quinta-feira, 5 de junho de 2008

Arquivo Entrevista: DON DOKKEN

Dokken, uma das melhores bandas vindas do lendário circuito de clubes de Los Angeles (EUA), que lançou obras que marcaram a boa fase do Hard Rock nos anos 80, como os clássicos álbuns "Tooth And Nail", "Under Lock And Key" e "Back For The Attack". O trabalho mais recente é o ao vivo, "Live From The Sun", que sucede o aclamado "Erase The Slate". Depois de ter vendido milhões e atraído uma grande quantidade de fãs fiéis, a banda acreditou ser o momento exato para mais um álbum ao vivo. O vocalista Don Dokken conta os detalhes e curiosidades da carreira.

Primeiramente, gostaria de matar algumas curiosidades. Você cantou no álbum "Blackout" do Scorpions? O baixista Peter Baltes (ex-Accept) também fez parte do Dokken? E você ainda se lembra qual foi a primeira formação da banda?
Don Dokken: Sim! Eu participei dos backing vocals daquele álbum do Scorpions. Quanto a Peter Baltes, certo, em partes. Ele tocou em todas as faixas do álbum "Breaking The Chains" e também em meu trabalho solo como Don Dokken, "Up From The Ashes". Nossa primeira formação? Certamente me lembro. Eu no vocal e guitarra, Juan Croucier no baixo e um baterista chamado Greg Pecka, que era do Valentine. Como você sabe, Juan era o baixista do Ratt.

"Tooth And Nail" foi o álbum que fez o Dokken ampliar suas fronteiras, inclusive no Brasil. Sobre este trabalho, vocês optaram por uma sonoridade tipicamente Hard, como em "Into The Fire", mas também mostraram um lado mais Heavy, como na faixa-título. Esta era a proposta inicial da banda?
Don: Eu gosto de compor Heavy Metal com partes melódicas e acredito que foi justamente isto que nos fez de certa forma famosos. Somos uma banda de Metal como vocais melódicos.

No álbum "Under Lock And Key" a banda continuou a mixar o Hard e o Heavy. Sobre esta fase, eu vi uma declaração sua na MTV há alguns anos e você declarou com certa raiva quer não suportava o visual glam como consta da foto da capa daquele álbum. Por que a gravadora forçava a banda a usar aquele tipo de visual?
Don: Porque eles sentiam que aquele seria o único modo de conseguirmos penetração na MTV naquela época e também porque todas as bandas buscavam aquele tipo de visual. Fomos pressionados pela gravadora. É certo que tentamos seguir aquele caminho, mas não funcionou e por isso paramos. Dissemos para eles que não poderíamos continuar com aquilo e não iríamos mais seguir daquele jeito. Podíamos até ter aquele visual glam nas fotos dos álbuns mas quem nos viu ao vivo sabe que só usamos roupas pretas.

"Back For The Attack" foi outro trabalho marcante. Você e o guitarrista George Lynch eram as grandes sensações do momento. Aquele foi o álbum mais bem sucedido do Dokken?
Don: Foi o ápice de nossa carreira. O álbum vendeu 1 milhão de cópias em 21 dias e durante a turnê tocamos ao lado de bandas como Aerosmith, Judas Priest, AC/DC, Van Halen, Scorpions, Metallica, Kingdom Come. Fomos headliners por cerca de 1 ano. Foi uma fase “brutal”.

Alguns anos depois, a cena do Hard Rock começou a decair, pois o Grunge monopolizou a cena musical dos Estados Unidos. Este foi o pior momento de sua carreira?
Don: Sim. Meu álbum solo estava definitivamente fora dos padrões da época. Era um grande álbum! Agora é engraçado... A Geffen relançou-o e ele está vendendo muito bem. Acredito que eles foram ao depósito para ver se nosso último álbum ao vivo estava saindo e viram o meu álbum solo (como Don Dokken), daí tiveram a idéia de colocá-lo novamente no mercado. Estou contente com isto e garanti meu cheque dos ‘royalties’ para os últimos seis meses. Aquele álbum esteve no “Top 5” da MTV durante 1 mês. Quando a Geffen vendeu a companhia, logo depois que ele foi lançado, foi um desastre. Tudo veio na contramão, a onda Grunge e a venda da Geffen para a MCA. Foram tempos difíceis. Todos que trabalhavam na promoção daquele álbum saíram da companhia. A piada sobre isto era que o álbum estava na 5ª posição e subindo como uma bala, mas depois disto foi para a 105ª posição, descendo como uma âncora. Eu fiquei bêbado uns seis meses depois disto. Realmente estava deprimido.

Depois de um longo período houve o retorno do Dokken. Entretanto, vocês lançaram o pior álbum da carreira. Por que vocês mudaram tanto o estilo e fizeram um trabalho tão abaixo do esperado?
Don: "Shadowlife". Eu detesto aquele álbum. Não tenho nada a ver com aquele trabalho, não escrevi nenhuma das músicas. Fui excomungado. George disse se eu pisasse no estúdio ele sairia. Ele disse se eu aparecesse no Arizona ele sairia. Eles fizeram o álbum inteiro sem mim. Depois, me enviaram uma fita com as músicas e disseram para eu escrever letras. Eu não estava no estúdio, não vi nem ouvi nenhuma nota que foi gravada lá e tive sete dias para escrever letras e melodias para músicas que nunca tinha ouvido. Por isso este álbum é assim, tende somente para uma direção. Foi o fim de nossa relação com George Lynch. Nós não éramos mais uma banda. Não havia muitas faces sorridentes na turnê de "Shadowlife". George fez questão de mostrar para todos que não estava contente. Ele estava tentando me ferrar.

E quanto a "Puppets On A String"?
Don: É uma boa música, mas não estava nos planos para ser incluída no álbum. Aquela foi a última música que sobrou.

Com esta trágica mudança, a queda nas vendas foi natural.
Don: As vendas caíram e tivemos 90% das críticas negativas. A gravadora nos chamou para uma reunião e eu disse que não soltaríamos nenhum single e que nem deveríamos ter lançado aquele álbum. Foi nossa “morte”. Eu disse a George que ele havia conseguido o que queria. Quis destruir a banda e conseguiu. Este álbum é uma merda. Não queria nem meu nome naquele trabalho e impedi de usarem o mesmo logotipo dos álbuns anteriores. Foi uma álbum de George Lynch com Don Dokken nos vocais. Teria sido um bom álbum para uma ‘bandinha’ de Seattle. Se o Stone Temple Pilots fizesse um álbum no estilo do Dokken eu não o compraria.

E sobre o produtor, Kelly Gray, que hoje está no Queensrÿche?
Don: Kelly Gray. A primeira coisa que ele me falou foi: “Não sou fã do Dokken e não gosto de sua voz. Não quero que você use seu vibrato e muito menos backing vocals. Vamos esquecer e fugir dos anos 80 e nos atualizar”. E o pior foi que George estava totalmente de acordo.

Por isso vocês recrutaram Reb Beach, um excelente guitarrista que não renega o passado, como fez George Lynch?
Don: Foi exatamente isto. Não acredito que possamos reviver os anos 80, mas sim trazer de volta as influências daquela época, para ao menos tornar este estilo musical novamente popular, com guitarras pegajosas e boas melodias vocais.

Qual foi o motivo em lançar mais um álbum ao vivo, "Live From The Sun"?
Don: Uma das razões foi que o primeiro ao vivo, "The Beast From The East", foi lançado há dez anos. Muitas bandas dos anos 80 que estão de volta atualmente perderam o poder de fogo e estão se concentrando somente nos velhos hits e eu também queria que os fãs do Dokken vissem que conosco é justamente o contrário. Por isso veio o álbum ao vivo, ainda temos muita lenha para queimar!

Vocês pretendem finalmente tocar no Brasil? Por falar em shows, qual foi a turnê mais excitante e gratificante de sua carreira, visto que a banda excursionou com grandes nomes da cena do Hard Rock e Heavy Metal?
Don: Nossa turnê atual inclui Poison, Cinderella e Slaughter. Estamos esperando ir ao Brasil há muito tempo e espero poder tocar aí, quem sabe em outubro. Minha turnê favorita e que me recordo sempre foi com o Aerosmith, porque eles são pessoas muito legais, grandes músicos e muito humildes. Eles nos deram tudo que nós pedimos, luzes, PA, soundcheck e não houve nenhum tipo de egocentrismo. O Aerosmith estava promovendo o álbum "Permanent Vacation", realmente uma fase excelente.

Entrevista publicada na edição #22 da revista ROADIE CREW (julho de 2000)

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Arquivo Entrevista: RON KEEL

O vocalista e guitarrista norte-americano Ronnie Lee Keel fez sua grande estréia na cena com o Steeler, que contava com o guitarrista, então novato, Yngwie J. Malmsteen. O 'debut', Steeler (1982), se tornou um dos discos independentes mais vendidos na América. Porém, a instabilidade no line-up fez com que Ron montasse sua própria banda e assim, em março de 1984, surgiu o Keel. Com clássicos produzidos por Gene Simmons (Kiss) – The Right To Rock (1985) e The Final Frontier (1986), o Keel chegou ao topo. No início de 1987, a banda rapidamente entrou em estúdio e preparou mais um álbum, Keel, produzido por Michael Wagener (Accept, Dokken, Bonfire e outros). Após Larger Than Live (1989), a banda foi sumindo de cena e Ron buscou alternativas com projetos solos na música Country, com o Saber Tiger, o The Rat'lers e também trabalhou com as meninas do Fair Game. Em 1998, o Keel voltou a se reunir, gravando Keel VI: Back In Action e também algumas faixas para o relançamento em CD de Larger Than Live. Atualmente Ron se encontra na banda IronHorse e prepara o lançamento do segundo trabalho. Confira alguns detalhes da carreira de uma das grandes lendas dos anos 80.

Depois de tantos anos no cenário, o que você está fazendo atualmente?
Ron Keel: Estou dando continuidade às minhas aventuras com a banda IronHorse. Estamos juntos há mais de três anos e estamos desenvolvendo uma sonoridade bem legal. Além disso, ficamos muito amigos e estamos nos divertindo muito! Fizemos mais de 400 shows até agora nos Estados Unidos, já lançamos o CD de estréia de forma independente. Temos uma ligação muito forte de amizade e nos vemos quase como uma irmandade. Para mim é assim que uma banda deve ser!

Você está gravando o segundo álbum do IronHorse ou só fazendo shows?
Keel: Estamos na fase de pré-produção do segundo CD e esperamos lançá-lo até o mês de julho, se tudo der certo. O produtor que está conosco é Kevin Beamish e os fãs de Rock o conhecem, visto que ele trabalhou com bandas como o Saxon, Y&T, Michael Schenker, Cold Sweat e o próprio Keel. Além disso, Kevin também tem uma excelente reputação no meio da Música Country, por ter trabalhado como  Reba, Kenny Chesney e Clint Black. Acredito que este novo trabalho irá nos colocar definitivamente como sendo uma genuína banda americana de Rock. Tenho um grande orgulho de minha história com o Keel e o sucesso que obtivemos naquela época, mas agora eu desejo muito fazer com que o IronHorse obtenha o destaque devido e também entre para a história.

Após a gravação existem planos para uma nova turnê com o IronHorse?
Keel: Claro! Nós certamente cairemos na estrada e rodaremos a América do Norte inteira. Existe também uma boa chance de irmos para a Europa e outros países. Gostaria muito de ir para lugares que nunca estive, como a América do Sul e a Austrália. Vamos esperar para ver o que acontece, porque muitas viagens só serão possíveis se obtivermos sucesso com o novo CD do IronHorse.

Como foi trabalhar com o guitarrista Yngwie Malmsteen no início de carreira? Como vocês se conheceram e montaram a banda Steeler?
Keel: No começo dos anos 80 o Steeler era uma das bandas mais promissoras da cena do Metal de Los Angeles. As coisas não estavam indo tão bem com nosso guitarrista original, e aí Mike Varney sugeriu Yngwie, e nós o trouxemos da Suécia para que se juntasse à banda. Gravamos o primeiro álbum do Steeler, que foi a estréia de todos os músicos da banda, e trabalhamos juntos por cerca de quatro meses, fazendo a promoção do álbum e alguns shows. Yngwie e eu éramos pessoas bastante diferentes e então nos separamos. Mesmo sendo uma experiência difícil, me orgulho daquele álbum do Steeler, foi a base do Metal dos anos 80 e o álbum independente mais vendido!

É verdade que você foi convidado para ser o vocalista do Black Sabbath? Me lembro que eles escolheram outro para o posto, o David Donato...
Keel: Recentemente eu deu uma entrevista bastante detalhada para o autor do livro que conta toda a história do Black Sabbath, que será lançado em breve. Tenho receio de que apenas servirá para deixar esta lenda mais obscura. Eu gravei uma Demo numa audição para o Sabbath, passei alguns dias com Tony Iommi e Geezer Butler, mas todos eles queriam mesmo ter Ozzy de volta. Aquilo foi anunciado na MTV na época e também nas rádios e aí toda imprensa divulgou que eu seria o novo vocalista do Black Sabbath. Isto efetivamente não aconteceu e quem gravou outra Demo foi David Donato, que era mesmo um grande vocalista. O restante da história todos sabem, mas eu fiquei contente com a experiência e com a oportunidade única que tive. No final das contas, não tenho do que reclamar, porque realizeiu todos os meus sonhos com minha própria banda, o Keel!

O primeiro álbum do Keel, Lay Down The Law, já foi relançado em CD?
Keel: Ainda não, apenas saiu em vinil e K-7. Marc Ferrari já tentou viabilizar o lançamento, mas por enquanto quem quiser comprar deve recorrer à seção de usados nas lojas de discos.

Como surgiu a oportunidade de trabalhar com Gene Simmons (Kiss) como produtor do segundo álbum do Keel, The Right To Rock?
Keel: Nossa gravadora nos enviou uma relação com o nome de vários produtores de renome e eu rapidamente coloquei Gene no topo da lista (risos). Nos encontramos com ele no Beverly Hills hotel, onde o entregamos a gravação do The Right To Rock, ainda sem os vocais. Aí cantamos as linhas de voz ali mesmo, com ele em nossa frente. Depois de alguns instantes Gene apertou o botão stop do gravador, olhou para mim e disse: “Eu vou produzir este álbum”. Desde então trabalhamos com ele naquele álbum e também no seguinte, o The Final Frontier. Gene foi ótimo, tanto como produtor, mentor e como amigo. Ele me ensinou muito, ajudou nossa carreira, e me fez crescer como músico. Sempre serei grato a ele por isso!

The Right To Rock figurou no Top 100 da Billboard e a faixa-título virou um hit de imediato após o lançamento do álbum. Como foi aquela fase para o Keel?
Keel: Tudo correu às mil maravilhas! Pude fazer tudo que tinha sonhado, todas as experiências que havia imaginado desde jovem. Assinamos um bom contrato com uma gravadora grande, trabalhamos com Gene Simmons, vimos o álbum subir nas paradas, ouvimos nossa música nas estações de rádio e os vídeos na TV, fizemos excelentes shows com uma banda matadora para todos que queriam se divertir ouvindo Rock! Mulheres, fama, fortuna, uísque e tudo mais que você possa imaginar, ou seja, o melhor que poderia ter acontecido. A primeira vez é, particularmente, especial.

The Right To Rock é o álbum mais vendido da carreira do Keel?
Keel: Sim, é o mais vendido. Ele saiu em CD no Japão em 2000, mas está fora de catálogo por lá. Depois a Metal Mayhem Records relançou na América e ainda colocou a música Easier Said Than Done remixada como bônus.

Por que você considera o segundo álbum, The Final Frontier, o melhor do Keel?
Keel: Gosto daquele álbum inteiro porque foi algo muito pessoal para mim. Foi o tipo de trabalho que queria ter feito, ago que sempre desejei, pois eu finalmente obtive sucesso e liberdade para fazer o que bem entendesse. O melhor é que Gene Simmons me apoiou em 100% quando estávamos fazendo aquele álbum.

Quais as suas músicas favoritas do Keel?
Keel: As que mais gosto são Tears Of Fire e Here Today Gone Tomorrow, do The Final Frontier, porque acho que são mais fortes hoje em dia do que na época. Estas e muitas outras estão no set list dos shows do IronHorse. Também gosto de todas as do Keel e as do Larger Than Live. Mas, o mais engraçado é que minha favorita em todos os tempos é a instrumental clássica Nightfall, do The Final Frontier.

Por que a Nightfall?
Keel: Por várias razões. Quando estávamos fazendo uma turnê pelo Japão nós a tocamos ao vivo e isso me traz uma boa recordação. Também a apresentamos num acústico na MTV e ela é meio difícil de se executar e só de colocá-la em sua forma mais perfeita na MTV já foi uma vitória! Quando fazíamos turnês como banda principal a Nightfall era a primeira do ‘bis’. Nós descíamos aquelas rampas no escuro vagarosamente e aquela platéia toda ficava gritando “Keel, Keel, Keel”! Era mesmo algo emocionante e por isso tenho um sentimento especial pela música, já que quando as luzes se acendiam na seqüência vinha a No Pain No Gain e nós pulávamos aquelas rampas com tudo e levantávamos todos! Cara, aquilo era animal, nós detonávamos mesmo. Grandes lembranças!

Você chegou a trabalhar com muitas pessoas de renome na cena musical. Já falamos de Gene Simmons e Yngwie Malmsteen. E quanto aos outros músicos e produtores?
Keel: Tenho muito orgulho de ter atuado ao lado de grandes músicos como Gene e Yngwie, além dos caras do Keel, as meninas do Fair Game, Akihito Kinoshita e o Saber Tager. É claro que vou citar meus irmãos do IronHorse, o baterista Gaetano Nicolosi, o baixista Geno Arce e o guitarrista Jay Rusnak. Também sinto orgulho de ter trabalhado com produtores incríveis e talentosos, como Michael Wagener e Kevin Beamish, este último, que produziu o Rock N Roll Outlaw do Keel e está na produção do novo álbum do IronHorse.

E sobre os trabalhos fora da cena do Rock'n'Roll e do Hard Rock? Você ainda pretende trabalhar com a Música Country?
Keel: Sim, além do meu trabalho com o IronHorse eu pretendo ainda este ano lançar uma coletânea com músicas dos anos 90, que saíram em meus dois álbuns de Música Country, que terá o título de The Country Years. Também pretendo relançar o meu álbum solo Ronnie Lee Keel e o álbum do The Rat'lers. E não é só, porque tenho intenção de colocar no mercado uma outra compilação de todo meu trabalho, desde a época do Steeler até o presente momento. Isto incluiria também o Keel, Fair Game, Saber Tiger, tudo! Este ‘anthology’ está marcado para sair em setembro, para comemorar a data do 20º aniversário do do álbum do Steeler, que foi meu primeiro trabalho profissional e saiu em setembro de 1983.

Você se lembra de alguma história estranha que aconteceu na sua carreira?
Keel: Nossa, tenho milhões de histórias (risos). Vamos a uma delas. Eu tinha dezesseis anos de idade e dividia um apartamento com uns caras. Na época tocávamos numa banda chamada Touch. Estávamos completamente quebrados e sem nada na carteira até que eu por sorte achei dez centavos entre as almofadas do sofá. Bem, até então eu tinha certeza que não conseguiria fazer muita coisa com aquela quantia irrisória. Mas mesmo assim eu saí de casa no maior frio e fui a uma loja de conveniência ver o que eu podia encontrar por dez centavos. Me lembro que vi uma embalagem minúscula de batatas chips em uma loja e estava escrito que custava justamente dez centavos. Voltei para casa e tive a difícil missão de dividir aquele saquinho com os outros caras. Sentamos no assoalho e comecei a dar as batatas e acho que deu umas três para cada um (risos)! É triste, mas aconteceu! Parecia que eu estava dando as cartas de baralho: “Uma para você, uma para mim”. Aquele foi o nosso jantar (risos)!

O que você sabe sobre a cena brasileira? Por que nunca vieram tocar aqui?
Keel: Nunca fomos mas sempre quisemos tocar aí. O que sei? Bem, vi vários vídeos e fotos de shows de Rock no Brasil e é óbvio que vocês contam com um público fiel e numeroso que, antes de tudo, ama a música e sabe se divertir. Sempre recebo mensagens por e-mail de fãs brasileiros e sei que até chegamos a vender muitos álbuns por aí ao longo da minha carreira com o Keel. Por isso, gostaria de agradecer a todos que me acompanham e gostam do som que eu faço. Espero poder me encontrar com todos vocês e conhecer o Brasil em breve!

Entrevista publicada na edição #50 da revista ROADIE CREW (março de 2003)

domingo, 1 de junho de 2008

Arquivo Entrevista: K.K. DOWNING & RIPPER OWENS (Judas Priest)

Vinte e sete anos se passaram desde o lançamento de "Rocka Rolla", primeiro álbum da banda inglesa Judas Priest. Mas, o título de "Metal Gods" foi conferido tempos depois, quando foram lançados álbuns clássicos que representam com a máxima fidelidade o estilo Heavy Metal. Toda a discografia do Judas Priest merece respeito por parte dos fãs, já que quase a totalidade das composições pode ser encarada como sinônimo de Heavy Metal. E, agora, com o lançamento de "Demolition", os guitarristas K.K. Downing e Glenn Tipton, o baixista Ian Hill, o baterista Scott Travis e o vocalista Tim ‘Ripper’ Owens esperam eternizar mais algumas composições. A caminho do Brasil pela segunda vez, onde irão realizar shows no próximo mês de setembro, a banda se mostra ansiosa e, ao mesmo tempo, contente para mostrar aos brasileiros o poder de fogo do novo trabalho. Na entrevista a seguir, Kenneth Kevin ‘KK’ Downing e Tim ‘Ripper’ Owens dão uma geral em toda a carreira do Judas Priest e analisam o mais recente lançamento. Confira!

Vamos supor que um jovem compre o álbum "Demolition" (2001) e logo depois o "Rocka Rolla" (1974). Vocês acreditam que ele concordará que é a mesma banda que está tocando?
Kenneth Kevin Downing: Sei o que você está querendo dizer, mas não sei direito o que responder (risos). Bem, são quase as mesmas pessoas tocando e, obviamente, "Rocka Rolla" foi elaborado há bem mais tempo que o "Demolition". E bota tempo nisso! Passamos por uma série de mudanças tanto individualmente como com a banda desde o lançamento de "Rocka Rolla" até os dias de hoje.
Tim 'Ripper' Owens: Não tenho nenhuma dúvida de que aceitará. O jovem que comprar o "Demolition" ele vai voltar e começar a querer conhecer toda a discografia da banda. Eu fui um destes jovens na minha época! Primeiro comprei o "Screaming For Vengeance" e logo depois o "Sad Wings Of Destiny" e adorei os dois. Se um jovem for pesquisar a banda e começar a comprar toda a discografia verá toda a versatilidade e força do Priest.

Mas, analisando detalhadamente o novo álbum, as partes mais leves da faixa "In Between" têm algo do velho Judas Priest, da época do "Rocka Rolla" e "Sad Wings Of Destiny", concordam?
K.K. Downing: Sim, concordo. Neste novo trabalho você encontrará várias passagens que chegam a lembrar o que fizemos em toda nossa carreira. Não acredito que isto tenha sido feito de forma intencional, mas depois do Jugulator apenas fomos criando as composições de forma bem natural e por isso existe uma grande variedade.
Tim Owens: Foi apenas a maneira como foram criadas estas partes, mas acho que In Between é uma música com uma cara um pouco mais moderna. Nada é feito de forma intencional, é apenas o Judas Priest compondo uma música e por isso sempre haverá alguma conexão, por mínima que seja, de algo que a banda já apresentou. Na verdade, acho esta música uma das minhas preferidas do novo CD, a outra é Hell is Home.

Acredito que "Demolition" seja mesmo uma mescla do estilo de composição do "Jugulator" com o velho Priest.
K.K. Downing: Provavelmente isto saiu de nossas emoções, do que estávamos sentindo no momento, não foi uma escolha da banda. No propusemos a trabalhar da forma mais natural possível, por isso o álbum tem pegada e o som é bastante versátil. Estivemos o tempo todo no controle de nossas ações e no que estávamos compondo, pois se não tivéssemos isto, o álbum iria soar como uma compilação de grandes ‘hits’ e as músicas poderiam parecer com "Victim Of Changes", "Breaking The Law" ou "Living After Midnight". Isto seria forçado e não seria fácil de fazer, pois acredito que estas músicas são insubstituíveis.
Tim Owens: Eu também concordo, para mim remete ao estilo clássico do Priest repassado para o ano 2001. As pessoas devem entender que atualmente existem diferentes tipos de sonoridades, nova tecnologia e outros sons de guitarra, entre outros fatores. O Priest sempre quis evoluir e acredito que daqui a algum tempo poderão existir músicas do "Demolition" que se tornarão clássicos da banda.

Por que vocês incluíram no "Demolition" músicas mais leves, como "Lost And Found" e "Close To You", que são muito boas mas bem diferentes do estilo adotado no "Jugulator"?
K.K. Downing: Acredito que seja porque o Judas Priest está sempre aberto a mudanças a cada trabalho que lançamos. Quando gravamos "Point Of Entry" as pessoas disseram que havíamos mudado e o mesmo ocorreu quando lançamos o "Turbo", "Painkiller" e o "Jugulator". O Judas Priest não é como o Status Quo ou o AC/DC, que mantém sempre a mesma linha, nós gostamos de fazer mais experimentações. Se isto é bom ou ruim, somente os nossos fãs devem tirar as suas próprias conclusões. E, obviamente, acho AC/DC e Status Quo grandes bandas de Rock.
Tim Owens: É uma progressão natural. Primeiro de tudo, depois do "Jugulator" queríamos fazer algo que mostrasse um pouco mais de melodia, não no álbum inteiro, mas em algumas partes e também provar para as pessoas que eu não sou um cara que só sei cantar de forma diabólica o tempo inteiro. Gostei muito destas músicas e me remetem aos bons tempos de "Here Comes The Tears", "Before The Dawn" e "Last Rose Of Summer".

No site judaspriest.com existe uma seção onde os fãs escolhem suas músicas preferidas do "Demolition" e as faixas "Metal Messiah" e "Subterfuge" até o momento estão na liderança (N.R.: até 23 de julho). A preferência dos fãs está realmente certa?
K.K. Downing: Também gosto muito da "Metal Messiah" porque é bem diferente do usual. É difícil analisar porque o álbum como um todo é também uma grande novidade para todos da banda e estamos com certeza curtindo este momento. Por isso é mais complicado tecer críticas ao nosso próprio trabalho.
Tim Owens: Eles sempre estão certos, mas as minhas músicas preferidas são "Lost And Found", "In Between" e "Hell is Home".

Chegamos a ler na Internet rumores de que a primeira pré-produção do "Demolition" foi recusada pela gravadora. Isto é verdade?
K.K. Downing: Não isto não é verdade, não tem o menor fundamento. Logo na entrada do nosso site oficial existe uma advertência falando exatamente isto. Nós mesmos cuidamos do que sai em nossa home-page e todos devem confiar apenas no que está escrito lá.
Tim Owens: Não, a gravadora nunca faria isto. Estes rumores sempre atrapalham, mas acredito que foi porque anunciamos o lançamento bem antes de finalizar o álbum. Trabalhamos duro em cima do "Demolition", demorou muito para ficar pronto e tivemos um tempo de folga no meio das gravações. Todos nós temos nossas famílias e isto, quer você queira ou não, influi de alguma forma, todos tem problemas particulares que não podem ser deixados de lado, principalmente no âmbito familiar. Mas, quero deixar claro que nada foi recusado pela gravadora, seja no Japão ou nos Estados Unidos.

Tim, quando você foi gravar o "Jugulator" todas as músicas estavam prontas, mas agora no "Demolition" você pôde participar de forma mais ativa no processo de composição? Quais novos elementos você incorporou ao som do Judas Priest?
Tim Owens: Sim, eu até poderia, mas ainda é um processo muito demorado até que eu me envolva mais diretamente com o processo de composição. Esta é uma das coisas que deverá acontecer com o passar do tempo, de forma lenta. A melhor coisa que aconteceu para mim neste novo álbum é que ele foi escrito para que eu colocasse a minha voz e este já é um grande diferencial. Tenho plena consciência do passado de meus companheiros de banda e respeito muito isto. Adoro o "Jugulator" mas ele foi escrito para que outra colocasse a voz e no "Demolition" tudo foi preparado para que eu desenvolvesse ainda mais o meu potencial como vocalista e me deixou mais à vontade. Quanto à outra pergunta, tenho certeza de que a alta qualidade musical do Priest sempre estará forte e presente, mas acredito que injetei um pouco mais de juventude e agressividade ao som.

Mas você concorda que "Metal Messiah", "Subterfuge" e algumas partes de outras músicas têm influências do Metal norte-americano, algo como Rob Zombie?
Tim Owens: Sempre existirá uma coisa que vai influenciar a outra. Gosto de bandas mais atuais, mas se temos em mãos alguma coisa legal não vejo a razão de deixar de lado, principalmente um riff de guitarra. Sei o que você estava querendo dizer com a pergunta e concordo que existem partes que soam mais modernas. Gosto muito da "Subterfuge".

Na música Metal Messiah existem toques de música Indiana. Por que vocês resolveram usar estes elementos?
Tim Owens: Existe um restaurante indiano em Londres, onde gravamos o álbum e sempre ficávamos ouvindo aquela música ambiente da Índia, mas não sei como isto foi incorporado ao som, apenas saiu assim. Muitas vezes quando você compõe ou encaixa as letras é muito difícil descrever com detalhes o que estava passando em nossa cabeça naquele exato momento.

E existe alguma razão especial por terem escolhido "Machine Man" como o primeiro single?
Tim Owens: A gravadora escolheu, mas não discordamos. Eles queriam "Machine Man", tudo bem. Se eu fosse escolher, provavelmente pegaria outra faixa. A SPV é uma grande gravadora, conta com funcionários competentes e eles sabem o que estão fazendo.

"Machine Man"      é um personagem especial, assim como tivemos o "Jugulator” e o "Painkiller"?
Tim Owens: Acho que sim! Tudo que estiver em cima de uma moto, um personagem, uma criatura fictícia e que corre até a morte, sempre vence. Vejo  “Machine Man” exatamente como “Jugulator” e também como um “Metal God”.

Falando como fã do Priest, você acredita que "Machine Man" tem algo que lembra o álbum "Ram It Down"?
Tim Owens: Não tenho tanta certeza assim, pois para mim parece mais com a música "Exciter" do "Stained Class", aquele toque especial da bateria.

E você buscou algum tipo de inspiração na música Folk da Europa para cantar a faixa "Jekyll & Hyde"?
Tim Owens: Não, nunca ouvi isso! (risos) Somente saiu assim, queria tentar passar a emoção certa para uma música que retrata uma pessoa com duas diferentes personalidades.

Também acho que este tema sobre Dr. Jekyll e Mr. Hyde é bem interessante.
Tim Owens: Não há dúvida quanto a isso, é a mesma coisa que aconteceu com The Ripper.

Vocês tocarão no Brasil no próximo mês de setembro. Os shows terão algo de especial, já que vocês não vêm para cá desde 1991?
K.K. Downing: Sim, será especial, porque quando tocamos pela primeira vez foi um grande festival e tivemos uma série de restrições impostas pela banda 'headliner' (N.R.: Guns N'Roses). Eles nos impediram de usar todo o equipamento de palco que estava disponível. Com certeza, desta vez, poderemos dar aos fãs um show completo do Judas Priest. Estamos ansiosos para voltar a tocar no Brasil.
Tim Owens: Será uma versão aumentada do show completo da turnê do "Jugulator". É um grande show... Um show do Judas... (risos) Vocês poderão cantar e participar intensamente. Os fãs do Judas são bastante fiéis e vocês tem que saber que estamos bastante ansiosos para tocar no Brasil. Eu nunca fui para o seu país e por isso lhes daremos o melhor show do Judas, algo que irão se lembrar para sempre.

No último mês de janeiro Rob Halford tocou aqui novamente na terceira edição do "Rock In Rio" e o público cantou a música "Breaking The Law" inteira sem deixá-lo cantar nenhuma palavra sequer. Eu estava lá e foi algo realmente emocionante. Você espera que os fãs tenham a mesma reação quando vocês vierem para cá em setembro?
K.K. Downing: Certamente, se Rob Halford sozinho obteve esta recepção calorosa, não vejo o porquê o Judas Priest não consiga o mesmo. 

Você tem mantido contato com Rob Halford?
K.K. Downing: Falei com ele, mas isto já faz alguns meses.

Tim, como um fã de Rob Halford, chegou a escutar o álbum "Resurrection" e o ao vivo "Live Insurrection"?
Tim Owens: Ainda não ouvi o álbum ao vivo, mas cheguei a escutar algumas músicas do "Resurrection". É um bom álbum e se ele está de volta ao Metal, melhor ainda!

K.K., quais são suas grandes lembranças do Brasil e do festival "Rock In Rio"? Aqui, o álbum "Painkiller" se tornou uma febre e para muitos é o melhor da carreira do Priest.
K.K. Downing: Me lembro de momentos incríveis que passei no Rio, nunca mais vou me esquecer, mas tenho uma grande esperança de que possamos levar as mesmas lembranças agora que iremos novamente para o Brasil. Quanto ao "Painkiller", a receptividade dos fãs foi maior do que esperávamos. Estávamos muito animados quando o gravamos. Fizemos uma audição especial antes do lançamento e todos aprovaram-no. Cada trabalho tem seu ‘timing’ e o momento certo de ser lançado e se você consegue acertar isto o álbum emplaca e se ocorrer o contrário você ficar perdido. Existem vários fatores para que um álbum obtenha sucesso, você pode acertar uma música que vira hino, ter uma belíssima capa, letras bem escritas. Naquela época do "Painkiller", a Guerra do Golfo estava explodindo e aquele foi o ‘timing’ certo para que o álbum tivesse um grande impacto. O tempo também irá dizer se o álbum se tornará um clássico e me lembro de que no início daquela turnê tocávamos cinco músicas do "Painkiller" nos shows e após alguns meses passamos a tocar apenas duas, porque as pessoas insistiam que queriam ouvir coisas mais antigas. Cada coisa tem seu tempo (risos).

Sei que é muito difícil criar o set list para um show do Judas Priest...
K.K. Downing: (interrompendo) Difícil não, é impossível...

É verdade, mas vocês têm intenção de tocar algum dia músicas não tão clássicas, como "Starbreaker", "Better By You Better Than Me", "Saints In Hell", "Steeler", "Hot Rockin'", "Eat Me Alive", "Night Comes Down", "Locked In", "Heavy Metal" e "Blood Red Skies"?
K.K. Downing: Ufa! (risos) Obviamente é muito fácil para nós voltar a tocar músicas mais antigas e colocá-las no set list dos shows. Atualmente estamos tocando "United" e "Heading Out To The Highway", músicas que não apresentávamos ao público há algum tempo. Mas, os fãs sempre vão querer ouvir músicas como "Metal Gods", "Victim Of Changes", "You’ve Got Another Thing Coming" e lógico que temos que tocar coisas do novo álbum. É difícil, mas estamos contentes em poder trazer de volta as coisas mais antigas. Provavelmente tocaremos... (N.R.: K.K. dá uma pausa e começa a pensar). Existem tantas que colocamos em pauta que acabo até me esquecendo (risos). Bem, acho que vamos tocar "Exciter" e mais algumas outras.

Quais músicas do "Demolition" e do "Jugulator" estão no set list dos shows?
Tim Owens: No momento estamos incluindo "Machine Man" e "One On One" do "Demolition", mas agora iremos adicionar outras, pois o álbum nem foi lançado. Do "Jugulator", tocamos "Blood Stained" e "Burn In Hell", mas também colocaremos mais para os próximos shows.

Depois do Brasil vocês farão uma turnê pelos EUA com o Anthrax?
K.K. Downing: Sim, estes são os planos até o momento. A turnê já está agendada e será com o Anthrax e outra banda convidada. Acredito que faremos 22 datas.
Tim Owens: Estou muito ansioso por esta turnê porque adoro o Anthrax! Fazer uma turnê pelos EUA e ainda mais com esta banda só poderá ser um grande acontecimento.

Tim, você entrou no Judas Priest há cinco anos e gravou dois álbuns de estúdio e um ao vivo. Como você analisa este período com a banda?
Tim Owens: Tem sido um grande período não só para mim, mas também para a banda todo. Os fãs me receberam bem e isto foi um grande incentivo para os outros integrantes. Não há nada que possa ser drasticamente melhorado, tudo está bem e acredito que caminhará da mesma forma a partir deste novo trabalho. Não há nada de negativo!

Então você conseguiu a lealdade dos velhos fãs?
Tim Owens: Acho que sim, eles me aceitaram bem e a melhor coisa de tudo isso é que eu mesmo era e sempre serei um grande fã do Judas Priest. Sabendo disso, os fãs se sentem mais confortáveis a meu respeito, pois sabem que procuro transmitir a mesma energia quando canto os velhos clássicos. Por isso, minha aceitação maior ainda é quando fazemos shows, pois a análise é simples e direta.

E quanto ao filme "Rock Star", que dizem ser baseado na vida de Tim ‘Ripper’ Owens?
K.K. Downing: Não sei realmente o que estão fazendo e acredito que o filme deverá falar por si, porque originalmente eles nos disseram que o conceito seria baseado na história de ‘Ripper’. Mas, depois que falamos com os produtores eles negaram que retrataria a vida dele. Não sabemos direito o que está acontecendo.

Falando sobre isso, como foi para você, Tim, que é um grande fã do Judas Priest, ter podido gravar um álbum cantando os maiores clássicos da banda, que você costumava tirar desde os tempos em que tinha a banda cover British Steel?
Tim Owens: Venho cantando estas músicas quase em minha vida inteira, desde a adolescência, seja gritando-as em casa ou nos ensaios e shows da banda de covers. A coisa legal de ter gravado estes clássicos é que minha voz se adapta bem a eles, se tornou uma coisa mais que natural. Adoro cantar estas músicas, especialmente agora em que sei dosar perfeitamente onde posso colocar minha própria personalidade. Poderia ficar cantando clássicos do Judas Priest a noite inteira!

Então, o álbum ao vivo "Live Meltdown’98" foi a melhor maneira de mostrar isto que você falou?
Tim Owens: Devemos analisar esta questão separadamente, não me colocar acima da banda. Queríamos apenas lançar um álbum ao vivo e gostaria de deixar bem claro aos fãs que estou cantando muito melhor agora do que na época em que este álbum ao vivo foi gravado. Aprendi muito com este CD e que tiver a oportunidade de assistir nosso show poderá comprovar o que estou dizendo.

Por que vocês tocaram no álbum "Live Meltdown’98" a música "Diamonds And Rust" de forma diferente da recriada pelo Priest?
K.K. Downing: É uma versão acústica que fizemos a partir da nossa versão dada à composição original e quando formos ao Brasil tocaremos para vocês. Ela tem uma grande atmosfera quando tocada nos shows, porque o público pode cantar mais e há uma interação muito grande. Também gosto de ouvir a voz dos nossos fãs!
Tim Owens: Foi apenas uma outra visão para esta música e ainda assim está bem diferente da versão original de Joan Baez. Queríamos fazer algo diferente e num ensaio decidimos fazer esta versão mais acústica.

Dois grandes clássicos do Priest são na verdade covers, "Diamonds And Rust" é de Joan Baez e "The Green Manalishi" do Fleetwood Mac. Quando ouvimos as versões originais destas músicas é impossível imaginar a razão pela qual vocês as escolheram. Como surgiu a idéia de ‘metalizar’ estas músicas?
K.K. Downing: Bem, acredito que naquela época a indústria fonográfica pressionava as bandas de Heavy Metal para fazer algo mais comercial e conosco não foi diferente. A gravadora insistia que gravássemos algum cover e até nos sugeriam algumas músicas para que nós déssemos outra roupagem. Sempre respondíamos a eles que poderíamos transformar o que eles quisessem em Heavy Metal e foi isto que aconteceu nestas músicas que você citou. Tenho que concordar com eles, porque se tornaram músicas que os fãs sempre nos pedem nos shows.

Falando sobre os primórdios, o nome da banda foi mesmo sugerido pelo jovem inglês Bruno Stappenhill? Você sabe se existe alguma conexão com o título da música de Bob Dylan, "The Ballad of Frankie Lee and Judas Priest", do álbum "John Wesley Harding", de 1967?
K.K. Downing: Isto pode mesmo ter acontecido. Bruno era um baixista amigo de Alan Atkins e talvez ele tenha tirado esta idéia da música que você citou, porque aquele era um álbum bastante popular na época que foi lançado.

K.K., no início de sua carreira você tocava com o baixista Ian Hill e o baterista John Ellis. Você teve a oportunidade de entrar no Judas Priest a partir de um convite feito pelo vocalista Alan Atkins?
K.K. Downing: Na verdade eu já tinha feito uma audição para entrar no Judas Priest, mas não consegui a vaga porque mesmo eu estando otimista na época, não pegava em minha guitarra fazia um mês. Mas, seis meses depois disto, eu estava ensaiando com John Ellis e Ian Hill e Alan Atkins foi nos ver. Depois, ele nos perguntou se poderia entrar em nossa banda para completar o line-up. Fomos a um bar próximo ao local do ensaio, tomamos umas cervejas e celebramos a formação da banda. Naquela ocasião também estávamos decidindo sobre qual seria o nome da banda e eu fiz questão de nomeá-la Judas Priest.

Por que o Judas Priest enfrentou problemas com a imprensa britânica após o lançamento do álbum "Screaming For Vengeance"?
K.K. Downing: A imprensa britânica é atípica. Nós achamos que imprensa especializada do Rock e do Metal deveria ser mais genuína, realista e menos fantasiosa. A imprensa britânica está sempre à procura de novas coisas, tendências momentâneas, estilos e gravadoras novas. Mas, mesmo assim, conseguimos manter um bom relacionamento ao longo dos anos.

Quando a banda gravou o álbum "Turbo", o objetivo principal era mesmo atingir o mercado americano?
K.K. Downing: Não, porque naquela época já éramos muito bem aceitos no mercado americano. No "Screaming For Vengeance" e "Defenders Of The Faith" já fazíamos grandes shows em estádios e arenas. Antes de lançar o Turbo nós compusemos uma grande quantidade de músicas e aquela época, no meio dos anos 80, nos pareceu ser o momento ideal de lançar as músicas provavelmente mais comercias que tínhamos em mãos.

Você e Glenn Tipton formam uma das melhores duplas de guitarristas do Heavy Metal. Vocês sempre compõem juntos as músicas ou mesmo as bases e solos de guitarra?
K.K. Downing: Na maior parte das vezes sim. Quando estamos iniciando o processo de composição, sempre separamos a idéia ou a criação individual de cada um. Depois, quando nos juntamos, ficamos experimentando até obter o melhor resultado. Nossas criações são muito pensadas, repensadas e aliada a isso existe um pouco de sorte e talento embutidos. 

No álbum "Jugulator" senti que você e Glenn não criaram solos melódicos e emocionais. Isto foi intencional, já que a sonoridade do álbum é mais pesada, suja e agressiva?
K.K. Downing: Acredito que esta tenha sido mesmo a nossa intenção. Como você disse, não existem partes muito melódicas e emocionais neste álbum e desta maneira não teria sentido colocar solos assim.

O solo inesquecível de Glenn Tipton é o da música "Beyond The Realms Of Death" mas você. K.K., tem um em particular que considera o melhor e mais memorável que criou?
K.K. Downing: Não realmente, pois acredito que os solos fazem parte do trabalho a algumas pessoas gostam muito de analisá-los à parte das músicas e por isso se tornam inesquecíveis. Mas, tenho alguns que posso citar, como em "Sinner" ou "Victim Of Changes". Por outro lado, nossos melhores momentos são os feitos em dupla, como em "Exciter" e "Rock Hard Ride Free".

Muito obrigado, esperamos encontrá-los no Brasil.
K.K. Downing: Obrigado e certamente vamos nos encontrar, estou louco para tocar novamente no Brasil, temos muitos fãs ai e sei que eles irão nos receber muito bem!
Tim Owens: Lógico, vamos nos encontrar, mas não se esqueça de guardar uma cópia da revista para mim, hein! Vejo vocês em breve. Obrigado.

Entrevista publicada na edição #32 da revista ROADIE CREW (agosto de 2001)