segunda-feira, 1 de junho de 2009

Arquivo Entrevista: SCHMIER (Destruction)

O trio alemão Destruction foi formado em 1983 por Schmier (vocal e baixo), Mike (guitarra) e Tommy (bateria) e, no ano seguinte, assinou com a SPV para a gravação do EP, "Sentence Of Death", que foi bem aceito em todo mundo. O primeiro álbum, "Infernal Overkill", saiu em 1985 e pouco tempo depois o trio se destacava como uma das maiores revelações do Thrash Metal europeu, ao lado do Kreator e do Sodom. O álbum que consolidou a posição de banda top foi "Eternal Devastation" (1986) que foi uma febre inclusive no Brasil. Mas, pouco tempo depois ocorre a primeira baixa no line-up, com a saída de Tommy para a entrada de Olly e, ainda, a inclusão de um segundo guitarrista, Harry. Com este time, a banda lançou o EP, "Mad Butcher" e, na época, chegou a tocar no Brasil. Em 1988 soltaram um álbum mais técnico, "Release From Agony", excursionando com o Motörhead pela Europa. Porém, a situação interna não andava bem e depois do lançamento do primeiro ao vivo, "Live Without Sense", ocorre a saída de Schmier. Com o auxílio do vocalista Andre (Poltergeist) é lançado o álbum "Cracked Brain", que não foi bem aceito pelos fãs. Mesmo assim, Mike e Olly decidem continuar com a banda até o final de 1991, quando anunciam o fim do Destruction. Em 1999, após uma grande demanda dos fãs para que a banda voltasse, Mike e Schmier decidem reformar o Destruction com um novo baterista, Sven. O resultado foi "All Hell Breaks Loose" (2000). Com a excelente receptividade, a banda prossegue e finalmente este ano gravou "The Antichrist", um trabalho que certamente colocará o Destruction no patamar mais alto da cena do Thrash Metal. Na entrevista a seguir, Schmier conta passo a passo a carreira da banda, o bom momento vivido pelo trio e os planos futuros, incluindo uma nova passagem pelo Brasil.

Vocês estão satisfeitos com a performance obtida com o novo álbum, "The Antichrist"?
Schmier: É claro! Sei que é uma coisa bem normal para qualquer banda gostar de seu álbum mais recente, pois todos sempre dizem que o último é o melhor. Ficamos muito contentes quando deixamos o estúdio com certeza de que tínhamos realizado um grande trabalho. Fazer um álbum é como criar um filho, você tem uma paixão especial pelo que fez e é um sentimento muito forte para nós da banda. Acho que vendo pelo lado externo, ou seja, tirando nossas próprias opiniões, o álbum está sendo muito bem falado pela mídia e o público está gostando muito. Isto mostra que estamos no caminho certo e que poderemos subir mais um degrau em nossa carreira.

A sonoridade do novo CD se aproxima muito mais do que vocês faziam nos anos 80, se comparada ao "All Hell Breaks Loose", concorda?
Schmier: Sim, concordo com isso. Tentamos esquecer os problemas que tivemos quando fizemos o "All Hell Breaks Loose". Desta vez nós mesmos buscamos a sonoridade que estávamos pensando, pois queríamos deixar bem claro para o ouvinte de onde viemos. O som das guitarras e da bateria estão bem melhores que no álbum anterior, pois soam exatamente do jeito que criamos nosso próprio estilo, é o típico Destruction! 

E o baterista Sven está tocando muito bem, com uma performance superior que no "All Hell Breaks Loose". Acredito que ele incorporou-se bem ao som de vocês e, além disso, está criando seu próprio estilo.
Schmier: Sim, ele foi desenvolvendo seu em cada show que fizemos na última turnê e por isso conseguiu uma melhor performance. Sven é jovem e precisa aprender, por isso acredito que tocar ao vivo é a melhor maneira para desenvolver o som de uma banda. Nós sentimos que depois da turnê estávamos muito entrosados e poderíamos fazer um som bem forte e coeso. Você pode ouvir no novo álbum que ele está tocando com mais desenvoltura e tanto isso é verdade que ele só levou dois dias para gravar todas as partes de bateria.

A capa do "The Antichrist" é uma nova versão do "Infernal Overkill"? Quem teve essa idéia?
Schmier: Exatamente, é o mesmo conceito, pois nós queríamos colocar o mundo explodindo e isto se identifica com o "Infernal Overkill". A idéia partiu de mim e um amigo da gravadora. Nós estávamos bebendo e conversando durante o festival "Bang Your Head", no ano passado, falando sobre como poderia ser a arte da capa. Daí veio a idéia de usar a mesma caveira do "Infernal Overkill", porque ela se tornou uma marca da banda. Quando as pessoas lembram do Destruction, automaticamente vem à cabeça o desenho da caveira que está no "Infernal Overkill". Nós também costumamos usar esta arte no cenário de palco e eu mesmo tenho uma tatuagem com este desenho. Se podemos unir a força do som da banda com uma marca que já está vinculada a nós, não existe o porquê não usá-la novamente numa capa.

Mike parece uma máquina de riffs, começando com "Thrash ‘Till Death". Você acredita que isto é uma grande prova para estas novas bandas da moda de que é impossível fazer Heavy Metal sem riffs de guitarra?
Schmier: Nós viemos de uma fase em que não existia som pesado sem riffs de guitarra e acredito que isto pode ser uma maneira de mostrar para as pessoas que o velho Thrash Metal ainda detona, especialmente para aqueles que dizem que tocamos música ultrapassada. O que fizemos em nosso novo álbum é uma mostra de que este tipo de som ainda é muito forte, poderoso e atual, mesmo estando em 2001. É claro que estas bandas de Nu Metal, sei lá, o que posso dizer disso (risos). Não gosto de Rap e é muito chato tocar guitarra colocando apenas três notas e achar que já é o suficiente. Isto nem é Metal, eles estão usando este termo para bandas como Korn e Limp Biskit, uma coisa que deve ser bem embaraçosa para as bandas que realmente criaram o estilo. Por outro lado, acredito que seja bem melhor uma criança ouvir músicas que tenham peso, mesmo que mínimo, de uma guitarra do que ficarem curtindo música Techno. A coisa mais engraçada destas novas bandas é que eles gostam de Slayer, Iron Maiden e então isto significa que eles têm um bom ‘background’, só não estão sabendo fazer música de qualidade.

Você não acha que desta vez a produção de Peter Tägtgren ficou muito melhor que no "All Hell Breaks Loose"?
Schmier: Certamente. Para o novo álbum começamos tudo do zero, mas sabíamos perfeitamente o resultado final que estávamos querendo. Nós tínhamos consciência até do que deveria ser mudado. Foi bem mais complicado fazer o "All Hell Breaks Loose", pois estávamos onze anos afastados do esquema que envolve uma gravação e, além disso, nem sabíamos direito o que estava acontecendo no cenário do Metal. Depois de 11 anos você perde muito o que antes tinha certeza de que era o mais certo, estávamos meio perdidos e por isso aceitamos várias sugestões que nos davam. Mesmo assim acho que Peter fez um bom trabalho. Desta vez foi um processo diferente, estávamos mais determinados. É muito mais fácil você discutir com o produtor sabendo onde quer chegar. Além do mais, é muito difícil você fazer o seu melhor álbum depois de tanto tempo fora da cena. Agora sim estamos contentes!

Como está indo a nova turnê? Por que vocês não se apresentaram no festival alemão “Wacken”?
Schmier: Não tocamos no “Wacken” porque iremos fazer uma longa turnê no final do ano ao lado do Kreator e do Sodom. Também acho que seria um erro tocar em todos os festivais de verão, pois as pessoas poderiam perder o interesse em nossa turnê. Por isso, este ano tocamos apenas no “With Full Force”, que também é um festival de grande porte e conta com bandas de várias tendências do Metal. No ano que vem está confirmado, nós vamos tocar no “Wacken”!

E quanto ao Brasil?
Schmier: Nós estamos querendo muito tocar novamente no Brasil na turnê do "The Antichrist". Estamos conversando muito sobre esta possibilidade e poderá tanto ser antes da turnê com o Kreator e Sodom, como depois que a finalizarmos.

Em 1999, antes da gravação do álbum de retorno, a banda tocou em vários festivais na Alemanha. Vocês fizeram isto para testar a popularidade?
Schmier: Foi exatamente isso! Nós não queríamos fazer um grande estardalhaço sobre a nossa volta e depois ver que ninguém estava interessado em nosso som. Seria uma coisa muito frustrante, por isso, fizemos vários shows para ver se teríamos uma boa resposta dos fãs. Basicamente, já no primeiro festival percebemos que muitos fãs estavam nos esperando. Quando fizemos o “Wacken” tudo foi tão intenso que ficamos com a certeza de que deveríamos seguir em frente e gravar um novo álbum, que foi o All Hell Breaks Loose. Se não fossemos bem recebidos e a resposta tivesse sido uma merda iríamos parar e o Destruction seria coisa do passado. Sorte nossa que isso não aconteceu. O melhor foi que o contato com a Nuclear Blast surgiu exatamente naquela edição do “Wacken”. Tudo se encaixou perfeitamente para podermos seguir com a banda.

Falando sobre isso, como foi a aceitação dos fãs e da mídia com o "All Hell Breaks Loose", porque acredito que o novo álbum está superando-o com uma larga vantagem?
Schmier: Está mesmo, é verdade, mas o "All Hell Breaks Loose" também foi muito bem, um grande retorno. Todos sabiam que estávamos meio tímidos ainda, mas conseguimos passar nossa energia. Foi muito bom dar o primeiro passo para entrar na cena novamente. Agora, sei que demos uma ‘corridinha’, não só um passo (risos). Mesmo assim, a música "The Bucther Strikes Back", que é do "All Hell Breaks Loose" parece ter se tornado um hino para a banda, pois não podemos mais fazer um show sem ela, assim como as antigas "Mad Bucther" e "Bestial Invasion". O mais importante para nós é saber que podemos progredir, o próximo trabalho será ainda melhor! Precisamos provar que temos força para seguir e se você faz um bom álbum e fica preso nele por muito tempo, perde sua força. Para nós foi muito bom constatar que o "The Antichrist" superou o "All Hell Breaks Loose" porque isto tem a ver com nossas convicções.

Já faz mais de um ano que o entrevistei no festival “Dynamo” na Holanda. Naquela oportunidade perguntei sobre o conceito da música "Visual Prostitution". Desde então, você acredita que alguma coisa mudou quando você assiste televisão ou é a mesma “prostituição visual”?
Schmier: Mudou muito, está ficando ainda pior! (risos) Não vejo mais televisão aberta, tenho minha TV a cabo, que pago para ver o que mais me agrada, ou seja, tenho mais de 50 canais à disposição que não passam propagandas. Fico vendo filmes ou programas educativos, como o Discovery Channel. Nada de programas de auditório com entrevistas banais, propagandas de sexo pelo telefone e outras merdas que passam. Quero manter-me informado com o que acontece no mundo, por isso assisto a noticiários. Quando estou à frente da TV quero meu momento de paz, de relaxamento, não ficar vendo barbaridades,  coisas fúteis e imbecis. Não sei se acontece o mesmo no Brasil.

É verdade, aqui temos muitas coisas parecidas.
Schmier: É uma merda ver TV para ficar irritado, bravo. Qualquer imbecil quer aparecer na TV ou qualquer vagabunda quer mostrar sua bunda na TV (risos). Deixem-me em paz!

Mudando de assunto, como Sven entrou para a banda? É verdade que ele era um antigo fã do Destruction?
Schmier: Sim, ele era um grande fã, e ainda é...Pelo menos eu acho (risos). Sven morava em nossa região e já era um jovem talento no underground local. Além do fato de ser fã, ele também era um amigo e isso facilitou as coisas. Ele entrou numa parada difícil, pois é muito jovem e não é fácil encontrar bateristas como ele na Alemanha, ainda mais para fazer Thrash Metal como o nosso.

Acredito que agora a Nuclear Blast está dando a vocês um status de ‘top band’, não é mesmo? Por que vocês deixaram a SPV?
Schmier: Sim, é verdade, o trabalho com a Nuclear Blast vem dando ótimos resultados e eles estão mostrando que se importam conosco. A Nuclear Blast dá total liberdade para nós e nos dá todo suporte necessário para mostrarmos nosso potencial. Queremos atingir todos os fãs do Destruction ao redor do mundo. Sei que existem países onde a cena do Metal não é tão grande, mas temos obrigação de dar a oportunidade para quem é fã de comprar o CD. Por isso a Nuclear Blast se dá bem e é considerada a melhor gravadora de Metal atualmente. Quanto a SPV, eles ainda nos devem muito dinheiro, tivemos problemas com eles e não quero falar sobre coisas ruins, pois tudo está indo bem agora. Não estou nada contente com os nossos CDs que eles relançaram, não vem nem com encarte e letras! Aliás eles nem nos comunicaram que iriam relançar os CDs e isso é uma atitude pobre.

Mas você acredita que a cena do Metal está ainda mais forte agora?
Schmier: Eu acho que sim, mesmo sabendo que em alguns países o Metal ainda não retomou a força que tinha antes, como nos Estados Unidos, onde as pessoas estão ouvindo a merda do Nu Metal. Lá a cena do Metal está bem no underground, mas os fãs existem, são apaixonados e fiéis. Está sendo muito bom constatar que o Metal está bem forte em muitos outros países, porque também serve como uma resposta aos que disseram anos atrás que ele estava morto. Tá bom. Isto é a maior besteira que já ouvi e que nem gostaria de ter ouvido! Falaram também que não haveria mais espaço para o Thrash Metal, mas estamos ai para provar o contrário. Você não deve aceitar tudo que lhe é imposto, pois muitas vezes pode ter algo muito sujo por trás de simples palavras. Os fãs decidem e esta é a melhor forma da cena crescer ainda mais. Você pôde ir ao “Wacken” e constatou a força do Heavy Metal, não é verdade?

Você tem razão! Agora vocês irão excursionar com o Sodom e o Kreator. Quais são suas expectativas para estes shows?
Schmier: Finalmente vamos tocar juntos! Será a primeira vez que faremos uma turnê com três headliners, iremos fazer uma composição ideal para cada local. Primeiro, será uma grande festa porque somos todos amigos e segundo, isto foi um pedido dos fãs, eles sempre desejaram ver estas três bandas juntas. Trazer-nos de volta à tona no cenário Europeu será muito bom. Talvez esta turnê ultrapasse o território europeu, vamos ver o que acontece. Ainda não temos datas agendadas fora da Europa, mas o começo será na Alemanha e Holanda. Seria muito interessante levar esta turnê para a América do Sul, mas isto não depende da banda, precisa ser acertado com os promotores de shows e ser for algo viável financeiramente, faremos com muito prazer. Se o Kreator e o Sodom não puderem ir, nós iremos! Já conversamos muito e, além do mais, chegamos a tocar recentemente no Chile, na Colômbia, mas não pudemos ir ao Brasil porque o promotor perdeu o interesse e quando outros apareceram já era tarde. Gostaria de pedir aos fãs do Destruction que deixem um recado em nosso site (www.destruction.de). Muitos têm feito isso, eles perguntam sempre porquê não tocamos no Brasil, mas posso dizer que não me esqueci dos brasileiros, gosto do seu país e o nosso show foi memorável. Voltaremos, não se preocupem!

Será uma turnê muito interessante porque o novo álbum do Kreator, "Violent Revolution", também mostra o típico Thrash Metal dos anos 80!
Schmier: É verdade e espero que o novo do Sodom venha nesta mesma linha! Eu ainda não ouvi, mas algumas pessoas me disseram que está na linha do "Agent Orange", o que é muito bom.

Algumas bandas têm mascotes, mas você considera o açougueiro “The Butcher”, mascote do Destruction?
Schmier: (risos) Sei lá, pergunte aos nossos fãs, eles transformaram o açougueiro numa figura conhecida (risos). Nunca imaginamos que ele pudesse ter tido esta conotação, não planejamos nada, mas foi uma espécie de atração mútua, os fãs gostaram da cara feia que ele tem e sempre nos perguntam sobre o “The Bucther”, parece algo como a Eddie do Iron Maiden. Acho que o “The Butcher” estará conosco até o fim.

Vocês decidiram fazer um som mais técnico a partir da aceitação do EP "Mad Butcher"?
Schmier: Não, apenas saiu daquele jeito e acho que os novos integrantes que tinham entrado na banda naquela época trouxeram novas influências ao som. Desta forma, saiu algo mais técnico. Mas, se você faz parte de uma banda, sempre que desenvolver seu lado técnico e crescer como músico, não há como negar isso. Sei que a música Reject Emotions ficou bem popular entre os nossos fãs na América do Sul. Se não a tocarmos na Europa, não há problema, mas na América do Sul não existe show do Destruction sem esta música!

E esta evolução musical teve seu ápice no álbum "Release From Agony"?
Schmier: Certamente, porque como lhe disse, tocar ao vivo dá uma maior segurança e naquela época estávamos muito entrosados e por isso não estávamos com medo de fazer algo bem mais ousado e técnico, sem brecar a força do som que a banda já tinha. Colocamos o lado técnico sem deixar para trás as raízes. Mas, acho que se você exagerar na dose poderá até ter em mãos um bom álbum, mas o som ao vivo nunca será igual e a banda perderá com isso. Não estou querendo desmerecer as bandas de Prog Metal porque para eles é fácil fazer o que fazem. Mas, se você é limitado, faça o seu som com muita energia e força, não tente complicar nada de propósito pois pode se dar muito mal. Nós compomos com o coração, não com a cabeça.

No "Release From Agony" a banda usou mais os backing vocals, como na faixa "Survive To Die", e eu senti o mesmo no "The Antichrist". Você acredita que estes coros agressivos representam uma marca do Thrash Metal?
Schmier: Sim, você está certo. Isto só foi possível agora porque Sven é também um bom vocalista e faz grandes backing vocals. Já lhe disse isso uma vez, mas se temos como fazê-lo, não vejo o porquê não tentar. Já que ficou legal, vamos usar! É simples. Se ele não conseguisse fazer os backing vocals ao vivo nós não colocaríamos no álbum.

O que aconteceu antes do lançamento do "Cracked Brain"? Por que você deixou a banda?
Schmier: Eu não deixei a banda, eles é que me abandonaram e por problemas musicais, as famosas diferenças musicais. Cada um queria fazer uma coisa diferente até que chegou a um ponto insustentável, a banda tinha que se separar e eles quiseram prosseguir sem a minha presença.

Musicalmente, qual sua opinião sobre o álbum "Cracked Brain"?
Schmier: Pelo lado musical é um álbum muito bem tocado, mas foi uma péssima fase para nós, tivemos muitas brigas e foi quando a banda se separou. Muita merda aconteceu, estávamos sem saber o que fazer e eu não participei deste trabalho. É um bom álbum, mas não é o típico Destruction.

No álbum "Eternal Devastation" você criou um estilo pessoal de cantar, mas qual o motivo de ter abandonado aqueles berros agudos, os “Schmier’s screams”, que caracterizavam a banda?
Schmier: Não parei de fazer isso, ainda faço, mas de uma forma menos intensa como anteriormente. Atualmente as linhas de voz tendem muito mais para o lado da agressividade, ainda dou meus gritos, mas de forma diferente. Não gosto de repetir sempre a mesma coisa, me dá nos nervos fazer isso. Como vocalista você deve procurar novas formas de interpretação para progredir e agora preferi colocar vozes fortes, rasgadas sem soar Hardcore ou coisa parecida. Esta mescla que faço hoje ainda caracteriza o som do Destruction.

Desde o EP "Sentence Of Death" o Destruction conta com uma grande tribo de fãs no Brasil. Quando você estava gravando este material, poderia imaginar que a música "Mad Butcher" se tornaria um dos clássicos do Thrash Metal?
Schmier: Não. Em todos os lugares que vamos tocar eles pedem essa música, mesmo se já nos viram tocar mais de 10 vezes. Estou certo de que se fizerem uma calçada da fama do Thrash Metal esta música terá seu espaço garantido entre os “Top 10”.

E deu muito trabalho gravar este EP, já que vocês não tinham tanta experiência na época?
Schmier: Me lembro muito bem. Gravamos este material num estúdio em Berlin (ALE) e quando estávamos indo para lá o Mike disse que havia esquecido de colocar cuecas na mala, pois como estávamos na correria tínhamos deixado isto para ele. O Mike iria fazer nossas malas, mas acho que ele não quis colocar a mão em cuecas e por isso as esqueceu (risos). Desta forma, tivemos que usar as mesmas todos os dias o que foi péssimo (risos). Mas, foi um período legal, nossa primeira experiência como uma banda profissional.

Antes disso, vocês tinham lançado Demo-Tapes?
Schmier: Sim, gravamos a Bestial Invasion From Hell e foi lançada 1 ano e meio antes do EP Sentence Of Death. Foi um tremendo sucesso no meio underground, vendemos mais de mil cópias do Demo em 1983 e 1984. Talvez tenha sido por causa dela que fomos contratados pela gravadora.

Sei que deve ser gratificante ser considerado uma lenda do Thrash Metal, mas você vive exclusivamente da banda?
Schmier: É muito difícil viver só de música. Vamos dizer que posso viver da música, mas não posso viver muito bem da música. Acho que me enrolei todo (risos). Dependendo do modo de vida que você quer levar não é possível. Se quer um carro do ano e um apartamento grande, não dá. Pelo menos até agora... Mas, eu sou proprietário de um restaurante e isto ajuda a pagar minhas contas. É difícil tomar conta do meu próprio negócio estando na banda, mas até agora está dando certo. Pode ser que um dia eu tenha que tomar uma decisão mais séria, ou seja, ser dono do restaurante ou continuar com a banda. Agora o Destruction está voltando a fazer sucesso e toma muito do meu tempo para outras coisas que até gostaria de fazer. Mesmo assim, é uma coisa que me dá prazer e eu gosto muito de viver fazendo música.

Atualmente o som que vocês fazem não é o mais agressivo, pois temos o brutal e extremo Death Metal, como os ‘basting beats’ da bateria. Você gosta deste estilo?
Schmier: É uma evolução do que nós começamos, mas pessoalmente o máximo que gosto é das batidas do Slayer no Reign In Blood. Não gosto muito dos ‘blasting beats’ e para mim não existe aquilo de “quanto mais rápido melhor”. Mesmo assim, admiro muito a técnica dos bateristas que conseguem tocar muito rápido porque é difícil fazer os ‘blasting beats’ e manter o tempo da música. Gosto de coisas bem rápidas, mas não de algo como o Grindcore.

Ainda falando sobre estilos, o que você acha do atual Black Metal, cheio de teclados, em comparação do som de bandas como Marduk e Immortal?
Schmier: Gosto do Immortal, é uma excelente banda de Black Metal. Destas que usam teclados nenhum está me cativando até o momento. O último do Dimmu Borgir é legal porque mantém o seu lado mais agressivo e é isto que as bandas atuais que fazem este tipo de som estão perdendo um pouco. Não gosto de teclados e quando começamos a banda costumávamos chamar de ‘gayboards’. Gosto de teclado nas bandas mais antigas, como Deep Purple e Uriah Heep, sou fã do som do Hammond, mas não de sintetizadores. Sei que eles podem ser usados como um elemento adicional para o som, mas não faz meu gênero.

Você faz coleção de armas ou é igual ao Ted Nugent, que se transforma em caçador quando não está em turnê?
Schmier: (risos) Não, nenhum dos dois. Só uso este tipo de coisa para mostrar a agressividade que o Destruction tem, ou seja, fazer com que visualizem isso antes mesmo de ouvir o som. Fazer uso de um visual condizente com o som da banda é algo que sempre deve ser um aliado. Imagine se usássemos pinturas de Black Metal ou visual de poser, quando as pessoas fossem ouvir o som ficariam até com raiva. Se você faz parte de uma banda chamada Destruction não pode fazer isso, não dá para tirarmos fotos em belas paisagens com árvores e o céu ensolarado no fundo. Acredito que o uso de armas nas fotos representa muito bem a imagem do som da banda.

Atualmente muitos músicos de diferentes bandas estão gravando álbuns com projetos paralelos. Você pretende ter o seu, ou mesmo lançar mais um álbum do Headhunter?
Schmier: Isto depende do tempo livre que você tem. Atualmente o Destruction está tomando inteiramente o meu tempo e estou muito ocupado. Talvez um dia, quando tirarmos umas longas férias, poderei pensar em gravar outro álbum do Headhunter. Ainda mantendo contato com o baterista Jörg Michael, que agora é do Stratovarius, e ele poderia gravar novamente comigo. Sei lá, agora o Destruction é a maior prioridade e não podemos deixar escapar esta grande chance de voltar a crescer.

Entrevista publicada na edição #35 da revista ROADIE CREW (novembro de 2001)

Arquivo Entrevista: CHRIS BOLTENDAHL (Grave Digger)

A banda alemã Grave Digger foi formada em novembro de 1980 e fez sua estréia com o álbum "Heavy Metal Breakdown", lançado em janeiro de 1984. Desde então conseguiu obter reconhecimento mundial, mesmo tendo passado por uma fase negra, quando adotou o nome Digger e soltou no mercado um trabalho mais acessível, "Stronger Than Ever", fazendo com que a banda cessasse as atividades por quatro anos. Desde o triunfal retorno, ocorrido em junho de 1991, o Grave Digger vem colecionando sucessos, com grandes atuações ao vivo e lançamentos marcantes. O mais recente, "The Grave Digger", marca uma nova fase após a consolidação do novo line-up, que conta com Chris Boltendahl (vocal), Manni Schmidt (guitarra, ex-Rage), Jens Becker (baixo, ex-Running Wild) e Stefan Arnold (bateria). A apresentação marcante no festival alemão “Wacken” deste ano foi gravada para um futuro lançamento em CD e DVD e será mais uma grande mostra de que esta nova formação está bem entrosada e pode levar a banda ao topo.

O novo álbum, "The Grave Digger", mescla com exatidão os riffs pesados da guitarra de Manni Schmidt com o lado melódico que a banda sempre teve, começando com a faixa "Son Of Evil"! Você acredita que Manni trouxe de volta esta agressividade e, ainda, deixou o som mais técnico?
Chris Boltendahl: Sim, acredito que com Manni pudemos absorver novas influências para o som da banda, o que é muito importante, porque após os últimos três álbuns com Uwe Lulis chegamos a um ponto de que não poderíamos mais repetir novamente a mesma coisa. Não queríamos mesmo gravar o mesmo álbum todo ano e a maneira de tocar de Manni se encaixa perfeitamente com o estilo do Grave Digger. Ele faz coisas simples, mas bem fortes e potentes.

Fiz uma entrevista com Peavy do Rage e ele me disse que Manni havia pedido para se juntar ao Rage, mas quando ele ligou Victor Smolski já tinha sido escolhido. Como Manni entrou no Grave Digger? Acredito que as duas bandas saíram ganhando!
Chris: Nossa, eu não sabia disso (risos). A entrada de Manni foi idéia de Jens e Stefan. Jens que já o conhecia e quando Uwe saiu, ele disse para tentarmos algo com Manni porque além dele estar fora da cena sabia que tocava muito bem e que poderia dar certo com o som do Grave Digger. Nós entramos em contato e ele disse que ia pensar. Manni deu-nos um prazo de dois dias e, depois disso, aceitou o convite. E você tem razão, o Rage está atualmente com um grande line-up e o Grave Digger também!

No novo álbum a sua voz está soando mais forte do que nunca e, além disso, as linhas melódicas estão mais espontâneas, como na música "The House and Silence", concorda?
Chris: Concordo plenamente, mas existe uma razão muito especial para isto: parei de fumar e beber faz dez meses e por isso minha voz está mais forte do que o normal. Não tenho mais nenhum tipo de problema para alternar a voz mais limpa com as rasgadas e potentes.

O título do álbum tem alguma relação com um amigo seu que quis nomear a banda dele de "Grave Digger"?
Chris: (risos) Não, a razão pela qual escolhemos este nome é bem mais simples. Fizemos isso porque nossa primeira fase começou com o Heavy Metal Breakdown e a segunda com o The Reaper, mas nós nunca tínhamos escrito uma música com o título de Grave Digger. Desta vez iniciamos um terceiro período de nossa carreira e decidimos usar este nome, pois a coisa mais normal para uma banda é ter uma música com o mesmo nome e por isso acreditamos que agora seria o momento ideal. Quando eu tiver com 50 ou 55 anos será a hora de parar e tenho certeza de que iriam me perguntar: “Por quê vocês nunca fizeram uma música com o nome de The Grave Digger?” (risos).

O que você achou da performance do Grave Digger no “Wacken” deste ano?
Chris: Foi inacreditável ver mais de 20 mil pessoas cantando as nossas músicas! Não há como explicar o que eu estava sentindo no palco naquele momento, mas foi muito emocionante. Tivemos uma grande interação com a platéia, parecíamos uma grande família numa festa de Heavy Metal onde o som principal era Grave Digger. Sinto-me muito feliz quando sinto que as pessoas estão cantando comigo.

E era uma família vinda do mundo inteiro...
Chris: É mesmo, por isso gostei mais ainda, porque gravamos o show para um futuro lançamento em CD e em DVD que será lançado no ano que vem. Espero que possamos passar a emoção para estes lançamentos.

Você chegou a ouvir como ficou o material gravado?
Chris: Não, mas nossos produtores já ouviram e disseram que ficou muito bom. Iniciaremos a mixagem em novembro, pois o estúdio está em reforma e eles estão trocando alguns equipamentos.

E no show vocês tocaram as músicas com muita pegada e num andamento bem rápido, concorda?
Chris: (risos) Manni colocou o seu estilo nas músicas antigas e seu jeito de tocar é um pouco diferente de Uwe, que era muito influenciado pela New Wave Of British Heavy Metal. Já Manni gosta muito dos guitarristas que tocaram com Ozzy Osbourne, como Zakk Wylde e Randy Rhoads. Depois do Excalibur fomos ao estúdio na Holanda, chamado The Graveyard, para começar a compor com Uwe. Na época chegamos a compor nove músicas, como lhe falei antes, eu tinha plena consciência de que era exatamente a mesma coisa que já havíamos criado nos três últimos trabalhos. Daí percebi que nosso trabalho não estava mais fluindo para o lado criativo, estávamos apenas nos repetindo. Tudo bem, poderiam ser músicas legais, mas era a mesma coisa de sempre. Além disso, tínhamos alguns problemas pessoais e por isso deveríamos fazer algumas mudanças. Estávamos necessitando de um guitarrista que tocasse Metal, mas que tivesse outras idéias, sem fugir do contexto musical do Grave Digger. Manni foi perfeito para que isto desse certo e quem conferir este material que vamos lançar poderá sentir o que ele fez nas músicas antigas.

Falando sobre a fase antiga, você formou a banda no final de 1980 com Peter Masson, mas somente gravaram o primeiro álbum em 1984. Naquela época era mais difícil arrumar um contrato com uma gravadora?
Chris: Não, acho que hoje em dia é bem mais difícil. Gravamos duas músicas para a coletânea Rock From Hell, da Noise Records. Durante estas gravações os executivos da Noise perguntaram se estávamos aptos a gravar um álbum inteiro com composições da banda. Nós aceitamos na hora e ficamos muito contentes com o convite.

E você se lembra como foi a aceitação do público e da mídia em relação ao "Heavy Metal Breakdown"?
Chris: Foi um grande sucesso, pois este tipo de som que fazíamos era diferente para os padrões da época, ainda mais para uma banda alemã. A única banda que fazia algo similar era o Accept, mas nossas músicas eram ainda mais simples e diretas.

O lançamento do EP "Shoot Her Down", em setembro de 1984, foi somente para o público norte-americano que ainda não tinha contato com a banda na época?
Chris: Não foi só para o mercado americano. A gravadora americana Megaforce queria lançar alguma coisa inédita da banda e por isso incluímos We Wanna Rock You e mais três faixas neste EP, single ou maxi-single, o que quer que seja. Pouco tempo depois este material também foi lançado na Alemanha. E hoje em dia este álbum é vendido por um preço absurdo. Só sendo muito rico você vai poder comprá-lo! (risos).

Para o segundo álbum, "Witch Hunter", a banda contou com uma melhor produção. Em quais pontos você acredita que a banda mostrou maturidade para criar seu próprio estilo?
Chris: O principal foi que nos arrumaram um estúdio bem melhor e mais bem equipado para podermos gravar o álbum e também para a mixagem. Quanto ao que você disse sobre crescimento, acredito que isto se deu porque nós ensaiamos muito mais para gravar o "Witch Hunter". Tivemos bastante tempo para compor as músicas e deixá-las do jeito que queríamos.

Em maio de 1985, a banda fez uma turnê pela primeira vez como headliner, tendo o Helloween como opening act. Você se recorda daquela época, quando as bandas alemãs estavam começando a criar uma cena que hoje em dia é tão numerosa e influente?
Chris: Sim, me lembro, mas naquela época era muito diferente do que ocorre atualmente. Não existiam tantas bandas alemãs e nosso mercado não era tão grande. Na época, o Running Wild, Rage e Grave Digger foram bandas que começaram a obter reconhecimento mundial depois do sucesso gigantesco do Scorpions e do Accept. A cena alemã era bem pequena e nós podíamos fazer turnês tanto como artistas principais ou como banda de abertura, pois não havia uma diferença significativa na qualidade das bandas. Só de termos a oportunidade de sair em turnê com outra banda já era um marco. Lembro de uma turnê muito legal que fizemos com o Celtic Frost e o Helloween em janeiro de 1986.

Por que você não gosta do álbum "War Games" (1986)?
Chris: Não, eu gosto do disco, ainda mais porque se você ouvi-lo mais detalhadamente encontrará muitos elementos que usamos até hoje, como os coros grandiosos e as coisas mais melódicas que incorporamos em nosso som. Eu odeio as fotos que saíram no álbum, não o som!

E naquela época como foi a turnê ao lado do Celtic Frost e Helloween? Os fãs aceitaram a nova fase da banda?
Chris: A resposta até que foi bom, o ruim foi quando lançamos o disco com o nome de Digger, Stronger Than Ever. Aquele sim foi um álbum totalmente comercial, ainda mais para os fãs do Grave Digger. Se a pessoa gostasse de um som mais leve e não nos conhecesse aceitava e gostava, mas não um velho fã da banda.

O Celtic Frost também passou por uma fase péssima quando lançou o álbum "Cold Lake".
Chris: Não tivemos os mesmos problemas, pois nossa banda terminou poucos meses depois do lançamento do álbum (risos). Na turnê que lhe falei, lembro que a única banda que tocou todas as noites foi o Grave Digger, porque em alguns shows Tom Warrior e Kai Hansen não puderam fazer porque estavam sem voz.

E foi depois desta turnê que Peter Masson deixou a banda e foi substituído por Uwe Lulis. Qual foi o motivo de sua saída? Você ainda mantém contato com Peter?
Chris: Peter queria fazer um som mais rápido e pesado, pois era fanático por Thrash Metal e nós estávamos na direção oposta naquela época, estávamos fazendo um som mais acessível. Ainda tenho contato com ele até hoje.

Exatamente três anos depois do lançamento do primeiro álbum a banda se separou. O que realmente aconteceu depois do lançamento do "Stronger Than Ever" (1986), quando vocês se chamavam apenas Digger?
Chris: A banda se separou porque nossos fãs odiaram aquele álbum. Fizemos três ou quatro shows na Alemanha e os fãs ficavam atirando capas do Witch Hunter no palco. Foi um tempo difícil, perdemos nossa identidade e estávamos mal orientados. Por isso decidimos encerrar nossas atividades. 

Quem se empenhou para que a banda voltasse à ativa em junho de 1991? Qual era o line-up da banda nesta volta?
Chris: Eu e Uwe tínhamos planejado voltar a tocar. Naquela época a cena não tinha bandas como o Grave Digger, já que era a fase dos posers, de bandas como Poison, Bon Jovi e outras. A formação da banda contava comigo, Tomi Göttlich no baixo, Uwe Lulis na guitarra e Peter na bateria.

E, mais uma vez, levou três anos desde a reunião para o contrato com a Gun Records. Neste ínterim vocês pensaram em abandonar tudo e fazer outras coisas para sobreviver?
Chris: Todos na banda sempre tiveram outras ocupações para sobreviver melhor. Temos trabalhos paralelos, foram do cenário musical. Nesta época fizemos uma série de turnês, não ficamos parados. A partir disso, sentimos que os fãs realmente estavam gostando do Grave Digger da mesma forma que aconteceu no começo de nossa carreira nos anos 80. Era uma época diferente para nós, com a abertura entre a Alemanha Ocidental e a Oriental. Muitos que eram do lado Oriental tiveram a oportunidade de ver o Grave Digger pela primeira vez na vida e foi um sucesso. Depois disso conseguimos o contrato com a Gun Records.

O álbum "The Reaper" mostrou a banda fazendo um som bem mais agressivo. Isto foi natural ou vocês já planejavam gravar desta maneira quando resolveram voltar?
Chris: Foi intencional. Queríamos mostrar que não estávamos fazendo o som da época que nos separamos, em 1986. Depois de cinco anos tínhamos que mostrar uma agressividade, que mesmo planejada anteriormente, foi tocada de forma natural. Nós estávamos mesmo bem enfurecidos e ansiosos naquela época e isto foi passado para o "The Reaper".

Em maio de 1994, o baterista Jörg Michael saiu da banda e foi para o Running Wild, sendo substituído por Frank Ullrich. Você já sabia, naquela época, que seria impossível manter Jörg na banda?
Chris: Naquela época ele trabalhava como se fosse uma puta do Heavy Metal (risos). Se você pudesse pagar o que ele pedia, iria tê-lo em seu álbum. E a quantia era muito alta para nossos padrões na época. O Running Wild aceitou a proposta e ele foi para lá.

Por ironia, logo depois desta mudança vocês fizeram uma excursão ao lado do Running Wild. Como foi esta turnê?
Chris: Sim. Foi muito engraçado, mas a relação pessoal não estava tão boa. Jörg pensava que ele estava bem melhor que nós do Grave Digger, achava que estava por cima.

Depois desta turnê, em dezembro de 1994, vocês lançaram o "Heart of Darkness".
Chris: Sim, o álbum é muito bom, mas eu não estava num bom momento em minha vida pessoal. Acho que foi nosso período mais obscuro, mas foi naquela fase que começamos a escrever temas conceituais. "Heart Of Darkness" é baseada no filme "Apocalypse Now".

O que você sente sabendo que o baterista Frank Ullrich saiu da banda para fazer música Techno? Você sabia que ele tinha esta intenção?
Chris: Sim, eu sabia (risos). Acho que ele é louco e estava fora de controle. Depois de nossos shows ele sempre ia para discotecas ouvir música Techno para dançar a noite inteira. Ele é um bom baterista, tocava muito bem, mas estava sem rumo.

No começo de 1994 vocês fizeram uma turnê pela Alemanha ao lado do Capricorn e, no final de 1995, o baterista Stefan Arnold, que era do Capricorn, se juntou ao Grave Digger. Esta amizade começou nesta turnê ou vocês já se conheciam antes?
Chris: Eu não o conhecia antes desta turnê e, mesmo quando a fizemos, não tivemos muito contato. Mas, quando Frank saiu, Tommy indicou Stefan. Foi então que me lembrei que ela do Capricorn e decidimos testá-lo. Felizmente ele se encaixou bem e ficou na banda.

Isto é bem comum no cenário do Heavy Metal. Por exemplo, o baterista James Kottak era do Kingdom Come, banda que fez uma longa turnê como opening act do Scorpions, e agora ele faz parte do Scorpions!
Chris: Sim, é bastante comum porque você tem a oportunidade de ver a banda de abertura todos os dias e se a performance de um músico lhe chama a atenção aquilo fica no seu inconsciente. É um grande teste para analisar um músico, por isso acontece com freqüência.

Muitos fãs consideram o álbum "Tunes Of War" (1996) o melhor da carreira da banda. Quando vocês decidiram escrever temas conceituais?
Chris: No começo apenas faríamos apenas três músicas com este tema sobre a história da Escócia. Depois, disse a Tommy que poderíamos desenvolver bem mais este conceito e decidimos fazer o álbum inteiro falando sobre esse tema. Depois, compusemos as músicas, escrevemos as letras e foi um sucesso. Fácil, não? (risos). Falando sério, o sucesso do álbum foi algo inesperado! A partir desta grande receptividade, decidimos fazer uma trilogia.

Nós tivemos a oportunidade de entrevistá-lo três vezes. A primeira, em maio de 1997, foi fácil porque a banda estava no Brasil com o Rage. A segunda, após o lançamento do Excalibur e agora, depois do lançamento do "The Grave Digger". É apenas uma coincidência, porque agora vocês estão na Nuclear Blast e antes eram da Gun Records? Você concorda que a Gun impossibilitou o crescimento da banda fora do território alemão?
Chris: (risos) Concordo plenamente e foi por isso mesmo que deixamos a Gun Records. Eles fizeram muita coisa para nós na Alemanha, mas para os outros países nada foi feito. Fizemos muita pressão para podermos lançar o Excalibur pela Nuclear Blast, mas nenhuma promoção foi feita. As próprias revistas buscaram seus caminhos para falar conosco, mas agora estou muito contente, pois a Nuclear Blast sabe o que deve ser feito e tem poder para isso. O mundo inteiro ouvir uma banda se a gravadora quiser que ela fique famosa e isto a Nuclear Blast sabe. É isto que o Grave Digger mais precisa no momento, temos que tirar o atraso que nos foi imposto pelo trabalho com a Gun Records.

Em junho de 1997 eu estava no backstage do festival “Gods Of Metal” em Milão (ITA) e fui falar com Tomi Göttlich, mas ele estava lendo um livro, tomando sol e não deu muita conversa. Confesso que na hora fiquei surpreso, mas logo depois fiquei sabendo que ele havia sido substituído por Jens Becker. O que aconteceu?
Chris: Esta é uma das razões. Tivemos muitos problemas com Tomi, pois na verdade ele sabe escrever, mas não é um grande baixista. Mas, este não foi o fato principal, o que aconteceu realmente foi que ele não estava com os mesmos pensamentos, sua vida era completamente diferente que a nossa. Não havia mais aquela ligação, aquele entrosamento, pois ele sempre discordava. Então, decidimos substituí-lo. Jens Becker é um baixista muito bem, uma pessoa legal. No começo nós fazíamos perguntas e ele só respondia uma frase (risos). Mas, agora somos grandes amigos, viajamos juntos nas férias e temos um bom relacionamento pessoal.

Na Europa e nos Estados Unidos fazer grandes festas de lançamento dos álbuns é uma tradição. Você poderia contar como foi a de lançamento do álbum "Knights Of The Cross", realizada em um velho castelo na Alemanha?
Chris: Sim, foi mesmo num castelo e a imprensa compareceu em massa. Todos beberam muito, pois foi um encontro regado a álcool e música pesada, no caso, a nossa (risos). Na verdade, depois que apresentamos o som aos presentes, eu estava tão bêbado que não me lembro de nada (risos). Deve ter sido muito legal, mas não consigo me lembrar. Ainda bem que não dei vexame (risos).

Quais são os planos para o futuro? Agora, com a Nuclear Blast, vocês deverão trabalhar mais...
Chris: (risos) É mesmo, estamos fazendo uma grande promoção do novo álbum e a turnê começa em novembro. Tocaremos na França, Itália e Grécia. Em janeiro será a vez da Alemanha, onde faremos cerca de 10 datas ao lado do Brainstorm e o Tierra Santa. Depois, acho que iremos para a Espanha e espero que possamos voltar ao Brasil. Recebemos muitas visitas ao nosso site de fãs brasileiros e eles fazem questão de assinar nosso guestbook. Fizemos muitas amizades quando tocamos ai e sei que agora os shows estão mais bem produzidos. Esperamos revê-los em breve.

Entrevista publicada na edição #35 da revista ROADIE CREW (novembro de 2001)