Nos dezesseis anos de carreira, a banda alemã Kreator se consolidou como um dos grandes expoentes do Thrash Metal e seus primeiros trabalhos são considerados marcos históricos deste estilo. Porém, após uma série de mudanças no line-up, a banda passou a fazer experimentações no som, culminando com o lançamento de "Endorama" (2000), quando criaram um novo estilo, o "Gothic Thrash". Mesmo com um bom desempenho, o trabalho não atraiu a atenção dos fãs, que pediam de forma incessante que a banda voltasse a apresentar o velho som agressivo que tornou-a mundialmente conhecida. Desta forma, o líder, guitarrista e vocalista Mille Petrozza concentrou todas as suas forças para o lançamento do mais recente álbum, "Violent Revolution", que marca uma volta às raízes e também mais uma mudança na formação, com a saída de Tommy Vetterli (ex-Coroner) e a entrada do finlandês Sami Yli-Sirniö (ex-Waltari e In Rags). Na entrevista a seguir, Mille concorda que a banda voltou a fazer um som agressivo, mas também não renega o trabalho feito em "Endorama".
Você concorda que o novo álbum, "Violent Revolution", tem a mesma vibração e agressividade do "Coma Of Souls"? Por que houve essa mudança em relação a "Endorama"?
Mille Petrozza: Sim, sem sombra de dúvida, tem mesmo esta pegada. Analiso o álbum como uma mescla do som do Kreator nos anos 90 e 80, sendo que tende bem mais para a década de 80. Posso dizer que tem mais de Coma Of Souls do que do "Outcast" ou do "Endorama". O álbum é mais orientado para salientar os riffs de guitarra, a brutalidade e a velocidade do que as experimentações que fizemos nos trabalhos mais recentes.
Esta sonoridade surgiu de forma natural ou vocês planejaram uma volta às raízes forma intencional?
Mille: Foi muito natural. Nada foi planejado de forma prévia, tocamos música por instinto não colocamos idéias no papel para depois testar e ver como fica. Para ficar mais claro, posso dizer que não houve qualquer tipo de reunião para discutir sobre uma possível volta às raízes.
Por que o guitarrista Tommy deixou a banda? Como vocês encontraram o seu substituto, o finlandês Sami?
Mille: Por razões pessoais. Na verdade, ele perdeu o interesse. Quanto à Sami, nós já o conhecíamos e por isso não tivemos problemas, pois bastou entrar em contato com ele para acertar as coisas.
E o que você achou do trabalho dele no novo álbum?
Mille: Ele fez um grande trabalho no nosso álbum, contribuiu muito para o resultado final. Mais da metade das guitarras-base foram gravadas por Sami e ele também adicionou alguns elementos mais melódicos, que ficaram interessantes.
Nós nos encontramos no “Wacken” este ano, mas gostaria de saber quais foram suas impressões sobre o evento? Por que o Kreator não participou?
Mille: Nós iremos tocar no próximo ano. O “Wacken” contou com muitas bandas e vários palcos, mas tudo foi muito pacífico. Achei bem interessante constatar que pessoas de vários países foram conferir o evento, pois isto é muito importante. Não vejo a hora de me apresentar no “Wacken”, mesmo sabendo que será só no ano que vem!
"Endorama" é um grande álbum, mas você concorda que a banda não conseguiu uma boa receptividade dos fãs?
Mille: Com certeza foi um álbum bem polêmico. Acredito que muitas pessoas não entenderam o que nós estávamos querendo fazer naquele momento e por isso demorou muito para que estas mesmas pessoas se tocassem de que é um bom álbum. É o tipo de álbum que você tem que ouvir mais de uma vez, pois tem uma concepção um pouco diferente, não é aquele típico álbum de Metal que nós ouvimos todos os dias. Você tem que dar mais tempo a ele e muitas pessoas não têm ou não querem dar este tempo. Mesmo assim, acho que é um dos mais importante trabalhos do Kreator e muitos poderão aceitá-lo daqui uns cinco anos. Já estou até sonhando o dia que vierem me dizer: “Oh, por que vocês não fazem algo como o "Endorama"?”. Nunca se sabe, não posso culpar ninguém por não aceitar alguma coisa, isto é muito pessoal.
Cheguei a escrever em minha resenha que vocês estavam buscando criar um novo estilo, algo como o "Gothic Thrash Metal".
Mille: Sim, é verdade, estávamos buscando isso mesmo, mas as pessoas não estavam tão abertas para aceitar isso. Acredito que agora, com o "Violent Revolution", nós voltamos a tocar com mais agressividade, colocamos para fora toda a nossa ira, algo que tínhamos deixado um pouco para trás no Endorama. Talvez, daqui para frente, eu use este estilo que você citou para algum projeto paralelo que eu venha a criar. Ou talvez não... (risos).
Você sabia que o guitarrista Frank ‘Blackfire’ Gosdzik está morando no Brasil atualmente? Por que ele deixou a banda?
Mille: (demora para responder) Por diversas razões. Basicamente, ele não estava muito contente com o que estava acontecendo.
Mas vocês tiveram grandes momentos nos shows do Brasil, você se lembra?
Mille: Sim, o público foi fantástico, muito dedicado. Eles realmente gostam da banda e fazem questão de mostrar para nós a sua devoção. Achei tudo muito legal!
Agora vocês farão uma turnê ao lado do Destruction e Sodom. Quais são as suas expectativas?
Mille: Esta é uma turnê que todos estavam esperando e até pedindo para que fosse viabilizada. Será necessário fazê-la, pois é muito importante dar aos fãs o que eles realmente desejam. Não haveria razão para não a realizarmos e acho que irá agradar todo mundo, pois todas estas bandas estão com novos trabalhos muito interessantes.
Cite algumas músicas dos álbuns "Pleasure To Kill" e "Endorama" que estarão no set list destes shows.
Mille: "Under The Guillotine", "Riot Of Violence" e pode ser que coloquemos mais alguma. Do "Endorama" nós tocaremos a "The Golden Age".
Já que citei dos opostos, gostaria de saber de você qual é o melhor álbum musicalmente que o Kreator já lançou?
Mille: Assim de primeira, acho que o "Coma Of Souls" obteve a maior vendagem. Agora, pelo lado musical, todos tiveram sua importância na época que foram lançados. Não tenho um em particular que posso dizer que seja meu favorito. Quanto ao desenvolvimento como músicos e compositores, o "Endorama" tem o seu valor, mas o "Coma Of Souls" era bem complexo para a época. Por isso, digo que todos foram importantes.
Entrevista publicada na edição #35 da revista ROADIE CREW (novembro de 2001)
Nenhum comentário:
Postar um comentário