quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Arquivo Entrevista: THOMAS G. FISCHER (Celtic Frost, Apollyon Sun)

O suíço Thomas Gabriel Fischer retorna à cena em seu projeto experimental Apollyon Sun, apresentando uma sonoridade mecânica, sombria e recheada de samplers no recente álbum, "SUB", lançado em fevereiro. Os fãs de sua ex-banda, o Celtic Frost, já tem consciência de que o som moderno não tem qualquer ligação com agressividade dos velhos tempos. Por outro lado, os amantes da nova geração do Rock contemporâneo poderão apreciar este trabalho, que foi gravado com o auxílio dos renomados produtores Roli Mosimann (Marilyn Manson e Faith No More), John Fryer (Nine Inch Nails), além de Rod Smallwood (manager do Iron Maiden), em sua nova empreitada, a Mayan Records. Na entrevista a seguir, Tom volta a afirmar que o Celtic Frost poderá voltar a gravar em 1 ano, o que contentaria a todos que o acompanham desde 1982, quando surgiu para o cenário com a banda Hellhammer sob a alcunha de Tom "Warrior", apelido que, atualmente abomina.

Parece que você está sempre à frente do tempo, pois o Hellhammer e o Celtic Frost foram os pioneiros do Death Metal. Onde você colocaria o Apollyon Sun com relação ao futuro da música pesada? É isto o que os fãs de Heavy Metal devem esperar?
Thomas Gabriel Fischer: Pessoalmente, não posso afirmar. Estamos tentando fazer algo diferente do comum. É muito difícil verificar se funciona ou não para saber se iremos nos posicionar acima de outras bandas. Estamos livres neste trabalho e as pessoas deverão julgá-lo, isto se tiverem acesso através da mídia e das rádios. Tentamos ser modernos e diferentes, trazendo novas influências para o Metal. Quanto à outra questão, acredito que sim, pois o Heavy Metal precisa de uma constante renovação e isto vem ocorrendo. Nos anos 80, quando o Heavy Metal abrigou a energia do movimento Punk foi muito bom, porque ocorreu uma atualização em toda a cena, que trouxe mais força e agora é o momento certo para outra renovação. Não acho que o estilo deva se fechar e não absorver outras influências.  

O Apollyon Sun tem sonoridade mais mecânica, com samplers e sintetizadores. Você gravou o álbum Sub com o produtor Roli Mosimann porque ele havia trabalhado com Marilyn Manson, ou isto foi casual?
Tom: Eu já havia trabalhado com ele por volta de 1989/1990, quando produziu o álbum "Vanity/Nemesis" do Celtic Frost e, desde então, nos tornamos grandes amigos. Esta foi a causa de termos trabalhado juntos novamente, pois, é um excelente produtor e, se ele obteve êxito com bandas deste tipo, tudo se encaixou perfeitamente com nossa atual proposta. Mas, as músicas que entraram no álbum já haviam sido escritas antes de entrarmos no estúdio e ele não teve influência direta nas composições.

Qual a receptividade do público com relação ao Apollyon Sun?
Tom: Nos Estados Unidos a reação tem sido fantástica e na Europa as pessoas são mais conservadoras e a opinião está muito dividida, em torno de 50% de aceitação. Algumas pessoas estão esperando para nos ver ao vivo, analisar se somos fortes o bastante, se soamos pesados, para depois decidir se aprovam ou não a banda. Quanto à América do Norte, realmente estamos surpresos e contentes com as respostas favoráveis que estamos recebendo.

A sua autobiografia "Are You Morbid?" será lançada até o mês de julho. Você pode nos adiantar alguma passagem interessante que constará do livro?
Tom: Nossa, o livro inteiro conta com passagens interessantes, histórias de bastidores e fatos pessoais de tudo que cercou o Celtic Frost, desde o álbum "Morbid Tales". E também não é uma leitura séria, conta com várias partes bem  humoradas, retratando os momentos que passamos na estrada. Será uma oportunidade muito boa para os fãs conhecerem a personalidade das pessoas que fizeram parte da banda. E outro ponto interessante são as várias fotos inéditas que ilustrarão a obra, muitas que nos foram dadas por fãs ou mesmo de nossos arquivos pessoais, que tiramos durante as viagens. Será um pacote interessante! 

Uma jam session entre você, o baixista Martin Ain e o Sepultura ficou muito famosa no Brasil. Como se deu o convite e o que você achou de tocar "Procreation Of The Wicked "com o Sepultura, banda mais famosa do Brasil, que nunca negou ter sido influenciada pelo Celtic Frost?
Tom: Realmente, foi uma grande honra para nós, pois não sabíamos que os integrantes do Sepultura gostavam do Celtic Frost. Este fato ocorreu na Suíça, quando o Sepultura estava promovendo o álbum Roots. Nos encontramos porque éramos ligados à gravadora deles e eles nos convidaram para a jam quando voltassem à Suíça para realmente tocar. Eu e Martin obviamente concordamos e no dia do show nos encontramos para ensaiar durante a passagem de som. Eles são pessoas muito legais e acredito que nos tornamos amigos muito próximos. E na hora do show, o público enlouqueceu porque não tinham a menor idéia de que isto pudesse acontecer, nunca poderiam imaginar que Sepultura e Celtic Frost iriam dividir o mesmo palco!

Sinceramente, quando você gravou "Morbid Tales" esperava que o álbum se tornaria um marco para o Heavy Metal mundial?
Tom: Não, de jeito nenhum. Nunca imaginamos isto, e, naquela época, nem mesmo que o Celtic Frost pudesse seguir uma carreira, que foi muito além do que poderíamos ter previsto, mesmo sendo muito otimistas. Foi uma honra para nós o público ter gostado de nossa música. "Morbid Tales ""foi mesmo uma prova se iríamos seguir em frente ou não. Ninguém sabia se iria funcionar e foi muito importante ter lançado este álbum pois a gravadora pôde acreditar em nossa banda.      

O álbum "Cold Lake" apresentou uma influência direta do Hard Rock norte-americano e, por isso, os antigos fãs acusaram a banda de traidora. Mas, quando "Vanity/Nemesis" foi lançado,o som retornou ao Heavy Metal, com a marca do Celtic Frost. Qual foi o motivo em se arriscar fazendo Hard Rock em "Cold Lake"?
Tom: "Cold Lake" foi uma experiência bem radical que tentamos. Estávamos planejando fazer algo assim antes mesmo do lançamento de "Into The Pandemonium," mas muitas coisas aconteceram durante o ano de 1987, quando o "Pandemonium" foi lançado e a coisa mais significante foi que tivemos uma briga constante com a gravadora, pois lutávamos pela liberdade em nossas composições, sermos artisticamente livres e isto destruiu o Celtic Frost. Quando fizemos o "Cold Lake" a banda não era a mesma, não estava entrosada, concentrada e certa do que a cercava. Os músicos não estavam na mesma sintonia para gravar o álbum e, mesmo a idéia básica sendo boa, para nós o resultado final foi terrível. Aprendemos muito a partir disto e tudo estava muito claro para nós de que nossa força estava nas músicas mais pesadas, no Heavy Metal. Por isto, fizemos um álbum como "Vanity/Nemesis", já que nos sentíamos mais livres e desembaraçados tocando um som mais pesado, cru e próximo do estilo do Celtic Frost. Nós havíamos dito que gravaríamos um álbum mais pesado!

Por isso "Cold Lake" não foi relançado em CD?
Tom: "Cold Lake" é um álbum sem qualidade, que não elevou o nome da banda e que passamos a odiar muito!

No Apollyon Sun você está tocando com Marky Edelman, que foi baterista do Coroner (N.R.: na época, conhecido como Marquis Marky). Você se lembra da época em que produziu e gravou os vocais da primeira Demo-Tape do Coroner, "Death Cult"?
Tom: Eles trabalhavam como roadies do Celtic Frost e éramos muito amigos. Naquela época a banda estava com muitas dificuldades em encontrar um vocalista na Suíça e perguntaram se eu poderia produzir a Demo e fazer os vocais. Aceitei prontamente o convite e gostei muito de fazer parte do início da banda. Até hoje mantenho contato com os outros músicos. 

Sei que os tempos são outros e as mudanças no Heavy Metal são constantes, mas existe alguma possibilidade da volta do Celtic Frost? E, caso isto venha acontecer, qual seria o line-up?
Tom: Sim, acredito que isto possa acontecer. Estamos conversando a esse respeito e daqui a um ano, ou um ano e meio, poderemos entrar em estúdio para gravar um novo álbum do Celtic Frost, como um projeto. Nossos empresários estão sabendo de tudo e existem planos para que isto se realize. Provavelmente, o line-up seria o mesmo do Into The Pandemonium, com Martin Ain no baixo e Reed St. Mark na bateria, além de Ron Marks na guitarra.

Isto será fantástico!
Tom: Obrigado, mas é melhor esperar mais, pois estamos em negociações. Mesmo assim, sempre fiquei contente em saber que o público brasileiro gosta do meu trabalho.

Entrevista publicada na edição #21 da revista ROADIE CREW (maio de 2000)

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