segunda-feira, 25 de agosto de 2008

BRAZILIAN ASSAULT 1986: VENOM NO BRASIL!

Apesar de considerar meu maior trunfo a memória, confesso que não tenho a mínima ideia de como consegui pegar o carro da minha família para ir ao show do Venom e Exciter, realizado a 10 de dezembro de 1986 no ginásio Poliesportivo do S.C. Corinthians Paulista, em São Paulo (SP). Não lembro se pedi com educação ou se tive que brigar e ir na marra. O detalhe importante não é que meus pais aeram autoritários ou chatos, mas porque tinha dezessete anos.

Graças aos amigos de infância, os irmãos Raul e Mauricio Fernandes, já dirigia havia um tempo, pois “treinávamos” a direção (moto e carro) na fazenda deles, que ficava entre Alumínio e Votorantim, interior de São Paulo. Portanto, sabia dirigir, mas não tinha habilitação. E ainda por cima não podia contar aos meus pais que não dava para ir de metrô/ônibus porque o carro serviria como “lotação” de vários amigos meus e do meu irmão que eram fãs de Metal.

Minha mãe tentava argumentar sempre, mas quando o assunto era Heavy Metal ela sabia que não havia jeito. Meu falecido pai era liberal, mas vários de seus conselhos e ensinamentos versavam sobre os perigos do trânsito. Ele costumava dizer coisas como “O carro na mão de um imbecil se torna uma arma letal, mais eficiente que um revólver”; “O problema não é você, são os outros”… Bem, tempos depois, eu infelizmente descobri isso na pele.

Enfim, consegui(mos). E lá fomos nós, aquela pequena “Venom’s Legions” para a Zona Leste conferir o primeiro evento de bandas underground realizado no Brasil. O Venom era febre por aqui. A velha geração dos roqueiros fãs de Rainbow não entendia como uma enorme massa de pessoas conseguia gostar daquele som sujo, agressivo, blasfemo e satânico. Mas o que importa é que o Venom tinha seus fanáticos seguidores. Eu e alguns amigos do Colégio Objetivo da Luis Góes - Mauricio “Gavião” Gawendo, Cláudio Fortuna, Dino Dragone - fazíamos parte da “Venom’s Legions” e tínhamos álbuns, EPs, vídeos piratas, patches, camisetas, pins (buttons)… O Dino, que hoje é um respeitado diretor de videoclipes, até tinha o bode do “Black Metal” tatuado no braço. Até mesmo quem não gostava muito da banda inglesa ficava fascinado com as capas e toda aquela aura misteriosa e obscura que girava em torno de Cronos, Mantas e Abaddon.

Na semana que antecedeu o show houve a festa de lançamento do LP “At War With Satan”, organizada pela gravadora Continental. O evento foi na extinta casa noturna Woodstock, no bairro dos Jardins. Apesar de querer muito eu não fazia parte de nenhum veículo de mídia, mas através das amizades que havia feito por causa das filmagens de shows de bandas nacionais acabei conseguindo ir. E até levei outros amigos, dois que me fizeram (forçaram) começar a tocar bateria e montar a primeira banda, Cizânia.

Na cola veio Adalton Ribeiro, que nunca foi chegado em sons mais extremos e brutais, mas estava conosco em todas, tanto nas boas como nas roubadas. Dr. Adaltão - o “agitão” - não perdia uma e tinha que estar lá. O outro que esteve na festa da Continental foi Marcelo Fanin, então fanático pelo Slayer - acho até que ele tem culpa ou foi o pioneiro em gritar (urrar, berrar) “Slayeerrrr!!!!” em shows. Fanin acompanhava o Gavião e eu nas filmagens dos shows de bandas nacionais no Teatro Mambembe. Sempre que havia uma pausa naqueles shows ele gritava com uma voz mais potente que a do Max “Possessed” Cavalera. Certa vez um músico de uma banda que filmei (seria o Corpse?) veio me falar no camarim: “Pô, tinha um cara berrando mais alto que o som do palco!”. Tal cara era aquele baixinho parecido com o Jeff Hanneman, o Fanin.

A festa não foi lá essas coisas e ainda tivemos que sair antes da meia noite para poder pegar o metrô de volta. Fanin e Adalton também foram ao show, mas com outra turma. A que estava comigo naquela tarde de quarta-feira, 10 de dezembro de 1986, passou o trajeto todo falando das possibilidades do set list, de como aquilo era importante para nossas vidas. Afinal, enfim estavam olhando para o Brasil como rota de shows underground. O carro, apelidado de “Parati Slayer”, estava abarrotado. Eu, meu irmão Frederico “Leke”, meu primo João Cláudio e alguns amigos do Ipê Clube, entre eles, Marcelo Garcia, Yuri Barros e Alex Perri, e até o Alcides Júnior do Guarujá. Bem, tinha gente até no porta-malas do carro!

No caminho, a única preocupação era chegar ao Parque São Jorge. Nem estava pensando que não tinha habilitação, na Companhia de Engenharia de Tráfego, em comando da Polícia, nos amortecedores do carro que estavam ruins, na Argentina que tinha vencido a Copa do Mundo no México ou no Norman Bates em “Psicose III”, que tinha acabado de estrear nas nossas telas. Só Exciter e Venom! Ah, claro, e no ‘openning act’ de respeito, o Vulcano! Meu irmão até estava com a camiseta branca do Venom (”Welcome To Hell”) e que tinha o logo do Vulcano nas costas.

Ao chegarmos na rua São Jorge 777 já presenciamos a enorme massa de fãs. Por sorte consegui estacionar o carro bem perto do ginásio, no estacionamento ao lado. Isso, graças ao Renato “Gênio” Bontempo, o sósia do Edmar, jogador conceitado do futebol brasileiro, que foi conosco na ida até o local do show e por ser associado do SC Corinthians Paulista nos deu a chance de estacionar o carro em um local tranquilo - o “Edmar” era funcionário do escritório de advocacia do meu pai, assim como tinha sido o Totó (Antonio Greco), que havia nos levado anos antes no show do Kiss no Morumbi.

A entrada foi quase um ato heróico. A PM estava com sua cavalaria a postos bem na frente do portão principal do clube, onde a fila gigantesca só ia aumentando. Na verdade aquilo não era uma fila, mas uma aglomeração de milhares de fãs loucos para entrar no ginásio. Nós ficamos andando de um lado para o outro sem saber o que fazer. Foi aí que começou o tumulto. E sobrou pra todo mundo. Teve gente que tomou borrachada nas costas, no peito, perdeu o tênis, o óculos e ficou com hematoma em várias partes do corpo. Marcelo Garcia, que estava conosco, foi um deles… Mas isto aconteceu por causa da desorganização, já que ninguém estava fazendo absolutamente nada, a não ser ficar gritando e berrando à espera da abertura dos portões. O fato até rendeu matéria “especial” no jornal Diário Popular do dia seguinte.

Só que na mesma hora que eu estava naquela aglomeração monstruosa, quase esmagado, meu irmão já estava lá dentro junto com o Walcir Chalas, dono da loja Woodstock Discos. Walcir o colocou para dentro, já que ele tinha 14 anos de idade e não estava mais suportando ficar na “fila”. A sorte do meu irmão foi tanta que ele foi um dos primeiros a entrar no ginásio! Nesse meio tempo nossa turma retornou ao estacionamento para tentar argumentar se poderíamos usar a entrada lateral do clube. Nada feito, o xaveco não colou.

Enquanto isso, outros amigos estavam tranquilamente jogando Basquete na quadra externa do clube. Um dos que editava o zine DeathCore comigo, Conrado Tabuso, fazia dupla com o André “Corinthians” Périgo – ambos jogavam no time do meu irmão, no Clube Paineiras do Morumby. Os irmãos Cláudio e Mauricio “Gavião” Gawendo chegaram bem mais cedo e como alguns entre eles estavam com camisas da Gaviões da Fiel e do Corinthians os seguranças pensaram que todos eram sócios e os deixaram entrar no clube. Essa foi a sorte deles, que ainda por cima conseguiram almoçar na lanchonete do Corinthians. Alguns até foram tomar banho no vestiário porque estavam suados depois de jogar um “21″ nas quadras externas de Basquete! Mas tudo bem, alguém ousa falar em sorte com corintiano? - o “Gavião” estava com tanta sorte esse dia que até conseguiu pegar a baqueta do Dan Beehler!

Após este tumulto inicial, das porradas e dos hematomas, a fila começou a andar e os fãs foram se dirigindo ao ginásio. Quem estava usando cinto de bala, jaqueta de couro com pingente, braceletes e todo o visual característico da época, foi pego de surpresa. Todos tiveram que deixar os seus adereços em caixas, com a promessa da PM de que iriam devolver no final do show. Isso, obviamente, não aconteceu.

Na porta do ginásio conversei um pouco com o Walcir da Woodstock e aí entrei novamente naquele local que não guardo boas recordações na área do esporte. Logo lembrei daquela lavada que meu time de Basquete havia tomado do Corinthians. Eu jogava pelo Clube Paineiras do Morumby e nós perdemos o jogo de 98 a 18! Ridículo! Mesmo assim, por sorte, eu havia sido indicado por um técnico para fazer teste justamente no Corinthians. O treinador “Sun Guara” (Luis Guaranha) me viu, deixou que eu treinasse, e falou: “Você joga bem, tem todos os fundamentos, mas dê uma olhada no meu time. Precisa mais alguém?”. Eu, que já havia sofrido a maior derrota da minha vida naquele ginásio e que além do mais torço para o São Paulo Futebol Clube, pensei: “Tudo bem, vou jogar na ADC Pirelli de Santo André e foda-se”. O mundo dá tantas voltas que anos depois o mesmo Luis Guaranha acabou indo para o Paineiras do Morumby e foi treinador da categoria do meu irmão Frederico e do Conrado Tabuso. E a coincidência maior foi descobrir muito tempo depois que na mesma época que eu estava treinando Basquetebol na Pirelli o Frans Dourado, colaborador da revista Roadie Crew, treinava Vôlei lá! Por estas e outras vemos o quanto mundo é pequeno.

Voltando ao dia do show, quando entrei a primeira coisa que pensei foi encontrar meu irmão. E não é que ele estava sossegado na lanchonete comendo um churrasquinho (de gato, eu acho … ou de bode, hahahaha), sem qualquer tipo de preocupação. Os outros, da turma do Basquete, pareciam “mauricinhos” de tão limpos que estavam. Imagine só, camisas do “Welcome To Hell” e do “Black Metal” novinhas e banho tomado! Deu até raiva…

Quando olhamos para o palco já estávamos viajando e pensando qual seria o set list do Venom. Fiquei pouco tempo na pista e fui para a numerada do lado esquerdo do palco. O set do Vulcano foi intenso, extremo, mas pena que o som para os PAs não estava bem regulado. O Exciter levantou o público presente, estimado em mais de 6 mil pessoas - alguns dizem sete, oito, nove, dez, onze mil… Como o Frans Dourado fala: “Essa história parece àquela do jogo do Santos e Juventus, do gol mais bonito que o Pelé fez. Se todo mundo que fala realmente foi, o público ia encher dois estádios como o Maracanã”.

O som dos PAs não estava lá com aquela qualidade prometida, mas valeu! O Gavião é um que até hoje reclama: “Todo mundo fala só do Venom, mas e o Exciter?!”. O mais saudado naquele dia foi o baterista Dan Beehler, que estava usando aquela “bateria do foguinho”, confeccionada pelo Tibério Correa Neto, renomado luthier (Luthier Drum) e baterista que gravou o EP “A Ferro e Fogo” do Harppia. A mesma linha de batera “do foguinho” foi usada depois por Lars Ulrich, na primeira vinda do Metallica ao Brasil.

Ao final do Exciter a expectativa era grande. Havia chegado a hora. As luzes se apagam e entram em cena Cronos, Abaddon e… Bem, Mantas não estava mais fazendo parte da banda e dois guitarristas - Mike “Mykvs” Hickey e James Clare - o substituíram. Tal fato gerou e ainda gera polêmica. Mas polêmica é quase sinônimo de Venom.

O que mais impressionou foi a velocidade com que tocaram as músicas. “Die Hard”, por exemplo, daria inveja até ao Krisiun! Outro fato interessante e absurdo foi a colocação de uma enorme rede de polietileno (tipo aquelas que ficam nas traves do Futebol) que Cronos ordenou que pusessem bem à frente. Sei lá se ele estava com medo de que alguém iria jogar algo no palco.

O show transcorreu bem, mas eu não me contive. Quando percebi que o set estava caminhando para o final falei para os outros que queria ver bem de perto. E fui. Não estava trabalhando mesmo… Aliás, para um simples estudante, jogador de Basquete e menor de idade que pegou o carro da mãe e colocou oito pessoas para ir ao show do Venom, ficar na cara do palco era quase uma obrigação.

Conseguimos ver o Cronos & Cia. de perto e ouvir clássicos como “Black Metal”, “Countess Bathory”, “Welcome To Hell”, “Warhead” (tenho certeza que o Fanin, que estava na numerada oposta, berrou com toda forma “Warheaaaaddddd!!!!”), “Teachers Pet”, “Bloodlust”, “Witching Hour”…

Anos depois, trabalhando profissionalmente na revista Roadie Crew, percebi a importância de ter sido um fanático, um radical, quase um lunático e que se não tivesse me empenhado tanto para conseguir ir a todos os shows, como este do Venom/Exciter, as coisas não teriam tanta graça.

E você acha que todos que estavam voltando comigo na “Parati Slayer” se preocuparam quando o carro parecia um barco na marginal Tietê por causa dos amortecedores? Que se preocuparam quando erramos o caminho de volta e estávamos indo parar sei lá onde? Que estávamos morrendo de fome? Nada disso. Heavy Metal é assim mesmo. Fui deixando um a um em casa e meu primo João Cláudio berrava com entusiasmo o nome de cada um bem alto, seguido de um “Venoooommmm!!!!”.

Pode ser o que for, a gente “sofre”, mas passa por cima de qualquer coisa e no final das contas vê que valeu a pena. Afinal, temos história para contar.

Sites relacionados:
Venom Brasil - www.venombrasil.com.br
Venom - www.venomslegions.com
Exciter - www.hemidata.se/exciter
Beehler - www.myspace.com/beehlerheavymetal

3 comentários:

  1. cara vc e um dos caras que eu vi com o ingresso inteiro sem ta destacado ,eu não cheguei a ir no show do venom ,mais venom foi umas das primeiras bandas de metal que eu ouvi pela primeira vez ,cara eu curto venom ate hoje ,espero que eles toquem de novo no brasil ,pois não gosto dessas bandas de black metal novas são tudo igual,venom e bathory que e black metal de verdade ,abraços quem sabe agente se tromba no show.ok. ass:Deusvenones.

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  2. cara tenho 37 anos e estive no show do venom e exciter e fiquei pasmo ao ver o ingresso e tudo veio a memória dnovo fiquei no mesmo lugar q vc e tbm fui com uma galéra p frente do palco sera q não estamos juntos brow ? vi a téla d proteção e tudo fikei em frente ao cronos ele tava com uma camisa branca se não me engano todo poser tals e vi algumas pessoas gritarem exciter no meio do show foi mto bom ter vivido isso abç brow ass emerson daca acesse my home p ver meo trabalho www.youtube.com/edaca

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  3. O Venom esteve no Brasil em 85 também? Podia jurar que eles estiveram aqui nesse ano. Teve o show do Quiet Riot também que eu fui (abertura folclória do "Metal Mania" de Robertinho do Recife) mas eu podia jurar que tinha sido em 1985...

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