Já comentei este assunto na "Coluna do Batalha" mas, como "Batalha Slayer", cheguei ao cúmulo de chamar várias bandas que hoje curto demais de "Falso Metal", algo que meu irmão, Frederico, certamente irá me zoar até meus últimos dias de vida. Discos com teclado, saxofone, metais e bateria eletrônica, eu descartava sem sequer ouvir – lia as informações da contracapa ou do encarte e não comprava. Eu sei, você também já ouviu a "máxima" mais imbecil do mundo: "Não ouvi e não gostei".
A vida seguia assim, mas toda vez que escutava riffs de um certo grupo norte-americano que fazia muito sucesso no Hard Rock, eu parava para prestar atenção. Mas não passava disso. Alguns outros amigos, bem menos radicais ou que nem chegaram a entrar a fundo no Thrash/Black/Death Metal, já curtiam aquela banda com entusiasmo. Sempre falavam a mesma coisa: "Batalha, não é possível que você não curte essas bases de guitarra!" Como andava em uma turma cheia de gente que estava esperando um "deslize" para fazer chacota na frente de todos, nunca dei o braço a torcer. Se alguém ficasse sabendo que você gravou, mesmo que no final de uma coletânea, uma música "fora do esquema", estaria perdido. Era um mês de chateação, no mínimo.
Então, certa vez, fui à casa de um outro amigo que ouvia Slayer como eu, o Marco Antonio, para gravar alguns vídeos de shows e videoclipes, outra prática bastante comum nos anos 80. Juntar dois vídeos para gravar era uma coisa que aproximava os fãs e, invariavelmente, criava amizades. Pois bem, estava lá gravando vídeos piratas ao vivo – um deles era aquele do Slayer na Holanda na fase "Show no Mercy" –, e então chegou um outro amigo que tocava guitarra, o Eduardo. O cara só falava na tal banda. Era Ratt pra cá, Ratt pra lá. E falava de um dos guitarristas, Warren DeMartini. E falava do vocalista, Stephen Pearcy...
Quando já estava ficando de saco cheio, falei para ele: "Tudo bem, meu. Coloca essa sua fita, vai." E então ouvimos os riffs iniciais da "You're In Love", faixa de abertura do álbum "Invasion Of Your Privacy". Mais uma vez eu pensei comigo: "Legal!" Também pudera, a trinca de abertura desse disco é fenomenal, seguindo com "Never Use Love" e "Lay It Down".
Só sei que de "legal" em "legal", acabei gravando aquela fita dias depois. Na semana seguinte, comprei o disco "Invasion Of Your Privacy" e nas seguintes os outros que tinham saído no mercado nacional. Quando me perguntavam se eu estava "curtindo poser", respondia: "Sim, mas só o Ratt." Até meu amigo Claudio Fortuna, que ouvia as mesmas bandas mais extremas, mas tinha uma cabeça mais aberta, se rendeu: "O que me irrita é que eles ficam com 'love' pra cá, 'love' pra lá, mas também gostei. É legal esse disco, pode gravar pra mim."
Como sempre uma coisa leva à outra, fui percebendo que estava achando legal demais e então comecei a recuperar o tempo perdido. Como também fora apresentado ao Dokken, a resposta àquela pergunta ia tendo bandas adicionadas a cada semana: "Sim, estou ouvindo Hard, mas só o Ratt e o Dokken." Pensa só na cara irônica do meu irmão, Frederico, tirando sarro diariamente, entrando no meu quarto e falando: "Hummm, curtindo rockinho falso Metal, é?"...
O Ratt não só abriu minha mente ao Hard Rock – o poser, o farofa, o hair metal – e às hoje chamadas 'hair bands', mas indiretamente me levou à redescoberta das bandas que eu havia "abandonado", como o Triumph (um crime!), por exemplo. E mais, me ajudou a aceitar o que antes era quase "proibido". Foi como sair da prisão.
Estava livre. Voltei a ouvir, curtir, ler e estudar sobre as grandes e as mais obscuras bandas dos anos 60 e 70 e "até" Pink Floyd, mesmo com muito teclado, piano e saxofone (!). Aceitei o The Doors, que antes odiava porque o teclado tinha som de "órgão de velho"... Assim, além de buscar outras novidades do Thrash e da música extrema – como o Coroner, que gravei dezenas de cópias da demo-tape "Death Cult" aos meus amigos –, fui descobrindo bandas e vibrando novamente com os sons outrora considerados "leves demais" por mim. Por outro lado, ninguém mais queria ouvir minhas coletâneas quando saíamos de carro ou viajávamos. Ficava todo mundo comentando: "Pô, Batalha, você é louco! Como consegue gravar Ratt, Sodom, Bad Company, Foghat, Kiss, Judas Priest, Thin Lizzy e Kreator na mesma fita?"...
Infelizmente, nunca cheguei a ter uma banda de Hard Rock, nem de Thrash Metal, mas embora o Cizania - então formado por Adalton Ribeiro (guitarra), Marcelo Fanin (baixo) e Eric Yañez (vocal) - tocasse composições próprias fincadas no Heavy Metal Tradicional, certa vez nos apresentamos no encerramento do festival de música da escola estadual Professor Alberto Levy, localizado na av. Indianópolis, local onde vota o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O festival era um outro grande ponto de encontro de amigos da região e onde se juntavam as turmas que andavam com as bandas Centúrias, Vírus e Cérbero. Pois bem, aquela foi a única vez que toquei Ratt na vida, pois nosso set list contava com a música "What You Give Is What You Get", faixa do álbum "Invasion Of Your Privacy". Sei que meus amigos Macarrão e Leão, e todo pessoal que andava com eles, vibraram durante a execução. Para todos foi uma grande surpresa, porque até hoje não é muito comum uma banda tocar cover do Ratt.
Você sabe (ou vai saber um dia), cada um tem o seu "Ratt" na trajetória musical, mas confesso que se não fosse por esta banda talvez eu não teria condições de trabalhar escrevendo sobre música. Por tudo isso, só posso dizer: OBRIGADO, RATT!
OK, agora só falta vir tocar no Brasil.
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Fotos:
Discos: Reprodução
Banda: juancroucier.com