kamelot teve um grande impulso a partir do álbum Siége Perilous porque não tivemos mais trocas de integrantes. Atingimos um melhor nível nas composições e na produção dos álbuns.

Então você concorda que o Kamelot atual seja bem diferente do início, duas bandas distintas?
Thom: Não há como negar isto. Mas toda vez que componho sinto alguma similaridade com o passado, mas é certo que a banda pode ser dividida em fases distintas, antes e depois de "Siége Perilous". Sinto que as mudanças na formação foram muito importantes para o prosseguimento de nossa carreira e acho que se não tivesse acontecido não sei se estaríamos na ativa até hoje.

O Kamelot tem uma influência clássica aparente na sonoridade, mas vocês trabalham tendo o Metal como base. Você concorda que atualmente muitas bandas estão fazendo o contrário, ou seja, têm a Música Clássica como base e fogem um pouco do espírito do Heavy Metal?
Thom: Bandas como o Rhapsody usam a estrutura da Música Clássica como base. No Kamelot trabalhamos de forma diferente, a estrutura é mesmo o Heavy Metal, mas além das citações clássicas estamos abertos a vários outros tipos de elementos, como, por exemplo, da música celta. Gostamos de diversificar o estilo e você pode perceber bem isto nos álbuns "The Fourth Legacy" e "Karma".

Outra coisa que pode ser facilmente notada em "Karma" é a melhora na performance do baterista Casey Grillo. Além de estar tocando muito bem, ele escolheu um timbre melhor em comparação aos trabalhos anteriores!
Thom: Certamente, a parte de bateria ficou bem diversificada, intensa e houve uma conexão marcante com o baixo. Casey Grillo faz um trabalho fantástico tanto ao vivo como em estúdio. Desta vez ele matou suas partes em pouco tempo e com muita criatividade. Não diria que criou algo mais difícil, mas soube explorar bem os andamentos. 

Falando sobre as músicas do novo álbum, se um single for lançado, qual faixa você escolherá primeiro, "Wings Of Despair", "The Spell", "Karma" ou "The Light Shine on You"?
Thom: A melhor escolha para um single seria "Wings Of Despair" mas para o mercado americano escolheria "The Spell". Na verdade, este álbum tem umas três ou quatro músicas que caberiam perfeitamente para um single.

Qual a razão para a escolha do título "Karma"? Você acredita que cada pessoa tem um diferente carma?
Thom: Nós costumamos trabalhar com temas fantasiosos, históricos, religiosos e espirituais. Para ser honesto, o título veio de um sentimento da lei universal de que se você vive a vida de uma forma positiva, vai crescer e só terá a ganhar com isto. Não é onde a estrada termina que importa, mas sim a sua viagem até chegar ao final dela. Se fizer o bem, ele voltará a você. Se fizer o mal, acontecerá o mesmo, pois o que conta é sua intenção. Queríamos incorporar esta idéia ao álbum, que mesmo não sendo um trabalho conceitual, representa os dois lados, o bem e o mal.

Como foi a vendagem do álbum "The Expediction"? Em quais países obteve melhor resultado?
Thom: Nos Estados Unidos foi bem, se levarmos em conta que não fazemos turnês por aqui. Na Alemanha e Grécia também sei que foi bem. No Brasil não posso dizer, sei que temos muitos fãs por ai, mas as vendas são uma incógnita. Sei que temos uma grande receptividade de fãs no Brasil e que é um público crescente, mas gostaríamos mesmo de testar isto fazendo uma turnê por ai.

O que você sabe sobre o mercado brasileiro?
Thom: Toda a vez que tento saber quantos discos vendemos no Brasil ninguém sabe nos informar. Sei que existem muitos fãs de Heavy Metal porque as bandas que já tocaram por ai comentam a respeito, como por exemplo o Stratovarius e Gamma Ray. Gostaríamos de ter a mesma oportunidade.

Como foi o show no festival “Gods Of Metal” na Itália?
Thom: Foi muito legal tocar para 12 mil pessoas. O público agitou do começo ao fim do show e nos apoiou muito. Sentimos que cumprimos nosso papel e foi uma grande oportunidade para nós tocar para tanta gente. Faremos outros festivais, o “Bang Your Head” na Alemanha, o “Rock Machina” na Espanha e o “Wacken”. 

Pensei que a participação no “Wacken” tinha sido cancelada?
Thom: Faltam apenas alguns detalhes, mas diria que as chances de estarmos tocando no “Wacken” são de 99%.

Vocês planejam fazer uma turnê pelos Estados Unidos?
Thom: Fomos convidados para fazer uma turnê com o Hammerfall, mas preferimos aguardar mais um pouco porque queremos fazer uma com o nosso próprio show. Nós fizemos um show no dia 2 de junho em Tampa (EUA) com Rob Rock e a banda Section 9. Tocaremos como ‘headliners’ em Atlanta (EUA), no festival “PowerProg” em novembro.

Acredito que a banda brasileira Shaman também tocará neste festival.
Thom: Será muito bom. Conheci o Andre Matos em Wolfsburg (ALE) e ele é uma pessoa bem legal e um grande talento. Este festival contará com outras bandas muito boas legais como o Symphony X, Superior, Evergrey, Ark e Vanden Plas.

Entrevista publicada na edição #31 da revista ROADIE CREW (julho de 2001)

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Arquivo Entrevista: ALICE COOPER

O vocalista norte-americano de Detroit, Vincent Damon Furnier, 52 anos de idade, ficou mundialmente conhecido no cenário artístico musical como Alice Cooper, nome que adotou em 1967. A formação original de sua banda, que contava com Glen Buxton (já falecido, na guitarra), Neal Smith (bateria), Dennis Dunaway (baixo) e Michael Bruce (guitarra), durou até 1974, deixando grandes sucessos para a posteridade, como os álbuns "Love It To Death", "Killer", "School’s Out", "Billion Dollar Babies" e "Muscle Of Love", além das performances teatrais, chamadas de "Rock Horror Show", que viraram marca registrada da carreira da 'Tia Alice'. Depois, mesmo mudando a sonoridade, alguns trabalhos merecem destaque, como "Welcome To My Nightmare", "Constrictor", "Raise Your Fist And Yell", "Trash" e "Hey Stoopid". O mais recente lançamento, "Brutal Planet", mostra Alice Cooper em sua fase mais Heavy, com um som forte, vigoroso e bem pesado, como o próprio comenta na entrevista feita direto de Nova York (EUA) no início do mês de novembro.

Você sempre faz o oposto do que as pessoas esperam. Com "Brutal Planet" você pôde mostrar sua faceta mais obscura num som bem pesado. Você concorda que este seja o álbum mais pesado de sua extensa carreira?
Alice Cooper: Você está realmente certo quanto a isto, eu realmente gosto de tentar fazer coisas inesperadas. Este álbum vem surpreendendo muitas pessoas. Não sei se eles estavam esperando que eu fizesse uma coisa bem pomposa ou leve, mas, provavelmente este é o trabalho mais pesado que já fiz. O álbum conta uma estória fictícia sobre o que acontecerá no futuro e comecei a pensar: “e se tudo falhasse? A tecnologia, a família, a religião e a  sociedade...Onde estaríamos?” Estaríamos num “planeta brutal”, um lugar horrível onde o que manda é a lei da sobrevivência. Para falar a verdade, nós vivemos num planeta brutal, uma “bolha” e não damos a mínima para o que acontece a nosso redor, o que acontece no mundo. Sempre pensamos que tudo isto não irá nos afetar. Agora mesmo temos cerca de 65 guerras acontecendo no mundo! Não importa o motivo, mas isto é um absurdo. Depois de pensar em tudo isto, pudemos perceber que as músicas estavam sendo criadas de um modo mais forte e pesado, porque quero que as pessoas atentem para o fato de que o mundo é um lugar muito cruel. Temos que ter muito cuidado com que estamos fazendo. Quero assustar as pessoas para que possam parar para pensar um pouco mais sobre isto, por isso meus temas são sempre os mais chocantes possíveis. Você acha que as Spice Girls, Britney Spears ou os Backstreet Boys podem falar sobre isto? Não, eles falam sobre coisas açucaradas. Então, prefiro falar sobre coisas horrorosas, sejam elas fictícias ou não.

Existe alguma conexão entre a música "Take It Like A Woman" e "Only Woman Bleed"?
Alice: Certamente que sim. Quando escrevi "Only Woman Bleed", em 1975 ou 1976, era minha viagem sobre a postura feminina, uma mulher era tratada como uma cidadã secundária, por isso elas estavam bleeding, mentalmente e emocionalmente. Mas, neste novo álbum refiz o outro lado da mulher, pois elas são muito fortes, mas na América sempre dizem este chavão: 'Take it like a man!', mas por que não inverter isto e dizer 'Take it like a woman!'. A mulher sofre muito mais pressão e se estressa muito mais que o homem, mas ela não desiste tão facilmente.

Por que o personagem Steven ficou de fora de "Brutal Planet"?
Alice: Provavelmente farei um "Brutal Planet" parte 2. Ainda não posso adiantar muito, mas este é um dos meus planos. 

É verdade que um dos últimos shows com o line-up original com você, Glen Buxton, Neal Smith, Dennis Dunaway e Michael Bruce foi no Brasil, em 1974?
Alice: Em 1974 tocamos em São Paulo e foi um dos maiores shows num local fechado que já fiz em toda carreira. Até hoje falamos sobre este show, foi mesmo um acontecimento marcante para mim. Não sei se este foi o último show, mas foi um dos derradeiros com esta formação. Mesmo assim, ainda vejo os ex-integrantes, somos muito amigos até hoje. Isso não quer dizer que vamos fazer uma reunião, coisa que está até meio na moda. Além disso, alguns deles estão bem fora de forma hoje em dia, mas nossa amizade é verdadeira e duradoura.

Você trabalhou com Kip Winger no álbum "Constrictor". Como você analisaria o trabalho dele em sua banda?
Alice: Kip sempre foi uma pessoa interessante e intrigante, provavelmente um dos músicos mais criativos com quem já trabalhei, e olha que já se passaram muitos em minha banda. Acredito que ele tem talento nato, tem o ‘timing’ perfeito para as coisas e é muito versátil. Quando o Hard Rock estava em alta ele pôde mostrar todo este talento em sua própria banda.

Nos anos 80, o álbum "Trash" colocou sua banda novamente nas paradas, especialmente com a música "Poison". Como foi aquela época?
Alice: Foi uma época em que o Metal e a música Pop emergiram, com todas aquelas bandas, você sabe, Mötley Crüe e Ratt, entre outras. Todas eram bem fortes no cenário e era legal ligar o rádio e ouvir este tipo de música, mesmo porque os shows eram bem agitados e produzidos. Também acredito que eu tenha contribuído muito para o sucesso destas bandas, pois fui um dos pioneiros a fazer shows de grande porte e com todo aparato visual que podia. Na minha opinião foi uma época muito boa para o Rock'n'Roll, porque as bandas se preocupavam com sua música, o visual, a atitude e a imagem. Era tudo muito profissional e tudo funcionava, mas depois veio aquela coisa de Grunge, que já começava mal pela música, meio pra baixo. Foi um declínio musical estúpido. É óbvio que existiam exceções, mas 90% daquelas bandas eram terríveis, todas tentando ser o Nirvana, Soundgarden ou Alice In Chains. E aquelas que tentavam soar como o Pearl Jam? Eram as mais ridículas!

Com o fim da "World Trash Tour", você teve um período de férias e depois lançou outro trabalho de sucesso, "Hey Stoopid".
Alice: (interrompendo) Gosto muito deste trabalho, até mais que o "Trash".

Certo, mas você concorda que existe uma conexão musical entre ambos, pois o estilo dos dois é o Hard Rock?
Alice: Concordo em parte. Todo álbum deve ser um pouco diferente do outro e não poderia me repetir depois de "Trash", mesmo sabendo que ele havia sido um sucesso internacional. Queria uma coisa ainda mais Hard, com outro tipo de temática. Não sou daquele tipo de pessoa que diz: "se está dando certo, não mude". Comigo não é assim, isto enjoa. Imagine se eu estivesse fazendo um tipo de som igual ao meu primeiro sucesso? Seria um saco! Em todos os meus álbuns tento soar de forma diferente e é só ouvi-los para saber que falo a verdade. Cada um tem sua personalidade.

Como foi sua participação na regravação de "Jesus Christ Superstar" com a música "Hero"?
Alice: O cast original foi todo mudado e foi uma honra poder participar deste trabalho. Foi uma coisa até meio inesperada, mas gostei muito de fazer, porque me encaixei bem com o personagem desta música.

Como está sua carreira como ator?
Alice: Ah, tem um filme saindo e fiz uma pequena ponta. Não quero me firmar como ator até que faça 60 anos. Depois disto, poderei pensar melhor em trabalhar no cinema.

Você está dizendo que vai se aposentar aos 60 anos?!
Alice: Pode ser que sim, mas eu disse isto porque não acho que atuar seja uma coisa difícil para mim, mesmo porque minha postura cênica de palco já diz tudo. Mas, se alguém me oferecer um bom papel, num grande filme, não vejo nenhum problema em aceitar a proposta e atuar, mesmo não sendo uma prioridade no momento.

E o seu bar chamado "Cooper’stown", em Phoenix (EUA)?
Alice: Ainda tenho o bar. É um lugar muito legal, que foi ranqueado como o número 1 nos Estados Unidos. A temática é esta mesmo.

Você ainda organiza o torneio de Golfe chamado "Alice Cooper Celebrity AM Golf Tournament"?
Alice: Sim, é uma coisa que muitas bandas fazem agora, como o Pantera, porque eles também jogam golfe. Pode parecer até estranho, mas existem alguns músicos e artistas que são fenômenos no golfe.

Entrevista publicada na edição #25 da revista ROADIE CREW (dezembro de 2000)

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Arquivo Entrevista: THOMAS G. FISCHER (Celtic Frost, Apollyon Sun)

O suíço Thomas Gabriel Fischer retorna à cena em seu projeto experimental Apollyon Sun, apresentando uma sonoridade mecânica, sombria e recheada de samplers no recente álbum, "SUB", lançado em fevereiro. Os fãs de sua ex-banda, o Celtic Frost, já tem consciência de que o som moderno não tem qualquer ligação com agressividade dos velhos tempos. Por outro lado, os amantes da nova geração do Rock contemporâneo poderão apreciar este trabalho, que foi gravado com o auxílio dos renomados produtores Roli Mosimann (Marilyn Manson e Faith No More), John Fryer (Nine Inch Nails), além de Rod Smallwood (manager do Iron Maiden), em sua nova empreitada, a Mayan Records. Na entrevista a seguir, Tom volta a afirmar que o Celtic Frost poderá voltar a gravar em 1 ano, o que contentaria a todos que o acompanham desde 1982, quando surgiu para o cenário com a banda Hellhammer sob a alcunha de Tom "Warrior", apelido que, atualmente abomina.

Parece que você está sempre à frente do tempo, pois o Hellhammer e o Celtic Frost foram os pioneiros do Death Metal. Onde você colocaria o Apollyon Sun com relação ao futuro da música pesada? É isto o que os fãs de Heavy Metal devem esperar?
Thomas Gabriel Fischer: Pessoalmente, não posso afirmar. Estamos tentando fazer algo diferente do comum. É muito difícil verificar se funciona ou não para saber se iremos nos posicionar acima de outras bandas. Estamos livres neste trabalho e as pessoas deverão julgá-lo, isto se tiverem acesso através da mídia e das rádios. Tentamos ser modernos e diferentes, trazendo novas influências para o Metal. Quanto à outra questão, acredito que sim, pois o Heavy Metal precisa de uma constante renovação e isto vem ocorrendo. Nos anos 80, quando o Heavy Metal abrigou a energia do movimento Punk foi muito bom, porque ocorreu uma atualização em toda a cena, que trouxe mais força e agora é o momento certo para outra renovação. Não acho que o estilo deva se fechar e não absorver outras influências.  

O Apollyon Sun tem sonoridade mais mecânica, com samplers e sintetizadores. Você gravou o álbum Sub com o produtor Roli Mosimann porque ele havia trabalhado com Marilyn Manson, ou isto foi casual?
Tom: Eu já havia trabalhado com ele por volta de 1989/1990, quando produziu o álbum "Vanity/Nemesis" do Celtic Frost e, desde então, nos tornamos grandes amigos. Esta foi a causa de termos trabalhado juntos novamente, pois, é um excelente produtor e, se ele obteve êxito com bandas deste tipo, tudo se encaixou perfeitamente com nossa atual proposta. Mas, as músicas que entraram no álbum já haviam sido escritas antes de entrarmos no estúdio e ele não teve influência direta nas composições.

Qual a receptividade do público com relação ao Apollyon Sun?
Tom: Nos Estados Unidos a reação tem sido fantástica e na Europa as pessoas são mais conservadoras e a opinião está muito dividida, em torno de 50% de aceitação. Algumas pessoas estão esperando para nos ver ao vivo, analisar se somos fortes o bastante, se soamos pesados, para depois decidir se aprovam ou não a banda. Quanto à América do Norte, realmente estamos surpresos e contentes com as respostas favoráveis que estamos recebendo.

A sua autobiografia "Are You Morbid?" será lançada até o mês de julho. Você pode nos adiantar alguma passagem interessante que constará do livro?
Tom: Nossa, o livro inteiro conta com passagens interessantes, histórias de bastidores e fatos pessoais de tudo que cercou o Celtic Frost, desde o álbum "Morbid Tales". E também não é uma leitura séria, conta com várias partes bem  humoradas, retratando os momentos que passamos na estrada. Será uma oportunidade muito boa para os fãs conhecerem a personalidade das pessoas que fizeram parte da banda. E outro ponto interessante são as várias fotos inéditas que ilustrarão a obra, muitas que nos foram dadas por fãs ou mesmo de nossos arquivos pessoais, que tiramos durante as viagens. Será um pacote interessante! 

Uma jam session entre você, o baixista Martin Ain e o Sepultura ficou muito famosa no Brasil. Como se deu o convite e o que você achou de tocar "Procreation Of The Wicked "com o Sepultura, banda mais famosa do Brasil, que nunca negou ter sido influenciada pelo Celtic Frost?
Tom: Realmente, foi uma grande honra para nós, pois não sabíamos que os integrantes do Sepultura gostavam do Celtic Frost. Este fato ocorreu na Suíça, quando o Sepultura estava promovendo o álbum Roots. Nos encontramos porque éramos ligados à gravadora deles e eles nos convidaram para a jam quando voltassem à Suíça para realmente tocar. Eu e Martin obviamente concordamos e no dia do show nos encontramos para ensaiar durante a passagem de som. Eles são pessoas muito legais e acredito que nos tornamos amigos muito próximos. E na hora do show, o público enlouqueceu porque não tinham a menor idéia de que isto pudesse acontecer, nunca poderiam imaginar que Sepultura e Celtic Frost iriam dividir o mesmo palco!

Sinceramente, quando você gravou "Morbid Tales" esperava que o álbum se tornaria um marco para o Heavy Metal mundial?
Tom: Não, de jeito nenhum. Nunca imaginamos isto, e, naquela época, nem mesmo que o Celtic Frost pudesse seguir uma carreira, que foi muito além do que poderíamos ter previsto, mesmo sendo muito otimistas. Foi uma honra para nós o público ter gostado de nossa música. "Morbid Tales ""foi mesmo uma prova se iríamos seguir em frente ou não. Ninguém sabia se iria funcionar e foi muito importante ter lançado este álbum pois a gravadora pôde acreditar em nossa banda.      

O álbum "Cold Lake" apresentou uma influência direta do Hard Rock norte-americano e, por isso, os antigos fãs acusaram a banda de traidora. Mas, quando "Vanity/Nemesis" foi lançado,o som retornou ao Heavy Metal, com a marca do Celtic Frost. Qual foi o motivo em se arriscar fazendo Hard Rock em "Cold Lake"?
Tom: "Cold Lake" foi uma experiência bem radical que tentamos. Estávamos planejando fazer algo assim antes mesmo do lançamento de "Into The Pandemonium," mas muitas coisas aconteceram durante o ano de 1987, quando o "Pandemonium" foi lançado e a coisa mais significante foi que tivemos uma briga constante com a gravadora, pois lutávamos pela liberdade em nossas composições, sermos artisticamente livres e isto destruiu o Celtic Frost. Quando fizemos o "Cold Lake" a banda não era a mesma, não estava entrosada, concentrada e certa do que a cercava. Os músicos não estavam na mesma sintonia para gravar o álbum e, mesmo a idéia básica sendo boa, para nós o resultado final foi terrível. Aprendemos muito a partir disto e tudo estava muito claro para nós de que nossa força estava nas músicas mais pesadas, no Heavy Metal. Por isto, fizemos um álbum como "Vanity/Nemesis", já que nos sentíamos mais livres e desembaraçados tocando um som mais pesado, cru e próximo do estilo do Celtic Frost. Nós havíamos dito que gravaríamos um álbum mais pesado!

Por isso "Cold Lake" não foi relançado em CD?
Tom: "Cold Lake" é um álbum sem qualidade, que não elevou o nome da banda e que passamos a odiar muito!

No Apollyon Sun você está tocando com Marky Edelman, que foi baterista do Coroner (N.R.: na época, conhecido como Marquis Marky). Você se lembra da época em que produziu e gravou os vocais da primeira Demo-Tape do Coroner, "Death Cult"?
Tom: Eles trabalhavam como roadies do Celtic Frost e éramos muito amigos. Naquela época a banda estava com muitas dificuldades em encontrar um vocalista na Suíça e perguntaram se eu poderia produzir a Demo e fazer os vocais. Aceitei prontamente o convite e gostei muito de fazer parte do início da banda. Até hoje mantenho contato com os outros músicos. 

Sei que os tempos são outros e as mudanças no Heavy Metal são constantes, mas existe alguma possibilidade da volta do Celtic Frost? E, caso isto venha acontecer, qual seria o line-up?
Tom: Sim, acredito que isto possa acontecer. Estamos conversando a esse respeito e daqui a um ano, ou um ano e meio, poderemos entrar em estúdio para gravar um novo álbum do Celtic Frost, como um projeto. Nossos empresários estão sabendo de tudo e existem planos para que isto se realize. Provavelmente, o line-up seria o mesmo do Into The Pandemonium, com Martin Ain no baixo e Reed St. Mark na bateria, além de Ron Marks na guitarra.

Isto será fantástico!
Tom: Obrigado, mas é melhor esperar mais, pois estamos em negociações. Mesmo assim, sempre fiquei contente em saber que o público brasileiro gosta do meu trabalho.

Entrevista publicada na edição #21 da revista ROADIE CREW (maio de 2000)