segunda-feira, 23 de abril de 2012

At MOA...




Quando o fanzine ROADIE CREW surgiu, em julho de 1994, eu estava em plena recuperação de um grave acidente automobilístico ocorrido em março daquele ano, que me causou a perda total da visão do olho esquerdo e a implantação de uma placa de titânio na mão direita. Pois bem, segui vivendo muito bem com isso mas, no último mês de março, voltei a ter problemas sérios com o olho, por causa de uma infecção. Passei mais de um mês em casa, sem poder sair. Com isso, perdi a intensa maratona de shows e eventos realizados entre março e abril, que bateram o recorde. Perdi todos, mas no fundo estava contente porque jamais a nossa cena havia visto tantos shows e presenças ilustres num espaço de tempo tão curto. Enfim podíamos nos orgulhar e dizer que hoje o fã tem que escolher em qual evento comparecer, pois muitos ocorrem no mesmo dia. Ah, que sonho, "viramos" a Europa e os Estados Unidos. Opa, pode parar... Não viramos.

Na época em que a ROADIE CREW começou a fazer coberturas de eventos internacionais o pensamento era o seguinte: 'se os festivais de Metal não vêm mais ao Brasil, vamos a eles!'. Tal decisão foi tomada primeiro para mostrar ao público brasileiro como eram realizados grandes shows de Heavy Metal no exterior e também pela forma atenciosa com que os produtores estrangeiros nos recebiam, algo totalmente diferente do que ocorria (ocorria?!) em nosso país. Por aqui ainda acham que basta dar um ingresso de pista para um profissional e ele que se vire. Pena que poucos sabem o que é um repórter que trabalha com música. Pensam que é apenas um fã de determinada banda que vai entrar de graça no show e depois escrever para a uma revista ou site. Parece engraçado, mas não é. Este pensamento pequeno limita muito quem efetivamente quer e precisa trabalhar.

Conferir shows inesquecíveis dá aquele sentimento de vitória no lado fã, pois claramente você se realiza em megaeventos como "Wacken", "Gods Of Metal", "Dynamo Open Air", entre tantos outros muito bem organizados. Porém, quando se está ao lado de jornalistas do mundo inteiro, sendo tratado efetivamente como profissional que atua no meio do Heavy Metal, aquilo causa um misto de orgulho e tristeza. Orgulho por sentir que no exterior há uma indústria atuante da música pesada e que você está inserido nela e tristeza por perceber que isto está bem longe de acontecer no Brasil. O "Metal Open Air" foi um exemplo caótico de que ainda estamos engatinhando.

Nestes últimos dias, todo mundo leu e viu as notícias lamentáveis sobre o evento, que sofreu cancelamento em massa das atrações e depois nem pôde ter prosseguimento. Porém, sabemos que aquele maldito estigma de que os fãs de Heavy Metal "quebram tudo" nunca foi verdadeiro. Queira mesmo saber quem veio com essa ideia imbecil e falsa de que fãs de Metal são arruaceiros que destroem as casas de shows. Todos os dias temos que nos justificar. Sempre tem alguém falando besteira e inverdades sobre quem anda de preto, quem usa visual carregado, quem tem cabelos compridos e por aí vai. Só que, ao contrário do que alguns alarmistas previam em meio ao caos do "Metal Open Air", o público, já tão derrotado, saiu sem "quebrar tudo". E quer saber, deram um exemplo de civilidade. Até li gente dizendo que eram "muito passivos" nessas horas. Passivos? O sentimento destas pessoas que viajaram de longe, gastaram suas economias e se endividaram por causa de um sonho, foi como se o Brasil tivesse perdido 20 finais de Copa do Mundo seguidas!

Em meio ao cheiro de merda, o descaso e a tragédia anunciada, restou o prejuízo financeiro, a indignação e a decepção de pessoas que sempre sonharam em ver um megaevento. Os fãs de Heavy Metal são consumidores ativos e interessados, pessoas das mais variadas faixas etárias, cor, raça, classe social e que, apesar de não terem uma filosofia a ser seguida, demonstram uma coisa que muitos deixaram para traz: fidelidade. E estes pedem apenas uma coisa: respeito. Hoje eles choram, você chora e eu choro.

Foto: Maicon Leite

Um comentário:

  1. Ver a imagem da coisa toda vazia só não foi tão triste quanto ver o palco Ronnie James Dio (o da esquerda) começar a ser desmontado, lá pelas 5 horas da tarde do segundo dia.

    E esse lance de civilidade foi durante o festival inteiro. Chegamos logo cedo para conseguir bons lugares no primeiro dia, e as coisas já estavam dando errado. Era uma caminhada muito (muito mesmo) grande para se conseguir água na enorme fila abaixo do sol escaldante, e todo mundo se ajudava. Depois do Hangar ter cancelado, não sabíamos o que aconteceria. Da noite anterior, sabíamos que o Venom não viria, e estávamos o tempo inteiro olhando pela internet móvel as bandas que cancelavam. Saxon foi uma das que mais gerou comentários de decepção.

    E mesmo com todos esses cancelamentos, não houve briga nenhuma. Era bom estar naquela massa popular de pessoas com camisetas de banda, estereotipadas de maconheiros e arruaceiros pelos mais conservadoristas, e NENHUM desrespeito acontecer.
    O próprio Marcello Pompeu comentou isso quando chamou a imprensa lá encima, clamou por usarmos o Maloik popularizado por Ronnie James Dio, o sinal da indignação e cantar o Hino Nacional.

    Talvez viajar mais de 4000km tenha sido cansativo, mas pude presenciar o maior exemplo já demonstrado da união dos headbangers brasileiros.

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