quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Arquivo Entrevista: ALICE COOPER

O vocalista norte-americano de Detroit, Vincent Damon Furnier, 52 anos de idade, ficou mundialmente conhecido no cenário artístico musical como Alice Cooper, nome que adotou em 1967. A formação original de sua banda, que contava com Glen Buxton (já falecido, na guitarra), Neal Smith (bateria), Dennis Dunaway (baixo) e Michael Bruce (guitarra), durou até 1974, deixando grandes sucessos para a posteridade, como os álbuns "Love It To Death", "Killer", "School’s Out", "Billion Dollar Babies" e "Muscle Of Love", além das performances teatrais, chamadas de "Rock Horror Show", que viraram marca registrada da carreira da 'Tia Alice'. Depois, mesmo mudando a sonoridade, alguns trabalhos merecem destaque, como "Welcome To My Nightmare", "Constrictor", "Raise Your Fist And Yell", "Trash" e "Hey Stoopid". O mais recente lançamento, "Brutal Planet", mostra Alice Cooper em sua fase mais Heavy, com um som forte, vigoroso e bem pesado, como o próprio comenta na entrevista feita direto de Nova York (EUA) no início do mês de novembro.

Você sempre faz o oposto do que as pessoas esperam. Com "Brutal Planet" você pôde mostrar sua faceta mais obscura num som bem pesado. Você concorda que este seja o álbum mais pesado de sua extensa carreira?
Alice Cooper: Você está realmente certo quanto a isto, eu realmente gosto de tentar fazer coisas inesperadas. Este álbum vem surpreendendo muitas pessoas. Não sei se eles estavam esperando que eu fizesse uma coisa bem pomposa ou leve, mas, provavelmente este é o trabalho mais pesado que já fiz. O álbum conta uma estória fictícia sobre o que acontecerá no futuro e comecei a pensar: “e se tudo falhasse? A tecnologia, a família, a religião e a  sociedade...Onde estaríamos?” Estaríamos num “planeta brutal”, um lugar horrível onde o que manda é a lei da sobrevivência. Para falar a verdade, nós vivemos num planeta brutal, uma “bolha” e não damos a mínima para o que acontece a nosso redor, o que acontece no mundo. Sempre pensamos que tudo isto não irá nos afetar. Agora mesmo temos cerca de 65 guerras acontecendo no mundo! Não importa o motivo, mas isto é um absurdo. Depois de pensar em tudo isto, pudemos perceber que as músicas estavam sendo criadas de um modo mais forte e pesado, porque quero que as pessoas atentem para o fato de que o mundo é um lugar muito cruel. Temos que ter muito cuidado com que estamos fazendo. Quero assustar as pessoas para que possam parar para pensar um pouco mais sobre isto, por isso meus temas são sempre os mais chocantes possíveis. Você acha que as Spice Girls, Britney Spears ou os Backstreet Boys podem falar sobre isto? Não, eles falam sobre coisas açucaradas. Então, prefiro falar sobre coisas horrorosas, sejam elas fictícias ou não.

Existe alguma conexão entre a música "Take It Like A Woman" e "Only Woman Bleed"?
Alice: Certamente que sim. Quando escrevi "Only Woman Bleed", em 1975 ou 1976, era minha viagem sobre a postura feminina, uma mulher era tratada como uma cidadã secundária, por isso elas estavam bleeding, mentalmente e emocionalmente. Mas, neste novo álbum refiz o outro lado da mulher, pois elas são muito fortes, mas na América sempre dizem este chavão: 'Take it like a man!', mas por que não inverter isto e dizer 'Take it like a woman!'. A mulher sofre muito mais pressão e se estressa muito mais que o homem, mas ela não desiste tão facilmente.

Por que o personagem Steven ficou de fora de "Brutal Planet"?
Alice: Provavelmente farei um "Brutal Planet" parte 2. Ainda não posso adiantar muito, mas este é um dos meus planos. 

É verdade que um dos últimos shows com o line-up original com você, Glen Buxton, Neal Smith, Dennis Dunaway e Michael Bruce foi no Brasil, em 1974?
Alice: Em 1974 tocamos em São Paulo e foi um dos maiores shows num local fechado que já fiz em toda carreira. Até hoje falamos sobre este show, foi mesmo um acontecimento marcante para mim. Não sei se este foi o último show, mas foi um dos derradeiros com esta formação. Mesmo assim, ainda vejo os ex-integrantes, somos muito amigos até hoje. Isso não quer dizer que vamos fazer uma reunião, coisa que está até meio na moda. Além disso, alguns deles estão bem fora de forma hoje em dia, mas nossa amizade é verdadeira e duradoura.

Você trabalhou com Kip Winger no álbum "Constrictor". Como você analisaria o trabalho dele em sua banda?
Alice: Kip sempre foi uma pessoa interessante e intrigante, provavelmente um dos músicos mais criativos com quem já trabalhei, e olha que já se passaram muitos em minha banda. Acredito que ele tem talento nato, tem o ‘timing’ perfeito para as coisas e é muito versátil. Quando o Hard Rock estava em alta ele pôde mostrar todo este talento em sua própria banda.

Nos anos 80, o álbum "Trash" colocou sua banda novamente nas paradas, especialmente com a música "Poison". Como foi aquela época?
Alice: Foi uma época em que o Metal e a música Pop emergiram, com todas aquelas bandas, você sabe, Mötley Crüe e Ratt, entre outras. Todas eram bem fortes no cenário e era legal ligar o rádio e ouvir este tipo de música, mesmo porque os shows eram bem agitados e produzidos. Também acredito que eu tenha contribuído muito para o sucesso destas bandas, pois fui um dos pioneiros a fazer shows de grande porte e com todo aparato visual que podia. Na minha opinião foi uma época muito boa para o Rock'n'Roll, porque as bandas se preocupavam com sua música, o visual, a atitude e a imagem. Era tudo muito profissional e tudo funcionava, mas depois veio aquela coisa de Grunge, que já começava mal pela música, meio pra baixo. Foi um declínio musical estúpido. É óbvio que existiam exceções, mas 90% daquelas bandas eram terríveis, todas tentando ser o Nirvana, Soundgarden ou Alice In Chains. E aquelas que tentavam soar como o Pearl Jam? Eram as mais ridículas!

Com o fim da "World Trash Tour", você teve um período de férias e depois lançou outro trabalho de sucesso, "Hey Stoopid".
Alice: (interrompendo) Gosto muito deste trabalho, até mais que o "Trash".

Certo, mas você concorda que existe uma conexão musical entre ambos, pois o estilo dos dois é o Hard Rock?
Alice: Concordo em parte. Todo álbum deve ser um pouco diferente do outro e não poderia me repetir depois de "Trash", mesmo sabendo que ele havia sido um sucesso internacional. Queria uma coisa ainda mais Hard, com outro tipo de temática. Não sou daquele tipo de pessoa que diz: "se está dando certo, não mude". Comigo não é assim, isto enjoa. Imagine se eu estivesse fazendo um tipo de som igual ao meu primeiro sucesso? Seria um saco! Em todos os meus álbuns tento soar de forma diferente e é só ouvi-los para saber que falo a verdade. Cada um tem sua personalidade.

Como foi sua participação na regravação de "Jesus Christ Superstar" com a música "Hero"?
Alice: O cast original foi todo mudado e foi uma honra poder participar deste trabalho. Foi uma coisa até meio inesperada, mas gostei muito de fazer, porque me encaixei bem com o personagem desta música.

Como está sua carreira como ator?
Alice: Ah, tem um filme saindo e fiz uma pequena ponta. Não quero me firmar como ator até que faça 60 anos. Depois disto, poderei pensar melhor em trabalhar no cinema.

Você está dizendo que vai se aposentar aos 60 anos?!
Alice: Pode ser que sim, mas eu disse isto porque não acho que atuar seja uma coisa difícil para mim, mesmo porque minha postura cênica de palco já diz tudo. Mas, se alguém me oferecer um bom papel, num grande filme, não vejo nenhum problema em aceitar a proposta e atuar, mesmo não sendo uma prioridade no momento.

E o seu bar chamado "Cooper’stown", em Phoenix (EUA)?
Alice: Ainda tenho o bar. É um lugar muito legal, que foi ranqueado como o número 1 nos Estados Unidos. A temática é esta mesmo.

Você ainda organiza o torneio de Golfe chamado "Alice Cooper Celebrity AM Golf Tournament"?
Alice: Sim, é uma coisa que muitas bandas fazem agora, como o Pantera, porque eles também jogam golfe. Pode parecer até estranho, mas existem alguns músicos e artistas que são fenômenos no golfe.

Entrevista publicada na edição #25 da revista ROADIE CREW (dezembro de 2000)

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