O guitarrista finlandês Timo Tolkki, 36 anos de idade, faz parte de uma das mais importantes bandas da cena do Metal Melódico mundial, Stratovarius. Tendo a Música Barroca e o guitarrista Ritchie Blackmore (Deep Purple e Rainbow) como grandes influências, Timo iniciou sua carreira com a banda Road Block. Em 1985 entrou no Stratovarius no lugar de Staffan Stråhlman e, pouco tempo depois, passou a conciliar as funções de guitarrista e vocalista. Após lançar dois singles, saiu "Fright Night", em maio de 1989. Três anos depois, foi a vez de "Twilight Time", no qual Timo, além de gravar as guitarras e vocais, fez todas as linhas de baixo. A partir daí a banda não parou mais de crescer e figurou entre as mais saudadas no Japão e Europa. Na mesma época do lançamento do álbum "Dreamspace" (1994), Tolkki começou a gravar seu primeiro trabalho solo, "Classical Variations and Themes". Nesta fase, decidiu abandonar os vocais e recrutar Timo Kotipelto para o Stratovarius, que lançou "Fourth Dimension" (1995), vendendo o dobro de cópias em relação ao trabalho anterior. O grupo foi crescendo naturalmente e obteve status de banda top, lançando "Visions" (1997). Um ano depois saiu "Destiny", que entrou direto na 1ª posição dos charts na Finlândia, conquistou disco de ouro, o prêmio de melhor banda finlandesa de Metal, além de conquistas individuais dos músicos e várias outras honrarias. Tudo se repetiu com o trabalho seguinte, "Infinity" (2000). Na turnê de divulgação do álbum, a banda toca na Europa ao lado do Angra, reforçando a amizade que havia se iniciado em 1997, em Atenas (GRE). Em 2001, a banda optou por dar uma pausa nas atividades, mas lançou "Intermission". No entanto, este período de férias foi bastante produtivo para Tolkki, que soltou seu segundo trabalho solo, "Hymn To Life" que, segundo ele, foi um álbum feito com total liberdade e num clima bastante relaxado.
Em 1997 eu era roadie de bateria do Angra e nos conhecemos em Atenas (GRE). Naquela época, você já havia lançado seu primeiro álbum solo, "Classical Variations And Other Themes", no qual você buscava expor sua técnica e virtuosismo. Você concorda que "Hymn To Life" apresenta mais ‘feeling’ se comparado ao anterior?
Timo Tolkki: Bem, meu amigo advogado (risos)... Quando nos conhecemos eu estava fazendo uma ‘promo tour’ de divulgação do álbum "Visions" pela Europa e coincidentemente o Angra foi tocar na Grécia e eu estava lá, justamente hospedado no mesmo hotel. Foi legal aquele contato com o pessoal do Angra. Nós saímos, fomos jantar juntos e depois fomos beber umas cervejas num bonito bar perto do Paternon. Quanto ao álbum, eu concordo que tem mais ‘feeling’. Isto foi intencional, eu quis mesmo tirar umas férias do lado “guitar hero”. É óbvio que amo tocar guitarra, me apresentar para o público, mas com este álbum este lado não combinaria.
Sendo você o principal compositor do Stratovarius, foi difícil compor algo totalmente diferente como neste seu novo trabalho solo?
Timo: Neste caso não, foi realmente fácil. Este álbum foi quase como uma terapia para mim. Tiramos um período de descanso com o Stratovarius e eu queria fazer algo totalmente diferente. Foi a chance que eu estava esperando para botar em prática. O ano passado foi muito bom para mim, pude relaxar e recarregar as baterias para o que vem pela frente.
"Hymn To Life" é totalmente desprovido de imposições. Você realmente se libertou para fazer um som sem rótulo?
Timo: Sim! De fato eu me senti muito bem ao trabalhar desta maneira. Não é fácil ouvir este álbum e rotulá-lo. Não sofri nenhum tipo de pressão ou um estilo que fosse obrigado a seguir, fiz o que quis e com total liberdade. Isto não quer dizer que eu não tenho liberdade no Stratovarius, lógico que tenho. Não gosto de limitações e, na banda, aquele é o som que quero fazer. Para "Hymn To Life" os ideais foram basicamente pessoais, algo que acredito ser bastante comum para um trabalho solo.
Como surgiu a idéia de falar sobre a infância?
Timo: Faz tempo que venho querendo falar sobre isso. Venho fazendo psicoterapia há três anos e isto está sendo muito bom para mim, pois me abro mais como ser humano. Este álbum é como se fosse uma fase do processo da terapia. Quando eu era criança passei por maus momentos e esta terapia vem me ajudando muito. Se você não faz nada para ajudar a si mesmo essas coisas ruins vão continuar com você para o resto de sua vida. Parece que cresce dentro de você.
Mas por que você quis dividir experiências pessoais com seus fãs?
Timo: Existem várias razões para isto. Uma delas é que sou um artista e escrevo sobre o que sinto, as coisas que vejo e o ponto de vista pessoal a respeito do mundo que vivo. A segunda razão é que se por um acaso uma pessoa tiver sentimentos parecidos com os meus, o conteúdo do álbum irá tentar explicar o que isto significa.
E o grito na introdução do álbum, foi você que deu aquele berro?
Timo: Fui eu mesmo (risos). É apenas uma maneira diferente de começar um álbum. Talvez seja um alerta para que as pessoais saibam que o que irão ouvir não é o que estão esperando. Ainda mais se acha que o som será parecido com meu primeiro trabalho solo. Também é um pouco irônico e engraçado, pois a gravadora esperava algo mais comercial e achei que esta seria a maneira mais horrível de começar o álbum (risos).
Como se deu a participação de Michael Kiske na faixa de abertura, "Key To The Universe"?
Timo: Quem não gostaria de ter Michael Kiske no seu álbum? Na realidade eu compus esta música pensando como se a voz dele estivesse na minha mente, foi algo muito especial. A medida que ia compondo, já o imaginava cantando. Michael é um grande vocalista e faz tempo que queria trabalhar com ele. Tê-lo cantando numa composição de minha autoria foi como um sonho que se tornou realidade.
Como você compararia o estilo de Timo Kotipelto com o de Michael Kiske?
Timo: Timo tem algumas semelhanças com Michael, mas o tipo de voz é bem diferente, é mais um ‘feeling’ escandinavo. Como os registros das notas vocais são similares, não há como negar esta similaridade. Cada um tem sua individualidade e um vocalista tem que ter personalidade e sua identidade. Quando uma pessoa ouvir ela vai saber diferenciar que está cantando. Eles sabem quando é o Kiske, o Kotipelto ou o Bruce Dickinson. É uma questão de identidade.
E quanto a Sharon Den Adel? Quando você começou a gostar de bandas como Within Temptation?
Timo: Mas eu não a ouvi no Within Temptation e sim no álbum do Avantasia, do Tobias Sammet. Então, quando compus a música "Are You The One" queria ter uma voz feminina e aí logo pensei em Sharon. Entrei em contato com ela e gostei muito do resultado final, ficou muito bom. Ela tem uma bela voz.
Falando sobre esta música, qual a mensagem que você quer passar com "Are You The One"?
Timo: É uma música de amor, a busca pelo par perfeito. É algo que na verdade não existe (risos). Todo mundo queria estar ao lado do seu par perfeito, mas no ser humano não existe a perfeição. Acredito que exista uma mulher perfeita para cada homem e um homem perfeito para uma mulher. Bem, se o cara for homossexual, então para ele é um homem perfeito (risos). Não vou zoar não (risos). Não tenho nada contra.
Onde você buscou inspiração para criar a música "Fresh Blue Waters"? Parece até Tom Petty...
Timo: Nossa, cada um fala uma coisa diferente. Já me falaram sobre Pink Floyd, David Bowie, U2. O que vale é que é uma coisa bem diferente do que costumo fazer. Esta música fala sobre estar sobriedade. O que me veio em mente foi a imagem do oceano, do mar, como a bela praia de Recife. Aquela imagem da cor azul do mar não saía da minha cabeça. Bem, isto estava na minha mente, mas eu a compus quando estava na estrada. Eu a fiz num quarto de hotel na Noruega (risos).
Você pensa em fazer shows para promover seu álbum solo?
Timo: Não, eu justamente quis dar um tempo com o Stratovarius por causas das turnês. Isto tem sido estafante. Fizemos mais de cem shows em 2000, um horror. Estávamos muito cansados e preferimos dar uma parada. Afora poucas apresentações em festivais nós passamos o ano de 2001 descansando e estamos prontos para outra. Começaremos agora a preparar o novo material. Me sinto muito bem para seguir em frente, tenho músicas novas prontas e estão bem legais.
Falando em Stratovarius, quais são suas lembranças da última apresentação em São Paulo?
Timo: O que posso dizer? Uma casa fantástica como aquela! Um público tão caloroso a atuante! Foi um dos pontos altos de minha carreira e me senti honrado em ter tido esta oportunidade. O público e o povo brasileiro é muito amigável, vibrante e certamente voltaremos para fazer shows e manter contato com os amigos. Da próxima vez queremos passar mais tempo com vocês, pois desta última nós não tivemos tempo disponível.
Para finalizar a entrevista, gostaria de saber...
Timo: (interrompendo) Eu já sei, você vai querer saber os meus álbuns preferidos em todos os tempos (risos).
Não (risos). Queria saber o que você tem escutado atualmente?
Timo: Como eu já tinha respondido daquela vez pensei que você fosse perguntar de novo (risos). Bem, atualmente tenho escutado... Ah, o meu álbum solo (risos). Ouço muita coisa de Música Clássica, como Vivaldi e Bach, e também U2, John Lennon, Iron Maiden, Dio. Também tenho ouvido os discos antigos do Stratovarius para voltar a pegar aquele mesmo ‘feeling’. Como trabalhei exclusivamente para este trabalho solo não costumava ouvir outras bandas, principalmente quando estava em casa. Aliás, em casa eu fazia outras coisas, menos ouvir música.
Você chegou a ouvir o novo álbum do Angra, com a formação nova?
Timo: Sim, eu adorei. É um grande álbum, com boa produção, vocais grandiosos e eu até parei de tocar guitarra por algum tempo depois que ouvi os solos deste álbum (risos). Isto é verdade, eu achei os solos incríveis e as músicas muito boas, com novas idéias.
Você ouviu o álbum do Virgo?
Timo: Ainda não, mas ouvi muitos comentários positivos a respeito do Virgo, este projeto com o Sascha Paeth. Me falaram que é de altíssima qualidade e bem diferente do que estamos acostumados a ouvir dele. Acho Andre Matos um cara bastante talentoso e ele certamente também nos mostrará material de qualidade com sua nova banda, Shaman.
Os fãs brasileiros estão ansiosos pela sua volta ao Brasil.
Timo: Muito obrigado, vocês são especiais para mim. Espero rever a todos em 2003, pois antes disso não posso prometer nada. Vamos tomar umas caipirinhas de novo (risos)?
Mas você não vai exagerar e tomar dez numa noite só como fez aquela vez em São Paulo no Manifesto Bar...
Timo: Não! Aquela foi a lição que eu aprendi mais rápido em toda minha vida (risos). Passei o dia seguinte inteiro tomando água e coca-cola (risos).
Entrevista publicada na edição #38 da revista ROADIE CREW (março de 2002)
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