quinta-feira, 1 de abril de 2010

Nomes femininos no Rock, uma história de homenagens e lendas

Títulos de músicas com nomes femininos sempre fizeram parte do universo do Rock desde a sua criação nos anos 50. Os precursores acostumaram-se a prestar homenagens ao sexo feminino e estas poderiam tanto ir para seus casos amorosos, como para a mãe, a tia, a avó, a prima a cunhada ou, simplesmente, porque soava bem.

Em 1958, no mesmo ano em que Danny And The Juniors cantava "Rock And Roll Is Here To Stay, It Will Never Die", Chuck Berry emplacava o single Carol, cuja letra falava sobre o temor de um garoto que precisava aprender a dançar para não perder a sua amada Carol. Tempos depois, a música foi coverizada pelos Beatles e os Rolling Stones.

Eleanor Rigby
Passado o grande impacto ocorrido nos anos 50 com o surgimento do Rock’n’Roll, a cena musical viria a se impressionar nos anos 60 com a 'Beatlemania'. E uma das composições mais conhecidas do quarteto de Liverpool é Eleanor Rigby.

Segundo 'Sir James' Paul McCartney, Eleanor é o nome da atriz que contracenou com os Beatles no filme "Help!" (1965) e o complemento Rigby foi tirado de uma loja de conveniências. Só que foi cogitado que o título, na verdade, fora inspirado no nome de uma mulher sepultada em um cemitério situado perto da St. Peter's Church, justamente o local onde John Lennon e Paul McCartney haviam se conhecido em julho de 1957. Na lápide ainda existe uma menção a Father Mackenzie, que também consta na letra de Eleanor Rigby. Todavia, os as evidências sempre foram negadas por Paul McCartney.

Coincidência ou simples charme, o que se pode dizer é que os significados destes títulos com nomes femininos acabam quase sempre voltando para algo positivo. No Grammy Awards de 1966, os Beatles conquistaram o prêmio de melhor música por Michelle e Paul McCartney o de melhor performance vocal por Eleanor Rigby. Afora isso, Revolver (1966) levou o troféu de "melhor capa de disco".

Dois anos depois, os Beatles voltaram a atacar com Julia, faixa do White Album, uma homenagem de John para sua mãe, Julia Lennon. Curiosamente, Eleanor Rigby e Julia saíram juntas na trilha do álbum Love, compilada e remixada para um espetáculo do e Cirque du Soleil em 2006.

Há ainda títulos que sugerem que o nome seja de alguma mulher, mas o humor fala mais alto, caso de Martha My Dear, composta por Paul McCartney, feita em homenagem à sua cadela. A polêmica também entra em cena com Lucy In The Sky With Diamonds, do álbum Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (1967). O título trazia as iniciais LSD, fazendo com que fosse banida de algumas rádios, mas na verdade ela foi inspirada em um desenho feito por Julian, filho de John Lennon. Lucy O' Donnell era uma garotinha que se sentava ao lado de Julian na Heath House School.

Angie
Outro exemplo de mistério e lenda no título é a balada Angie dos Rolling Stones, que obteve o primeiro posto na parada de singles da Billboard em 1973. Assim como Eleanor Rigby dos Beatles, há diversos rumores que cercam o título desta faixa do álbum Goats Head Soup (1972). O maior deles aponta que ela teria sido escrita para a ex-mulher de David Bowie, Angie Bowie, mais uma das centenas de "amigas íntimas" de Mick Jagger.

Dizem ainda que esta teria sido a forma que Mick Jagger encontrou para se desculpar de Angie, que supostamente havia flagrado Mick e Bowie na cama. Outra corrente afirma que a letra sugere que estejam falando a respeito da relação de Jagger com Marianne Faithfull, que se encerrou em 1969. Mais uma possibilidade, a mais cabível, é que Keith Richards - que assina a faixa ao lado de Jagger - tenha escrito-a para sua filha Angela "Dandelion" Richards, nascida a 17 de abril de 1972, ano do lançamento de Goats Head Soup.

Beth
A balada Beth do Kiss é mais um caso curioso. Embora tenha feito enorme sucesso, a música por pouco não foi sacada do álbum Destroyer (1976), já que originalmente seria apenas o lado B do single de Detroit Rock City. Gene Simmons e Paul Stanley estavam receosos em incluí-la, mas um DJ americano de rádio colocou-a por descuido no ar e a composição de Peter Criss e Stan Penridge - originalmente chamada Beck e gravada no Demo-Tape da banda Lips - teve enorme acolhida. Além de ser o primeiro disco de ouro do Kiss em formato single, recebeu o prêmio no 'People's Choice Awards' de 1977.

O baterista e vocalista Peter Criss certa vez afirmou que Beck falava sobre sua esposa à época, Lydia, mas tempos depois reconsiderou e disse tratar de Becky Brand, namorada do guitarrista Michael (Mike) Brand do Chelsea, grupo que deu origem ao Lips.

Segundo Criss, a hipocondríaca Becky estava sempre doente e vivia interrompendo os ensaios. Até que numa ocasião ela telefonou no meio de um ensaio e Criss rascunhou o que o guitarrista Michael estava falando para Becky: "Beck, I heard you calling but I can't come home right now...". No final das contas, o diálogo virou a letra e bastou trocar Beck por Beth.

Whole Lotta Rosie
A letra de Whole Lotta Rosie, clássico do álbum Let There Be Rock (1978) do AC/DC fala sobre uma mulher obesa, Rosie, que tinha tido uma relação sexual com Bon Scott na Tasmânia. Apesar do peso (aproximadamente 120Kg), o falecido vocalista havia dito que a experiência fora uma das melhores de sua vida sexual.

O guitarrista Angus Young confesso que Bon Scott certa vez voltou à Tasmânia e encontrou Rosie bem mais magra, fato que o desapontou. Mesmo assim, Rosie sempre foi reverenciada pelo AC/DC e em diversos shows entra em cena como uma boneca inflável gigante, como consta no vídeo Live At Donington.

Vera
A faixa do cultuado álbum conceitual The Wall, lançado em 1979 pelo Pink Floyd, faz referência à cantora inglesa Vera Lynn, nascida em 1917. A letra traz: "Does Anybody Here Remember Vera Lynn?/Remember How She Said That We Would Meet Again Some Sunny Day?".

O conceito de The Wall era tratar da vida fictícia de um anti-herói chamado Pink, que tinha perdido o pai na Segunda Guerra Mundial e Vera Lynn fez sucesso justamente nesta época, com a música We'll Meet Again, de 1939.

My Michelle
A música My Michelle, composta por Axl Rose e Izzy Stradlin, saiu no platinado álbum de estreia do Guns N' Roses, Appetite For Destruction (1987), fala a respeito de uma conhecida da banda, Michelle Young, que tinha sido amiga da primeira namorada do guitarrista Slash.

De acordo com o vocalista Axl, certa vez ele e Michelle estavam no carro quando ouviram Your Song de Elton John no rádio. A garota logo comentou: "Eu sempre quis que alguém escrevesse uma música para mim". Dito e feito.

Curiosamente, Michelle Young é a garota que aparece no começo do videoclipe da música Welcome To The Jungle, outra faixa de sucesso de Appetite For Destruction.

Outros exemplos
Basta puxar pela memória que rapidamente encontramos hits como Izabella (Jimi Hendrix), Layla (Eric Clapton), Barbara Ann (The Beach Boys), Carol (Rolling Stones), Sara e Johanna (Bob Dylan), Kayleigh (Marillion), Abigail (King Diamond), Little Sheila (Slade), Amanda e Magdalene (Boston), Rhiannon (Fleetwood Mac), Jamie's Cryin' (Van Halen), Madalaine (Winger), Sheena Is A Punk Rocker e Judy Is A Punk (Ramones), entre dezenas de outras que não se tornaram hits, mas têm a mesma ligação.

Só que algumas bandas foram além e fizeram deste recurso quase que uma tradição, caso da norte-americana Toto, com Angela, Goodbye Elenore, Pamela, Melaine, Carmen, Manuela Run, Lorraine, Lea, Anna e um de seus maiores hits, Rosanna, faixa do álbum Toto IV (1982). O mistério sobre o título permanece sem esclarecimento, embora alguns digam que a homenageada seria a atriz Rosanna Lauren Arquette, ex-namorada do tecladista Steve Porcaro. O autor da música, David Paich, nega.

Outro grupo que tradicionalmente incluiu títulos assim foi o inglês Status Quo, como se vê no álbum Ma Kelly's Greasy Spoon (1970) e em músicas como Elizabeth Dreams, Antique Angelica, Caroline, Claudie, Joanne, Sheila (cover do The Satins) e Lucille (de Albert Collins e Little Richard).

O falecido Phil Lynott (vocal e baixo), líder do Thin Lizzy, homenageou sua mãe Philomena Lynott em Philomena, sua avó Sarah Lynott em Sarah, além de Sweet Marie, na qual falava sobre a solidão de estar na estrada, longe de casa e dos entes queridos. Outra muito conhecida da banda é Rosalie, que faz parte do álbum Fighting (1975), na realidade um cover de Bob Seger (originalmente do álbum Back In '72), músico e compositor norte-americano que também incluiu vários nomes femininos em títulos (Evil Edna, Louise, Betty Lou's Gettin' Out Tonight e I Can't Save You Angelene).

Mesmo que nenhuma destas tenha sido criada por causa do real significado do nome, a maioria obteve sucesso e, portanto, não há como negar que a ligação surpreende, especialmente se formos analisar os grupos mais ligados ao Gothic, como The Mission (Severina, Fabienne e Amelia), The Sisters Of Mercy (Alice, Lucretia My Reflection e Marian), Charlotte Sometimes (The Cure) e Christine (Siouxie & The Banshees). Alice, por exemplo, significa 'a verdadeira', enquanto Fabiene significa 'fava que cresce e predispõe a pessoa a ter um sucesso cada vez maior em todos os seus empreendimentos'.

O grupo norueguês Theatre Of Tragedy, que recentemente se apresentou no Brasil, foi além e fez do álbum Aégis (1998) um verdadeiro tributo ao folclore que envolve o sexo feminino, em faixas como Cassandra, Lorelei e Angélique.

Uma outra hora falarei sobre a utilização de nomes artísticos femininos em bandas. Exemplos? Alice Cooper, Bathory, Lizzy Borden, Angelica, Britny Fox, Lillian Axe, Vanessa...

Um comentário:

  1. Bom demais, Ricardo! E o que dizer dos títulos nacionais? Um abraço, Bianca.

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