
Quem vivia ou passava temporadas naquela parte da cidade falava em Macuco, Pompéia, Marapé, mas até hoje não sei direito o nome do bairro. Para mim era José Menino, mesma região onde meu avô Augusto e meu bisavô Agostinho - já falecidos - tinham seus apartamentos. Só que lá falavam em Morro do José Menino. Tudo bem, as memórias são várias, mas agora não vêm ao caso, mesmo porque o meu outro falecido avô, o Professor Sóter, e meu tio Eduardo, também tinham apartamentos em São Vicente, perto do tradicional restaurante Boa Vista.

“Vocês estão loucos?! Sair da praia com este sol para voltar para São Paulo e filmar um festival de bandas nacionais em um colégio no sábado?”, esbravejaram. Gavião e eu confirmamos, dizendo que não dava para perder um evento como o “Radha’s Festival”, que teria bandas como Centúrias, Vodu, Sídero, Tormenta, Skullcrusher, Battle, entre outras.

Antes de pegar a estrada para São Paulo fomos almoçar no Beduíno, que ficava ali perto, na avenida Presidente Wilson. Os beirutes, como de costume, estavam muito bons, mas os nossos pensamentos não iam além das câmeras de VHS, as filmagens e o Heavy Metal nacional. Não sabíamos ao certo onde ficava o colégio que seria realizado o “Radha’s Festival”, se no Ipiranga ou na Mooca, mas acabamos achando o local com certa facilidade. Afinal, a vontade de gravar aqueles shows de bandas brasileiras sempre falou mais alto.

Com a autorização para ir para todos os lugares no “Radha’s Festival”, fomos dar uma passada nos camarins, que na realidade eram salas de aula, separadas por banda. Como sempre havia tensão no ar, desta vez porque o vocalista Eduardo Camargo faria um show com o Sídero, justamente antes do set do grupo que o projetou no cenário, o Centúrias. “Será que eles (Centúrias) vão falar com o Edu?”, questionavam alguns que andavam pelos corredores da escola.
O Sídero era uma banda paulistana que ensaiava no bairro dos Jardins e que inicialmente contava com os gêmeos Mario Henrique Machado (baixo) e Mario Augusto Machado (bateria), além de Alex “Duyu” Colacioppo (guitarra) e um outro guitarrista que infelizmente não lembro o nome. A primeira Demo, coisa absurdamente rara, trazia uma mescla de Hard Rock e Metal, em sons como a instigante “Gosto de Fel”. Como a banda tinha diversas composições, mas não conseguia encontrar um vocalista, as partes de voz foram registradas por Alex “Duyu”, hoje um renomado luthier. Tempos depois, da formação original restou apenas Mario Augusto Machado, que chegou a ensaiar com o Viper após a saída de Cassio Audi. O Sídero faria no “Radha’s Festival” seu primeiro show com o novo line-up, agora com o reforço do vocalista Eduardo Camargo.
Tudo corria bem naquela tarde, a não ser alguns atrasos na troca de bandas no palco e o som, que vez ou outra falhava. Mesmo assim, os grupos fizeram shows corretos e agitaram os presentes. O Sídero não impressionou, mas não decepcionou.
Quem teve problemas durante seu set foi o Centúrias, que divulgava faixas do LP “Ninja” (1987). O grupo também estava com um novo line-up, agora com o fundador Paulão Thomaz (bateria) atuando ao lado de César “Cachorrão” Zanelli (vocal, ex-Santuário e Aerometal) e os ex-Harppia Ricardo Ravache (baixo) e Marcos Patriota (guitarra).Eu e Gavião já havíamos filmado o antológico show “No Posers” do Centúrias, ocorrido no Teatro Mambembe a 12 março daquele mesmo ano. Na ocasião, Paulão usou um sinal de ‘proibido posers’ nas peles de resposta dos bumbos gigantes de sua batera (ver foto) e César “Cachorrão” Zanelli passeou pelo palco com uma placa tipo a de trânsito de proibido estacionar com a inscrição ‘proibido posers’. Paulão queria tirar uma onda do visual de seus amigos do grupo paulistano de Hard/Glam Proteus, entre eles Ciro Bottini (vocal - hoje um campeão de vendas no Shoptime) e Joe Moghrabi (guitarra - um dos melhores professores de guitarra do Brasil), que haviam tocado no Mambembe na semana anterior.

