No início dos anos 80 o trio alemão Sodom iniciou sua carreira fazendo um som simples, direto, agressivo e com uma temática que o colocava como um dos pioneiros do Black Metal, como comprovam os álbuns In The Sign Of Evil (EP, de 1985) e Obssessed By Cruelty (1986). Após várias mudanças no line-up, o líder Thomas Such “Tom Angelripper” (vocal e baixo) decidiu mudar o tópico das letras. Esta mudança, aliada a uma natural evolução técnica, transformou a banda como uma das grandes realidades do Thrash Metal germânico. Os constantes problemas com as trocas de integrantes não foram capazes de obscurecer o sucesso dos álbuns Persecution Mania (1987) e Agent Orange (1989). O single Ausgebombt fez com que o trio fosse o primeiro nome do estilo Thrash a entrar nos charts da Alemanha. Em 1990 saiu Better Off Dead, evidenciando a veia Punk/Hardcore que tanto o líder aprecia. O agressivo e rápido Trapping The Vein (1992) marcou a saída do baterista Christian Dudeck “Witchhunter”, que estava desde o início e foi substituído por Guido Richter “Atomic Steif” (ex-Living Death). Steif permaneceu dois anos no posto, tendo gravado o ao vivo Marooned Live (1994). Já em Masquerade In Blood (1995), o line-up foi novamente mudado, com a saída do guitarrista Andy Brings e a entrada de Dirk Strahlmeister “Strahli”. Em 1996, saiu a coletânea Ten Black Years. Nesta época, Tom já colocava em prática o seu projeto Unkel Tom. O novo trabalho inédito veio somente em 1997, Til Death Do Us Unite, seguido de Code Red (1999). No entanto, Tom acredita que o novo álbum, M-16 (2001), marca uma nova fase para o Sodom, com um line-up sólido e unido. O líder espera que o trabalho ao lado de Bobby Schottkowski (bateria) e Bernemann (guitarra) seja prolongado por muitos anos.
É sabido que você gosta muito sobre o tema Guerra, mas qual foi o motivo de escrever sobre a Guerra do Vietnã?
Tom Angelripper: Não é somente sobre o Vietnã, apenas usamos alguns fragmentos, pois todo mundo já ouviu falar muito sobre este tema, existem muitos filmes que retratam esta passagem, como o “Apocalypse Now”, “Full Metal Jacket”. Em nossas letras nós fazemos questão de esclarecer os males de uma Guerra, o quão ruim ela pode ser e seus efeitos. Nós somos alemães e poderíamos escrever muita coisa a respeito da Segunda Guerra Mundial e se você analisar as letras encontrará sempre uma mensagem subliminar: “parem a Guerra”. Esta é minha opinião, pois isto não leva a nada e você vê o que está acontecendo atualmente com o problema na América, que está gerando conseqüências ruins para todo o mundo.
Musicalmente M-16 capta o som do Thrash Metal tradicional, mas vocês ainda mantêm aquela pegada de Punk e Hardcore.
Tom: Sim, como você disse, M-16 é o típico Thrash Metal à moda do Sodom. Algumas pessoas estão comparando-o ao Agent Orange e ao Persecution Mania. Os álbuns que contém mais elementos do Punk e do Hardcore são o Masquerade In Blood, Get What You Deserve e Tapping The Vein. Eu gosto muito da música Punk, mas em M-16 quisemos mesmo fazer um Thrash clássico e muitas músicas poderão vir a se tornar clássicos do Sodom, pois quando estávamos criando-as pensamos em fazer coisas mais cativantes, bons refrãos e termos uma maior preocupação com o instrumental. Quando você ouve as músicas do álbum mais de duas vezes eles ficam em sua cabeça e será difícil esquecê-las para sempre. Esta foi nossa maior intenção e acredito que conseguimos!
Como foi a produção do M-16, que ficou novamente nas mãos de Harris Johns? Ele que trabalhou com o Sodom no Persecution Mania, Better Off Dead, Tapping The Vein e Till Death Does Us Unite!
Tom: Harris Johns é um grande amigo e nossa relação tanto pessoal como profissional é muito boa. Considero-o como um quarto integrante da banda. Ele sabe exatamente como devemos soar e sempre me dá garantias de que não irá deixar nosso som falso, mascarado, com uma produção saturada. O som que está no CD é mesmo o Sodom! Desta última vez quando estávamos em estúdio parece que alguém ligou a máquina do tempo, pois nós realmente voltamos aos anos 80. Resumindo, Harris Johns é a pessoa certa para produzir o Sodom!
O Sodom tem o costume de gravar covers, como Motörhead, Tank, Accept e agora a Surfin’ Bird, que ficou mundialmente famosa com o Ramones. Vocês pretendem lançar um álbum contendo só covers no futuro?
Tom: Não, este negócio de lançar álbum de covers é só para fazer dinheiro. Quando gravamos estes covers nossa única intenção é prestar uma homenagem às bandas que consideramos e também por diversão.
Assistimos ao show do Sodom no “Wacken” este ano e uma das coisas que mais chamaram a atenção foi o cenário do palco, com uma bela iluminação e um efeito bem legal com o pano de fundo que contém o logotipo.
Tom: Foi bom, mas você sabe, todo ano nós tocamos no “Wacken” (risos). Desta vez nós gravamos o show para um futuro lançamento em DVD, que sairá em 2002, mas tivemos muitos problemas técnicos com os efeitos pirotécnicos, algumas luzes que não tiveram o efeito desejado e também a qualidade do som. Mas, isto é assim mesmo, pois se você prepara uma grande produção específica para um festival corre esse risco. Mas o que podemos fazer? Nós subimos e fizemos nossa parte! Não dá para controlar tudo, estávamos lá primeiramente para tocar nossa música. O “Wacken” é um grande e importante evento, sempre nos traz algo de bom, uma experiência nova. Este ano nós tocamos depois do Motörhead! Foi bem legal tocar para 30 mil fãs do Sodom, àquela altura todos bêbados e agitando conosco. Não entendi direito, vocês foram do Brasil somente para o “Wacken”?!
Sim, nós fomos fazer a cobertura do evento.
Tom: Nossa, isto é muito legal, eu não sabia disso! No ano que vem eu estarei lá novamente, mas não com o Sodom, mas com meu projeto paralelo, o Unkel Tom.
Falando sobre shows, quais são as suas expectativas sobre a turnê “Sodom, Kreator e Destruction”?
Tom: Estou esperando muita coisa boa, será algo inesquecível para os fãs. Pessoalmente acredito que será algo para entrar na história, pois está turnê em conjunto é um fato inédito na carreira destas três bandas, que são consideradas as maiores do Thrash Metal alemão. Tudo foi feito em benefício dos fãs, até mesmo ingressos com baixo custo. Na Alemanha o revival do Thrash está sendo muito comentado e esta turnê irá colocar ainda mais fogo, já que houve a volta do Destruction, o Kreator fez um álbum de Thrash Metal e nós também gravamos um álbum mais com essa pegada. Não me importo com o que possam falar, pois o Sodom sempre manteve seu tipo de som, nunca mudamos e os fãs nunca ficaram desapontados. Muitas datas já estão ‘sold-out’ e estamos planejando algo maior! Quem sabe na América do Sul? Também temos planos para tocar na Ásia. Na verdade, esta é uma grande oportunidade dos promotores pegarem este pacote e aí poderemos fazer uma grande turnê mundial!
Não só pelo fato histórico, mas também porque as três bandas lançaram excelentes álbuns!
Tom: Não sou um grande fã do Destruction e do Kreator, mas os álbuns que eles lançaram são excelentes! É uma grande chance para todos nós, especialmente para os fãs.
Quando você formou o Sodom quais bandas serviram de inspiração? Sei que na época você gostava muito das bandas da New Wave Of British Heavy Metal...
Tom: Eu sempre fui um fanático por Motörhead, gosto muito do Venom, Slayer, Exciter e as bandas da New Wave Of British Heavy Metal, como o Raven, Jaguar, Witchfinder General e muitas outras. Mesmo assim, quando começamos a banda fizemos um som completamente sem pensar em nada, sem puxar nenhuma influência, queríamos apenas fazer apenas a nossa música. O Sodom do início era completamente diferente do Venom ou do Motörhead. Fizemos um tipo diferente de Black Metal no começo.
E os fãs de Black Metal respeitam muito o Sodom. Você credita isso ao som ou a temática das letras que usavam no início de carreira?
Tom: Sei que muitas bandas de Black Metal da atualidade pegam inspiração do material antigo do Sodom. Queiram ou não temos 20 anos de carreira e somos uma banda que faz parte da história e estas bandas novas sempre se interessam pelos primórdios do estilo que estão tocando. Não podemos comparar o estilo musical daquela época com as bandas de Black Metal da atualidade, pois elas estão se tornando bem comerciais nas Alemanha e na Europa de um modo geral. É outro tipo de música! Compare o som do Bathory, Venom e Celtic Frost, era bem mais próximo ao Rock and Roll e nós nunca usamos teclados, apenas fazíamos tudo de uma forma bem visceral. Era um Black Metal que tinha algo do Rock'n'Roll e do Hardcore. Bandas como Cradle Of Filth e Dimmu Borgir são bem famosas na Alemanha, são grandes comercialmente falando. Não dá mesmo para querer comparar com o nosso início de carreira. Me sinto muito orgulhoso de que tanto as bandas quanto os fãs de Black Metal se interessarem por nosso som no começo de carreira. Isto é genial!
Mas você acredita que isto acontece por causa das letras ou pelo som?
Tom: Ambas as coisas. As letras no início tinham ligação com minha paixão por Aleister Crowley, os grandes magos e os temas satânicos. Mas se você se aprofunda nestas coisas de Crowley fica louco. Na verdade isto não me trouxe nada e por isso mudei a temática a partir do Persecution Mania. Mais uma vez eu digo que aqueles eram outros tempos, não há como comparar o início dos anos 80 com o momento atual.
Já que falamos sobre o começo da carreira, é verdade quie o nome da banda veio por causa de uma frase que sua mãe dizia: “Jesus, este quarto está parecendo Sodoma e Gomorra!”
Tom: Sim é verdade! Toda vez que ela entrava no meu quarto dizia esta frase (risos). Mas ela também me explicou toda a história do que seria Sodoma e Gomorra, que foi uma cidade destruída por Deus devido aos pecados cometidos por seus habitantes.
E o que ela achou disso depois que a banda ficou mundialmente conhecida?
Tom: Sentiu-se muito orgulhosa, pois todo mundo conhece a banda Sodom. Ainda somos uma banda underground, mas nesta área somos uma das mais famosas do mundo!
No Brasil nós costumávamos trocar tapes K-7 e os Demo-Tapes do Sodom, Witching Metal e Victims Of Death, eram bastante procurados pelos fãs! Isto também aconteceu na Europa?
Tom: No começo foi algo muito engraçado, porque todo mundo sabia que o som estava mal gravado e as músicas eram bem primárias, mas de alguma forma muitos começaram a colecionar nosso material. Inclusive faz pouco tempo que recebi um e-mail de uma pessoa oferecendo três mil dólares pela Demo-Tape Wicthing Metal original. Isto eu não vendo e nem quero ganhar dinheiro em cima disso! Sei que na América muitos comentam sobre este material. Naquela época diziam que nossa banda era ainda mais pesada e rápida que o Venom e o Hellhammer e isto atraiu a atenção de muita gente. Aliás, esta foi a grande razão por termos conseguido nosso contrato para gravar o primeiro álbum.
O EP In The Sign Of Evil mesmo tendo uma produção ruim foi bem aceito pelos fãs...
Tom: Foi engraçado porque antes de fechar o contrato o chefe da gravadora SPV (N.R.: Manfred Schotz) disse que o Sodom era a pior banda que ele já tinha visto na vida! E por isso assinamos com eles! Quando fizemos o In The Sign Of Evil, tínhamos muito mais que cinco músicas, mas não tivemos a chance de gravar um álbum completo. Mesmo assim, conseguimos expandir nosso nome para o mundo inteiro e até hoje esse EP é muito comentado e faz sucesso. Tenho a impressão de que o In The Sign Of Evil é um dos álbuns do Sodom com a vendagem de toda discografia! A produção ficou bem brutal, o som das guitarras e da bateria ficou bem pesado, mas tivemos muitos problemas, pois éramos péssimos músicos e tínhamos pouco tempo disponível para gravar. Isto é engraçado, pois este EP foi bem aceito pelos fãs no mundo todo. Já as críticas na época foram péssimas. A Rock Hard, a Metal Hammer e as revistas americanas disseram que nós éramos a pior banda do mundo (risos)!
Para ser bem honesto, eu prefiro o som do In The Sign Of Evil ao Obssessed By Cruelty.
Tom: Sim, a produção do Obssessed By Cruelty é pior mesmo! Nós o gravamos duas vezes e nenhuma ficou boa. A primeira ocorreu em Berlim. Depois desta sessão, enviamos as fitas master para a gravadora analisar. Eles recusaram e pediram para que gravássemos tudo de novo. Daí, fomos para um estúdio completamente diferente, em Nornberg, mas o som também ficou ruim. É por isso que o álbum tem duas versões diferentes. Uma saiu especialmente para a América, que foi a gravação do estúdio de Berlim, e a outra para a Europa, das sessões gravadas em Nornberg. Mesmo assim, o Obssessed By Cruelty sempre teve uma grande procura. Até hoje este álbum é bem vendido e tem muita procura, seja por fãs daquela época que não tem o CD ou pela nova geração, que ouviu falar e quer conhecê-lo.
A partir do Persecution Mania que o Sodom começou a se tornar uma grande lenda do Thrash Metal alemão. Você concorda que um dos maiores fatores foi da entrada de Frank “Blackfire” Godsdzik no lugar de Uwe Christophers?
Tom: Você está certo, foi a primeira vez que tivemos um grande guitarrista na banda. Frank era um grande guitarrista naquela época e fizemos músicas bem pesadas e com uma grande pegada! Nós evoluímos e muitos reconheceram isso, tanto que disseram que este sim era nosso primeiro álbum com qualidade. O Persecution Mania é o típico Thrash Metal e devo dizer que as letras também tiveram outro foco, daí esta mudança foi mesmo completa. Nós acertamos em ter mudado, pois desde então mantemos o mesmo estilo.
No álbum seguinte, Agent Orange, houve uma evolução musical ainda maior!
Tom: Foi mesmo, nós fomos melhorando gradativamente a cada álbum. Não sou um grande fã do Agent Orange e muitos podem até estranhar, mas a gravadora havia nos dito que deveríamos tentar repetir a grande receptividade que tivemos com o Persecution Mania. Por isso mantivemos exatamente a mesma linha, mas o material que tínhamos em mãos era para o Better Off Dead. Por incrível que pareça o Agent Orange nasceu assim (risos). E deu certo, porque é a nossa maior vendagem até hoje! Eu tinha dito que um dos mais bem vendidos foi o In The Sign Of Evil, mas o Agent Orange é um álbum completo e por isso está na frente. Não acho-o o melhor álbum. Gosto muito mais do Code Red, Tapping The Vein e o Get What You Deserve.
Se as coisas estavam indo bem, por que Frank saiu da banda para se juntar ao Kreator?
Tom: Ele teve a chance de fazer uma turnê na América com o Kreator e preferiu nos deixar. Ele nos disse: “Sou muito amigo do Mille, vivemos na mesma cidade e estou com a chance de realizar o sonho de ir fazer shows na América”. Na verdade não gostei de sua atitude, porque ele nos deixou duas ou três semanas antes de iniciarmos a turnê do Agent Orange, que também seria grande. Nós tivemos que arrumar um substituto às pressas e isto pegou muito mal. Eu disse à Frank: “Deixe disso. Você pode muito bem fazer esta turnê e depois sair da banda”. Ele recusou porque o Kreator estava prestes a embarcar para a América. Foi uma questão de prioridade e a dele era ir para a América.
Como vocês chegaram a Uwe Baltrusch, que era do Mekong Delta? Foi uma boa escolha para substituir Frank?
Tom: Eu já o conhecia e tinha seu contato, além disso era um guitarrista muito técnico. Logo que Frank decidiu nos deixar eu perguntei se ele poderia nos ajudar e em pouco tempo ele decorou todo o repertório. Mesmo ele não sendo o músico ideal para a nossa banda, o que ele fez foi inacreditável! Eu não queria cancelar esta turnê de jeito nenhum, porque seria junto com o Sepultura.
O estilo do Mekong Delta era bem diferente e muito mais complicado.
Tom: Por esta razão ele tirou nossas músicas tão rápido. Para ele era fácil e ele conseguiu decorar tudo em menos de uma semana. Quando fomos ensaiar com ele, já aprovamos de cara e confirmamos a turnê. Mesmo assim muitos fãs ficaram desapontados quando não viram Frank no palco. Eles não sabiam que ele tinha saído da banda. Em muitas ocasiões, logo na primeira música muitos já ficavam olhando com cara de espanto, como se perguntassem: “Cadê o Frank?!”. Eu tinha que explicar para o público que nós preferimos substituí-lo e fazer a turnê por respeito aos nossos fãs.
Falando ainda sobre esta turnê, além destes problemas com a saída de Frank, vocês se desentenderam com o Sepultura?
Tom: Foi uma turnê de muito sucesso para o Sodom e para o Sepultura. Eu ouvi muitos rumores de que nosso relacionamento tinha sido péssimo, mas isso é um grande mal entendido. Para eles foi uma grande chance de tocar na Europa e nos demos bem. Todos os shows foram ‘sold out’!
Seguindo no tempo, você disse que gosta muito dos álbuns Code Red, Tapping The Vein e Get What You Deserve, mas e quanto ao Better Off Dead?
Tom: No Better Off Dead estávamos com um grande guitarrista, o Michael Hoffmann, que também é muito técnico. Ele era o guitarrista mais rápido que já tinha visto. Quando o ouvi tocando no Assassin já achei aquilo demais! Mesmo assim, ele não era o típico guitarrista para o Sodom. Algumas músicas do Better Off Dead são minhas favoritas em todos os tempos e, sem dúvida, o álbum também é um dos que eu mais gosto. Mas também fiquei muito triste quando Hoffmann saiu. Ele foi para o Brasil e disse que queria começar vida nova. Nós concordamos, pois a vida é dele!
Após mais uma baixa no line-up, como vocês encontraram Andreas Brings?
Tom: Fizemos alguns contatos com pessoas de revistas, dizendo que estávamos precisando de um guitarrista e então Andreas entrou em contato com Witchhunter. Começamos a ensaiar e eu gostei muito do estilo dele, pois ele sabia bem mesclar o som pesado, tocando de uma maneira agressiva, com toda a energia do Punk, já que ele sempre foi um grande fã do Ramones. E ele também gostava muito de Kiss. O problema com ele foi que estava usando a banda em seu próprio benefício. Eu dizia que ele deveria nos ajudar, sermos um grupo unido e ele queria ser conhecido como um rockstar, fazia tudo de forma individualista, até mesmo no palco! Ele faz parte da história do Sodom, gravou grandes álbuns conosco, o Tapping The Vein, Get What You Deserve e o ao vivo Marooned, mas, infelizmente, tive que pedir para ele nos deixar. Não havia mais clima e união para trabalharmos em conjunto.
Já que estamos falando bastante sobre problemas, o que houve com o baterista Christian Dudeck, o “Witchhunter”? Por que ele deixou a banda?
Tom: Na verdade o maior problema é que ele havia se transformado num alcoólatra, estava sempre muito bêbado. Teve problemas com sua namorada, cancelou ensaios, shows e estava sempre muito irritado. Ele nunca aceitou que Tom Angelripper fosse o líder da banda, ou algo assim, mas nós trabalhamos assim por 13 anos. Mas ele criou os problemas e eu tive que olhar para frente em benefício da banda. Tínhamos que continuar compondo, ensaiando, gravando, fazendo turnês e evoluindo. Para se fazer isso você tem que ser muito amigo de seu parceiro de banda. Se você está sempre bêbado não consegue prosseguir com seriedade, não trabalha direito. A gravadora e o empresário também perceberam o que estava acontecendo e disseram que daquele jeito não daria mais. Então, ele teve que sair.
Daí veio Guido Richter “Atomic Steif”, que era do Living Death.
Tom: Eu já conhecia há mais de 15 anos, tanto por causa do Living Death, como pelas baladas nos fins de semana. Sempre o considerei um dos bateristas mais rápidos da Alemanha. Além de ter uma boa técnica ele tocava muito rápido! Quando Witchhunter saiu eu disse a ele: “Por que você não se junta a nós? Você não tem mais o Living Death, não está com outra banda e não tem problemas contratuais...”. Eu fiquei muito satisfeito e ainda o considero um dos melhores bateristas da Alemanha! Infelizmente tive problemas com ele também, porque ele sempre quis ganhar muito dinheiro com a música e nem sempre isso é possível. Ele também não me aceitava como líder e queria ganhar sempre a mesma quantia que eu ganhava. Eu disse que isso não era possível. Aliás eu disse: “Tenho essa banda há 15 anos e você faz parte dela há 2 anos, o que você quer?”. Ainda bem que atualmente não este tipo de problema está sanado.
Mas na fase do Masquerade In Blood você ainda enfrentou mais problemas.
Tom: Sim, é verdade. Foi nosso último trabalho pela SPV até então e o guitarrista Strahli foi preso logo após as gravações. Ele sempre teve envolvimento com drogas e esta foi a causa de sua prisão. O pior é que foi condenado por vários anos, já que aqui na Alemanha não é brincadeira. O que mais eu podia fazer? Atomic Steif tinha saído, Strahli estava preso e então comecei o meu projeto Unkel Tom. Dois anos depois, percebi que deveria remontar o Sodom e aqui estamos. O line-up atual está unido, sólido e é bem forte! O M-16 está indo bem, e acho terei chances de negócios ainda melhores para este novo ano. Gostaria de dizer que mesmo tendo passado por vários problemas, eu sempre quis manter um line-up estável e agora nós somos grandes amigos, gostamos basicamente do mesmo tipo de som e ninguém aqui se preocupa em aparecer mais do que o outro. Somos uma banda!
Mesmo assim você tem intenção de lançar mais um álbum com seu projeto solo Unkel Tom?
Tom: Sim, sairá ainda este ano. Os outros álbuns foram bem, principalmente na Alemanha, porque eu vinculo o som com a cultura da bebida e como você sabe, aqui todos gostam de beber cerveja!
É como o Tankard!
Tom: Isso mesmo, mas no nosso caso é muito mais por diversão. É legal tocar sem nenhuma preocupação e se você puder ver um show do Unkel Tom saberá o que estou tentando dizer. Qualquer um pode subir no palco para cantar e beber junto comigo. É uma bagunça total, mas a música é direcionada para este tipo de fã.
Fora da música seu hobby é igual ao do Ted Nugent, pois vocês se tornam verdadeiros caçadores quando não estão envolvidos com a banda. O que você sente quando está caçando?
Tom: Para mim é como uma terapia. Eu aprecio muito a natureza, mas não caço profissionalmente. Eu acredito que todo homem no fundo é um caçador. Nunca ganhei dinheiro para fazer isso, muito pelo contrário, para caçar em locais autorizados você despende uma boa quantia. Na Alemanha não temos tantas florestas, mas eu relaxo bastante e limpo minha mente. É uma coisa bem pessoal e se você não amar a natureza não conseguirá se enfiar numa selva ou numa floresta para caçar.
Falando agora sobre o Brasil, quais as melhores recordações que você guarda do público brasileiro e dos shows?
Tom: Foi incrível, as pessoas estavam sedentas para ver o Sodom. Não dá para querer comparar com o cenário alemão, porque aqui você pode ver qualquer tipo de banda todo ano. Quando tocamos no Brasil, Paraguai, as pessoas têm sentimentos bem diferentes, elas estão lá porque passaram anos esperando para ver a banda. Esta atmosfera é muito legal. Nós tocamos no final de 2001 em Bangkok (THA) e foi a mesma coisa. Nenhuma banda de Thrash Metal tinha tocado lá! Depois da turnê européia, nós tentaremos ao máximo encontrar as pessoas certas que possam nos levar de novo para o Brasil e toda a América do Sul. Certamente vocês verão o M-16 ao vivo e nós faremos uma grande festa!
Entrevista publicada na edição #37 da revista ROADIE CREW (fevereiro de 2002)
Nenhum comentário:
Postar um comentário