O INÍCIO DA CARREIRA DE DORO PESCH
A vocalista alemã Dorothee Pesch, 45 anos de idade, começou sua carreira no Snakebite, mas logo se juntou a músicos de sua cidade, Düsseldorf, formando o Warlock, uma das bandas mais cultuadas em todos os tempos. Ao lado dos guitarristas Rudy Graf e Peter Szigetti, o baterista Michael Eurich e o baixista Frank Rittel, Doro lançou seu primeiro álbum no final de 1983, Burning The Witches, pela gravadora Mausoleum. Com a boa receptividade, conseguiu um contrato com a Phonogram/Vertigo e gravou Hellbound, que novamente obteve destaque na cena. Ao longo dos anos o line-up da banda foi alterado, mas os álbuns continuavam tendo destaque, especialmente Triumph And Agony (1987), no qual Doro estava acompanhada por Niko Arvanitis e Tommy Bolan (guitarras), Michael Eurich (bateria) e Tommy Henriksen (baixo). Após passar por problemas com respeito ao nome Warlock, Doro decidiu seguir em carreira solo, passando a dividir seu tempo na Alemanha e nos Estados Unidos.
No começo de sua carreira você fazia parte de uma banda chamada Snakebite. Vocês chegaram a lançar algum álbum com esta banda?
Doro Pesch: Chegamos a gravar vários Demo-Tapes, mas não um álbum. Infelizmente todo este material sumiu. Na época eu não tinha aquela preocupação em guardar este tipo de material. Era uma banda normal, mas foi um bom começo. O estilo da banda era um pouco parecido com o do Warlock.
A Mausoleum Records lançou o primeiro álbum do Warlock, Burning The Witches, mas o que aconteceu com esta gravadora depois disto? Eles tinha outras boas bandas no cast mas nunca chegaram a ter uma grande visualização no mercado, concorda?
Doro: Sim, eles tinham mesmo. Para nós foi bom ter lançado o primeiro álbum, mas as pessoas que trabalhavam na gravadora só olhavam para aquilo como um negócio, eram um pouco enrolado. Não vimos a cor do dinheiro e inclusive me lembro que tivemos até que pagar algumas despesas com nosso próprio dinheiro, como algumas sessões de fotos e a arte do álbum. Não me importo muito com isso agora, mas isto não pode mais acontecer! Como é que as bandas novas irão conseguir realizar seu sonho? Naquela época, só a chance de ter um disco no mercado já era bom, mas que o negócio não era profissional isto eu não tenho dúvida. Era uma coisa bem underground.
Por outro lado a receptividade dos fãs parece ter sido muito boa, inclusive no Brasil. Me lembro que muitas pessoas gravavam fitas K-7 e sempre faziam questão de incluir a música Metal Racer!
Doro: (risos) Nossa, isto é muito legal. O álbum foi muito bem recebido e tudo era muito novo para mim. O Metal estava começando mesmo a crescer e nós chegamos a tocar por toda a Europa. De alguma forma éramos consideramos como uma revelação e, na verdade, eu não sabia a razão. Eu tinha consciência de que era difícil comprar o nosso disco, porque em muitos países era bem caro, mas sempre existem aqueles fãs que saem em busca de novidades e nós, de alguma forma, atingimos este público e ficamos conhecidos. Nessa época também era muito comum o mercado paralelo de fitas K-7 e daí o nosso nome se alastrou. Como os tempos mudam, hein? (risos). Mesmo assim não tivemos um suporte na época para fazer shows em outros países, incluindo o Brasil. Foi uma fase memorável, larguei o meu trabalho e decidi que iria viver de música pelo resto da vida.
Naquela época não era tão comum assim ter uma ‘frontwoman’ numa banda. As mais famosas eram Lita Ford, Joan Jett e a banda feminina Girlschool. Depois do Warlock, tivemos o surgimento do Bitch, Sacrilege, Sentinel Beast, Rock Godess e outras. De alguma forma você se sente responsável por encorajar mais mulheres a cantar numa banda de Metal?
Doro: Não, esta honra definitivamente não pertence a mim porque eu não separo as coisas. Para mim não tem a menor importância se é um homem ou uma mulher que está cantando. Sempre lutei muito por meus ideais e aprendi muita coisa a respeito da indústria musical. Adoro música em geral e estou apta a fazer qualquer coisa e quem pretende trabalhar com música deve ter consciência disto. O que mais importa é sua convicção, acreditar no que está fazendo, ser o primeiro a apreciar seu próprio trabalho. Se é difícil para um homem, assim o é para uma mulher. Se a voz é legal e a pessoa canta bem, não há razão para fazer uma distinção. Sei que a parte visual é diferente e gosto de saber que muitas mulheres estão se dando bem também, mas sempre me achei igual aos meus companheiros de banda, todos éramos como irmãos. Bem, neste caso eu era a irmã deles (risos).
Quais são suas impressões sobre as bandas que tem mulheres no vocal, como o Lacuna Coil, Nightwish, The Gathering, Holy Moses, Theatre Of Tragedy?
Doro: É muito legal! Quando tinha uns 10 anos de idade eu era muito fã da Janis Joplin. Por muitos anos ela foi a minha vocalista preferida. Mas, eu acho incrível esta grande quantidade de mulheres cantando, e bem, vários estilos de Metal. Todas elas têm muita personalidade, pois hoje em dia não é fácil trabalhar e ser reconhecido. Gosto muito quando uma mulher canta de forma intensa, força, passa sua mensagem e tem carisma. Acho que todas estas que você falou conseguem transmitir uma seriedade, nada é falso no trabalho delas e isto é também importante. Estas bandas que você citou, felizmente, estão conseguindo um bom espaço na cena.
Para gravar o Hellbound, o Warlock contou com uma produção bem superior. Isto foi possível por causa do novo contrato com a Phonogram/Vertigo?
Doro: Sim, tivemos muito mais tempo para trabalhar para este álbum. O co-produtor do Burning The Witches foi o responsável pelo nosso ingresso na Phonogram, pois enviou um Demo-Tape nosso para um manda-chuva da companhia. Aquilo foi interessante, porque eles mandaram um contato da gravadora para nos analisar e o cara não era um fã de Metal, mas sim um típico executivo. Mesmo assim ele acabou nos ajudando porque depois que viu nosso show no clube Dynamo, na Holanda, além de ficar surdo mostrou-se bastante surpreso com a nossa performance e deu excelentes indicações a nosso respeito para seu chefe, Louis Birman. Assim, fomos contratados. Gravamos o álbum num bom estúdio em Munique (ALE), que custou bem caro e sei que mesmo se perdemos um pouco nosso espírito agressivo de uma banda novata, a produção ficou muito melhor e o som manteve-se num bom nível para os fãs. Eu gosto muito do Burning The Witches, pois ele foi gravado em apenas três dias. Já o Hellbound levou quase seis meses.
O Hellbound é um grande álbum e a banda manteve suas características nas músicas Earthshaker Rock, Down And Out, Out Of Control, além da faixa-título e da balada Catch My Heart. Mas, afora o lado da produção, como foi a reação dos fãs e da imprensa ao redor do mundo?
Doro: Foi genial! Muitas pessoas pensavam que nós iríamos mudar totalmente nosso estilo por causa da mudança para uma gravadora de grande porte, mas depois viram que isto não aconteceu. Aquilo para muitos jornalistas e fãs era um tipo de problema, só de terem a notícia de que a banda sairia de uma independente para uma major já começavam a desconfiar.
E, depois, como vocês lidaram com as críticas a respeito do True As Steel, já que ele veio com uma sonoridade um pouco diferente?
Doro: Acredito que este é o álbum menos gostamos. Tivemos muitos problemas para gravá-lo. Todo o processo foi bastante complicado. A pressão era quase insuportável, os empresários e os executivos da gravadora só pensavam em ganhar dinheiro em cima da banda. Foi terrível ter que gravar um álbum sob pressão. O álbum é muito polido e mostra uma banda tentando soar comercial, mesmo sem saber o que era ao certo ser uma banda comercial. A banda, como sempre, é a última a saber da coisas que acontecem nos bastidores.
Por outro lado, em relação a turnês, esta época foi muito boa, porque vocês tocaram no festival inglês “Castle Donington Monsters Of Rock’96” e também excursionaram com o Judas Priest, W.A.S.P. e Motörhead?
Doro: Você está certo, ter tocado naquela edição do “Monsters Of Rock” foi muito bom, provavelmente uma das melhores experiências que passei em toda carreira. A turnê com o W.A.S.P. foi boa e com o Judas Priest então nem se fala. Sempre fui fã da banda e aquilo para mim foi um sonho realizado. Um outro grande momento que sempre me recordo foi a primeira turnê pelos EUA, ao lado do Megadeth. Ficamos na estrada quase um ano!
Quando você se mudou para Nova York, sua intenção era fazer um som mais próximo ao Hard Rock, que havia sido iniciado, mesmo que de forma tímida, no álbum True As Steel?
Doro: Não, esta não foi minha intenção. Acho o True As Steel muito polido, mas não dá para afirmar que é um álbum típico de Hard Rock. Ele não é mais Hard do que Metal (risos). Gosto muito mais do Triumph And Agony, que é meu álbum favorito do Warlock. Fizemos muito sucesso com o Triumph And Agony, ele rompeu nossas barreiras nos EUA e no mundo.
Muitos o consideram como o melhor trabalho do Warlock e as músicas I Rule The Ruins e All We Are são verdadeiros clássicos!
Doro: Sim, e ainda tem a Touch Of Evil, Cold Cold World e Für Immer, que fez muito sucesso na Alemanha, pois não era comum uma banda de Metal cantar algo em alemão. E tem uma coisa bastante curiosa porque a música virou uma espécie de hino para quem ia se casar. Acho que naquela época todos os fãs de Metal que se casavam entravam ou tinha em sua cerimônia esta música! Cheguei a cantar ao vivo em muitos casamentos (risos). Ah, sou suspeita em falar mais sobre este álbum, pois é o meu favorito e foi a fase que tivemos mais projeção no cenário musical em geral.
Então por que ocorreu a separação da banda após a turnê do Triumph and Agony, que vocês realizaram ao lado do Dio?
Doro: Na verdade nosso manager, que acumulava a função de cuidar também do nosso merchandising, ele roubou o nome Warlock e registrou em seu nome. Fomos obrigados a brigar na justiça mas, infelizmente, ele ganhou o processo. Então, como ele ficou com os direitos sobre o nome Warlock, nós não pudemos lançar um novo álbum que, por sinal, já estava gravado. Foi uma fase estressante de todos os lados, tanto por parte da gravadora como internamente com os outros músicos. Perdemos nossa sintonia e o ponto de referência foi quebrado após nos impedirem de usar nosso nome. Para recuperá-lo teríamos que pagar cerca de 50 mil dólares, um grande absurdo! O baixista Tommy Henriksen foi o primeiro a sair e, depois, me acompanhou em minha carreira solo, gravando o álbum Force Majeure.
O álbum Force Majeure saiu em 1989. Naquela época sua intenção era ter uma carreira solo como a de Lita Ford, ou seja, com um som mais leve?
Doro: Não, de jeito nenhum, nunca me espelhei nela para fazer meu som. Muitos disseram que comecei a fazer baladas em minha carreira solo, mas isto não é verdade, pois o Burning The Witches, o primeiro álbum que gravei com o Warlock, já tinha duas baladas, Without You e Holding Me, que os fãs gostavam muito. Depois, fiz Catch My Heart, Love Song e Make Time For Love. Isto só com o Warlock! O Force Majeure era mesmo mais leve que o Triumph And Agony, mas isto não tem nada a ver com as baladas, sempre as fiz e nunca deixarei de fazê-las. Quando comecei minha carreira solo queria fazer com que cada álbum tivesse uma mensagem e um ‘feeling’ diferente e, por consequência, o estilo das músicas também não seria o mesmo. O que saísse do meu coração, a inspiração que tivesse no momento, influenciariam nas composições, ou seja, um trabalho totalmente aberto. Queria fugir de qualquer tipo de pressão para fazer o que gosto ou o que tivesse vontade de fazer. E sempre dei o máximo de mim, nunca poupei esforços!
Como veio o contato com Gene Simmons (Kiss) para que ele produzisse seu segundo álbum solo, Doro?
Doro: Eu sempre fui grande fã do Kiss, queria convidá-lo para uma grande festa de aniversário. Pedi para meu manager encontrar o endereço dele. Depois disso fiquei pensando na hora de dormir que eu poderia gravar um cover do Kiss, fazer alguma versão ou em ter algum integrante da banda gravando comigo. Quando acordei no dia seguinte liguei novamente para meu manager Alex e contei o que eu estava planejando, mas ele disse que seria difícil. Disse que tudo bem, mas que mesmo assim queria um endereço para contato, pelo menos para convidá-los para a festa. Dois dias depois, Alex me ligou logo cedo e disse: "Levante-se imediatamente, se arrume que eu tenho uma surpresa para você!". Não tinha ideia do que iria acontecer. Fui para a rua 57, em Manhattan/Nova York, e Alex já estava me esperando na entrada. Logo perguntei: "Quem está a minha espera?". Ele disse: "O Gene Simmons". Aí a minha curiosidade transformou-se em euforia. Nem sabia o que fazer, porque fiquei nervosa, não sabia o que eu iria falar para ele. Depois de uns 15 minutos andando de um lado para o outro eu fui me encontrar com ele. Gene foi muito simpático, nos recebeu bem e expliquei quais eram meus planos. Ele entendeu tudo e disse que haveria possibilidade dele participar de duas músicas no meu álbum. Começamos a trabalhar e ele acabou participando de todo o processo e ainda produziu o álbum, que foi gravado em Nova York e Los Angeles. Foi inacreditável ir ao estúdio todos os dias, trabalhar cerca de 16 horas podendo expor minhas ideias a Gene Simmons, que é um músico fantástico e uma grande pessoa. Além disso, gravei uma versão de Only You, que se encontra no álbum Music From The Elder do Kiss. Depois disso me tornei ainda mais fã do Kiss.
No álbum True At Heart, além da música Heartshaped Tattoo, como foi a aceitação das outras faixas, pois acredito que muitas seriam perfeitas para tocar nas rádios?
Doro: Como disse antes, minha intenção era fazer álbuns diferentes e inesperadas. Fui para Nashville (EUA) e encontrei um grande ambiente para escrever minhas baladas. Gostei muito das músicas que fiz com Gary Scruggs, The Fortuneteller, Fall For Me Again e I Know You By Heart. O álbum foi muito bem como um todo e me abriu as portas, mas nunca tocaram minhas músicas nas rádios. Isto é muito difícil porque eles logo pensam: “Ela é legal, mas é uma cantora de Heavy Metal!”. Nunca me importei muito com isso.
Na época do álbum Machine II Machine você estava curtindo música eletrônica?
Doro: Não, mas compusemos e gravamos o álbum inteiro, mas quando estávamos para mixá-lo eu disse ao produtor que o disco não mexia comigo e que não estava contente com o resultado. Ele disse: “Como assim, o álbum está pronto!? E você vem me falar isto depois de um ano!?”. Disse novamente que estava descontente e resolvemos fazer muitas mudanças e a sonoridade mudou bastante, foi uma fase experimental, mas não me arrependo. A música The Want ficou tão diferente que me surpreendi com o ‘groove’ e resolvi deixar o álbum inteiro soando como ela. O produtor não ficou tão contente, mas acabamos nos entendendo (risos). Em 1995 o Metal não estava passando por uma grande fase, era aquela época do Grunge, não sei se você se lembra, mas foram tempos difíceis para todos nós. Muitas bandas de Metal acabaram rescindindo seus contratos com as gravadoras, inclusive eu nos Estados Unidos. Ninguém queria mais saber das bandas de Metal e de Hard Rock. Por isso, fiquei contente em conseguir fazer algo diferente e que ninguém estava esperando.
Mudando de assunto, você ainda pratica Thai Boxing (Muay Thai)?
Doro: Sim, comecei em 1995 e adoro praticar. Infelizmente não é possível manter uma sequência séria nos treinamentos, porque muitas vezes estou em turnê ou gravando em estúdio e isto dificulta o ritmo em qualquer esporte. Não está sendo possível praticar constantemente, mas no começo eu treinava todos os dias. Para manter a forma física é um excelente exercício, não só pelo exercício físico, mas pela filosofia de qualquer Arte Marcial. É como na música, você tem que sentir quando pode vencer, você não pode ser lerdo ou chegar atrasado.
A Alemanha tem um grande lutador de Thai Boxing, o Stefan Leko, você o conhece?
Doro: Já ouvi falar dele, mas não sou uma grande expert no assunto. Sei que a Holanda é um grande centro de lutadores e a Alemanha também consegue manter um bom nível nas Artes Marciais.
- Editada a partir de uma entrevista publicada na revista Roadie Crew (ed. 37), de 2002 -
Discografia – WARLOCK:
Burning the Witches (1984)
Hellbound (1985)
True As Steel (1986)
Triumph And Agony (1987)
Discografia – DORO:
Force Majeure (1989)
Doro (1990)
Rare Diamonds (1991)
True At Heart (1991)
Angels Never Die (1993)
Doro Live (1993)
Machine II Machine (1995)
Love Me In Black (1998)
The Ballads (1998)
Best Of (1998)
Calling The Wild (2000)
Fight (2002)
Für Immer (DVD, 2003)
Classic Diamonds (2004)
Classic Diamonds - The DVD (2004)
Warrior Soul (2006)
20 Years A Warrior Soul (DVD, 2006)
Celebrate (The Night Of The Warlock) (EP, 2008)
Fear No Evil (2009)
Site relacionado: www.doropesch.com
No começo de sua carreira você fazia parte de uma banda chamada Snakebite. Vocês chegaram a lançar algum álbum com esta banda?
Doro Pesch: Chegamos a gravar vários Demo-Tapes, mas não um álbum. Infelizmente todo este material sumiu. Na época eu não tinha aquela preocupação em guardar este tipo de material. Era uma banda normal, mas foi um bom começo. O estilo da banda era um pouco parecido com o do Warlock.
A Mausoleum Records lançou o primeiro álbum do Warlock, Burning The Witches, mas o que aconteceu com esta gravadora depois disto? Eles tinha outras boas bandas no cast mas nunca chegaram a ter uma grande visualização no mercado, concorda?
Doro: Sim, eles tinham mesmo. Para nós foi bom ter lançado o primeiro álbum, mas as pessoas que trabalhavam na gravadora só olhavam para aquilo como um negócio, eram um pouco enrolado. Não vimos a cor do dinheiro e inclusive me lembro que tivemos até que pagar algumas despesas com nosso próprio dinheiro, como algumas sessões de fotos e a arte do álbum. Não me importo muito com isso agora, mas isto não pode mais acontecer! Como é que as bandas novas irão conseguir realizar seu sonho? Naquela época, só a chance de ter um disco no mercado já era bom, mas que o negócio não era profissional isto eu não tenho dúvida. Era uma coisa bem underground.
Por outro lado a receptividade dos fãs parece ter sido muito boa, inclusive no Brasil. Me lembro que muitas pessoas gravavam fitas K-7 e sempre faziam questão de incluir a música Metal Racer!
Doro: (risos) Nossa, isto é muito legal. O álbum foi muito bem recebido e tudo era muito novo para mim. O Metal estava começando mesmo a crescer e nós chegamos a tocar por toda a Europa. De alguma forma éramos consideramos como uma revelação e, na verdade, eu não sabia a razão. Eu tinha consciência de que era difícil comprar o nosso disco, porque em muitos países era bem caro, mas sempre existem aqueles fãs que saem em busca de novidades e nós, de alguma forma, atingimos este público e ficamos conhecidos. Nessa época também era muito comum o mercado paralelo de fitas K-7 e daí o nosso nome se alastrou. Como os tempos mudam, hein? (risos). Mesmo assim não tivemos um suporte na época para fazer shows em outros países, incluindo o Brasil. Foi uma fase memorável, larguei o meu trabalho e decidi que iria viver de música pelo resto da vida.
Naquela época não era tão comum assim ter uma ‘frontwoman’ numa banda. As mais famosas eram Lita Ford, Joan Jett e a banda feminina Girlschool. Depois do Warlock, tivemos o surgimento do Bitch, Sacrilege, Sentinel Beast, Rock Godess e outras. De alguma forma você se sente responsável por encorajar mais mulheres a cantar numa banda de Metal?
Doro: Não, esta honra definitivamente não pertence a mim porque eu não separo as coisas. Para mim não tem a menor importância se é um homem ou uma mulher que está cantando. Sempre lutei muito por meus ideais e aprendi muita coisa a respeito da indústria musical. Adoro música em geral e estou apta a fazer qualquer coisa e quem pretende trabalhar com música deve ter consciência disto. O que mais importa é sua convicção, acreditar no que está fazendo, ser o primeiro a apreciar seu próprio trabalho. Se é difícil para um homem, assim o é para uma mulher. Se a voz é legal e a pessoa canta bem, não há razão para fazer uma distinção. Sei que a parte visual é diferente e gosto de saber que muitas mulheres estão se dando bem também, mas sempre me achei igual aos meus companheiros de banda, todos éramos como irmãos. Bem, neste caso eu era a irmã deles (risos).
Quais são suas impressões sobre as bandas que tem mulheres no vocal, como o Lacuna Coil, Nightwish, The Gathering, Holy Moses, Theatre Of Tragedy?
Doro: É muito legal! Quando tinha uns 10 anos de idade eu era muito fã da Janis Joplin. Por muitos anos ela foi a minha vocalista preferida. Mas, eu acho incrível esta grande quantidade de mulheres cantando, e bem, vários estilos de Metal. Todas elas têm muita personalidade, pois hoje em dia não é fácil trabalhar e ser reconhecido. Gosto muito quando uma mulher canta de forma intensa, força, passa sua mensagem e tem carisma. Acho que todas estas que você falou conseguem transmitir uma seriedade, nada é falso no trabalho delas e isto é também importante. Estas bandas que você citou, felizmente, estão conseguindo um bom espaço na cena.
Para gravar o Hellbound, o Warlock contou com uma produção bem superior. Isto foi possível por causa do novo contrato com a Phonogram/Vertigo?
Doro: Sim, tivemos muito mais tempo para trabalhar para este álbum. O co-produtor do Burning The Witches foi o responsável pelo nosso ingresso na Phonogram, pois enviou um Demo-Tape nosso para um manda-chuva da companhia. Aquilo foi interessante, porque eles mandaram um contato da gravadora para nos analisar e o cara não era um fã de Metal, mas sim um típico executivo. Mesmo assim ele acabou nos ajudando porque depois que viu nosso show no clube Dynamo, na Holanda, além de ficar surdo mostrou-se bastante surpreso com a nossa performance e deu excelentes indicações a nosso respeito para seu chefe, Louis Birman. Assim, fomos contratados. Gravamos o álbum num bom estúdio em Munique (ALE), que custou bem caro e sei que mesmo se perdemos um pouco nosso espírito agressivo de uma banda novata, a produção ficou muito melhor e o som manteve-se num bom nível para os fãs. Eu gosto muito do Burning The Witches, pois ele foi gravado em apenas três dias. Já o Hellbound levou quase seis meses.
O Hellbound é um grande álbum e a banda manteve suas características nas músicas Earthshaker Rock, Down And Out, Out Of Control, além da faixa-título e da balada Catch My Heart. Mas, afora o lado da produção, como foi a reação dos fãs e da imprensa ao redor do mundo?
Doro: Foi genial! Muitas pessoas pensavam que nós iríamos mudar totalmente nosso estilo por causa da mudança para uma gravadora de grande porte, mas depois viram que isto não aconteceu. Aquilo para muitos jornalistas e fãs era um tipo de problema, só de terem a notícia de que a banda sairia de uma independente para uma major já começavam a desconfiar.
E, depois, como vocês lidaram com as críticas a respeito do True As Steel, já que ele veio com uma sonoridade um pouco diferente?
Doro: Acredito que este é o álbum menos gostamos. Tivemos muitos problemas para gravá-lo. Todo o processo foi bastante complicado. A pressão era quase insuportável, os empresários e os executivos da gravadora só pensavam em ganhar dinheiro em cima da banda. Foi terrível ter que gravar um álbum sob pressão. O álbum é muito polido e mostra uma banda tentando soar comercial, mesmo sem saber o que era ao certo ser uma banda comercial. A banda, como sempre, é a última a saber da coisas que acontecem nos bastidores.
Por outro lado, em relação a turnês, esta época foi muito boa, porque vocês tocaram no festival inglês “Castle Donington Monsters Of Rock’96” e também excursionaram com o Judas Priest, W.A.S.P. e Motörhead?
Doro: Você está certo, ter tocado naquela edição do “Monsters Of Rock” foi muito bom, provavelmente uma das melhores experiências que passei em toda carreira. A turnê com o W.A.S.P. foi boa e com o Judas Priest então nem se fala. Sempre fui fã da banda e aquilo para mim foi um sonho realizado. Um outro grande momento que sempre me recordo foi a primeira turnê pelos EUA, ao lado do Megadeth. Ficamos na estrada quase um ano!
Quando você se mudou para Nova York, sua intenção era fazer um som mais próximo ao Hard Rock, que havia sido iniciado, mesmo que de forma tímida, no álbum True As Steel?
Doro: Não, esta não foi minha intenção. Acho o True As Steel muito polido, mas não dá para afirmar que é um álbum típico de Hard Rock. Ele não é mais Hard do que Metal (risos). Gosto muito mais do Triumph And Agony, que é meu álbum favorito do Warlock. Fizemos muito sucesso com o Triumph And Agony, ele rompeu nossas barreiras nos EUA e no mundo.
Muitos o consideram como o melhor trabalho do Warlock e as músicas I Rule The Ruins e All We Are são verdadeiros clássicos!
Doro: Sim, e ainda tem a Touch Of Evil, Cold Cold World e Für Immer, que fez muito sucesso na Alemanha, pois não era comum uma banda de Metal cantar algo em alemão. E tem uma coisa bastante curiosa porque a música virou uma espécie de hino para quem ia se casar. Acho que naquela época todos os fãs de Metal que se casavam entravam ou tinha em sua cerimônia esta música! Cheguei a cantar ao vivo em muitos casamentos (risos). Ah, sou suspeita em falar mais sobre este álbum, pois é o meu favorito e foi a fase que tivemos mais projeção no cenário musical em geral.
Então por que ocorreu a separação da banda após a turnê do Triumph and Agony, que vocês realizaram ao lado do Dio?
Doro: Na verdade nosso manager, que acumulava a função de cuidar também do nosso merchandising, ele roubou o nome Warlock e registrou em seu nome. Fomos obrigados a brigar na justiça mas, infelizmente, ele ganhou o processo. Então, como ele ficou com os direitos sobre o nome Warlock, nós não pudemos lançar um novo álbum que, por sinal, já estava gravado. Foi uma fase estressante de todos os lados, tanto por parte da gravadora como internamente com os outros músicos. Perdemos nossa sintonia e o ponto de referência foi quebrado após nos impedirem de usar nosso nome. Para recuperá-lo teríamos que pagar cerca de 50 mil dólares, um grande absurdo! O baixista Tommy Henriksen foi o primeiro a sair e, depois, me acompanhou em minha carreira solo, gravando o álbum Force Majeure.
O álbum Force Majeure saiu em 1989. Naquela época sua intenção era ter uma carreira solo como a de Lita Ford, ou seja, com um som mais leve?
Doro: Não, de jeito nenhum, nunca me espelhei nela para fazer meu som. Muitos disseram que comecei a fazer baladas em minha carreira solo, mas isto não é verdade, pois o Burning The Witches, o primeiro álbum que gravei com o Warlock, já tinha duas baladas, Without You e Holding Me, que os fãs gostavam muito. Depois, fiz Catch My Heart, Love Song e Make Time For Love. Isto só com o Warlock! O Force Majeure era mesmo mais leve que o Triumph And Agony, mas isto não tem nada a ver com as baladas, sempre as fiz e nunca deixarei de fazê-las. Quando comecei minha carreira solo queria fazer com que cada álbum tivesse uma mensagem e um ‘feeling’ diferente e, por consequência, o estilo das músicas também não seria o mesmo. O que saísse do meu coração, a inspiração que tivesse no momento, influenciariam nas composições, ou seja, um trabalho totalmente aberto. Queria fugir de qualquer tipo de pressão para fazer o que gosto ou o que tivesse vontade de fazer. E sempre dei o máximo de mim, nunca poupei esforços!
Como veio o contato com Gene Simmons (Kiss) para que ele produzisse seu segundo álbum solo, Doro?
Doro: Eu sempre fui grande fã do Kiss, queria convidá-lo para uma grande festa de aniversário. Pedi para meu manager encontrar o endereço dele. Depois disso fiquei pensando na hora de dormir que eu poderia gravar um cover do Kiss, fazer alguma versão ou em ter algum integrante da banda gravando comigo. Quando acordei no dia seguinte liguei novamente para meu manager Alex e contei o que eu estava planejando, mas ele disse que seria difícil. Disse que tudo bem, mas que mesmo assim queria um endereço para contato, pelo menos para convidá-los para a festa. Dois dias depois, Alex me ligou logo cedo e disse: "Levante-se imediatamente, se arrume que eu tenho uma surpresa para você!". Não tinha ideia do que iria acontecer. Fui para a rua 57, em Manhattan/Nova York, e Alex já estava me esperando na entrada. Logo perguntei: "Quem está a minha espera?". Ele disse: "O Gene Simmons". Aí a minha curiosidade transformou-se em euforia. Nem sabia o que fazer, porque fiquei nervosa, não sabia o que eu iria falar para ele. Depois de uns 15 minutos andando de um lado para o outro eu fui me encontrar com ele. Gene foi muito simpático, nos recebeu bem e expliquei quais eram meus planos. Ele entendeu tudo e disse que haveria possibilidade dele participar de duas músicas no meu álbum. Começamos a trabalhar e ele acabou participando de todo o processo e ainda produziu o álbum, que foi gravado em Nova York e Los Angeles. Foi inacreditável ir ao estúdio todos os dias, trabalhar cerca de 16 horas podendo expor minhas ideias a Gene Simmons, que é um músico fantástico e uma grande pessoa. Além disso, gravei uma versão de Only You, que se encontra no álbum Music From The Elder do Kiss. Depois disso me tornei ainda mais fã do Kiss.
No álbum True At Heart, além da música Heartshaped Tattoo, como foi a aceitação das outras faixas, pois acredito que muitas seriam perfeitas para tocar nas rádios?
Doro: Como disse antes, minha intenção era fazer álbuns diferentes e inesperadas. Fui para Nashville (EUA) e encontrei um grande ambiente para escrever minhas baladas. Gostei muito das músicas que fiz com Gary Scruggs, The Fortuneteller, Fall For Me Again e I Know You By Heart. O álbum foi muito bem como um todo e me abriu as portas, mas nunca tocaram minhas músicas nas rádios. Isto é muito difícil porque eles logo pensam: “Ela é legal, mas é uma cantora de Heavy Metal!”. Nunca me importei muito com isso.
Na época do álbum Machine II Machine você estava curtindo música eletrônica?
Doro: Não, mas compusemos e gravamos o álbum inteiro, mas quando estávamos para mixá-lo eu disse ao produtor que o disco não mexia comigo e que não estava contente com o resultado. Ele disse: “Como assim, o álbum está pronto!? E você vem me falar isto depois de um ano!?”. Disse novamente que estava descontente e resolvemos fazer muitas mudanças e a sonoridade mudou bastante, foi uma fase experimental, mas não me arrependo. A música The Want ficou tão diferente que me surpreendi com o ‘groove’ e resolvi deixar o álbum inteiro soando como ela. O produtor não ficou tão contente, mas acabamos nos entendendo (risos). Em 1995 o Metal não estava passando por uma grande fase, era aquela época do Grunge, não sei se você se lembra, mas foram tempos difíceis para todos nós. Muitas bandas de Metal acabaram rescindindo seus contratos com as gravadoras, inclusive eu nos Estados Unidos. Ninguém queria mais saber das bandas de Metal e de Hard Rock. Por isso, fiquei contente em conseguir fazer algo diferente e que ninguém estava esperando.
Mudando de assunto, você ainda pratica Thai Boxing (Muay Thai)?
Doro: Sim, comecei em 1995 e adoro praticar. Infelizmente não é possível manter uma sequência séria nos treinamentos, porque muitas vezes estou em turnê ou gravando em estúdio e isto dificulta o ritmo em qualquer esporte. Não está sendo possível praticar constantemente, mas no começo eu treinava todos os dias. Para manter a forma física é um excelente exercício, não só pelo exercício físico, mas pela filosofia de qualquer Arte Marcial. É como na música, você tem que sentir quando pode vencer, você não pode ser lerdo ou chegar atrasado.
A Alemanha tem um grande lutador de Thai Boxing, o Stefan Leko, você o conhece?
Doro: Já ouvi falar dele, mas não sou uma grande expert no assunto. Sei que a Holanda é um grande centro de lutadores e a Alemanha também consegue manter um bom nível nas Artes Marciais.
- Editada a partir de uma entrevista publicada na revista Roadie Crew (ed. 37), de 2002 -
Discografia – WARLOCK:
Burning the Witches (1984)
Hellbound (1985)
True As Steel (1986)
Triumph And Agony (1987)
Discografia – DORO:
Force Majeure (1989)
Doro (1990)
Rare Diamonds (1991)
True At Heart (1991)
Angels Never Die (1993)
Doro Live (1993)
Machine II Machine (1995)
Love Me In Black (1998)
The Ballads (1998)
Best Of (1998)
Calling The Wild (2000)
Fight (2002)
Für Immer (DVD, 2003)
Classic Diamonds (2004)
Classic Diamonds - The DVD (2004)
Warrior Soul (2006)
20 Years A Warrior Soul (DVD, 2006)
Celebrate (The Night Of The Warlock) (EP, 2008)
Fear No Evil (2009)
Site relacionado: www.doropesch.com
JUNTO COM O SCORPIONS ESSA É SEM DÚVIDA UMA DAS MELHORES BANDAS QUE SURJIO NA ALEMANHA.PERFEITO
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