segunda-feira, 2 de junho de 2008

Arquivo Entrevista: RON KEEL

O vocalista e guitarrista norte-americano Ronnie Lee Keel fez sua grande estréia na cena com o Steeler, que contava com o guitarrista, então novato, Yngwie J. Malmsteen. O 'debut', Steeler (1982), se tornou um dos discos independentes mais vendidos na América. Porém, a instabilidade no line-up fez com que Ron montasse sua própria banda e assim, em março de 1984, surgiu o Keel. Com clássicos produzidos por Gene Simmons (Kiss) – The Right To Rock (1985) e The Final Frontier (1986), o Keel chegou ao topo. No início de 1987, a banda rapidamente entrou em estúdio e preparou mais um álbum, Keel, produzido por Michael Wagener (Accept, Dokken, Bonfire e outros). Após Larger Than Live (1989), a banda foi sumindo de cena e Ron buscou alternativas com projetos solos na música Country, com o Saber Tiger, o The Rat'lers e também trabalhou com as meninas do Fair Game. Em 1998, o Keel voltou a se reunir, gravando Keel VI: Back In Action e também algumas faixas para o relançamento em CD de Larger Than Live. Atualmente Ron se encontra na banda IronHorse e prepara o lançamento do segundo trabalho. Confira alguns detalhes da carreira de uma das grandes lendas dos anos 80.

Depois de tantos anos no cenário, o que você está fazendo atualmente?
Ron Keel: Estou dando continuidade às minhas aventuras com a banda IronHorse. Estamos juntos há mais de três anos e estamos desenvolvendo uma sonoridade bem legal. Além disso, ficamos muito amigos e estamos nos divertindo muito! Fizemos mais de 400 shows até agora nos Estados Unidos, já lançamos o CD de estréia de forma independente. Temos uma ligação muito forte de amizade e nos vemos quase como uma irmandade. Para mim é assim que uma banda deve ser!

Você está gravando o segundo álbum do IronHorse ou só fazendo shows?
Keel: Estamos na fase de pré-produção do segundo CD e esperamos lançá-lo até o mês de julho, se tudo der certo. O produtor que está conosco é Kevin Beamish e os fãs de Rock o conhecem, visto que ele trabalhou com bandas como o Saxon, Y&T, Michael Schenker, Cold Sweat e o próprio Keel. Além disso, Kevin também tem uma excelente reputação no meio da Música Country, por ter trabalhado como  Reba, Kenny Chesney e Clint Black. Acredito que este novo trabalho irá nos colocar definitivamente como sendo uma genuína banda americana de Rock. Tenho um grande orgulho de minha história com o Keel e o sucesso que obtivemos naquela época, mas agora eu desejo muito fazer com que o IronHorse obtenha o destaque devido e também entre para a história.

Após a gravação existem planos para uma nova turnê com o IronHorse?
Keel: Claro! Nós certamente cairemos na estrada e rodaremos a América do Norte inteira. Existe também uma boa chance de irmos para a Europa e outros países. Gostaria muito de ir para lugares que nunca estive, como a América do Sul e a Austrália. Vamos esperar para ver o que acontece, porque muitas viagens só serão possíveis se obtivermos sucesso com o novo CD do IronHorse.

Como foi trabalhar com o guitarrista Yngwie Malmsteen no início de carreira? Como vocês se conheceram e montaram a banda Steeler?
Keel: No começo dos anos 80 o Steeler era uma das bandas mais promissoras da cena do Metal de Los Angeles. As coisas não estavam indo tão bem com nosso guitarrista original, e aí Mike Varney sugeriu Yngwie, e nós o trouxemos da Suécia para que se juntasse à banda. Gravamos o primeiro álbum do Steeler, que foi a estréia de todos os músicos da banda, e trabalhamos juntos por cerca de quatro meses, fazendo a promoção do álbum e alguns shows. Yngwie e eu éramos pessoas bastante diferentes e então nos separamos. Mesmo sendo uma experiência difícil, me orgulho daquele álbum do Steeler, foi a base do Metal dos anos 80 e o álbum independente mais vendido!

É verdade que você foi convidado para ser o vocalista do Black Sabbath? Me lembro que eles escolheram outro para o posto, o David Donato...
Keel: Recentemente eu deu uma entrevista bastante detalhada para o autor do livro que conta toda a história do Black Sabbath, que será lançado em breve. Tenho receio de que apenas servirá para deixar esta lenda mais obscura. Eu gravei uma Demo numa audição para o Sabbath, passei alguns dias com Tony Iommi e Geezer Butler, mas todos eles queriam mesmo ter Ozzy de volta. Aquilo foi anunciado na MTV na época e também nas rádios e aí toda imprensa divulgou que eu seria o novo vocalista do Black Sabbath. Isto efetivamente não aconteceu e quem gravou outra Demo foi David Donato, que era mesmo um grande vocalista. O restante da história todos sabem, mas eu fiquei contente com a experiência e com a oportunidade única que tive. No final das contas, não tenho do que reclamar, porque realizeiu todos os meus sonhos com minha própria banda, o Keel!

O primeiro álbum do Keel, Lay Down The Law, já foi relançado em CD?
Keel: Ainda não, apenas saiu em vinil e K-7. Marc Ferrari já tentou viabilizar o lançamento, mas por enquanto quem quiser comprar deve recorrer à seção de usados nas lojas de discos.

Como surgiu a oportunidade de trabalhar com Gene Simmons (Kiss) como produtor do segundo álbum do Keel, The Right To Rock?
Keel: Nossa gravadora nos enviou uma relação com o nome de vários produtores de renome e eu rapidamente coloquei Gene no topo da lista (risos). Nos encontramos com ele no Beverly Hills hotel, onde o entregamos a gravação do The Right To Rock, ainda sem os vocais. Aí cantamos as linhas de voz ali mesmo, com ele em nossa frente. Depois de alguns instantes Gene apertou o botão stop do gravador, olhou para mim e disse: “Eu vou produzir este álbum”. Desde então trabalhamos com ele naquele álbum e também no seguinte, o The Final Frontier. Gene foi ótimo, tanto como produtor, mentor e como amigo. Ele me ensinou muito, ajudou nossa carreira, e me fez crescer como músico. Sempre serei grato a ele por isso!

The Right To Rock figurou no Top 100 da Billboard e a faixa-título virou um hit de imediato após o lançamento do álbum. Como foi aquela fase para o Keel?
Keel: Tudo correu às mil maravilhas! Pude fazer tudo que tinha sonhado, todas as experiências que havia imaginado desde jovem. Assinamos um bom contrato com uma gravadora grande, trabalhamos com Gene Simmons, vimos o álbum subir nas paradas, ouvimos nossa música nas estações de rádio e os vídeos na TV, fizemos excelentes shows com uma banda matadora para todos que queriam se divertir ouvindo Rock! Mulheres, fama, fortuna, uísque e tudo mais que você possa imaginar, ou seja, o melhor que poderia ter acontecido. A primeira vez é, particularmente, especial.

The Right To Rock é o álbum mais vendido da carreira do Keel?
Keel: Sim, é o mais vendido. Ele saiu em CD no Japão em 2000, mas está fora de catálogo por lá. Depois a Metal Mayhem Records relançou na América e ainda colocou a música Easier Said Than Done remixada como bônus.

Por que você considera o segundo álbum, The Final Frontier, o melhor do Keel?
Keel: Gosto daquele álbum inteiro porque foi algo muito pessoal para mim. Foi o tipo de trabalho que queria ter feito, ago que sempre desejei, pois eu finalmente obtive sucesso e liberdade para fazer o que bem entendesse. O melhor é que Gene Simmons me apoiou em 100% quando estávamos fazendo aquele álbum.

Quais as suas músicas favoritas do Keel?
Keel: As que mais gosto são Tears Of Fire e Here Today Gone Tomorrow, do The Final Frontier, porque acho que são mais fortes hoje em dia do que na época. Estas e muitas outras estão no set list dos shows do IronHorse. Também gosto de todas as do Keel e as do Larger Than Live. Mas, o mais engraçado é que minha favorita em todos os tempos é a instrumental clássica Nightfall, do The Final Frontier.

Por que a Nightfall?
Keel: Por várias razões. Quando estávamos fazendo uma turnê pelo Japão nós a tocamos ao vivo e isso me traz uma boa recordação. Também a apresentamos num acústico na MTV e ela é meio difícil de se executar e só de colocá-la em sua forma mais perfeita na MTV já foi uma vitória! Quando fazíamos turnês como banda principal a Nightfall era a primeira do ‘bis’. Nós descíamos aquelas rampas no escuro vagarosamente e aquela platéia toda ficava gritando “Keel, Keel, Keel”! Era mesmo algo emocionante e por isso tenho um sentimento especial pela música, já que quando as luzes se acendiam na seqüência vinha a No Pain No Gain e nós pulávamos aquelas rampas com tudo e levantávamos todos! Cara, aquilo era animal, nós detonávamos mesmo. Grandes lembranças!

Você chegou a trabalhar com muitas pessoas de renome na cena musical. Já falamos de Gene Simmons e Yngwie Malmsteen. E quanto aos outros músicos e produtores?
Keel: Tenho muito orgulho de ter atuado ao lado de grandes músicos como Gene e Yngwie, além dos caras do Keel, as meninas do Fair Game, Akihito Kinoshita e o Saber Tager. É claro que vou citar meus irmãos do IronHorse, o baterista Gaetano Nicolosi, o baixista Geno Arce e o guitarrista Jay Rusnak. Também sinto orgulho de ter trabalhado com produtores incríveis e talentosos, como Michael Wagener e Kevin Beamish, este último, que produziu o Rock N Roll Outlaw do Keel e está na produção do novo álbum do IronHorse.

E sobre os trabalhos fora da cena do Rock'n'Roll e do Hard Rock? Você ainda pretende trabalhar com a Música Country?
Keel: Sim, além do meu trabalho com o IronHorse eu pretendo ainda este ano lançar uma coletânea com músicas dos anos 90, que saíram em meus dois álbuns de Música Country, que terá o título de The Country Years. Também pretendo relançar o meu álbum solo Ronnie Lee Keel e o álbum do The Rat'lers. E não é só, porque tenho intenção de colocar no mercado uma outra compilação de todo meu trabalho, desde a época do Steeler até o presente momento. Isto incluiria também o Keel, Fair Game, Saber Tiger, tudo! Este ‘anthology’ está marcado para sair em setembro, para comemorar a data do 20º aniversário do do álbum do Steeler, que foi meu primeiro trabalho profissional e saiu em setembro de 1983.

Você se lembra de alguma história estranha que aconteceu na sua carreira?
Keel: Nossa, tenho milhões de histórias (risos). Vamos a uma delas. Eu tinha dezesseis anos de idade e dividia um apartamento com uns caras. Na época tocávamos numa banda chamada Touch. Estávamos completamente quebrados e sem nada na carteira até que eu por sorte achei dez centavos entre as almofadas do sofá. Bem, até então eu tinha certeza que não conseguiria fazer muita coisa com aquela quantia irrisória. Mas mesmo assim eu saí de casa no maior frio e fui a uma loja de conveniência ver o que eu podia encontrar por dez centavos. Me lembro que vi uma embalagem minúscula de batatas chips em uma loja e estava escrito que custava justamente dez centavos. Voltei para casa e tive a difícil missão de dividir aquele saquinho com os outros caras. Sentamos no assoalho e comecei a dar as batatas e acho que deu umas três para cada um (risos)! É triste, mas aconteceu! Parecia que eu estava dando as cartas de baralho: “Uma para você, uma para mim”. Aquele foi o nosso jantar (risos)!

O que você sabe sobre a cena brasileira? Por que nunca vieram tocar aqui?
Keel: Nunca fomos mas sempre quisemos tocar aí. O que sei? Bem, vi vários vídeos e fotos de shows de Rock no Brasil e é óbvio que vocês contam com um público fiel e numeroso que, antes de tudo, ama a música e sabe se divertir. Sempre recebo mensagens por e-mail de fãs brasileiros e sei que até chegamos a vender muitos álbuns por aí ao longo da minha carreira com o Keel. Por isso, gostaria de agradecer a todos que me acompanham e gostam do som que eu faço. Espero poder me encontrar com todos vocês e conhecer o Brasil em breve!

Entrevista publicada na edição #50 da revista ROADIE CREW (março de 2003)

Nenhum comentário:

Postar um comentário