segunda-feira, 2 de março de 2009

Arquivo Entrevista: ROB HALFORD

Consciente e nada nostálgico quando o assunto recai sobre os avanços tecnológicos e as novas formas de se ouvir e consumir música na atualidade, o vocalista Rob Halford (Judas Priest, Halford, ex-Fight) acaba de criar a gravadora Metal God Entertainment (MGE). A idéia vanguardista do "Metal God" para esta nova empreitada visa possibilitar com que seus fãs façam o download oficial de músicas exclusivas através do iTunes da Apple. Para a estréia da MGE, Rob preparou um material especial para os fãs da banda Halford - contando com duas músicas inéditas e o relançamento do antigo catálogo - e do Fight, com versões Demo de alguns clássicos. Direto de San Diego/CA (EUA), o Metal God fala sobre esta ousada ação, os novos sons do Halford e, ainda, comenta sobre os ótimos momentos da época no Fight e adianta detalhes do novo CD de estúdio do Judas Priest, o conceitual Nostradamus.

Você está com uma nova empreitada, a gravadora Metal God Entertainment (MGE). Quando veio a idéia de criá-la?
Rob Halford: Criamos a MGE, Metal God Entertainment, para estabelecer os parâmetros de download através do site robhalford.com. Este é apenas um negócio novo, uma aventura, que foi elaborada especialmente para os meus fãs em todo o mundo - sejam do Halford, do Judas Priest, do Fight ou os de Metal em geral -, que terão a chance de baixar músicas exclusivas através da iTunes da Apple (N.R.: iTunes é um programa da Apple no segmento de música digital, onde o internauta pode baixar e comprar músicas instantaneamente; sendo possível organizá-las por data, artista, ritmo, ordem alfabética, etc; e os usuários podem comprar músicas no formato MP3, gravar CDs ou exportar para um iPod.).

E o primeiro som liberado para download através deste sistema é Forgotten Generation, do Halford...
Halford: Sim, esta é a primeira música do Halford em quatro anos!

Na seqüência, quais serão os lançamentos?
Halford: Já estamos promovendo o relançamento do Crucible e do Resurrection, além do ao vivo Live Insurrection. Também será lançada uma compilação (N.R.: Halford: Metal God Essentials - Volume 1), contendo quinze músicas, sendo algumas tiradas de antigos Demos do Fight, as músicas novas - Forgotten Generation e Drop Out - e outras bem conhecidas.

Tudo isto só será possível de ser adquirido através deste sistema?
Halford: Inicialmente sim, somente através do iTunes da Apple. Mas eu estou trabalhando para que isto também esteja disponível em meu site na área de download. Estas são as novidades!

O que você pode falar a respeito das novas músicas do Halford, a Forgotten Generation e a Drop Out?
Halford: Elas realmente têm a essência e o estilo único da banda Halford. É difícil fazer algum tipo de comparação com os álbuns anteriores, mas eu acho que a Forgotten Generation tem algum tipo de vibração contida na Made In Hell, do Resurrection. Já a Drop Out tem mais a cara daquele Metal mais viajante dos anos 70. No final, o que mais importa é que após quatro anos os meus fãs e os do Priest poderão escutar algo novo do Halford!

Já que citou anteriormente sobre a inclusão de antigas Demos do Fight, você sente saudades daquela época? Aqui no Brasil o Fight obteve uma grande receptividade e aquele show no Olympia (SP) foi memorável!
Halford: Sim! Eu me lembro de tudo que aconteceu em São Paulo na época do Fight! Os fãs da América do Sul realmente enlouqueceram nos shows e o War Of Words foi mesmo um sucesso por aí. Em São Paulo tudo foi fantástico! Eu sinto falta sim, ainda mais porque eu sinto que havia algo mágico naquela banda, mas já faz mais de uma década e muita coisa aconteceu na minha vida desde então. Aquele foi um momento muito bom para mim, porque eu estava conseguindo realizar tudo que eu tinha em mente para o Fight.

Então foi por isso que você incluiu as Demos antigas do Fight, porque se fosse algo que não tivesse o agradado certamente você nem falaria a respeito, não?
Halford: Existem muitas coisas interessantes da época do Fight, material Demo incrivelmente agressivo! Era um som único, com personalidade, e já que tínhamos estes arquivos guardados, quisemos que os fãs também tomassem conhecimento, ainda mais que são versões diferentes de sons conhecidos, como War Of Words, Nailed To The Gun e Kill It. Os fãs do Fight certamente vão curtir muito!

O Fight pode mesmo ser considerado um fenômeno no Brasil e até hoje em dia passa o clipe da Nailed To The Gun em programas especializados em Metal na televisão, incluindo a MTV/Brasil...
Halford: Eu estava conversando com o Roy Z um dia desses, falando que seria legal fazermos algo novo com o Fight e ele me olhou com aquela cara de espanto. Mas é que esta banda tem algo realmente diferente e especial que nem eu consigo explicar direito. Então, nunca se sabe o que poderá acontecer e não afirmo que é 100% certo de que gravaremos material novo com o Fight, mas eu estou seriamente propenso a levar esta idéia adiante no futuro.

Até mesmo o nome da banda casa de forma perfeita com o som!
Halford: Justamente! E todo mundo sabe o que significa Fight (N.R.: Luta, em português). É um nome bem violento, explosivo e traduz de forma fiel toda a musicalidade da banda.

E quanto ao lançamento do DVD do Halford ao vivo no "Rock In Rio"?
Halford: Quando eu estava com o Maiden fizemos uma turnê mundial, que culminou com o show no "Rock In Rio", em frente a mais de cem mil fãs, que adoraram nossa performance! Aquele show foi filmado e Roberto (Medina), idealizador do "Rock In Rio", foi muito legal comigo, dizendo que poderíamos usar as imagens de toda a apresentação. No EP Silent Screams que está saindo pelo sistema de download que falei, consta o vídeo ao vivo desta música gravado no "Rock In Rio 3", além de outras versões dela, incluindo a Demo. No meu site oficial consta um trecho deste vídeo do festival, que foi algo realmente incrível para a minha carreira. Em breve, o DVD completo será lançado.

Você sempre se anima quando lembra de suas performances no "Rock In Rio", com o Judas Priest e o Halford, não?
Halford: Claro! A primeira foi aquela noite com Guns N' Roses, e foi espetacular. O "Rock In Rio" é sempre uma grande experiência para todos os envolvidos com a música. Eu acho que para nós tudo aquilo foi fascinante, pois tocamos para uma das maiores platéias de Metal. Aquelas memórias nunca saíram de nossas mentes! Aquele momento para o Judas Priest foi muito importante. Bem que queríamos repetir a dose. Quem sabe?...

Mas agora então para repetir a dose você terá que ir para Portugal, no "Rock In Rio Lisboa"...
Halford: Eu sei disso, mas acredito que se todos nós rezarmos bastante, poderemos ter novamente um "Rock In Rio", no Rio (risos). O Judas Priest iria adorar repetir a dose!

Roy Z esteve recentemente no Brasil, mas ele ainda pertence ao Halford?
Halford: Sim, está conosco. A formação da banda Halford conta com o Roy, além de Metal Mike Chlasciak, Bobby Jarzombek e Mike Davis. Roy agora é uma lenda e adora mesmo ir ao Brasil, já que suas raízes são da América do Sul. Ele é um cara incrível e um fantástico produtor, um compositor de mão cheia e um talentoso guitarrista. E também tem orgulho das raízes dele e por isso sempre se diverte muito aí no Brasil.

Na festa do "Live 'N' Louder Rock Fest", realizada no Manifesto Bar, em São Paulo (SP), ele riu bastante quando fomos tirar uma foto e eu pedi para que ele segurasse um papel escrito: "Prefiro Resurrection ao Demolition", e ele se recusou...
Halford: (risos) Ele é assim mesmo, bem centrado, educado e humilde. Um cara legal mesmo! E ele fala português fluente. Nós estávamos trabalhando certo dia e ele recebeu um telefonema e começou a falar, aí eu pensei: 'Lá vai o Roy com aquele seu português enrolado' (risos).

Voltando para a Metal God Entertainment (MGE), você pretende lançar todo o material que citou aqui no Brasil?
Halford: Estamos trabalhando bastante para que todos os fãs ao redor do mundo possam adquirir o material da Metal God Entertainment, não só os que possuem o iTunes da Apple. Mas o que acontece mesmo é que em breve os CDs se tornarão obsoletos, não podemos negar isso. Ele vai ficar da mesma forma que as fitas K-7 e os álbuns de vinil. Mesmo assim, eu acho que os fãs sul-americanos merecem ter as mesmas oportunidades e chances que qualquer outro do mundo para se envolver nesta nova tecnologia. Eu sei que os sul-americanos também começarão a abraçar este novo modelo e ficarão animados.

E quanto ao Judas Priest, como estão os trabalhos para o novo álbum de estúdio?
Halford: Estamos gravando o novo álbum, que se chamará Nostradamus, que será uma espécie de Ópera Metal. K.K. (Downing) e Glenn (Tipton) estão finalizando as guitarras neste momento na Inglaterra. Eu estou trabalhando nas letras e irei para lá gravar os vocais assim que eles tiverem finalizado as sessões de guitarra. Irei gravar no mesmo estúdio onde fizemos o Angel Of Retribution.

Como está sendo este novo desafio de escrever letras para um disco conceitual sobre Nostradamus (N.R.: Michel Nostradamus foi um médico, filósofo e astrólogo francês do Século 16)?
Halford: Eu sei que os fãs do Priest curtem os personagens que falamos no passado, como o 'Painkiller', o 'Ripper, o 'Hellrider' ou o 'Sinner', mas agora temos que falar deste homem que viveu no século 16 e este é um novo desafio.

Musicalmente, o que você pode adiantar a respeito do novo CD do Judas Priest?
Halford: Ele terá todos os elementos que os fãs gostam. Temos aquelas músicas mais aceleradas, as mais agressivas, a balada, as clássicas e típicas do Priest, mas a novidade será a adição de orquestra e coros, ou seja, uma nova dimensão para nosso som. Nunca tememos novos desafios e mudanças, e por isso, que queremos levar o Priest a um novo patamar. Acho que para os fãs não será tão difícil de assimilar, porque é puro Metal! Somente o lado de ser um álbum conceitual é algo realmente novo e diferente do que estávamos acostumados.

Como vocês vão fazer na nova turnê? Irão tocar o álbum Nostradamus inteiro?
Halford: Sim, nossa turnê - que ocorrerá entre 2007 e 2008 - será dividida em duas partes. Faremos primeiro a do Nostradamus, que eu queria muito apresentar em São Paulo e no Brasil, e depois uma mais, digamos, normal contendo todos os clássicos. O set com o álbum conceitual terá um cenário especial, como efeitos de ilusionismo, muita iluminação e vários efeitos para podermos contar a história.

Passada o impacto do seu retorno, qual a sua análise sobre o Angel Of Retribution?
Halford: Eu acho que foi um bom álbum de retorno. Ele agora está andando com suas próprias pernas, se é que me entende. Ele deve ser encarado como um dos importantes momentos da história do Priest. Olhando para trás e vendo nossa discografia eu poderia dizer que os pontos mais importantes foram nos álbuns Sad Wings Of Destiny, Stained Class, British Steel, Screaming For Vengeance, Painkiller e o Angel Of Retribution. Curto muito as faixas Judas Rising, Hellrider e a Loch Ness, que espero poder tocar para os fãs brasileiros em uma próxima visita.

Entrevista publicada na edição #96 da revista ROADIE CREW (janeiro de 2007)

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