quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

"I Love Rock And Roll"

O ano de 1982 contou com grandes decepções, ínfimas perto do falecimento do meu avô Rosito, mas que foram marcantes. Meu irmão Frederico e eu passamos o primeiro semestre colecionando as figurinhas do álbum "Ping-Pong - Espanha 1982", mas sofremos um baque tremendo com uma das melhores seleções do Brasil de todos os tempos perdendo aquele jogo histórico para a Itália, por 2 x 3, realizado a 5 de julho, no Estádio Sarriá, em Barcelona. Também no segundo semestre, o São Paulo Futebol Clube buscava o tricampeonato Paulista, mas nosso time acabou derrotado pelo Corinthians, que nossa mãe Edí torce fervorosamente, nas duas finais (0 x 1 no dia 08/12 e 1 x 3 no dia 12/12).

O mais incrível nestas situações é que todos davam como certa a classificação do Brasil para a final do Mundial de 1982, vencido pela Itália de Dino Zoff, Scirea, Conti, Antognoni e Paolo Rossi, o eterno algoz do Brasil. No âmbito caseiro, o São Paulo já havia perdido em 12/09 por 0 x 2 para o Corinthians, mas havia superado-o duas vezes em outras fases do Paulistão daquele ano (1 x 0 em 13/11 e 3 x 2 a 05/12). Só que nas finais deu mesmo a Democracia Corintiana de Sócrates, Wladimir, Casagrande, Biro-Biro, Zenon... Tudo bem, são coisas do futebol, mas que machucam eternamente.

A fase negra ainda não havia terminado. Em dezembro, o momento era de enorme tristeza, com minha família tentando se reerguer frente a perda de um ente querido. Na festa de Natal, a abertura dos presentes aliviou um pouco a situação amarga e delicada. Quando ganhei meu primeiro walkman, um Unisef (Stereo Boy TU-22) pesado e que precisava de quatro pilhas pequenas para funcionar, fiquei tão contente que passei a admirar ainda mais o meu avô (na foto ao lado junto comigo no bar do Ipê Clube).

Falecido a 20/12, dias antes daquele Natal de 1982, devido a um câncer no pulmão, vô Rosito conseguiu nos contentar com presentes condizentes com os gostos de cada um da família. Dentro do pacote em que veio o meu walkman Unisef estava uma fita cassete com uma coletânea, na qual a primeira música era "I Love Rock And Roll", de autoria da banda inglesa The Arrows, mas que havia virado um grande hit de Joan Jett. A ex-The Runaways gravou-a em seu segundo álbum, "I Love Rock And Roll", o primeiro como Joan Jett & The Blackhearts. O disco saiu em dezembro de 1981, coincidentemente um ano antes da morte do meu avô.

"I Love Rock And Roll", o disco, é até hoje o mais bem sucedido da carreira de Joan Jett, tendo vendido mais de dez milhões de cópias. Já a música-título obteve altas posições nos charts dos EUA e o quarto posto na parada britânica. Porém, o que mais me deixou intrigado era como meu avô Rosito, além de estar lutando para viver, tinha consciência de que eu gostava daquilo. Ele tinha costume de comprar os presentes muito tempo antes do Natal e guardá-los em casa. Mas aquilo não intrigou só a mim, como também minha tia Hortênsia. Ela se sentiu feliz e orgulhosa com a visão futurista do meu avô. "Como será que ele anteviu e pensou nisso?", perguntou-me ela. Bem, até hoje não encontramos as respostas, mas de todos os meus familiares que se foram, quem mais aparece em meus sonhos é justamente meu avô Rosito.

Assim como prefiro sempre falar Heavy Metal, e não Rock And Roll, como alguns amigos meus, entre eles Paulão Thomaz (Baranga, Centúrias) e Fábio Macarrão (Sleevers), não tenho costume de vibrar muito em baladas de Classic Rock. Nestas, as bandas "cover" tocam sempre os mesmos hits, mas toda vez que escuto "I Love Rock And Roll", o sentimento muda. Pode ser que a animação venha de forma inconsciente por me lembrar daquela fita cassete e do walkman Unisef, mas se fico estático quando tocam as "carnes de vaca", com aquele pensamento "De novo essa?!", o mesmo não ocorre com a música eternizada por Joan Jett.

Anos depois de ter ganhado aquele primeiro walkman, que guardo até hoje e funciona perfeitamente, ganhei o meu grande sonho de consumo até então: um walkman Broksonic, que gravava e tinha caixas externas. A primeira fita que coloquei para rodar? Claro, aquela coletânea com "I Love Rock And Roll"...

5 comentários:

  1. Como já havia escrito antes,aoa terminar de ler queria ter uma garrafa de champagne e duas taças para brindar com você.Saberiamos exatamente o que estariamos brindando,sem necessidade de palavras.Suas memórias são valiosissimas....e sempre a maneira criativa de tratar a história do rock.
    Beijos
    Hor

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  2. me lembro de vcs vendendo fanzines no centro de sampa, ali realmente se fazia valer o underground

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  3. tb não gosto de falar Rock'n'roll, prefiro heavy metal ou apenas rock.
    suas lembranças me fizeram despertar as minhas, eu tb guardo meu walkman Casio (do Paraguay) até hoje e funciona, mas o meu creio q não é tão velho quanto o seu, foi uma das primeiras coisas que comprei com o suor do meu trabalho já quando tinha 19 anos, em 85.
    valew

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  4. Grande Batalha,

    Cara, é por essas e outras que costumo dizer que o Rock transcende o som, é história e muito feeling.

    You Rock Batalha!!!

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  5. Muito legal seu post! Comecei a ouvir metal naquela época, e walkmans eram artigos de luxo pra garotada. Eu usava mesmo era um gravador portátil da Sharp, na qual eu plugava os fones e gastava pilha à beça... rs Andava com ele pra cima e pra baixo, ouvindo Kiss, Wasp, Dio e as bandas que surgiam naqueles tempos, mesmo em almoços de família no restaurante... rs

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