domingo, 1 de março de 2009

Arquivo Entrevista: ALEX WANK (Pungent Stench)

O trio austríaco de Death Metal Pungent Stench foi formado em 1988 e ajudou a engrandecer a cena com um som brutal, imagens chocantes e um tom sarcástico em suas letras. Após o lançamento do EP Extreme Deformity, que incluía três composições do Demo-Tape, a banda foi uma das primeiras do cast da gravadora Nuclear Blast, que não poupou esforços para o lançamento do álbum For God Your Soul...For Me Your Flesh (1990). O trabalho foi muito bem recebido e a banda seguiu em turnê, conquistando muitos fãs. Em novembro de 1991 sai o segundo álbum Been Caught Buttering, que inclui a clássica Why Can’t Bodies Fly. Na seqüência saem em turnê pela Europa, Estados Unidos, Austrália, Turquia e Israel. Em 1993 ocorre o relançamento de For God Your Soul...For Me Your Flesh, seguido de um mini-album Dirty Rhymes And Psychotronic Beats. As sempre concorridas e marcantes apresentações resultaram no lançamento do homevideo Video La Muerte, que serviu de aperitivo para o trabalho seguinte, Club Mondo Bizzare - For Members Only, que saiu em outubro de 1993. Mesmo com o nome em alta e com um público crescente a banda resolve encerrar as atividades. Já com a banda inativa, a Nuclear Blast lança o CD-Box Praise The Names Of The Musical Assassins, contendo material raro e inédito. Após seis anos fora da cena, os fundadores Alex Wank (bateria) e Martin Schirenc (vocal e guitarra) se uniram ao baixista do Belphegor, Marius, e lançaram Masters Of Moral, Servants Of Sin, trabalho que deverá recolocar o trio na ponta da cena do Death Metal na Europa. Todas as marcas registradas da banda foram mantidas e é Alex Wank quem conta os detalhes.

Você pode me contar um pouco mais sobre o conceito do novo álbum, Masters Of Moral Servants Of Sin (mestres da moral, escravos do pecado).
Alex Wank: O título cai de forma perfeita para nós três da banda. Além disso é uma coisa que vai de encontro à religião. Muitos estão adotando estes temas ligados a conceitos religiosos e quisemos dar a nossa posição a respeito do assunto.

Você ainda acredita que é muito mais fácil compor músicas agressivas sendo um trio?
Alex: Pode ser. Nós sempre fomos um trio, mas comumente as composições são elaboradas por uma dupla, eu e o guitarrista Martin. O baixista pega as músicas prontas e depois ajusta as partes do baixo.

Por que o baixista Jacek Perkowski preferiu não participar deste retorno? Como vocês conseguiram chegar ao substituto, Marius, do Belphegor?
Alex: Quando desmanchamos a banda em 1995, Jacek parou de tocar e não se envolveu mais com música. Sei que ele vendeu seu instrumento e não está mais interessado em Metal e a música em geral ficou em segundo plano para a vida dele. Nós já conhecíamos Marius e sabíamos que além de um grande baixista ele era uma pessoa legal. Também tínhamos plena consciência de que ele poderia tocar nossas músicas. Entramos em contato e ele aceitou, mas agora está dividindo seu tempo com o Pungent Stench e o Belphegor. Sabemos que esta foi a melhor escolha para nós.

No novo álbum, consta uma faixa chamada Schools Out Forever. Existe alguma conexão com o clássico do Alice Cooper?
Alex: Acredito que não, pois esta é uma composição de Martin e fala sobre aquele episódio trágico ocorrido em Denver (EUA), ocorrido no ano passado. Um maluco mafioso saiu atirando em todas as pessoas. Sei que ele sabia desta ligação com a música de Alice Cooper, mas pensou que seria o título mais indicado para o que a letra quer dizer. Nós gostamos de tudo que o Alice Cooper fez nos anos 70.

Acredito que a faixa Diary Of A Nurse, do novo trabalho, poderá se tornar um novo clássico da banda. Você tem fantasias sexuais com enfermeiras?
Alex: Claro! Elas são sempre bem vindas! Temos desejos e obsessões infindáveis. Acredito que seria ainda melhor se fosse uma enfermeira brasileira (risos). 

E quanto a The Convent Of Sin (N.R.: O convento do pecado)?
Alex: Esta também tem um cunho sexual, pois fala do que acontece nos conventos. Você até pode imaginar o que acontece num convento, não? Muito lesbianismo, é claro.

A sonoridade do novo trabalho engloba o tradicional Death Metal com partes bem próximas ao Thrash. Você acredita que a banda conseguiu achar o modo certo de conquistar novos fãs?  
Alex: Espero que sim, mas primeiro nos fazemos música para nós mesmos. Tentamos ser o mais pesado e agressivo possível, além tentar fazer algo um pouco diferente, com o uso de alguns riffs mais complexos, sempre com muita velocidade e um pouco de melodia. É apenas a música que caracteriza o Heavy. Sei que existe nosso toque pessoal do som dos anos 80, mesmo porque nós somos desta época.

Vocês pretendem lançar algum videoclipe para promover o Masters Of Moral Servants Of Sin?
Alex: Não posso afirmar nada a este respeito porque não sei se teremos condições para gravar um novo clipe. Isto não depende exclusivamente de nossa vontade. Como você sabe, precisamos do apoio da gravadora. Se eles investirem, ou melhor, se acharem necessário investir, nós o faremos. E espero pode ter esta oportunidade novamente. Não sei qual música iríamos escolher, mas temos muitas idéias para um novo clipe.

Como era tocar Death Metal na Áustria, no início de sua carreira? As bandas americanas serviram de inspiração para o som do Pungent Stench?
Alex: Certamente serviram, mas não foram apenas as bandas americanas. Naquela época algumas bandas que hoje tem um forte nome na cena tinham gravado apenas Demo-Tapes. Posso citar algumas bem legais, como Master, Terrorizer, Repulsion e Slaughter. A cena na Áustria era bem pequena quando começamos. Não havia nada. Não tínhamos uma gravadora, revistas, bandas, empresas de distribuição, e nós fomos uma das primeiras a começar com o crescimento da cena. Nós apenas fomos fazendo nosso trabalho e conseguimos! Existiam muitas possibilidades de começar a expandir nosso nome. No underground era muito comum a troca de tapes de bandas do mundo inteiro. Eu mesmo fazia isto com freqüência e enviei nosso material para muitos países. Acredito que a cena era até um pouco parecida com o que ocorria no Brasil.

E era mesmo! Quanto às letras, vocês sempre foram sarcásticos?
Alex: Nós somos assim. Sou muito bem-humorado. Vejo muitas coisas esquisitas que acontecem na vida real e as transformo em estórias. Gosto deste meu lado sarcástico e cínico e por isso as letras refletem isto. 

O que você acha dos falsos moralistas de nossa sociedade?
Alex: Nossa, existem tantos! É ainda mais extremo quando levamos para o lado dos religiosos. Esta é uma das principais razões de eu criar este tipo de letras para nossas músicas. Somos os mestres da moral (risos).

Em 1990, quando a banda lançou o For God Your Soul...For Me Your Flesh, como foi a aceitação dos fãs nos shows?
Alex: Esta foi a época de nossa primeira turnê, com muitos shows, ao lado do Master e Abomination na Europa. Lembro-me que tudo saiu como planejado e foi muito legal. Era o começo da cena do Death Metal, aliás, o começo da expansão! Todos os fãs gostaram muito e foi uma época muito boa para nós. 

Por que vocês gravaram uma nova versão de Blood, Pus And Gastric Juice? Foi algo especial para o mercado americano?
Alex: As cópias do For God Your Soul... esgotaram-se depois de três anos e quisemos remixar o álbum inteiro, mas naquela época duas músicas haviam sumido dos tapes que continham as gravações originais. Então, tivemos que regravá-las, sendo uma delas a Blood, Pus And Gastric Juice. Na mesma época lançamos o Dirty Rhymes And Psychotronic Beats e quisemos incluir esta nova versão. Isto não foi só para o mercado americano, mas para a Europa. O que acontece é que o For God Your Soul...  não havia sido lançado nos Estados Unidos e só saiu depois, com as novas versões e as outras faixas remixadas.

É verdade que você gosta de tocar Death Metal, mas não gosta de ouvir este estilo quando está em casa?
Alex: É verdade. Mas, eu explico (risos). Trabalho o dia inteiro em minha loja de discos e escuto Metal o tempo todo. Portanto, quando chego em casa à noite, meus tímpanos estão estourando e preciso ouvir algo mais relaxante, que me acalme.

Você não acha que a imagem ainda é importante para caracterizar uma banda?
Alex: Certamente é muito importante, porque uma banda sem imagem é uma banda sem rosto! As pessoas gostam de se divertir e é muito importante você conseguir fazer isto, passar sua mensagem não só com a música. Sei perfeitamente que a música é o mais importante, mas nós precisamos mais! É por isso que o Kiss, ou até mesmo WASP, são bandas sempre lembradas e que atraem um grande público até hoje.

Em 1993 vocês tiveram problemas com a censura por causa do home video Video La Muerte? Você acredita que atualmente, com tudo o que vemos na TV, alguém seria capaz de vetar alguma imagem de um outro vídeo da banda? Você declarou que a realidade da televisão é mais anormal do que tudo que poderiam pensar em escrever!
Alex: Sim, ainda penso que é assim! Bem, nós tivemos alguns problemas com este material, mas a Nuclear Blast lançou duas versões distintas. Uma delas sem censura e a outra vinha com alguns cortes para o mercado alemão. Na vida real muitas coisas extremas estão acontecendo e por isso nunca entendi direito por que o vídeo que uma pequena banda da Áustria causou tanto frenesi. Os noticiários da TV são bem extremos e reais!

Em 1997, foi lançado o CD-Box Praise The Names Of The Musical Assassins, contendo material raro e inédito. Quem teve a idéia deste lançamento e este foi o primeiro passo para uma reunião?
Alex: Eu mesmo escolhi todo o material, pois foi um pedido da gravadora. Encontrei 19 músicas que não haviam entrado em nenhum lançamento anterior, coisas bem raras e que seriam interessantes para um fã. Mesmo assim não tinha pensado em voltar com a banda naquela época.

Vocês nunca anunciaram oficialmente que a banda havia se separado?
Alex: Nós nos separamos em 1995 e voltamos no ano passado. Sei que andam falando que nunca dissemos que a banda acabou, mas isto é besteira da Nuclear Blast. Como lhe disse, nós nos separamos de fato em 1995.

E quanto ao mercado austríaco da atualidade, está melhor para as bandas de Metal?
Alex: Dentro das possibilidades está muito melhor. Temos uma grande cena, com várias bandas que estão tentando ganhar reconhecimento na Europa. Agora está muito mais fácil porque existem várias gravadoras européias que trabalham com Metal e se você é bom no que faz o caminho fica mais fácil e talvez eles assinem com a banda.

Vocês fizeram shows em vários países, mas você conhece alguma coisa do mercado brasileiro?
Alex: Não muito, nunca estivemos ai, mas adoraríamos poder tocar no Brasil. Se tivermos oportunidade será muito interessante. Iremos realizar uma excursão pela Europa entre os meses de abril e maio do ano que vem. Se tudo der certo, temos intenção de estendê-la para outros locais e colocar o Brasil na agenda seria maravilhoso.

Entrevista publicada na edição #35 da revista ROADIE CREW (novembro de 2001)

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