segunda-feira, 26 de julho de 2010

Paulão Thomaz: 50 anos de Rock

"Tenho muito orgulho de ter ajudado a começar tudo isso. Naquela época (anos 80) era tudo mais inocente e amador. Hoje em dia, as bandas não se interessam em ajudar as outras, é cada um por si" - Paulão Thomaz

"Oi, você pode chamar o baterista do Centúrias, o Paulão, que vai tocar aí hoje?", perguntei à recepcionista do Teatro Mambembe. "Quem quer falar?", seguiu a atendente. "Aqui é o Ricardo Batalha, que vai fazer a filmagem do show". Quando falei para ela esta última frase eu não tinha a menor ideia se iria ou não filmar aquele show. Já havia filmado um da banda A Chave do Sol no Teatro TBC no final de 1986 e, apesar de ter visto várias apresentações do Centúrias, não era amigo pessoal de nenhum integrante da banda. "Oi, quem fala?", indagou Paulão. "Que filmagem é essa?", prosseguiu. Expliquei a situação e ele respondeu com grande entusiasmo: "Claro que pode vir aqui filmar nosso show! Vou colocar seu nome na porta, mas chegue um pouco mais cedo, senão já viu... Até mais." É, Paulão já sabia que a entrada no Teatro Mambembe não era fácil, coisa que só fiquei sabendo depois desta estreia.

Ao me ver pronto para sair com o visual headbanger anos 80 em plena segunda-feira, minha mãe logo falou com aquela cara de espanto: "Mas hoje é segunda-feira, o que você vai fazer com esta câmera?!" Respondi que ia filmar um show importante, pedi o carro emprestado e esperei. "Tudo bem. Pode ir, mas cuidado", disse minha mãe. Comi alguma coisa, peguei o carro e rumei à rua do Paraíso, onde ficava o Teatro Mambembe. Confesso que aquela ladeira não era das mais fáceis para um "carta nova" de 18 anos de idade fazer uma "baliza galã" usando o freio de mão direitinho. Bem, aquilo era o de menos. Afinal, eu ia registrar um show do Centúrias em vídeo!

Ao chegar na porta do Mambembe, aquele meu "velho amigo" metido (já citado algumas vezes aqui neste Blog) mostrou o poder de sua empáfia pela primeira vez. "Cara, seu nome não está na lista. Não sei de filmagem nenhuma. Espera aí do lado". Algum tempo depois, ele veio e falou: "Ninguém está sabendo disso, meu. Com quem você falou?". Respondi que tinha combinado tudo com o Paulão. De repente, o cara mudou. "Ah, com o Paulão?! Espera aí então que eu vou ver com ele." Bastaram poucos minutos para ter minha entrada autorizada.

Fui então ao encontro do Paulão, que me recebeu bem e me apresentou a todos os músicos, roadies e técnicos de som e luz que estavam lá. Contei para eles que tinha visto alguns shows da banda com a formação anterior, da fase "Última Noite". Aí, Paulão perguntou: "Mas por que você escolheu filmar o Centúrias?". Ele ouviu a resposta mais óbvia de todas: "Porque eu gosto!" Todos riram.

Fiz a filmagem do show, peguei o contato do Paulão e disse que entraria em contato para dar a cópia da fita (VHS). Saí do Mambembe e tive uma surpresa nada agradável, pois haviam quebrado o vidro e levado o toca-fitas do carro. E aí, como explicar para seus pais que ir a um evento de Heavy Metal numa segunda-feira em São Paulo era tranquilo. Será que tudo aquilo que eu apregoava em casa seria entendido depois disso? Por sorte, meus pais entenderam.

Dias depois, Paulão chegou em casa de bicicleta. Meu irmão Frederico, incrédulo, falou: "É o Paulo Thomaz do Centúrias que tocou a campainha?" Respondi que sim e fui lá falar com ele. Entreguei-lhe a fita e desde então Paulão se tornou um amigo.

Aí, fui convidado para sua festa de 30 anos, realizada no Black Jack Bar. Lembro-me como se fosse hoje de todos detonando o bolo de chocolate e de ter comentado com vários amigos que, assim como eu, tinham 21 anos de idade em média: "O Paulão está fazendo 30 anos! Ele é muito mais velho, mas nem parece". Todos concordaram e seguiram mandando ver na cerveja, na caipirinha e no alexander, no caso do Fanin. Tudo bem, o Fanin vai dizer que não lembra, mas ele tomava isso.

Os anos passaram e Paulão se tornou um irmão mais velho. Quem sabe o real significado de "brother of Metal", entende. Cheguei a ir em várias festas e encontros "etílicos-metallicus" que ele organizava em sua casa/estúdio, além de fazer várias matérias sobre suas bandas para a revista. Numa destas, ele chegou a comentar e rir: "Pô, Batalha, você vai tão a fundo que colocou até a data do meu nascimento. Agora ferrou, todo mundo vai saber quantos anos eu tenho de verdade", divertiu-se.

Já que todo mundo sabe, no último dia 22 de julho, Paulão Thomaz completou 50 anos de idade e comemorou a data com festa no Blackmore Rock Bar, em São Paulo. O bolo, mais uma vez, estava fenomenal. E olha que quem me conhece sabe que raramente eu como doces, mas bolo da festa do Paulão é tradição. Bolo sim, mas caipirinha de balde nunca mais!

Reencontrar velhos amigos e relembrar histórias de tempos que não voltam mais é uma das minhas coisas preferidas. Porém, naquela ocasião, eu, o Fanin, os outros amigos fãs de Metal e músicos que tocaram ou tocam com Paulão, estavam lá para se divertir e, principalmente, reverenciar uma figura ímpar do Rock brasileiro. A legião de amigos e fãs que foram prestigiar o evento viram shows do Lynyrd Skynyrd Tribute, Grand Funk Railroad Cover (Banda Máquina 70) e George Thorogood Tribute (Banda Garbage Truck). Paulão, obviamente, tocou. Desta vez, foram os grandes clássicos do Lynyrd Skynyrd, executados com a mesma pegada e garra que demonstra desde o começo de sua carreira com o Centúrias. Por sinal, o vocalista Cachorrão me mostrou em primeira mão nesse dia a música inédita que gravaram para o documentário "Brasil Heavy Metal". Quem curte o disco "Ninja", pode ter certeza que também vai adorar.

Imagine quantas mudanças e novas tendências Paulão Thomaz vivenciou desde quando começou a curtir Heavy Metal ouvindo os primeiros discos do Black Sabbath. Ele até tem seus momentos 'deprê', em que acha que tudo está errado, mas sua disposição é maior que a de um novato. Passam-se os anos mas suas atitudes, o ânimo e a garra em tocar Rock permanecem intactos. Aquele garoto que, em 1975, ficou deslumbrado ao ver um show da Patrulha do Espaço demonstra a mesma alegria e até mesmo uma ponta de ingenuidade que todos nós perdemos com o passar dos anos.

O jeito vibrante de Paulão é notado tanto quando ele fala do primeiro disco que comprou na vida – uma coletânea do Slade chamada Sladest –, como quando conta sobre as gravações recém finalizadas para o quarto álbum do Baranga, grupo que ajudou a criar em fevereiro de 2000. Além disso, sente o mesmo orgulho em usar camisetas com estampas de bandas que curte, colete de couro, jaqueta com patches e pins, como quando comprou a sua primeira camiseta – "uma do Jimmy Page – na Stoned Shirts, famosa loja de camisetas da rua Augusta nos anos 70. Assim é o senhor Paulo Thomaz Soeiro Rodrigues Alves. Portanto, se você encontrá-lo agitando na frente do palco em um show cover do AC/DC ou do Carro Bomba, saiba que é um entusiasmo real. E ele vai lhe falar, com uma garrafa de cerveja na mão: "Isso sim é Rock'n'Roll!"

Fotos de Arquivo do site www.centurias.com.br

9 comentários:

  1. Pô nem parece que o cara tem 50 anos, mas, muito legal né..um cara que realmente fez e ainda faz história no Rock Pesado Brasileiro.

    Luis Carlos / STATIK MAJIK

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  2. O Paulão é uma lenda!!!
    Uma pessoa talentosa que coloca o coração em tudo o que faz.
    Parabéns pelo texto, Ri!
    O Paulão merece!!!

    Beijão

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  3. Essa descrição do Paulão é perfeita. Entrevistei-o pela primeira vez, para a finada revista Metal, lá por volta de 85/86. E ele continua o mesmo sujeito. Cheio de energia, de princípios e de convicções. Parece que, a exemplo de ícones como Lemmy e Keith Richards, o tempo não passa para ele. Ainda bem! Long live, Paulão!

    Tony Monteiro

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  4. Paulão é nosso grande brother e merece todas as homenagens, afinal 50 anos de puro Rock n roll não é para qualquer um...infelizmente não pude comparecer ao Blackmore, mas estive nos outros shows da "Semana Paulão"...Feliz aniversário meu amigo!!
    Edson "Édão" Graseffi

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  5. OI batalha,, que legal sua coluna... continue dando essa força para o rock nacional...adorei a matéria com o Paulão... Força e rock na veia!!!!
    Um beijo
    Tibet

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  6. É Batalha!
    Eu era um dos roadies do show do Mambembe. Também estava na festa do balde (Obra do B12) e na festa no Black, que acabou numa meleca total.
    Paulão é um irmão. Merece todas as homenagens. Grande Brother.
    Abração

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  7. Grande Paulão! A lenda, o amigo, a enciclopédia!
    E vem mais 50 por aí!
    Mirtô, bela matéria!

    Renato Canonico - Ancesttral

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  8. ....aeeeee irmão o que posso dizer...muito obrigado a vc e a todos que postaram ...puta abç paulão

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  9. Bacana demais Batalha!!
    Rock'n'roll, o outro lado da moeda.

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